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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 MULTIPLICADORES DE SEMENTES

No setor a montante da cadeia, a soja RR tem gerado grande poder de monopólio para a empresa obtentora da tecnologia, nesse caso, a Monsanto. Segundo Osaki e Batalha (2007) embora a substituição tecnológica das empresas seja demorada, a perda de mercado das empresas concorrentes é iminente pelo fato de essas últimas levarem mais tempo para se adaptarem ao novo padrão tecnológico. Isso ressalta a importância de se conhecer como os multiplicadores vêm atuando no mercado e lidando com o advento da soja transgênica.

As empresas visitadas possuem grande representatividade no market share de sementes do Estado de Mato Grosso. Foi constatado em todas as empresas de sementes visitadas que elas produziam sementes para todo o Estado do Mato Grosso. Trabalhavam com sementes fiscalizadas, certificadas, e mantinham parcerias com alguma obtentora da tecnologia da soja transgênica.

Foi constatado que as multiplicadoras de semente estão direcionando mais seus esforços para a soja transgênica, acreditando que o mercado para a soja GM deverá crescer. Corroborando ao que foi dito, todas as empresas visitadas estão produzindo mais de 60% das suas sementes de soja transgênica.

Sobre a diferença de produtividade entre soja transgênica e convencional os multiplicadores disseram não acreditar que haja diferença de produtividade entre essas duas opções de cultivo. Vale ressaltar que para fins de comparação de produtividade deve-se tomar como ponto de partida sementes da mesma variedade, caso contrário não se consegue com precisão saber ao certo a diferença de produtividade entre as duas opções de cultivo.

As empresas multiplicadoras de sementes comercializavam sem restrições sementes de soja transgênica e convencional, sendo o preço destas considerado equivalente. Apesar desta consideração dos distribuidores de sementes, existe uma percepção errônea dos produtores em

relação à comparação do preço da semente de soja transgênica com a semente de soja convencional, pois muitos consideram o preço pago pela semente de soja transgênica menor que o preço da semente de soja convencional, esquecendo que o ciclo vegetativo da soja é um fator determinante na formação desse preço, como também foi encontrado na pesquisa de Ribeiro (2008). Como ainda não existe nas regiões visitadas uma semente de soja transgênica de ciclo curto, ou seja, precoce, adaptada para a região e com a certificação exigida no Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), fica mais difícil a comparação dos preços das sementes, não sendo conveniente comparar os preços das sementes de soja transgênica de ciclo longo (tardia) e ciclo médio com o preço da soja convencional de ciclo curto, que tem a preferência dos produtores.

Ribeiro (2008), analisando a dinâmica da soja GM em Rio Verde – Goiás mostrou que há uma crescente busca pela semente de soja transgênica, mas que ainda há uma busca muito grande pela semente da soja convencional, se devendo ao fato da inexistência de uma variedade transgênica precoce, que reduziria os riscos com a ferrugem asiática18atribuindo esse fenômeno principalmente à facilidade de manejo e ao controle de plantas daninhas.

Todos os multiplicadores entrevistados disseram que a maioria de seus clientes ainda procuram mais a semente da soja convencional do que a transgênica, indo ao encontro ao que foi relatado por Ribeiro (2008).

Sobre o pagamento de prêmios para os produtores que entregam soja GMOfree19, todos os multiplicadores disseram ter conhecimento de alguma empresa que faz esse pagamento aos produtores.

18 Doença causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, foi detectada no Brasil na safra 2001/2002 desde o Rio

Grande do Sul até o Mato Grosso causando perdas significativas em lavouras isoladas. O principal dano ocasionado por essa doença é a desfolha precoce, que impede a completa formação dos grãos, com conseqüente redução da produtividade. O nível de dano causado pela doença depende do momento em que ela incide, das condições climáticas, da resistência/tolerância e do ciclo da cultivar utilizada (RIBEIRO, 2008).

Na opinião dos multiplicadores de sementes o principal motivo que levam os produtores a aderirem à soja transgênica se deve ao fato dela apresentar maiores facilidades de manejo. Esse resultado vai ao encontro do que foi encontrado na pesquisa de Ribeiro (2008).

Em pesquisa realizada no ano de 2007 os multiplicadores de sementes disseram que os produtores estavam fazendo o pagamento dos royalties na comercialização do produto. Na pesquisa de campo realizada no ano de 2008 foi constatado que os produtores mudaram essa prática, optando por fazer o pagamento na compra das sementes.

