• Nenhum resultado encontrado

Importância do apoio dos professores de educação especial no

PARTE II – A COMPONENTE EMPÍRICA DA INVESTIGAÇÃO

1. Uma análise dos discursos dos professores entrevistados

1.6 Importância do apoio dos professores de educação especial no

Na sequência das questões colocadas, quisemos também apurar o parecer dos entrevistados relativamente à pertinência da continuidade do apoio prestado pelos professores de educação especial no ES e ao modo como este deveria ser operacionalizado. No quadro 4 apresentamos uma síntese das opiniões de cada um dos inquiridos.

Quadro 4: Opinião dos professores face à continuidade do apoio do professor de Educação

Especial, aos alunos com CEI no ES e ao modo de o operacionalizar. Entrevis-

tados Respostas

A1

“Eu penso que estes alunos devem continuar a ter apoio do professor da educação especial, porque… já que a formação da educação especial não é ou não abarca todos os docentes. Eu penso que é importante, que pelo menos para esses alunos que têm determinadas caraterísticas… caraterísticas que têm que ser trabalhadas, deverão ser… e continuar, portanto, a ser trabalhadas pelos professores do ensino especial ou educação especial.”

A2

“Claro que sim, (…) Claro que devem beneficiar do (…) grupo de educação especial (…) porque sabem trabalhar as áreas, as competências definidas para estes alunos… Muito mais competências, que ultrapassam o currículo normal e individual, diferente dos outros.”

B1

É fundamental (…) Porque são eles [professores de educação especial] que dão, mesmo as indicações que nós precisamos. Primeiro, eles estão mais em contacto com eles [alunos] (…) No caso dos meus alunos [alunos com CEI], eles estão muito mais em contacto com… com… o professor de ensino especial. Por outro lado, é o professor de ensino especial que, muitas vezes, nos fornece… ferramentas, que nos diz como é que devemos atuar (…) que nos dá essas indicações todas. Até, às vezes, das próprias capacidades que eles têm e até onde podem ir. Até onde é que nós podemos exigir deles. Essas indicações são, realmente, grande ajuda para o professor, porque de facto é o que tem maior contacto com eles. São fundamentais.”

B2

“Sim, o aluno deverá ser apoiado. O currículo é feito (…) pelo professor mediante as dificuldades que o aluno… tem. Portanto, a realidade muda, conforme a realidade (…) do aluno.”

43 Correia (1999) refere que “os professores do ensino regular treinados em técnicas de integração podem naturalmente responder mais adequadamente aos alunos com problemas de aprendizagem ou de comportamento. À medida que os professores adquirem mais competência para responder eficazmente a crianças com problemas na aprendizagem, melhoram os resultados da integração e decrescem as solicitações aos serviços de educação especial” (p. 161). Ainda a este propósito Carvalho e Peixoto (2000), referem que “os professores não têm formação específica para o trabalho com crianças com Necessidades Educativas Especiais; atitudes de exclusão têm como origem a falta de formação e informação dos professores” (p. 161).

C1

“ (…) quem aborda as competências funcionais, a leitura, a escrita, o cálculo, a informática somos nós, professores da educação especial… se somos as pessoas mais indicadas, ou não, para o fazer… isso é discutível, mas somos nós que o fazemos…”

C2

“ (…) acho que é fundamental estes alunos terem o apoio do professor de educação especial… Estes alunos, dependendo do grau da problemática, alguns alunos são capazes até de fazer alguma leitura funcional. Portanto, o professor da educação especial aqui é importante nesse sentido. É importante no desenvolvimento de competências de autonomia, competências de socialização (…) O saber estar, o saber respeitar o próximo, o saber cumprimentar, o saber cumprir tarefas (…) O saber… deslocar-se nos diferentes espaços da escola… o saber, também, ir lá fora da escola saber onde estão os transportes públicos, como conseguem utilizar os transportes públicos. Como conseguem ir a um supermercado fazer compras, o estabelecimento da lista de compras. Portanto, acho que o professor de educação especial… tem um papel fundamental no desenvolvimento da autonomia e independência pessoal destes alunos.”

D1

“Acho que sim (…) ele é (…) o pivô, o elo de ligação entre os alunos e todos os outros professores (…) o professor do ensino especial é fundamental… nas escolas onde existem este tipo de alunos.”

D2

“ (…) sem dúvida. Agora, de que forma? Se calhar, varia consoante o tipo de aluno que (…) temos presente, mas com certeza que… que a presença do professor de apoio de… de educação especial, tem que estar sempre… presente. Sem dúvida.”

A inclusão baseia-se num sentido comunitário em que todos os envolvidos formam uma teia de ligações, fazendo com que os alunos aprendam mais com os professores e uns com os outros, que os pais se envolvam mais e que a direção partilhe as suas ideias (Correia, 2005). Por isso mesmo, é necessário o envolvimento de todos numa escola para todos (Silva, 2004). Os professores devem trabalhar em equipa, colaborando no sentido de se tornarem “solucionadores de problemas” (Porter, 1998), uma vez que “um ideal social, educacional, inclusivo, só pode ser alcançado se juntos enfrentarmos as adversidades, caso contrário enfraquecemo-nos, isolamo-nos uns dos outros, cada qual com a sua maneira de ver, entender, falar e agir” (Almeida, 2005, p. 13). Com efeito, todos os envolvidos no processo educativo deverão trabalhar em colaboração, no sentido de encontrar estratégias promotoras do sucesso escolar, nomeadamente o dos alunos com NEE. E o professor de educação especial é muitas vezes o agregador e o dinamizador das sinergias que podem resultar desses diversos contributos. Não raras vezes, porém, estes deparam- se com constrangimentos que surgem no trabalho de articulação a desenvolver com os seus pares, professores do ensino regular, nomeadamente face a alguns receios desencadeados pelos processos de mudança, em especial porque, como muitas vezes argumentam, sentem que não possuem a

formação necessária e adequada para trabalhar em sala de aula regular com os alunos com NEE, uma vez que não dominam os seus problemas específicos. Destes aspetos, aliás, também nos dão conta Correia e Martins (2000), citados por Correia (2008), já referidos no ponto 1.6.2 do capítulo 1.

