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Seqüência Fedathi: uma metodologia de ensino

A abordagem sobre a formação inicial do professor de Matemática, de acordo com o explicitado no capítulo 2 deste trabalho, esclarece a dificuldade que representa para esse profissional abrir mão de determinadas atitudes didáticas internalizadas na sua graduação. Uma delas, por exemplo, reside na apresentação de uma atividade, na configuração de um problema qualquer, ao aluno. Essa condução é caracterizada por duas fases, apenas, em que o professor apresenta o problema à turma, resolvendo-o em seguida.

Na visão do Grupo Fedathi, reside nesse imediatismo do docente um dos grandes equívocos no ensino da Matemática escolar, pelo fato de que o professor perde ótima oportunidade de compreender melhor o raciocínio do aluno, bem como de desenvolver com ele a formação de conceitos. O Grupo de Pesquisa em Educação Matemática (Grupo Fedathi), existe desde 1996 e tem o matemático Borges Neto como um de seus fundadores e atual coordenador. Esse grupo tem na sua composição básica, desde sua origem, professores da Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Estadual do Ceará (UECE), alunos do curso de Mestrado e Doutorado da Faculdade de Educação – FACED/UFC, além de graduandos do curso de licenciatura e bacharelado em Matemática da UFC e UECE.

De acordo com os estudos desenvolvidos no grupo, para que o ensino favoreça a reprodução do trabalho de um matemático, faltam, na mediação do professor, que tem uma atitude tradicional, duas fases intermediárias: a que aproxima o professor dos alunos, por meio das discussões e identificação das estratégias de resolução do problema, e outra, que estimula os alunos a apresentarem suas soluções, minimizando, portanto, a valorização do resultado final, pois mais importante que saber se a resposta está certa ou não, são os procedimentos de raciocínio desenvolvidos pelo aluno.

Apresento, assim, em quatro etapas, a estrutura da Seqüência Fedathi, que é uma proposta teórico-metodológica de ensino desenvolvida pelo Grupo Fedathi: tomada de posição, maturação, solução e prova. Na leitura de Borges Neto, Cunha & Lima (2001)

e Lima (2007), é possível encontrar outras discussões dessas fases aplicadas em outros contextos de ensino. Dessa forma, ao explicar cada uma das fases, faço uma relação com momentos ocorridos na pesquisa com o intuito de que a evidência da situação real dê consistência ao aporte teórico.

A tomada de posição, como primeira fase, é considerada aquela em que cabe ao professor tomar a iniciativa. Em um momento circunstancial, de uma sessão didática, consiste na apresentação de um problema aos seus alunos. Essa atitude didática é comum em uma aula de Matemática, pois o professor sempre tem alguma situação- problema a apresentar para o aluno. Na perspectiva da Seqüência Fedathi, contudo, essa fase vai além da apresentação de um problema, pois deve, preferencialmente, estar apoiada por um diagnóstico prévio que o professor tenha feito com a turma para saber o nível de conhecimento sobre o assunto a ser estudado. É nessa fase, também, que o professor deve estabelecer as regras da sua aula, fato que implica o estabelecimento do contrato didático, em que serão esclarecidas as atitudes e comportamentos entre professor e alunos (ROCHA, 2006).

Em um contexto mais amplo, contudo, essa fase também corresponde a momentos que antecedem a aula, em que o professor define seu conteúdo e pesquisa recursos a fim de elaborar a aula. No teor desta pesquisa, essa fase pode ser reconhecida, em vários momentos, além dos que aconteceram nas sessões didáticas, como nas reuniões iniciais com o núcleo gestor para a explicação das estratégias da pesquisa em 2007 e nas reuniões de planejamento de cada sessão didática com os professores. Nessa perspectiva, o desenvolvimento do piloto de 2006 serviu como fonte para diagnóstico das ações em 2007.

A maturação corresponde à segunda fase e, em uma sessão didática, é o momento em que o professor faz sua mediação, incentivando discussões com os alunos para maior compreensão e identificação dos argumentos matemáticos ou variáveis envolvidas no problema. Esse momento favorece ao professor o acompanhamento mais de perto de seus alunos, percebendo suas dificuldades sobre o assunto estudado. Isso ajuda o professor a rever ou mesmo fortalecer suas estratégias.

Numa perspectiva mais geral da pesquisa, essa fase correspondeu aos momentos em que pensamos conjuntamente, pesquisadora e pesquisados, nas dificuldades surgidas, nas estratégias de solução para superar dos problemas. Nos momentos de planejamento com os professores, correspondeu ao olhar mais atento e diferenciado

para aquilo que era considerado trivial, em decorrência da acomodação das atitudes docentes provocada pela rotina dos seguidos anos de magistério. Esse diferencial consistiu em compreender o conteúdo, não mais do ponto de vista do professor, mas do aprendente.

A solução, como terceira fase, em uma sessão didática, consiste na apresentação e organização de esquemas ou modelos que visem à solução do problema apresentado, por parte dos alunos. Tem origem no professor o convite para que o aluno apresente sua solução. O fato de o aluno superar seus medos, anseios e bloqueios e dar um passo em direção ao quadro de escrever, ou mesmo pelo computador, para mostrar como resolveu o que foi pedido pelo professor, representa a aproximação de toda a classe para maior compreensão do que está sendo ensinado.

Isso acontece porque os alunos tendem a prestar mais atenção ao que está sendo explicado por um de seus pares, pois, de certa forma, se reconhecem ali. Esses momentos rompem com mecanismos rotineiros da aula de Matemática e ajudam os alunos a sair da passividade. O professor deve ter cuidado para que na sua mediação não fique em evidência o erro do aluno, mas possibilidades de outras soluções.

Na macrovisão da pesquisa, essa fase pode ser identificada em todos os momentos em que partiu dos sujeitos pesquisados a iniciativa de apresentarem suas estratégias para superação dos problemas surgidos. Na perspectiva do núcleo gestor, por exemplo, quando ressaltou, junto aos pesquisados, maior empenho na pesquisa ou mesmo quando percebeu a necessidade de um espaço físico maior para o LIE. Sob a óptica dos professores, quando no momento dos planejamentos apresentaram suas necessidades, receios, limitações, insatisfações e avanços.

A quarta e última fase chama-se prova. Apesar do nome sugestivo, não significa colocar ninguém em xeque e no momento da sessão didática representa a culminância de um momento, quando da formalização matemática do problema. Nesse aspecto, o professor apresenta à classe a resolução do problema proposto, utilizando uma notação simbólica, sem desconsiderar as soluções apresentadas pelos alunos.

Quando analisada na macro perspectiva da pesquisa, essa fase pode ser verificada em todos os momentos de fechamento de um ciclo; o término, por exemplo, de cada semestre letivo, quando houve reunião geral com o núcleo gestor, professores e monitores. Em cada um desses momentos, foi feito um balanço das ações empreendidas,

por segmento, apresentando-se aí a melhor proposta para a superação das dificuldades surgidas.