• Nenhum resultado encontrado

1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.2. As Normas Legais

1.3.3. Ensino médio

Através do que está declarado na Constituição Federal de 1988, o Ensino Médio sofre alterações, por meio de algumas questões e uma delas surge em decorrência do inciso II, no artigo 208, que diz:

“Progressiva universalização do ensino médio gratuito”.

A Carta Magna de 1988 vem de certa maneira provocar diferentes ações educacionais e mudanças na conceção do pensamento sobre o Ensino Médio, visto que o torna obrigatório e gratuito para todos. Desta forma, sendo para todos os cidadãos, reflete uma perspetiva diferente da que tinha anteriormente, a de uma formação exclusivamente técnica e direcionada para determinadas profissões, bem como a sua universalização, ou seja, buscar oferecer e expandir o Ensino Médio a todos aqueles que ainda não tiveram acesso a este nível de formação escolar.

84

O Ensino Médio caracteriza-se como o último nível da Educação Básica na educação escolar brasileira, destinada aos alunos entre 15 a 17 anos de idade, e de acordo com a LDBEN 9.394/96, no Título V “Dos níveis e das modalidades de educação e ensino”, capítulo II “da Educação Básica”, seção IV “Do Ensino Médio”, artigo 35, diz:

“O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidades: I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV - a compreensão dos fundamentos científico- tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina”.

As afirmativas na LDBEN 9.394/96 podem fazer-nos perceber que nesta etapa da educação, o aluno que já passou pelo ensino fundamental, e por suposição já adquiriu determinados conhecimentos, encontra-se em condições de maior amadurecimento. Então nesta fase escolar cabe consolidar o já visto anteriormente, porém no objetivo de prosseguir com os estudos, preparando-se para a vida do trabalho e do convívio como cidadão, procurando a sua autonomia em diversos âmbitos, seja do intelecto, seja com as especificidades das disciplinas escolares necessárias para a vida.

Na observação dos PCNs do Ensino Médio, a educação está em mudança, e como consequência o Ensino Médio também, e isto opera-se pela consolidação do Estado democrático, através das novas tecnologias e das mudanças na produção de bens, serviços e conhecimentos, que neste sentido, exigem que a

85

escola possibilite aos alunos integrarem-se no mundo contemporâneo, nas dimensões fundamentais da cidadania e do trabalho (Brasil, 2000).

Diferentemente do “Colegial”58 e do “Segundo Grau”59, que antigamente tinham o objetivo de uma formação técnica e profissionalizante, hoje o Ensino Médio ganhou outras características. Kuenzer (2000) ao analisar a nova proposta educacional da Educação Básica e em especial a do Ensino Médio ressalta que essa nova forma de mediação entre homem e conhecimento, não se esgota somente no trabalho e na memorização de conteúdos ou formas de fazer e de condutas, dominantes nas sociedades industriais modernas.

O autor acentua que neste novo paradigma educacional é necessária uma articulação das finalidades da educação para a cidadania e para o trabalho com base numa conceção de formação humana que, de facto, tome por princípio a construção da autonomia intelectual e ética, por meio do acesso ao conhecimento científico, tecnológico e sócio-histórico e a um método que permita o desenvolvimento das capacidades necessárias à aquisição e à produção do conhecimento de forma continuada.

Desta forma, o objetivo na educação escolar na atualidade, passa pela necessidade de desenvolver no aluno determinadas capacidades de saber lidar com as incertezas, mudando da rigidez, de uma única forma de se resolver os problemas, para a flexibilidade e rapidez, tendo em consideração as exigências dinâmicas da sociedade contemporânea.

Para PCNs o Ensino Médio, propõem-se:

“A formação geral, em oposição à formação específica; o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar informações, analisá-las e selecioná-las; a capacidade de

58 Etapa de ensino escolar na LDBEN de 1961, correspondente ao Ensino Médio atualmente. 59 Etapa de ensino escolar na LDBEN de 1971, correspondente ao Ensino Médio atualmente.

86

aprender, criar, formular, ao invés do simples exercício de memorização” (Brasil, 2000, p. 05).

