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ENSINO UNIVERSITÁRIO EM ANGOLA, COM FOCO EM BENGUELA

CONTEXTUALIZANDO JOVENS, ENSINO UNIVERSITÁRIO E MEDIA EM ANGOLA

ENSINO UNIVERSITÁRIO EM ANGOLA, COM FOCO EM BENGUELA

Este capítulo visa fazer uma breve incursão sobre o ensino superior em Angola, particularmente na província de Benguela, onde foi realizada a pesquisa empírica desta tese. Esboça aspectos da evolução histórica do ensino universitário, o quadro actual em termos de oferta de estabelecimentos e cursos, bem como os números de efectivos estudantís no país e na província.

1. A universidade em Angola: das origens à actualidade

A implantação do Ensino Superior em Angola data de 1962, por força do Decreto- Lei 44530, de 21 de Agosto, do Governo colonial, que cria os Estudos Gerais Universitários de Angola integrados na Universidade Portuguesa. No entanto, a iniciativa ganha corpo, de facto, quando os referidos Estudos Gerais Universitários são fixados em Luanda, a 6 de Outubro de 1963. De acordo com Silva (2004:155), nessa altura, os mesmos funcionaram com cursos nas áreas de Agronomia, Medicina, Engenharia, Medicina Veterinária e Ciências Pedagógicas, assegurados por 18 docentes. O número inicial de matriculados foi de 286 alunos.

A Reitoria universitária é fixada em Luanda em 1965. Os cursos de Medicina Veterinária, Agronomia e Silvicultura são transferidos para a cidade de Nova Lisboa (actual Huambo) e o de Ciências Pedagógicas para a cidade de Sá da Bandeira (actual Lubango). Três anos mais tarde, isto é, em 1968, através do Decreto-Lei nº 48790, de 23 de Dezembro, os Estudos Gerais Universitários foram convertidos em Universidade de Luanda.

Depois da proclamação da independência nacional, em 1975, o Ensino Superior passou a ser um dos subsistemas do Sistema de Educação do país. Em 1976, através da Portaria nº 76-A/76, de 28 de Setembro, do Ministério da Educação e Cultura, a

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Universidade de Luanda passa a chamar-se Universidade de Angola, ostentando o estatuto de única instituição de ensino superior no país e com carácter público. Foi seu Primeiro Reitor, António Agostinho Neto, Primeiro Presidente da República, cujo nome viria ser atribuído à instituição, em 1985, seis anos após a sua morte, em 1979, por força da Resolução nº 1/85, do CDS (DR 9- 1ª Série, 28 de Janeiro), passando a designar-se Universidade Agostinho Neto (UAN).

Na década de 80 do século XX, a UAN reforçou a sua estrutura com a criação de novas unidades orgânicas. Ao mesmo tempo, criou centros universitários em Luanda, Lubango e Huambo, a partir dos quais activou mecanismos de ensino à distância.

As transformações políticas e socioeconómicas iniciadas no país em 1991, principalmente com a liberalização do mercado, repercutiram-se igualmente no sector do ensino superior. Nos anos seguintes, marcou-se o fim do monopólio da UAN como única instituição universitária no país. A Universidade Católica de Angola (UCAN), é a primeira instituição privada de ensino superior a entrar em funcionamento. Foi "autorizada pelo Governo da República de Angola através do Decreto nº 38-A/92, de 7 de Agosto e instituída a 29 de Outubro de 1997, após aprovação da Sagrada Congregação de Educação Católica (SCEC)" (Estatuto Orgânico da Universidade Católica de Angola, 2013:1). Mas só começou a trabalhar de facto a 22 de Fevereiro de 1999.

Seguiram-se outras iniciativas de carácter não estatal a partir das quais surgiram o Instituto Superior Privado de Angola (ISPRA), em 2000, a partir do qual surgiria a Universidade Privada de Angola (UPRA), em 2007; a Universidade Jean Piaget de Angola (UniPiaget Angola), em 2001; a Universidade Independente de Angola (UnIA), em 2004; a Universidade Lusíada de Angola (ULA); e o Instituto Superior de Ciências Sociais e Relações Internacionais, em 2007, entre outras.

