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3. REALIDADE DE APLICAÇÃO DO PROJECTO

3.3. Enquadramento situacional do objecto de estudo

O Centro Cultural Casapiano foi fundado no ano 2000 com o objectivo de constituir um espaço aglutinador do património cultural da Casa Pia de Lisboa e, simultaneamente, um espaço de preservação da identidade casapiana. Tendo em consideração os mais de dois séculos de existência da Casa Pia não é de estranhar que o desejo de perpetuar a memória e identidade Institucional, e, simultaneamente, a vontade de proporcionar um espaço de fruição cultural aos alunos, professores e demais colaboradores tenha sido um denominador comum aos vários dirigentes, em particular, a partir da segunda metade do séc. XIX.

A primeira tentativa coube ao Provedor Francisco Simões Margiochi que, através de portaria9, propôs a criação do pequeno Museu Saffrey anexo à biblioteca aqui existente. Em 189410 o mesmo Provedor ditaria a transferência e integração deste espaço no Museu Escolar situado no extremo ocidental da ala principal do Mosteiro dos Jerónimos. Em 191611, o então Provedor, António Aurélio da Costa Ferreira, incumbe o pintor Eduardo Romero de adquirir o gesso que servira de molde à escultura que representa Simão José da Luz Soriano. Esta seria a primeira peça da futura Galeria de Arte e Museu Escolar inaugurada a 5 de Outubro de 1918.

Já em 1940, viria a ser criada a Biblioteca - Central, Museu e Arquivo, situada no interior do Colégio Pina Manique, em Belém, que reuniria a biblioteca e o arquivo histórico e fotográfico da Casa Pia assim como o acervo artístico, nomeadamente, a Galeria Régia que em tempos ocupara a Sala dos Reis do Mosteiro dos Jerónimos constituída por retratos a meio corpo, “cópias do século XVII de modelos originais perdidos da centúria anterior”12 e por 21 quadros de corpo inteiro representando os reis de Portugal desde D. Afonso Henriques a D. João V, com excepção dos monarcas da III

9 Cf. MAGIOCHI, Francisco Simões - Portarias da Administração: Portaria nº 28. 1891. Acessível no

Centro Cultural Casapiano, Lisboa, Portugal.

10 Cf. MAGIOCHI, Francisco Simões - Portarias da Administração: Portaria nº 173. 1894. Acessível

no Centro Cultural Casapiano, Lisboa, Portugal.

11 Cf. FERREIRA, António Aurélio da Costa - Anuário da Casa Pia de Lisboa, ano económico 1816-

1817. 1817. Acessível no Centro Cultural Casapiano, Lisboa, Portugal

12 In, FRANCO, Anísio – As séries régias do Mosteiro de Santa Maria de Belém e a origem das fontes da

iconografia dos reis de Portugal. In Mosteiro dos Jerónimos - Jerónimos 4 Séculos de Pintura

[catálogo]. Lisboa: Mosteiro dos Jerónimos, 1992, vol.II, p. 72. .

19 Dinastia. A estes viriam a ser acrescentados a posteriori, por encomenda da Casa Pia, os retratos de D. Pedro V, D. Luís I e D. Carlos I.

O espaço em causa contava apenas com um funcionário a quem competia a gestão de todo o acervo aqui reunido mesmo não tendo qualquer formação específica na área. No que respeita ao Museu13 reunia cerca de 636 peças, dividida em seis colecções14: Pintura, gravura, medalhística, armas, estatuária, e mobiliário.

Paralelamente, encontrava-se também aqui reunido o acervo fotográfico, sumariamente identificado, constituído por cerca de 1732 exemplares, designadamente, originais do fotógrafo Carlos Relvas, e a biblioteca e arquivo histórico da Instituição constituído por um importante conjunto documental repartido por livros, volumes encadernados e documentos manuscritos, referentes a mais de dois séculos de história “comportando, na totalidade, mais de 0.8 km”15.

Em meados da década de 80 do século XX surge o desejo e a vontade de criar no seio da Instituição um espaço que permitisse reunir, também, o espólio que se encontrava disperso pelos vários colégios e lares e, por essa razão, sujeito a vários factores de risco aos quais não é alheio o risco de perda ou desaparecimento. Este facto coincide com a reformulação das concepções pedagógicas e do modelo de acolhimento da Casa Pia de Lisboa em que as camaratas foram então substituídas por pequenos lares. A escolha do edifício onde viria a ser construído o Centro Cultural Casapiano, característico de uma arquitectura dos princípios de novecentos mas cujo arquitecto se desconhece, corresponde à ala nascente das camaratas dos Colégios 1 e 2, em Belém. No seu conjunto, a construção era formada por quatro camaratas paralelas encerrando, entre si, dois pátios interiores tratando-se de um esquema de organização adaptado funcionalmente a um sistema de internato.

