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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.2 PRODUTORES DE SOJA

4.2.9 Sobre a contaminação

A questão da contaminação tem apresentado problemas para a cadeia produtiva da soja. Esse problema é um dos que mais atrapalham a coexistência dessas duas opções de cultivo sendo que a segregação é a única forma de possibilitar sua separação.

Em pesquisa realizada por Ribeiro (2008) foi constatado que todos os produtores de soja, inclusive os que só produziam soja convencional, já tiveram algum problema de contaminação de sua produção de soja convencional com soja transgênica. Os produtores desconhecem a origem da contaminação de sua produção, pois a contaminação pode ocorrer ao longo de toda a cadeia produtiva. Consideraram que os maiores riscos estão na unidade beneficiadora de sementes (UBS), nas máquinas de plantio e colheita, e no transporte (RIBEIRO, 2008).

Foi perguntado aos produtores se eles têm tido algum problema de contaminação da soja convencional nas mais diversas etapas da produção.

Como se sabe, pode haver contaminação na soja por polinização cruzada, ou seja, plantas separadas por pequenas distâncias. Esse fluxo gênico (transferência de genes entre a

espécie convencional e a transgênica) é pequeno na soja quando comparado com outras espécies. Ainda assim, o plantio da soja transgênica ao lado de uma lavoura convencional está causando a contaminação da soja convencional com o pacote genético patenteado da soja transgênica (GREENPEACE, 2008). Alexandre (2008) diz que a polinização cruzada é de até 1%, já Wilkinson e Pessanha (2005) dizem que essa taxa é de até 3%. Vale ressaltar que mesmo com essa polinização, apesar de ser configurada soja transgênica, os testes realizados pela Monsanto para pagamento dos royalties aceitam até 5% de grãos transgênicos.

A contaminação mecânica acontece quando há mistura de sementes transgênicas com convencionais, sendo essa, segundo o Greenpeace (2008) a principal forma de contaminação. Pode acontecer nas máquinas para cultivar o solo, semear e colher a lavoura, nos caminhões que transportam a produção e nos silos onde os grãos são armazenados. O agricultor muitas vezes usa máquinas emprestadas ou alugadas, assim ele pode utilizar uma máquina para semear ou colher sua lavoura com restos de semente de soja transgênica. O proprietário do equipamento, por sua vez, presta serviço para vários agricultores e pode levar sementes transgênicas de uma fazenda para outra (GREENPEACE, 2008).

Segundo o Greenpeace, evitar a contaminação, garantir que suas sementes estarão livres de genes patenteados e providenciar os cuidados com limpeza de maquinários geram um custo para o produtor. Na presente pesquisa com os produtores de Sorriso – MT foi percebido que esse custo muitas vezes não é contabilizado pelos produtores na hora de decidir entre produzir soja transgênica ou convencional.

Para saber em quais etapas da produção os produtores acreditam estar havendo contaminação da soja, foi elaborada uma questão que levantasse informações a respeito. Nessa questão foram oferecidas as seguintes opções para resposta: contaminação na semente, na estocagem, no transporte, na colheita, e por final ficou em aberto outro possível modo de

contaminação que o produtor quisesse opinar. Vale ressaltar que os produtores poderiam marcar mais de uma opção caso houvesse ocorrido contaminação em mais de uma etapa.

Dos produtores entrevistados, apenas 9,1% disseram não ter tido problema de contaminação de sua soja nas diversas etapas de produção. 66,7% disseram ter ocorrido problema na semente, 36,5% disseram na estocagem, 33,3% no transporte e 24,2% na colheita, como mostra a Figura 11.

Etapas em que os produtores acreditam ter ocorrido problemas de contaminação da soja

convencional (% )

66,7

36,4 33,3

24,2

9,1

Semente Estocagem Transporte Colheita Não teve

problemas

Figura 11: Problemas de contaminação enfrentados pelos produtores rurais Fonte: Dados da pesquisa

Ressalta-se que nenhum produtor disse ter ocorrido problemas de contaminação por polinização cruzada, já que esse percentual não excede os 5% tolerados pelo teste de transgenia da Monsanto.

Os dados mostrados anteriormente mostram o quanto é importante que haja alguma normativa que regule melhor esse problema de contaminação, já que apenas três produtores disseram não ter ocorrido nenhum problema de contaminação.

Vale ressaltar também que vários relataram problema de contaminação nas sementes. Esse problema vai ao encontro dos revendedores de sementes que compraram sementes convencionais e tiveram problemas na comercialização dos grãos por detecção de transgenia.

Ribeiro (2008) em entrevistas com distribuidores de sementes mostrou que eles não excluem a possibilidade de haver algum tipo de contaminação na UBS (unidade beneficiadora de sementes) ou até mesmo um erro na separação das sacas no armazém. Mas a rastreabilidade da contaminação de um grão, quando este foi colhido, é muito difícil, pois existem vários fatores e manejos pelos quais o grão já passou, como o plantio, a colheita, e o transporte, que se torna praticamente impossível identificar onde aconteceu o problema e quem é o responsável.

Assim, para se isentar da responsabilidade da contaminação, os distribuidores de sementes acreditam que uma maneira eficiente seria a introdução de testes de pureza em todos os processos da UBS e a emissão de um certificado de pureza genética da semente pela empresa obtentora e pela sementeira. Com isso, após o plantio, o produtor teria a garantia de procedência da semente comprada e, caso faça o manejo correto de sua lavoura até a unidade armazenadora/processadora teria a certeza da comercialização de grãos não geneticamente modificados (RIBEIRO, 2008).

Outro fator que ajudaria no controle de contaminações seria a regulamentação da percentagem de grãos geneticamente modificados para contaminação de um lote de grãos convencionais. Poucas contaminações de grãos ultrapassam o valor estipulado pela Monsanto de 5% para recolhimento de seus royalties, mas muitas empresas estipularam o valor máximo de contaminação de 0,1%, considerando que este é o valor aceitável em países importadores reticentes ao consumo de transgênicos (RIBEIRO, 2008).

Tudo isso mostra o quanto é difícil de se fazer a rastreabilidade da soja ao longo da cadeia, já que envolvem custos adicionais que às vezes não são compensatórios, o que justifica cada vez mais o pagamento de um prêmio justo para o plantio de soja convencional.