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3.2 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

3.2.2 O II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres

3.2.2.9 Enfrentamento do racismo, sexismo e lesbofobia

I. Instituir políticas, programas e ações de enfrentamento do racismo, sexismo e lesbofobia e assegurar a incorporação da perspectiva de raça/etnia e orientação sexual nas políticas públicas direcionadas às mulheres.

(BRASIL, 2008, p. 174)

A sociedade brasileira ainda é marcada por expressões concretas que mostram a dimensão ideológica do racismo, do sexismo e da lesbofobia. O II Plano de Políticas para Mulheres aponta que em 2006 a população brasileira era representada por mais de 92 milhões de negros(as), e 519 mil indígenas (BRASIL, 2008). A sobreposição da exclusão tende a tornar a questão de gênero ainda mais sofrida pela ótica da dupla discriminação: mulheres negras, mulheres indígenas e mulheres lésbicas são expostas a mecanismos de exclusão e que reforçam um ciclo de desigualdades, refletidos no aumento do índice de violência e nas condições de vida dessas mulheres.

Desta forma este eixo busca evidenciar a necessidade de constante crítica à forma como a sociedade compreende e se relaciona com fatores como raça/etnia, orientação sexual e o próprio gênero. Propõe, portanto, a partir da ampliação dos conhecimentos sobre racismo, sexismo e lesbofobia, superar as dimensões de desigualdade neles baseadas e, principalmente, garantir o acesso equitativo às diferentes políticas públicas.

As Secretarias Especiais criadas desde 2003, em âmbito federal, de Políticas para as Mulheres; de Promoção da Igualdade Racial; e, de Direitos Humanos, buscam atrelar as dimensões de raça/etnia, gênero e orientação sexual de forma transversal nas políticas

publicas. Estas orientações são expressas ao longo do II PNPM e compõem diversas estratégias com parcerias de diversos níveis do Estado e suas Instituições, além de movimentos organizados da sociedade civil.

Somam-se ainda à estas preocupações condições como a classe social, moradia, espaço urbano e áreas marginais, geração, deficiências. Portanto o conceito de interseccionalidade é oferecido neste eixo como fundamental para compreensão das questões e para, a partir de sua reflexão, a possível elaboração de estratégias e formas de ação de combate às discriminações e violências decorrentes da complexidade de relações que encerram.

O II PNPM expressa que a violação de direitos humanos dá-se nas ações concretas do racismo, da lesbofobia e do sexismo. Seus efeitos tornam possível que as desigualdades sejam acirradas e coexistam com a idéia de privilégios para grupos sociais que representem características consideradas superiores.

Abre, também, uma discussão imprescindível para erradicação do preconceito racial. O chamado racismo institucional sistêmico é um modelo teórico que permite analisar a apropriação do Estado por brancos. Opera não a partir de mecanismos de violência física mas de controle do funcionamento da cotidianidade das instituições e afetando diretamente a distribuição de serviços, benefícios e oportunidades de forma diferenciada a grupos raciais distintos. Sua operacionalidade afeta a implementação de políticas públicas, gerando e reforçando discriminações e exclusões.

A base dos privilégios oferecidos a uma sociedade sexista, racista e lesbofóbica começa a partir da identificação de traços considerados ideais: homens, brancos, heterossexuais, residentes de áreas nobres em cidades e partícipes do âmbito de poder econômico e, aliás, sem qualquer traço de deficiência. Apenas três linhas de descrição foram suficientes para excluir milhões de brasileiras.

O Estado é apontado neste eixo como o intermediador e, nele, o espaço onde os debates devem qualificar-se para o combate e redução do impacto de tais violências e discriminações. Este debate deve traduzir-se, entretanto, em políticas públicas voltadas para a inclusão de todos os grupos sociais e em especial àqueles que apresentam histórico de exclusões.

Sugere-se que as políticas públicas em todos os níveis do Estado apresentem particularidades que possam tratar de forma específica das interrelações de gênero com raça/etnia, sexismo e lesbofobia. São apontados no II PNPM aspectos importantes destas políticas a definição de prioridades dentro das políticas sociais; metas traçadas diferentemente

para estes grupos; o tamanho e dimensão das ações realizadas, bem como suas estratégias de realização; orçamentos específicos e que contemplem as reais necessidades dos grupos atendidos; e, participação na construção das políticas, bem como nas etapas de implantação, monitoramento e avaliação das propostas.

Desta forma, enfrentar a problemática do racismo, do sexismo e da lesbofobia indica atuar em frentes distintas, mas indissociáveis. Numa perspectiva ideológica isto implica impor ao racista, ao sexista e ao lesbofóbico que suas ações caracterizam-se como crimes contra direitos humanos. Torna-se necessário atuar junto ao Judiciário e ao Executivo mas, principalmente, com o Legislativo para pressionar a ampliação de direitos e a efetividade dos já enunciados, além de atuar na perspectiva de distribuição do poder político para os grupos excluídos em questão.

Em uma perspectiva operacional, significa considerar demandas e propor ações efetivas de combate ao racismo, sexismo e lesbofobia através de políticas públicas que visem a equidade de direitos. Torna-se necessária a avaliação das próprias instituições públicas em busca de alteração de padrões de comportamentos e mecanismos discriminatórios.

O II PNPM sugere, inclusive, a criação de indicadores e desenvolvimento de ações afirmativas para ampliação da participação de negras, lésbicas, indígenas e mulheres na gestão e execução de políticas públicas. Sugere também, capacitar gestores em todas as áreas públicas, além de reforçar as medidas punitivas para ações discriminatórias em razão de gênero, raça/etnia e orientação sexual.

São prioridades deste eixo: a) trabalhar na formulação e implementação de programas e ações afirmativas de enfrentamento ao racismo, sexismo e lesbofobia nas instituições públicas governamentais ; b) fortalecer as políticas de enfrentamento da discriminação contra as mulheres negras, indígenas e lésbicas vitimas de discriminações, além de outras formas de intolerância e discriminação; c) apoiar a capacitação de lideranças do movimento de mulheres e na promoção de políticas e ações de enfrentamento ao racismo, sexismo e lesbofobia e ações afirmativas.

3.2.2.10 Enfrentamento das desigualdades geracionais que atingem as mulheres, com