É neste contexto que, em 1985, surge um primeiro projecto de revitalização das instalações no qual se afirmava o intuito de criar um Centro Cultural que integrasse o

13 Vd. Figura 1: Perspectiva da Biblioteca Central, Museu e Arquivo

14 In. CASA PIA DE LISBOA - Livro de inventário da Biblioteca Central, Museu e Arquivo [S.d.].

Acessível no Centro Cultural Casapiano, Lisboa, Portugal.

15In. AMARAL, Graça; GASPAR, Ana Maria –Relatório sobre o trabalho desenvolvido no Arquivo

20 espólio da Biblioteca Central, Museu e Arquivo, o espólio disperso pelos vários colégios da Instituição bem como o acervo da Biblioteca-Museu Luz Soriano16.

A adjudicação do projecto encomendado pelo antigo Provedor da Casa Pia de Lisboa, Luís Rebelo, tem lugar em 1992 sob a responsabilidade da Articenter – Grupo de Estudos, Projectos e Gestão de Empreendimentos, Lda, coordenado pelo arquitecto Rui Cardim17.

Tendo como programa funcional a criação de um espaço composto pelas principais valências de Museu, Biblioteca e Arquivo Histórico a par com uma zona de cafetaria, ateliers e auditório, a construção durou cerca de seis anos, entre 1994 e 2000, data em que foi oficialmente inaugurado. Distanciando-se da inicial utilização o programa funcional preconizava a revitalização de um conjunto de edifícios que se encontravam em estado de degradação privilegiando a conservação do exterior construído e a introdução de uma edificação no seu interior18.

Simultaneamente, é criada uma Comissão Instaladora responsável pela criação da exposição permanente bem como pela definição da programação cultural e estrutura interna e, em paralelo, foi elaborado o levantamento e a investigação do acervo reunido e publicada a obra Casa Pia de Lisboa: Centro Cultural Casapiano – Património Cultural19.

Inaugurado a 3 de Julho de 2000, por ocasião das Comemorações do 220º aniversário da Instituição, considera-se como documento fundador do Centro Cultural Casapiano o documento que aprova a Lei Orgânica da Casa Pia de Lisboa e cujo artigo 24º define as suas competências:

“ a) Proceder à recolha, classificação e preservação das peças e obras culturais e artísticas da CPL; b) proceder à recolha, classificação, arquivo e divulgação de documentos bibliográficos e documentação técnica e legislativa no âmbito das actividades da CPL; c) Assegurar e promover a edição e divulgação de publicações, revistas, diaporamas e filmes considerados de interesse para a CPL; d) Promover e organizar actividades sociais, culturais e artísticas em

16 Espaço criado por antigos alunos da Instituição com o intuito de reunir testemunhos associados à

Instituição casapiana e pertença do Casa Pia Atlético Clube, uma estrutura também fundada por antigos alunos na década de 20 do século passado.

17 Foi também o autor do projecto de construção do Instituto Jacob Rodrigues Pereira, pertença da Casa

Pia de Lisboa, que em 1987 viria a receber o prémio Valmor.

18 Vd. Figura 2: Perspectiva do interior e exterior do edifício do Centro Cultural Casapiano

19 LIMA, Maria Isabel Santos; NAVARRO, Pina – Casa Pia de Lisboa: Centro Cultural Casapiano:

21 colaboração com outros órgãos e serviços de cultura; d) Promover exposições temporárias temáticas com manifesto interesse para a formação humana, cívica e cultural dos educandos da CPL”20.

Face ao exposto, verifica-se que há uma intenção em preservar e divulgar a temática casapiana e o intuito de constituir um espaço complementar à formação dos públicos internos, em particular, dos alunos da instituição. Contudo, apesar de se denotarem preocupações fundamentais ao nível das funções museológicas, o referido documento apresenta lacunas na medida em que não define a missão, a vocação e os objectivos essenciais deste equipamento cultural.

Por outro lado, se nos reportarmos à época da inauguração deste espaço, verificamos que não é cumprida a totalidade dos 14 requisitos para o reconhecimento de um museu designados pelo Instituto Português de Museus e Observatório das Actividades Culturais responsáveis por encetar, no ano 2000, um Inquérito aos Museus21.

À data da sua inauguração e, embora o Centro Cultural Casapiano contemplasse um sistema anti-incêndio, duas actividades destinadas aos visitantes e suportes e meios de divulgação, embora tivesse um carácter permanente e funcionamento regular e contemplasse duas salas de exposição, biblioteca, arquivo, auditório, sala de reuniões, espaço de cafetaria e um espaço pedagógico como serviços de acolhimento, apenas possuía um inventário sumário das colecções manifestando também uma total ausência de quadro de pessoal próprio e orçamento anual.

20 Cf. DECRETO-LEI Nº 50/2001. D.R. I Série A. 37 (2001-02-13). 815-823 (Aprova a Lei Orgânica da

Casa Pia de Lisboa).

21 SANTOS, Maria de Lurdes Lima dos [Coord.] – Inquérito aos museus em Portugal – Lisboa:

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