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Enfrentamento de todas as formas de violência contra as mulheres

3.2 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

3.2.2 O II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres

3.2.2.4 Enfrentamento de todas as formas de violência contra as mulheres

I. Reduzir os índices de violência contra as mulheres por meio da:

a) Consolidação da Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres com plena efetivação da Lei Maria da Penha.

b) Implementação do Pacto Nacional de Enfrentamento da Violência contra as Mulheres.

c) Implementação do Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no que di respeito às ações referentes ao tráfico de mulheres, jovens e meninas.

(BRASIL, 2008, p. 103)

Existe um traço peculiar que diferencia a violência sofrida por homens e mulheres. Enquanto aqueles são alvos principais em espaços públicos, estas sofrem predominantemente no espaço privado, em suas casas, no interior de suas famílias. Este eixo do II Plano de Políticas para Mulheres baseia-se no conceito de violência contra a mulher extraído da Convenção de Belém do Pará, de 1994, para a qual seja “qualquer ação ou conduta, baseada no gênero que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado” (BRASIL, 2008, p. 95).

Pesquisas demonstram que cerca de 20% das mulheres já sofreram algum tipo de violência no lar e que 43% já sofreram agressão (BRASIL, 2008).

O tráfico de pessoas aparece apontado no eixo de combate a violência como questão de especial atenção, dada a escassez de recursos e organização atuais para seu combate. Uma política de combate a violência de gênero precisa pensar também como criar mecanismos de controle e precaução do tráfico de mulheres e meninas. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2005 apud BRASIL, 2008) o número de pessoas traficadas gira em torno de 2,4 milhões. Cálculos afirmam que 43% delas são exploradas sexualmente e destas vítimas, 85% são mulheres (BRASIL, 2008).

O II PNPM também chama atenção à violência chamada institucional, nas instituições públicas prisionais, em especial no sistema prisional feminino. Insalubridade, espaços não adequados, uso excessivo de drogas e medicamentos psicoativos e a falta de atendimento médico, ginecológico, de pré-natal e de vigilância sanitária são apenas alguns exemplos que atingem os 6% da população carcerária do país, representado por 26 mil mulheres encarceradas (BRASIL, 2008). As 8.890 que cumprem suas medidas judiciais em regime

fechado estão distribuídas em 55 unidades exclusivamente femininas de um universo de 1.097 unidades prisionais (BRASIL, 2008).

Um passo importante para o combate à violência contra a mulher é a sistematização de dados e a criação de serviços e programas como a „Central de Atendimento à Mulher‟ – „Ligue 180‟, em 2005. É também uma medida importante do eixo de combate à violência o incentivo aos Estados e Municípios criarem novos métodos de captação de dados e de serviços de informação às vítimas.

A „Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres‟ é resultado das deliberações já da I Conferência Nacional de Políticas para Mulheres. O II PNPM herda o conceito utilizado na primeira I Conferência e amplia o debate acerca do tema e, conseqüentemente, o conceito e os tipos de violência, buscando aumentar a rede de proteção e as medidas de identificação de agressores. Esta ampliação visa também garantir e proteger os direitos das mulheres em situação de violência considerando as questões étnico-raciais, geracionais, de orientação sexual, de deficiência e de inserção social, econômica e regional.

As ações propostas pelo II PNPM tem como idéia principal poder proporcionar às mulheres em situação de violência um atendimento humanizado, integral e qualificado nos serviços especializados e na rede de atendimento ao mesmo tempo em que trabalha em outra frente de combate à violência, buscando desconstruir estereótipos e representações de gênero, além dos mitos e preconceitos socialmente aceitos em relação à violência contra a mulher. É um desafio, pois busca promover uma mudança de base cultural.

As políticas sociais multisetoriais propostas seguem, portanto, uma linha que propõe desconstruir desigualdades e combater as discriminações de gênero; que interfiram nos padrões sociais de machismo; e, garantam o acesso à Justiça e assistência jurídica gratuita às mulheres em situação de violência, além do atendimento especializado.

O combate à violência, assim, é proposto em linhas que atuam paralelamente mas com os mesmos objetivos. A implantação da Lei Maria da Penha ainda é um desafio, tendo em vista resistência de organismos públicos e da constante tentativa de destituição de sua legitimidade.

Constituem a rede de atendimento à mulher em situação de violência uma série de aparelhos e equipamentos sociais especializados, como as Casas Abrigo, os Centros de Referência, os Centros de Reabilitação e Educação do Agressor, os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra Mulher, além das Defensorias da Mulher. Esta rede precisa estar integrada e articulada em torno dos serviços, criando uma Rede de Atendimento às Mulheres em situação de violência.

Tabela 11 – Serviços da Rede de Atendimento à Mulher, por tipo – Brasil, 2008

Serviço Especializado Existentes

Centros de Referência 112

Casas Abrigo 66

Delegacia Especializadas no Atendimento à Mulher 404 Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher 21

Varas adaptadas 32

Defensorias da Mulher 15

Total 650

FONTE: BRASIL, 2008, p. 99

O Observatório de Monitoramento e Aplicação da Lei Maria da Penha, criado em 2007, busca monitorar a aplicação da referida Lei junto aos Poderes Executivo e Judiciário e também à Rede de Atendimento à Mulher.

Outros programas importantes na área são: Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (2007), o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência Doméstica contra as Mulheres (2007), além dos tratados e convenções internacionais citados na subseção 3.1 deste TCC.

O que o eixo promove, substancialmente, é o debate público e a importância da intervenção do Estado na questão da violência de gênero. Intervenção esta que deve estar para além do atendimento de agressões, mas para a prevenção e transformação da mentalidade machista ainda presente na sociedade brasileira.

São prioridades deste eixo: ampliação e aperfeiçoamento da Rede de Atendimento às mulheres em situação de violência; b) Garantia de implementação da Lei Maria da Penha; c) promoção de ações de prevenção a todas as formas de violência contra as mulheres; d) promoção da atenção à saúde das mulheres em situação de violência com atendimento qualificado e/ou específico; e) garantir o enfrentamento da violência contra as mulheres, e do tráfico e exploração sexual; f) promover os direitos humanos das mulheres encarceradas.