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O ensino secundário e jovens com CEI: início de uma aventura

PARTE I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.4 O ensino secundário e jovens com CEI: início de uma aventura

O ES é o nível de ensino que, após o 3º ciclo do ensino básico, e até ao ano letivo de 2011/2012, absorvia apenas os alunos que desejavam continuar os seus estudos neste ciclo de ensino. Todavia, devido a recentes alterações legislativas, a partir do ano letivo de 2012/2013 um novo desafio chegou às escolas com a inclusão no ES dos alunos com NEE graves que, tendo beneficiado de um CEI no ensino básico, continuarão a beneficiar desta medida no ES. Esta realidade já havia sido enunciada na Lei nº 85/2009, de 27 de agosto, quando se determinou, no nº 2 do seu artigo 2º, que a mesma se aplicava “aos alunos abrangidos pelo disposto no Decreto-Lei nº 3/2008, de 7 de janeiro”, situação esta reiterada no Decreto-Lei nº 176/2012, de 2 de agosto, onde, no nº 6 do artigo 6º, se escreve que “os alunos com necessidades educativas especiais que frequentaram o ensino básico com currículo específico individual, nos termos da alínea e) do nº 2 do artigo 16º do Decreto- Lei nº 3/2008, de 7 de janeiro, frequentam o ensino secundário ao abrigo da referida disposição legal”. Deste modo, um maior número de alunos passou a ser abrangido pela obrigatoriedade de frequência deste nível de ensino, nomeadamente os alunos com NEE de caráter permanente, ao contrário do que vinha a suceder até ao ano letivo 2011/2012, quando estes alunos, salvo raras exceções, saíam das escolas regulares após a frequência do 9º ano (ou 16 anos de idade).

Deste modo, as escolas secundárias, “tradicionalmente vocacionadas para o ensino dos currículos nacionais, confrontam-se agora (…) com a necessidade de desenvolver currículos individuais que privilegiem a componente funcional em detrimento da académica” (Pereira, et al., 2012, p. 5), tal como já referimos no ponto 1.2.2, do capítulo 2, a propósito da implementação da Portaria nº 275-A/2012, de 11 de setembro.

Esta Portaria, no seu artigo 3º, face à heterogeneidade dos alunos em causa, alerta para a necessidade de flexibilidade na definição dos conteúdos curriculares e na gestão da carga horária de cada disciplina, bem como para a funcionalidade na abordagem dos conteúdos curriculares, de acordo com os contextos de vida de cada aluno (artigo 3º, alíneas a) e b)). Prevendo também a existência de uma ação coordenada entre as escolas e as instituições de educação especial28 apela-se, assim, à reunião de sinergias entre diferentes

instituições educativas, de acordo com o conceito de educação combinada a que se refere a alínea c) do artigo 2º da Portaria nº 1102/97, de 3 de novembro.

No entanto, não se deve descurar que nesta nova etapa há competências essenciais de vida que estes alunos têm de continuar a desenvolver, sobretudo ao nível das aptidões pessoais e das aptidões sociais, para além do permanente reforço da motivação para que continuem a aprender.

É, sobretudo, nesta etapa que os alunos com NEE que usufruem da medida educativa CEI irão necessitar de uma maior intervenção por parte da escola, uma vez que caberá à instituição escolar despoletar e coordenar os apoios fundamentais à formação integral dos mesmos, para que os referidos alunos não “fiquem entregues a si próprios e às respetivas famílias no árduo processo de integração na vida adulta” (Bénard da Costa, 2011, p. 51).

