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ENSINO MÉDIO E TRABALHADORES: O CONCRETO REVELADO POR DADOS

Introdução

Neste capítulo são analisados os dados da pesquisa, a luz do referencial teórico e das opções de método e metodologia, considerando que se trata de uma pesquisa qualitativa.

O materialismo histórico dialético (MARX, 1965; 1968; 2006; 2007), o referencial teórico e a metodologia de análise de conteúdo (BARDIN, 2004); LAVILLE e DIONNE (1999) orientam o processo de interpretação e análise dos dados.

Posteriormente ao estudo bibliográfico e do ordenamento jurídico relacionado ao objeto de estudo, seguiu-se a interlocução com autores escolhidos para a constituição do aporte teórico de sustentação da pesquisa e análise dos dados. Na escolha dos instrumentos de coleta dos dados para obter informações do objeto estudado, empregou- se um modelo de questionário com perguntas fechadas propostas a cem (100) trabalhadores do setor terciário, especificamente das áreas de comércio e serviços, que realizaram seus estudos em escolas públicas da região metropolitana de Goiânia, a partir do modelo de Ensino Médio propedêutico.

Esse critério foi utilizado na proposição do questionário porque o objetivo da pesquisa foi conhecer a realidade do Ensino Médio público propedêutico, frente às demandas atuais do mercado de trabalho. Entretanto, no processo da pesquisa também foram encontrados alguns trabalhadores (16) que fizeram uma parte do Ensino Médio na rede pública e outra na rede privada de ensino.

Os trabalhadores participantes da pesquisa foram escolhidos a partir dos seguintes critérios: No primeiro momento iniciou-se a pesquisa com trabalhadores nas áreas de serviços e comércio de três (3) shoppings centers considerados de alto padrão

112 no município de Goiânia. Em seguida a pesquisa se estendeu a outros dois (2) shoppings

centers localizados em áreas consideradas mais periféricas da região metropolitana de

Goiânia.

Esse procedimento facilitou o contato com os trabalhadores participantes da pesquisa, pois nos shoppings centers os trabalhadores estão mais concentrados em uma área geográfica menor. Em um terceiro momento também foram propostos questionários a trabalhadores de duas (2) áreas consideradas dinâmicas em atividades de comércio e serviços: uma na região central de Goiânia e outra em área mais periférica. Esse procedimento, entretanto, provocou aumento considerável do tempo para o levantamento dos dados, pois os trabalhadores estão mais dispersos pela cidade em áreas maiores e abertas.

Com o objetivo de tomar os diferentes segmentos da classe trabalhadora em distintas áreas geográficas e padrões no tamanho de empresas, procurou-se diversificar o grupo pesquisado entre sujeitos que trabalham em espaços distintos de comércio e prestação de serviços na região metropolitana de Goiânia.

Na fase de proposição de questionários, vários empresários ou gerentes de empresas de maior capital se recusaram a autorizar a realização da pesquisa com seus trabalhadores. Percebeu-se que nesses casos os gerentes ou proprietários suspeitaram que pudesse haver divulgação de informações trabalhistas que viessem a prejudicar seus negócios. Essa recusa em autorizar a proposição de questionários ocorreu mesmo após explicações sobre o caráter ético e científico da pesquisa.

Proprietários de empresas de pequeno ou médio porte ou seus gerentes, ao contrário, apresentaram maior aceitação na autorização para a realização do estudo. Casos muito raros foram os de trabalhadores que não se dispuseram a responder ao instrumento da pesquisa. A falta de tempo foi o principal argumento para não responder ao questionário.

O questionário proposto29 aos trabalhadores apresenta um grupo perguntas estruturadas, outro com variáveis nas respostas e um terceiro grupo de questões com possibilidades de respostas numa escala gradiente que poderia variar entre um (1) e dez (10), como mostra a figura n. 1.

29 Ver apêndice I.

113 A partir dessa escala gradiente, a análise dos dados foi feita segundo uma escala qualitativa de conceitos, a saber:

– Entre 1 e 5: avaliação de fragilidade na dimensão de conhecimentos – Entre 6 e 10: avaliação de potencialidade na dimensão de conhecimentos Os procedimentos de pesquisa foram ajustados de acordo com os desenvolvimento do estudo e as necessidades de compreensão um pouco mais rigorosa da realidade.

