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Capítulo 3 – Tema e estratégia de investigação

3.3. Enquadramento concetual

No contexto da Saúde, e dada a complexidade da produção de informação em contexto hospitalar, é necessário assumir alguns conceitos que servirão de base à realização deste trabalho. No que se refere ao conceito de metadado como elemento de informação que descreve outro elemento de informação, considera-se que é limitador, nomeadamente na área da Saúde onde, devido às especificidades das aplicações, nem sempre é bem clara a distinção de dados e metadados.

Para alguns autores o entendimento do que são metadados parece aplicar-se a qualquer atributo que seja descritivo de um dado ou informação (Wallace 1993), independentemente do objetivo para o qual é usado, ou como informação estruturada que permite a gestão da informação possibilitando a recuperação, o controlo, a compreensão e a preservação da informação ao longo do tempo (Cunningham 2001). Tendo presente o enfoque do trabalho na metainformação para o acesso e preservação da informação clínica, e uma vez que, no contexto de produção de informação hospitalar, nem sempre é claro quando um registo ou um atributo de um registo toma o valor de dado, de metadado ou até mesmo de documento, designá-los-emos genericamente elementos de informação, quer sejam vistos como metadados quer como dados, desde que a distinção não seja requerida. Sendo os elementos de informação relativos à representação de um facto, que neste contexto pode ser de natureza clínica ou administrativa, a análise dos elementos de informação existentes nas aplicações terá como referente o facto independentemente do tipo de registo efetuado. Neste sentido, um registo está associado a um facto e tem um determinado conteúdo informacional enquanto seu testemunho ou registo. No caso dos atos clínicos, que são o principal objeto de estudo deste trabalho, os registos ou documentos constituem atos informacionais que documentam os atos clínicos.

Os atos informacionais consistem em dados presentes no documento em papel ou nas tabelas em base de dados, dependendo do ambiente papel ou digital de concretização

do registo. Já a informação acerca dos registos, como a hora e o agente do registo constituem metadados sobre o registo. A especificidade do contexto da Saúde coloca alguma dificuldade na definição de dados e metadados, uma vez que não são comuns as tradicionais descrições detalhadas, como no caso de uma descrição arquivística, em que os metadados figuram como uma descrição sumária e têm habitualmente como objetivo descrever um documento ou outro objeto menos dinâmico e já produzido, de forma a garantir o acesso e a recuperação.

No sentido de clarificar o que é entendido como metadados no contexto do presente trabalho podemos referir, a título de exemplo, a codificação dos episódios de Internamento (INT) e Bloco Operatório (BLO) que é efetuada a posteriori na base de dados WEBGDH e que é entendida como uma descrição dos episódios, com base no conteúdo dos registos clínicos, por grandes Grupos de Diagnósticos Homogéneos (GDH). No que concerne aos registos clínicos efetuados em bases de dados ou aplicações informáticas específicas para registos clínicos pode ser referido, a titulo de exemplo, o registo de um diário clínico onde se entende como metadados o registo da hora, da data, do profissional que efetuou o registo e do contexto orgânico de produção, os quais mais especificamente são considerados como metadados descritivos do contexto de produção. Outro exemplo que pode ser clarificador é o caso do registo de informação técnica sobre uma imagem médica, entendendo-se como metadados as características técnicas que permitem o processamento e leitura da imagem, como a dimensão, a profundidade, a cor, a resolução em pixeis, o formato, entre outros elementos que no contexto do presente trabalho são entendidos como metadados técnicos. A vertente da metainformação de preservação pode ser exemplificada pelo registo de assinaturas digitais e pelas cifras de codificação utilizadas para encriptar informação.

A dificuldade em distinguir, área da Engenharia dos Sistemas de Informação, entre dados e metadados prende-se com o facto das aplicações informáticas serem desenvolvidas para auxiliar o registo informacional de um ato e não para descrever atos informacionais. Neste sentido, os campos pré-definidos e estruturados nas bases de dados refletem a necessidade de registar determinados dados, à semelhança do que acontecia nos registos em papel com a utilização de formulários. Neste contexto e no que se refere à informação que é introduzida de forma estruturada nas aplicações informáticas, levantam-se algumas dúvidas quanto à classificação de alguns elementos de informação como dados ou metadados. Serão metadados as etiquetas onde é indicado que o valor que consta num determinado campo é, por exemplo, a temperatura? E o campo onde é indicado que a temperatura está em graus Celsius, Fahrenheit ou Kelvin? Em muitas situações deste trabalho, a distinção não é essencial e

utlizamos a designação geral de elementos de informação para englobar ambas as categorias, uma vez que não é fácil precisar, no contexto de produção de informação clínica, se um registo de um diagnóstico através da Classificação Internacional de Doenças (ICD) é um dado ou um metadado, ou mesmo todo um Registo Eletrónico de Saúde, que no fundo corresponde a um resumo dos registos clínicos de um indivíduo. No entanto, consideramos importante clarificar a definição de dados e de metadados, no contexto do presente trabalho. Assume-se que, ao contrário dos dados que têm como objetivo registar atos, os elementos de metadados têm como objetivo assegurar que um dado pode ser lido, compreendido e processado, sendo os metadados um conjunto de dados à parte a partir dos quais é possível gerir, resumir e processar dados, bem como relacioná-los com o contexto de produção. Definimos então dados como representações diretas da realização de factos/atos, registadas em suporte físico, contendo os elementos necessários para evidenciar as suas características essenciais e metadados como elementos de informação que complementam os dados relativamente ao conteúdo, ao contexto do ato representado e ao ciclo de vida do seu registo.

Na revisão da literatura foram apuradas algumas funções e categorias de metadados. No âmbito do presente trabalho e com base no contexto de produção de informação clínica assumem-se as seguintes categoria de metadados:

(1) metadados descritivos do conteúdo dos registos ou documentos, por exemplo, codificação por GDH;

(2) metadados de contexto de produção, por exemplo, serviço produtor, profissional que realizou o ato clínico, entidade financiadora;

(3) metadados técnicos, por exemplo, formato do registo ou documento, resolução de uma imagem;

(4) metadados de preservação, por exemplo, data, hora e profissional que efetuou o registo, registo de alterações, assinaturas digitais, informação sobre formas de cifra dos dados e, por fim,