Contudo, cabe-nos salientar que apesar do ES ser obrigatório, e não obstante a diversidade de oferta educativa que contempla, esta não está acessível a todos os alunos com NEE, sobretudo aos que têm a medida educativa CEI, que são os alunos focalizados no nosso estudo. Como já foi referido em pontos anteriores (pontos 1.1 e 1.2 do capítulo 2, e ao longo do presente ponto), os alunos com CEI possuem caraterísticas muito peculiares e um percurso de aprendizagem díspar dos percursos disponíveis para os restantes alunos, o que lhes impossibilita ingressar num curso de caráter geral. Estas restrições são impostas pelo seu CEI (ver ponto 1.3 do capítulo 2), nomeadamente pela avaliação que é realizada às competências adquiridas

28 Entende-se por instituições de educação especial designadamente as instituições gestoras de Centros de Recursos para a Inclusão (CRI), uma vez que estão orientadas para o desenvolvimento de competências sociais e laborais, constituindo um valioso recurso a colocar ao serviço das escolas de ensino regular (Portaria nº 275-A/2012, de 11 de setembro).

(Decreto-Lei nº 3/2008, de 7 de janeiro), uma vez que os alunos que frequentaram um CEI no ensino básico e que continuam o seu percurso educativo num CEI em processo de transição para a vida pós-escolar (ao abrigo dos artigos 14º e 21º do Decreto-Lei nº 3/2008, de 7 de janeiro) não realizam qualquer prova de exame e não estão sujeitos ao regime geral de avaliação.

Em suma, estes alunos com CEI não reúnem as condições para prosseguir estudos, tal como os restantes colegas, apesar de a Lei nº 85/2009, de 27 de agosto, o Decreto-Lei nº 176/2012, de 2 de agosto, e a Portaria nº 275-A/2012, de 11 de setembro, mencionarem o dever dos alunos com CEI prosseguirem para o ES e de orientarem o respetivo prosseguimento de estudos através de uma matriz que é dotada de bastante flexibilidade, conferindo autonomia aos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas secundárias quanto à gestão da mesma, que deve realizar-se em articulação com o(s) seu(s) parceiro(s). Consoante as condições e as ofertas da escola, os alunos com CEI, tendo por base os respetivos PIT, podem eventualmente ser integrados em turmas de ES, nas quais frequentem disciplinas de interesse relevante ao seu desenvolvimento pessoal e laboral (ou ocupacional). No entanto, a Portaria em questão não se refere explicitamente à inclusão destes alunos em turmas de nível secundário, explicitando apenas que a competência de afetação de docentes de educação especial ao planeamento, desenvolvimento e avaliação das componentes do currículo das áreas de Comunicação e de Matemática é do Ministério da Educação e Ciência (artigo 6º, ponto 1), cabendo aos demais parceiros assegurar o planeamento, o desenvolvimento e a audição das componentes curriculares no âmbito do Desenvolvimento Pessoal, Social e Laboral, do Desporto e Saúde e da Organização do Mundo laboral e Cidadania. Os agrupamentos de escolas e as escolas não agrupadas secundárias estabelecerão parcerias, preferencialmente, com CRI ou IPSS com valência de educação especial, de acordo com o estabelecido no artigo 4º da Portaria que acabámos de mencionar.

Após os 18 anos ou a conclusão do ES, cabe assegurar a integração social ou o eventual acompanhamento destes jovens com NEE por parte de outra instituição, de acordo com o perfil de funcionalidade de cada um, competindo à escola preparar com antecedência a intervenção de outros serviços, para que a saída da escola seja bem sucedida e não se torne num processo angustiante para os referidos jovens e para as suas famílias. Sublinha-se a importância do PIT, sobretudo nesta etapa do processo formativo, pois é este instrumento que possibilita desenhar uma transição para

a vida ativa adaptada a cada aluno e de acordo com o seu perfil de

funcionalidade. É suposto que a partir da elaboração e implementação do PIT os alunos tenham contacto direto com o mundo profissional e sejam progressivamente integrados em contextos reais de trabalho. Quando tal não é possível devido aos seus handicaps, devem ser-lhes apresentadas outras alternativas, como é o caso da integração em Centros de Atividades Ocupacionais (CAO).

Quando os alunos usufruem de um CEI ao longo da sua escolaridade, no final desta obtêm um certificado de competências, de acordo com as competências adquiridas, para que possam ser integrados no mundo profissional ou ocupacional.