• Nenhum resultado encontrado

Engenharia Didática: uma metodologia de pesquisa

A concepção de Engenharia Didática, desenvolvida por Michèle Artigue, surgiu no início da década de 1980, na França, com a finalidade de analisar as situações didáticas, como objetos de estudo da Didática da Matemática. A pesquisadora de situações de ensino, Michèle Artigue, fez uma analogia do mapeamento do trabalho didático, comparando-o com o trabalho desenvolvido por um engenheiro. De acordo com Artigue (1996, p. 193), o trabalho didático era

(...) comparável ao trabalho do engenheiro que, para realizar um projecto preciso, se apóia nos conhecimentos científicos do seu domínio, aceita submeter-se a um controlo de tipo científico mas, ao mesmo tempo, se encontra obrigado a trabalhar sobre objectos muito mais complexos do que os objectos depurados da ciência, e portanto a estudar de forma prática, com todos os meios ao seu alcance, problemas de que a ciência não quer ou ainda não é capaz de enxergar.

O contributo da Engenharia Didática ao desenvolvimento prático e de campo desta pesquisa residiu na condição de me colocar, na qualidade de pesquisadora, diante das fases da pesquisa, numa perspectiva prévia e ampla, me ajudando, dessa forma, a compor e compreender os meandros da complexidade dos fenômenos ligados ao ensino com o uso do computador no locus escolar.

Outro diferencial, consistiu em favorecer os ajustes, em acontecimentos locais da pesquisa, como nos diversos momentos de planejamento com os professores para a organização das seqüências de atividades.

Dessa forma, com o intuito da coerência e analogia com as idéias apresentadas na Seqüência Fedathi farei a abordagem e vinculação das quatro fases da Engenharia Didática – análises preliminares, análise a priori, experimentação e análise a posteriori – com os momentos da pesquisa.

A primeira fase metodológica da Engenharia Didática compõe-se das análises preliminares ou prévias da pesquisa, que ajudam a montar um quadro teórico didático, pautado na análise do objeto da pesquisa ante os feitos do ensino na perspectiva atual. Desde o desenvolvimento do primeiro piloto, em 2006, busquei montar e resolver

aspectos do quadro teórico que de alguma forma se relacionassem à Informática Educativa, com o propósito do ensino.

Houve, portanto, um levantamento bibliográfico detalhado vinculado ao uso das tecnologias digitais, aceitei a idéia de que, para realizar um trabalho criterioso, com base nessa ferramenta para o ensino, precisava entender e aprofundar questões relacionadas à formação de professores de Matemática, ao currículo, ao funcionamento de um LIE e à gestão escolar.

Esse aporte teórico contribuiu para esclarecer e delimitar outros componentes igualmente importantes em uma pesquisa desenvolvida em espaço escolar, como o aspecto epistemológico relativo à Informática Educativa, concepção e compreensão das principais dificuldades e campos de entraves dos alunos relativos aos conteúdos da Matemática, além do entendimento da dimensão dos ambientes pedagógico e didático associados às características do funcionamento de ensino, seja na sala de aula ou no LIE.

Essa fase também ajudou a optar pela pesquisa qualitativa participante para elaborar as formas de coleta de dados mais satisfatórias ao tipo de busca que pretendia desenvolver, de forma que favorecesse uma análise consistente e verdadeira.

Esse momento também foi o responsável pela indicação dos sujeitos da pesquisa. Na medida em que o quadro teórico se fortalecia ajudava a explicar o que, em termos de conteúdo, e quem, em termos de indivíduo, deveriam compor o cenário da investigação.

A segunda fase, reconhecida como concepção e análise a priori, permitiu a delimitação das variáveis pertinentes ao sistema de ensino, tendo como suporte as tecnologias digitais. Isso foi possível graças às orientações advindas das análises preliminares.

As variáveis estipuladas relacionavam-se aos objetivos da pesquisa, norteamento das diretrizes já esclarecidas no item 3.1 deste capítulo e previsão da seqüência didática do ensino de Matemática com o uso do computador, para ser analisada e discutida com os professores no momento do planejamento.

Essa fase favoreceu a pesquisa de softwares educativos – GeoGebra, Matris, Balança, Writer, Impress, Potência – que poderiam ser utilizadas nas sessões didáticas. Isso envolveu catalogação, análise da qualidade e verificação de propriedade dos recursos digitais (apêndice 07), pois uma das metas era utilizar nas aulas somente

Paralelamente, a análise a priori possibilitou uma busca por critérios de escolha de

sites4 educativos na Internet, preferencialmente vinculando a Matemática a contextos

em outras áreas do conhecimento, ou mesmo na perspectiva de jogos educativos. Por isso a preferência foi dada por sites que apresentassem vínculos afins na pesquisa e com espaços de interatividade, de fácil navegação e boa usança.

Outro componente presente nessa fase foi a busca de opções didáticas na perspectiva de recursos didáticos concretos que pudessem potencializar e facilitar o ensino do conteúdo definido, tanto para utilização na sala de aula como no LIE. Isso delimitou a quantificação e qualificação da utilização de jogos, fichas de atividade, instrumentos de medição e outros.

A experimentação ocorreu na terceira fase da Engenharia Didática. Essa fase será considerada em todo momento de execução, na perspectiva da ação, seja no caráter das reuniões com o núcleo gestor, no momento do planejamento com os professores, nas sessões didáticas, nas reuniões com a professora do LIE ou mesmo com os alunos monitores.

Em cada momento compreendido como experimentação foram esclarecidos para os sujeitos os objetivos e condições de efetivação e registro da pesquisa. Nas condições de efetivação foram definidos os momentos das reuniões, estudos e planejamentos com os pesquisados. Nas condições de registro, verificou-se a necessidade de uma auxiliar do projeto tomando nota das observações das aulas, com o intuito da maior catalogação de dados possíveis que pudessem contribuir para a validação ou refutação das ações empreendidas durante o projeto, além de filmagens, questionários e outros. Todos os dados registrados através nas observações das reuniões, planejamentos e sessões didáticas foram colocados na plataforma Moodle, alocada no site do Laboratório de pesquisa Multimeios, doravante indicada por MoodleMM. O Moodle é um software livre, executado no ambiente virtual e tem como finalidade o apoio à aprendizagem dos usuários a partir de um trabalho colaborativo. Os registros foram feitos pelas auxiliares do projeto com a finalidade de manter um arquivo que possibilitasse à equipe a realização de consultas posteriores de acordo com as necessidades apresentadas.

4 Os sites utilizados nesta pesquisa foram: http:// pessoal. sercomtel. com.br/ matematica/ fundam/ eq2g/quadratica htm e http://www.geocities.com/tania1974pt/historia.html.

Durante os momentos de experimentação foi respeitado, na medida do possível, as escolhas, deliberações e planejamentos realizados no momento das análises a priori. Evidentemente, os erros de previsão foram considerados e corrigidos no sentido de evitar outros enganos.

A última fase, compreendida como análise a posteriori e da validação, se apoiou em todas as variáveis estipuladas e dados colhidos, através dos mecanismos de registros, nas fases anteriores. O tratamento dos dados foi relativo às variáveis de comando, com o intuito de verificar se os objetivos foram ou não alcançados ou se as diretrizes estavam corretas ou não, emitindo-se daí um juízo de valor sobre o sentido do que foi pesquisado, com as conclusões e recomendações.

3.7 Correspondência entre a Seqüência Fedathi e a Engenharia Didática: aceites e