Quanto à segregação, esses atores disseram que essa prática é muito complicada e dispendiosa. Argumentaram que os armazéns de Mato Grosso atualmente não estão fazendo segregação da soja, alegando que é necessário altos investimentos e não há uma motivação pecuniária para tal. Há apenas algumas grandes multinacionais que conseguem fazer essa segregação, e fazem porque mantém contratos de entrega de soja livre de transgênicos.

Para garantir a segregação em suas UBS (Unidade Beneficiadora de Sementes) os multiplicadores disseram possuir duas linhas de produção para garantir a segregação das sementes, evitando assim possíveis casos de contaminação.

Sobre os contratos entre armazenadores/processadores e produtores rurais, a percepção desses atores é que os últimos ficam “reféns” perante os primeiros quando fazem contratos de entrega da mercadoria, pois em contrapartida do fornecimento dos insumos, os armazenadores/processadores ditam qual o pacote tecnológico os produtores devem utilizar. Essa informação vai de encontro ao que foi argumentado por um multiplicador, onde relatou que em seu município, apenas 5 a 10% dos produtores têm condições de trabalhar com recursos próprios para cultivarem sua produção, o restante trabalha com contratos junto aos armazenadores/processadores.

Percebeu-se que nas regiões visitadas existe um comércio ilegal de sementes não certificadas e que há um sentimento de que cerca de 40% dos produtores trabalham ou já trabalharam com sementes não certificadas, conhecidas como bolsa branca.

Sobre a contaminação, os multiplicadores de sementes disseram não estar tendo esse tipo de problema em suas unidades beneficiadoras (UBS). Mas estão cientes de que existe essa problemática, já que, segundo eles, há relatos de produtores que tiveram esse tipo de problema. Na opinião dos multiplicadores esse fato influencia na tomada de decisão dos produtores em trabalhar com soja transgênica ou convencional, pois, para não enfrentar esse empecilho eles optam por plantar apenas a soja transgênica ou convencional em suas propriedades. Na opinião de um multiplicador, aqueles produtores que estão conseguindo obter a mesma produtividade com a soja transgênica frente à convencional optarão pela soja geneticamente modificada.

Um dos multiplicadores entrevistados disse que há um risco muito grande de contaminação das sementes ao longo da cadeia. Relatou também que é difícil plantar soja convencional em áreas onde foi plantada soja transgênica anteriormente, podendo trazer possíveis casos de contaminação.

Convergente à pesquisa de Ribeiro (2008), todos os multiplicadores de sementes que participaram da pesquisa têm uma percepção/expectativa favorável ao avanço da tecnologia dos transgênicos, pois com o advento de novas tecnologias como precocidade, resistência à ferrugem e à seca, a soja transgênica será ainda mais vantajosa.

Sobre a diferença de custo de produção entre a soja transgênica e convencional esses agentes relataram que atualmente não há diferenças consideráveis entre essas duas opções de cultivo. Segundo um agente “há dois anos havia vantagem em se trabalhar com soja transgênica, porque seu custo total era menor do que a convencional. Hoje essa vantagem já

não existe20”. Esse agente relatou também que dependendo da variedade utilizada, o custo do transgênico é mais elevado do que o convencional.

Um dos agentes relatou que o preço do Roundup21 teve um aumento de 40 a 60% da safra 2006/7 para a safra 2007/8, considerando esse fato um ato de oportunismo por parte da Monsanto. Isso é comprovado com os dados disponibilizados pela CNA, na safra de 2007/2008, mostrando que o herbicida glifosato teve reajustes em torno de 40% nessa safra.

Sobre o valor cobrado pelos royalties, os multiplicadores de sementes não acham que o valor cobrado pela Monsanto seja elevado.

Foi constatado também que a Monsanto, empresa à qual todas as multiplicadoras entrevistadas disseram manter vínculo contratual, possui todas as informações sobre os multiplicadores de sementes.

Foi consenso entre os multiplicadores que se houver variedades adaptadas às diversas regiões, não há dúvidas de que a soja transgênica irá dominar o mercado, justificando o porquê de as empresas multiplicadoras estarem direcionando seus esforços para essa tecnologia.

Foi consenso também entre os multiplicadores de sementes que deveria haver uma lei que regulamentasse melhor a coexistência da soja no Brasil, pois em suas opiniões, a legislação atual não dá suporte para o produtor de grãos nem ao produtor de sementes.