Neste caso a formação geral que se propõe para o Ensino Médio é de proporcionar que todos os alunos possam desfrutar igualmente das mesmas condições de acesso aos bens materiais e culturais socialmente produzidos. O que Kuenzer (2000) refere é uma sociedade em que os jovens possam exercer o direito à diferença sem que isso se constitua em desigualdade, de tal modo que a opção por uma trajetória educacional e profissional não seja socialmente determinada pela origem de classe. Assim a formação geral no Ensino Médio hoje sustenta-se numa única modalidade de ensino, em substituição aos diferentes ramos de ensino técnico específico que vinham sendo oferecidos para atender às demandas de determinadas profissões60, características da sociedade capitalista.

Atualmente, o curriculo do Ensino Médio sofreu reformulações e adaptações, na necessidade de procurar atender às exigências da LDBEN 9.394/96, no sentido maior da cidadania democrática, contemplando conteúdos e estratégias metodológicas de aprendizagem, que habilitem o ser humano para desenvolver atividades no três domínios da ação humana, ou seja, a vida em sociedade, a atividade produtiva e a experiência subjetiva, visando à integração dos alunos no tríplice universo das relações políticas, do trabalho e da simbolização subjetiva (Brasil, 2000).

Os PCNs enfatizam que nesta perspetiva, incluem-se como diretrizes gerais e orientadoras do curriculo os quatro princípios que a Organização das Nações

60 Fordismo / Taylorismo. Concepções de produção implantadas pelo empresário norte-americano Henry Ford e o

engenheiro norte-americano Frederick Winslow Taylor. Uma das preocupações fundamentais era conceber meios para que a capacidade produtiva dos homens e máquinas atingisse o seu patamar máximo. O treino, a especialização e o controle seriam as ferramentas básicas que concederiam a interferência positiva na produtividade da indústria. Ao longo do tempo, a popularização desses conceitos fez com que a demanda por mercados consumidores, matéria prima e mão de obra aumentassem. A indústria que melhor conseguiria atingir e reproduzir as conceções instituídas por Ford e Taylor teria oportunidade de conquistar novos mercados e superar os demais concorrentes comerciais. (Brasil Escola – Fordismo e Taylorismo. Consult. 12 de Jan 2012, disponível em http://www.brasilescola.com/historiag/fordismo-taylorismo.htm)

87

Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura61 cita como eixos estruturais da educação na sociedade contemporânea, assim sendo: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver e aprender a ser.

De acordo com Domingues et al. (2000) esta reforma curricular no Ensino Médio é constituída pedagogicamente com base em um currículo diversificado e flexibilizado. Desta forma este currículo recente envolve a base comum nacional e a parte diversificada, com conteúdos e habilidades a serem definidos clara e livremente pelos sistemas de ensino e pelas escolas, dentro dos princípios pedagógicos de identidade, diversidade e autonomia, como forma de adequação às necessidades dos alunos e ao meio social.

Desse modo os PCNs (Brasil, 2000, p. 18) explicitam que:

“A reforma curricular do Ensino Médio estabelece a divisão do conhecimento escolar em áreas, uma vez que entende os conhecimentos cada vez mais imbricados aos conhecedores, seja no campo técnico-científico, seja no âmbito do cotidiano

da vida social. A organização em três áreas – Linguagens,

Códigos e suas Tecnologias, Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas

Tecnologias – tem como base a reunião daqueles

conhecimentos que compartilham objetos de estudo e, portanto, mais facilmente se comunicam, criando condições para que a prática escolar se desenvolva numa perspectiva de interdisciplinaridade”.

Podemos perceber que o Ensino Médio na atualidade adquire outras características, buscando uma formação geral do indivíduo, onde a aquisição do conhecimento não se reduz a determinados saberes de uma única profissão, o que acontecia em tempos passados. Hoje a proposta da formação geral pode possibilitar ao aluno uma visão mais ampla do mundo que o cerca,

88

buscando uma autonomia individual necessária para que as decisões possam ser tomadas com consciência e o caminho no campo profissional, bem como na sua vida social, sejam opções acertadas pelas perceções a partir das suas intenções.