No nosso estudo, todos os entrevistados foram unânimes declarando que

os discentes com NEE, que têm CEI, devem continuar com o apoio do professor de educação especial durante o seu percurso escolar no nível secundário, uma vez que nem todos os professores possuem a formação em

educação especial. Esta é também a opinião da entrevistada A1 que considera que

o apoio deve continuar a ser de forma individualizada mas dentro do contexto da sala de aula, para permitir esclarecer as dificuldades, in loco, mas também permitir ao docente da Educação Especial apropriar-se das interações e dificuldades sentidas neste processo. (EA1)

Assim, a entrevistada A1 defende a continuidade do apoio pelo professor de educação especial, que deverá ser individualizado e na sala de aula para o docente se aperceber das reais necessidades do aluno.

Considera a entrevistada A2 que são os professores de educação

especial que melhor estão preparados para desenvolver as competências nos alunos com CEI. Também a entrevistada B1 pensa que são estes

professores que, para além de serem os docentes com maior contacto com

estes alunos, auxiliam os professores do ensino regular no desempenho das suas tarefas com os alunos que usufruem de CEI.

O entrevistado D1 partilha também desta opinião, que evidencia a importância do apoio dado aos alunos pelo professor de educação especial, sublinhando que é este docente que estabelece a ponte entre os alunos e os seus professores. Logo, na sua opinião, o professor de educação especial é fundamental nas escolas com alunos com NEE e com CEI.

Tal como defendeu a entrevistada A1 que citámos, também a entrevistada

B1 mencionou-nos que o apoio ideal “seria na sala de aula juntamente com

toda a turma, (…) [com] o professor presente (…) ” (EB1). Contudo, não nos

escondeu algumas das suas hesitações, uma vez que, como revelou, “não sei

perturbar o funcionamento da aula” (EB1). Já no entender da entrevistada B2 a

intervenção do professor de educação especial deve adaptar-se às necessidades do aluno. Esta opinião é igualmente partilhada pela

entrevistada D2, que também afirmou que o apoio deveria adequar-se ao tipo de aluno presente. Efetivamente, este mesmo princípio encontra-se sustentado na Declaração de Salamanca (ponto 2), quando refere que “as crianças e jovens com necessidades educativas especiais devem ter acesso às escolas regulares, que a elas se devem adequar através duma pedagogia centrada na criança, capaz de ir ao encontro destas necessidades” (p. viii).

De acordo com o entrevistado C1, são os professores de educação especial que abordam com os alunos as áreas referentes às competências funcionais, embora deixe em aberto se serão os professores de educação especial “as pessoas mais indicadas, ou não, para o fazer” (EC1). O mesmo acrescentou que, com a aplicação do disposto na nova Portaria nº 275-A/2012, de 11 de setembro, “nem sequer [se] prevê a ida dos alunos de currículo

específico individual à turma” (EC1), observando ironicamente que “isto em termos de inclusão é fabuloso” (EC1). Ou seja, o entrevistado considera muito

problemático o que está ou poderá vir a acontecer em termos inclusivos face a esta ambiguidade criada pela referida Portaria. Na análise do referido entrevistado, e de acordo com a matriz curricular apresentada na Portaria nº 275-A/2012, de 11de setembro, o aluno com CEI, apesar de estar matriculado numa determinada turma, poderá não frequentar aulas com a mesma, uma vez que, no seu ponto de vista, o discente frequentará algumas aulas com o professor de educação especial e o restante horário deverá ser realizado num CRI ou numa IPSS com valência de educação especial. O que, visto desta forma, configura uma certa exclusão do referido aluno dentro da própria escola.

Parece-nos, perante o que nos foi dito, que em lugar de se promover a inclusão social através da preparação dos jovens para uma vida de qualidade e para a inserção na vida adulta através das competências pessoais (saber estar e saber ser), sociais e profissionais, o que acontece, de acordo com o que refere este docente da educação especial, é que

acabaram-se as idas à turma, durante 3 anos são algumas aulitas

isso não está a acontecer, porque as escolas não têm esses protocolos a funcionar. Portanto, os alunos continuam a ter a mesma matriz curricular de sempre. (EC1)

A chamada de atenção feita por este docente vai ao encontro do que

Correia (2008) menciona quanto ao facto de a inclusão não poder ser a mera

colocação de todos os alunos com NEE nas classes regulares sem que um conjunto fundamental de pressupostos seja assegurado, tais como a

legislação, os vários recursos necessários e a colaboração efetiva de todos os intervenientes num processo de socialização e de educação que deve ter um sentido amplo.

Nesta linha de pensamento, a entrevistada C2 reconhece que o professor de educação especial, para além de desenvolver competências de autonomia e de independência pessoal dos alunos com CEI, de promover a sua socialização e o desenvolvimento de competências académicas de acordo com as capacidades de cada um, tem também o papel de assegurar a transição e a articulação entre os docentes do ensino básico e ES. O professor de

educação especial adquire, assim, um papel de ponte entre o ensino básico e o ES, transmitindo todas as informações necessárias aos professores

do ES, como forma de dar a melhor continuidade ao trabalho desenvolvido com o aluno com NEE e com CEI neste nível de ensino.

1.7 Implicações da conjugação das medidas de alargamento da