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Ensino-aprendizagem de inglês no Brasil

CAPÍTULO 3 – TEORIA DA ATIVIDADE SÓCIO-HISTÓRICO-CULTURAL E A FORMAÇÃO EM

3.2. Ensino-aprendizagem de inglês no Brasil

No Brasil, a língua inglesa é geralmente ensinada em diferentes contextos: nas escolas regulares, nas escolas de idiomas, nas escolas bilíngues, nas universidades, entre outros. Em cada contexto, observa-se que os conteúdos são abordados de formas diferentes e os procedimentos didático-pedagógicos também variam de escola para escola. Cada instituição tem liberdade para adotar a abordagem de ensino-aprendizagem que melhor se adapte às necessidades de seus alunos. Para compreender melhor o ensino-aprendizagem de inglês no Brasil, é necessário discutir inicialmente quais são as principais perspectivas de ensino adotadas hoje em dia. A seguir discorro sobre a perspectiva comportamentalista ou behaviorista (Skinner, 1976), a perspectiva construtivista (Piaget, 1959, 1972) e a perspectiva sócio-histórico-cultural (Vygotsky, 1924, 1926, 1930, 1934).

3.2.1. Perspectivas de ensino-aprendizagem

As teorias de ensino-aprendizagem baseadas no comportamento tiveram início com as pesquisas de Watson (1913), que defendia que o estudo do pensamento deveria ser abandonado e que as pesquisas deveriam focar no comportamento, que poderia ser observado. Para o autor, um comportamento é sempre uma resposta a um estímulo específico. É importante ressaltar que Watson defendia que os processos mentais deveriam ser ignorados por uma questão de método de pesquisa, pois embora os processos mentais existam, eles não podem ser observados e, portanto, não devem ser estudados.

Skinner (1945) foi o primeiro estudioso a aplicar os conceitos do comportamentalismo à educação. Desenvolveu o princípio do condicionamento operante, em que um primeiro estímulo aumenta a possibilidade de uma resposta. O condicionamento ocorre se, após a resposta, seguir-se um estímulo reforçador, que pode ser um reforço (positivo ou negativo) que estimule o comportamento, aumentando a sua probabilidade, ou uma punição (positiva ou negativa) que iniba o comportamento em situações semelhantes.

Para Skinner, a maior parte dos comportamentos humanos são condicionados dessa maneira operante.

Nessa perspectiva, o ser humano é um ser ativo, que opera no ambiente, provocando modificações no mesmo, modificações que por sua vez acabam modificando também seus padrões de comportamento. No campo educacional, o foco está no professor, que se torna o transmissor de conhecimento através da técnica de estímulo, resposta e reforço. Os alunos, por meio de atividades mecânicas, têm seu comportamento moldado. O objetivo do ensino por essa teoria é transmitir ao aluno, através do professor, o conhecimento que deverá ser adquirido e em seguida reproduzido.

A perspectiva construtivista, defendida por Piaget (1896-1980), tem como base a relação de troca que os alunos têm com o meio. O processo ocorre da seguinte maneira: cada vez que a criança é estimulada pelo meio, há um encontro entre estruturas assimiladas anteriormente e a nova estrutura e, nesse momento, há um estado de acomodação entre as estruturas antigas e as novas aquisições. A base do conhecimento é a assimilação de estruturas. O processo de assimilação e acomodação é o que provoca o desenvolvimento linguístico do indivíduo. O processo de aprendizagem à luz dos estudos piagetianos é solitário e egocêntrico e a construção do conhecimento é gradual e contínua. Piaget defende que os fatores internos se sobrepõem aos fatores externos e postula que o desenvolvimento das crianças segue uma sequência fixa e universal de estágios. Desta forma, os conhecimentos adquiridos são elaborados espontaneamente pelas crianças, de acordo com o estágio de desenvolvimento em que estas se encontram. Ao contrário do comportamentalismo, nesta perspectiva o professor tem um papel secundário no processo de ensino-aprendizagem, ele é um facilitador. O aluno, por outro lado, é autônomo e responsável por seu aprendizado.

A perspectiva sócio-histórico-cultural, como discutido nas seções anteriores, está embasada nos estudos vygotskyanos de ensino-aprendizagem. O enfoque desta teoria está nas relações mediadas pelo uso de instrumentos e signos construídos sócio-historicamente. Para Vygotsky, este processo exerce um papel fundamental no desenvolvimento do ser humano, pois é na relação com o outro que o aprendizado ocorre. Dessa forma, o desenvolvimento das funções psicológicas está diretamente relacionado à interação que cada indivíduo tem com o grupo do qual ele faz parte. De acordo com essa visão, há uma

relação direta entre aprendizagem e desenvolvimento. É importante ressaltar ainda que o processo de aprendizagem pode ocorrer fora da sala de aula. Para Vygotsky (1930), devido às interações com o meio sócio-histórico e às relações vivenciadas pelas crianças antes de irem à escola, é possível que uma série de processos de aprendizagem tenham ocorrido muito antes da fase de educação formal.

No contexto escolar, a interação entre o professor e o(s) aluno(s) e/ou a relação entre os próprios alunos deve ser uma relação de colaboração, respeito e crescimento. De acordo com Coll (1994), o desenvolvimento do aluno depende não apenas do professor, mas também dos outros alunos, de pais, funcionários, coordenadores, ou seja, de toda a comunidade. Para o autor, o papel do professor é propor, aos alunos, projetos em que possam realizar o trabalho de forma colaborativa e autônoma, sendo capazes de manter o trabalho em grupo sempre produtivo.