Com o objetivo de verificar a relação entre a experiência do trabalhador estudante no processo de formação no Ensino Médio propedêutico público e a sua vida na práxis produtiva capitalista – mercado de trabalho, optou-se pela metodologia de análise de conteúdo que permitiu a construção da matriz analítica, tendo Bardin (2004), além de Laville e Dione (1999) como aporte teórico.

Bardin (2004, p. 37) afirma que análise de conteúdo refere-se a

um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

Na metodologia empregada para elaboração da matriz analítica, que orientou a construção das perguntas propostas aos trabalhadores, considerou-se:

– a opção de referencial teórico que sustenta o presente estudo;

– as significativas mudanças trazidas pela revolução tecnológica e seus desdobramentos, sobretudo no que concerne às dinâmicas das relações sociais de produção em geral e as atuais demandas do mercado de trabalho em particular;

– o arcabouço legal relativo ao Ensino Médio, em especial as diretrizes e os parâmetros curriculares para esse nível de ensino;

– as exigências dos empregadores para contratação de trabalhadores publicadas em sites de divulgação de ofertas de emprego na Internet.

114 Procedeu-se então, no primeiro momento, uma leitura flutuante a partir da análise do corpus documental e dos dados pertinentes ao objeto de estudo, com o objetivo de acessar as informações relevantes, para em seguida agrupá-las em unidades de registro e, por aproximação reagrupá-las em unidades de significação e de contexto. Essa operação de recorte de textos em unidades comparáveis de categorização visa a análise de conteúdo reveladora de sentido e aponta a direção das frequências das categorias e dimensões para procedimentos analíticos (BARDIN, 2004).

É válido mencionar que, no processo de construção da matriz analítica, a reestruturação dos conteúdos da pesquisa é orientada pelas hipóteses. Assinalam Laville e Dione (1999, p. 215-216) que,

à medida que colhe informações, o pesquisador elabora sua percepção do fenômeno e se deixa guiar pelas especificidades do material selecionado. Isso o conduz às vezes a explorar certos domínios particulares para completar essas informações. [...] A análise do conteúdo não é, contudo, um método rígido, no sentido de uma receita com etapas bem circunscritas que basta transpor em ordem determinada para ver surgirem belas conclusões. Ela constitui um conjunto de vias possíveis nem sempre claramente balizadas, para a revelação – alguns diriam reconstrução – do sentido de um conteúdo. Na etapa seguinte procedeu-se o recorte de conteúdos, a partir de agrupamentos de unidades de classificação de registro, elementos portadores de sentido em relação às intenções da pesquisa, posteriormente organizados em função de sua significação (LAVILLE e DIONNE, 1999). O processo de recorte de conteúdos sobre os conhecimentos necessários aos trabalhadores de Ensino Médio possibilitou, de maneira indutiva, a construção de uma matriz analítica que foi tomando forma no decorrer da pesquisa.

Desse modo, frente aos desafios da revolução tecnológica, característica da chamada terceira revolução técnico-científica, com avanços da microeletrônica e da informática, novos desafios e parâmetros educacionais são impostos aos trabalhadores no seu processo de produção da vida social, a saber:

A. – Ampliação da sua capacidade de abstração, de pesquisa, seleção e análise de informações.

B. – Disposição para o rompimento com o pensamento e a compreensão parcial e fragmentada dos fenômenos.

C. – Estímulo à criatividade, bem como e a capacidade de pensar trabalhar em equipes múltiplas alternativas para a solução de problemas complexos.

115 E. – Desenvolvimento da capacidade comunicação e construção de novos

conhecimentos.

A identificação desses conhecimentos ampliou-se a partir da verificação da frequência de repetição das unidades de registro no processo de análise de conteúdos sobre os conhecimentos requeridos ao trabalhador de Ensino Médio. Tais conhecimentos emergiram da realidade pesquisada e dos requisitos de dimensões de conhecimentos apontados por Bruno (1996), Frigotto (1995), Paiva (1995, 2001), Antunes (1995, 2001, 2006) Kuenzer (1997, 2000) e mencionados na página 24 deste trabalho.

Tendo por base, ao longo da pesquisa, os requisitos de conhecimentos exigidos pelo mercado de trabalho da produção flexível, foi possível a construção de 13 dimensões que constituíram a matriz analítica, a saber:

116

Quadro n. 2 – Dimensões de conhecimentos requeridos ao trabalhador de Ensino Médio Propedêutico, no contexto da revolução tecnológica

N. MATRIZ DE CATEGORIAS ANALÍTICAS DE DIMENSÕES DE