O trabalho em grupo é fundamental nesta abordagem de ensino-aprendizagem, pois favorece a aquisição de novos conhecimentos por meio da interação entre os alunos e/ou o professor. Perret-Clermont (1979) enfatiza a importância do trabalho em grupo no desenvolvimento dos alunos, ao observar que as opiniões divergentes dentro de um mesmo grupo geram conflitos, possibilitando que os alunos se desenvolvam.

As perspectivas de ensino descritas acima deram base para o surgimento de uma série de métodos de ensino. Por questões didáticas, descrevo a seguir os métodos considerados mais marcantes no Brasil.

3.2.2. Métodos de ensino-aprendizagem de inglês

Para pensar o ensino de línguas, torna-se necessário considerar alguns elementos básicos no processo de ensino-aprendizagem, tais como papel do professor e dos alunos, perspectiva de linguagem adotada, função social da língua, conteúdos, tipos de atividade, procedimentos didático-pedagógicos, entre outros. A seguir, discorro sobre os principais métodos adotados no Brasil à luz dos conceitos elencados acima.

 Método baseado na tradução. Tem como objetivo propor atividades de tradução da língua alvo para a língua materna. Há pouco uso da língua alvo e o foco está na

escrita. O professor utiliza a língua materna para dar instruções e os alunos também se comunicam na língua materna.

 Método baseado na leitura. Adotado a partir de 1930, tem como princípio fundamental o ensino da língua estrangeira através da leitura. A tradução também pode ser ensinada e a gramática trabalhada em aula é somente aquela necessária para compreender o texto escrito. O vocabulário é controlado no início e depois expandido. Os professores ensinam aos alunos técnicas de leitura como skimming, scanning, inferência, uso de conhecimento prévio, entre outros.

 Método audiolingual. Criado em 1940, nos Estados Unidos, está baseado na perspectiva comportamentalista. As aulas têm uma estrutura bem fixa, começando geralmente com diálogos, são usadas mímicas e memorizações para induzir suposições sobre o assunto e as regras e as estruturas são praticadas através de atividades repetitivas, conhecidas como drills. Todas as habilidades são trabalhadas, sempre na ordem: compreensão oral (listening), produção oral (speaking), compreensão escrita (reading) e produção escrita (writing). A aquisição da língua focaliza o ensino de elementos linguísticos dissociados do contexto e é feito um grande esforço para prevenir os erros dos alunos.

 Método comunicativo. Utilizado por uma grande quantidade de escolas de idiomas no Brasil, trabalha com a habilidade de comunicação do aluno na língua estudada. O conteúdo inclui noções de semântica e funções comunicativas (e.g. apresentar-se a alguém, fazer um pedido em um restaurante, fazer compras, etc.), mas também estruturas linguísticas, que são geralmente retiradas de um texto trabalhado previamente. Os alunos trabalham em grupo e geralmente apresentam dramatizações (role-plays), fazem entrevistas para descobrir algo sobre o colega e participam de jogos. As atividades refletem situações de comunicação real e todas as habilidades são integradas desde o início. Entretanto, há um foco no trabalho com a produção oral dos alunos, que são encorajados a se comunicarem em inglês desde a primeira aula. Os professores também devem utilizar a língua alvo desde o início.  Método baseado no ensino de gêneros. Focaliza o gênero como instrumento de

ensino-aprendizagem. Alguns exemplos de gênero são: currículo, carta, e-mail, artigo de jornal, entrevista, etc. Nesse método, o trabalho se constrói através de

sequências didáticas (Dolz, Noverraz & Schneuwly, 2001/2004). Um modelo de trabalho seria o seguinte: no início da sequência didática, o professor discute com os alunos um projeto coletivo de produção de um gênero escrito, posto como um problema de comunicação a ser solucionado. Em seguida, há uma apresentação dos características do gênero e, após essa discussão, o professor pede para os alunos tentarem elaborar um primeiro texto do gênero escolhido. O objetivo desse procedimento é avaliar as representações que cada aluno tem do gênero em foco. A sequência será finalizada com uma produção final, que será concluída após várias refacções, pois os alunos têm a oportunidade de praticar diversos instrumentos que ajudarão nos problemas encontrados nas primeiras produções.

 Método baseado em Atividades Sociais. Baseado na Teoria da Atividade Sócio- Histórico-Cultural, a organização do ensino de inglês como atividade foi proposto por Liberali (2009b) com o objetivo de satisfazer as necessidades dos sujeitos na “vida que se vive” (Marx e Engels, 1945-46). Este método trabalha com todos os elementos da atividade: sujeitos, instrumentos, objetos, comunidade, regras e divisão de trabalho. O gênero é utilizado como instrumento para o desenvolvimento da atividade. O foco está nas formas de ensinar, pautadas por uma reflexão sobre como as atividades realizadas na escola podem transformar a vida dos alunos e da comunidade onde estão inseridos. Ao iniciar o planejamento nesta abordagem, é necessário definir inicialmente a ideia-guia do projeto. Em seguida, delimita-se o trabalho transdisciplinar e definem-se as expectativas de aprendizagem.

As teorias de ensino-aprendizagem foram muito importantes ao longo deste trabalho, pois estiveram presentes implícita ou explicitamente não apenas nas discussões realizadas nas sessões reflexivas, mas também nas ações do professor em sala de aula.

Discorro a seguir sobre o processo de formação de professores em um contexto crítico-colaborativo.