Entretanto, é importante salientar que mesmo com o surgimento de várias dessas instituições universitárias privadas, a UAN manteve a exclusividade, por mais alguns anos, no sector público de ensino superior no país. Segundo Sebastião Teta (2013), "esteve, até 2002, em 7 das 18 províncias de Angola: Luanda, Huambo, Huíla, Benguela, Uíge,

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Cabinda e Kwanza-Sul. Funcionavam, até a altura, 31 cursos de licenciatura" (p. 31-32). Esse figurino foi mudando gradualmente.

No período entre 2002 e 2007 o ensino superior público viu-se reforçado com mais duas instituições e o privado com treze (Teta, 2013:33). No ano de 2009, procedeu-se à criação de "regiões académicas que delimitam o âmbito territorial de actuação e expansão das instituições de ensino superior" (Decreto nº 5/09, de 7 de Abril). A região académica I passou a compreender as províncias de Luanda e Bengo; a região académica II, as províncias de Benguela e Cuanza-Sul; a região académica III, as províncias de Cabinda e Zaire; a região académica IV, a Lunda-Norte, Lunda-Sul e Malanje; a região académica V, o Huambo, Bié e Moxico; a região académica VI, a Huíla e Namibe, a região académica VII, as províncias do Uíge e Cuanza-Norte e, finalmente, a Região Académica VIII, as províncias do Cuando Cubango e Cunene.

Com intuito de cobrir as zonas académicas ora criadas, a Universidade Agostinho Neto foi desmembrada, através do Decreto nº 7/09, de 12 de Maio, e, criaram-se mais 6 novas universidades públicas regionais. O facto permitiu a chegada do ensino superior às 18 províncias do país. Deste modo, a Universidade Agostinho Neto, passou a circunscrever- se à região académica I, a Universidade Katyavala Bwila, à região académica II, a Universidade 11 de Novembro, à região III, a Universidade Lueji A‟Nkonde, à região IV, a Universidade José Eduardo dos Santos, à região V, a Universidade Mandume ya Ndemufayo, à região VI, a Universidade Kimpa Vita, à região académica VII, e, mais recentemente, através do Decreto nº 188/14, de 4 de Agosto, a Universidade Cuito do Cuanavale, à região VIII.

As afirmações de Victorino (2012) traduzem devidamente o desenvolvimento registado neste subsistema de ensino:

No ensino superior registou-se a criação de 6 novas Universidades públicas em 2009, resultantes do redimensionamento da única universidade pública existente até então. A abertura do ensino superior ao sector privado possibilitou a criação de 22 Instituições de ensino Superior, tuteladas por entes privados. Esta expansão do ensino superior possibilitou a triplicação do n.º de estudantes matriculados no ensino superior. O número de jovens graduados é, a cada ano, cada vez maior, com forte implicação positiva na vida de muitas famílias. (Victorino, 2012:9).

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O processo de criação ou legalização de instituições universitárias continuou no país, à luz do Decreto Presidencial nº 168/12 de 24 de Julho. Até finais de 2011, passou-se a contar com uma academia e dezanove instituições públicas de ensino superior autónomas, distribuídas nas distintas regiões académicas e uma ordem de 51 unidades orgânicas. No sector privado, o número de instituições era de 22, distribuídas entre universidades e institutos superiores politécnicos.

Tratava-se de avanços que se registavam ao nível das infra-estruturas de ensino superior, sobretudo desde que o país alcançou a paz, em 2002. Em véspera da celebração do 10º aniversário desse bem nacional, contavam-se efectivamente "17 universidades (7 estatais e 10 privadas), 19 institutos superiores (7 estatais e 12 privados) e 2 escolas superiores autónomas (ambas estatais)" (Carvalho, 2012). Neste caso, eram 38 Instituições de Ensino Superior (IES), até pelo menos em finais de 2011.

Já em 2012, aquando de sua investidura ao cargo, o Presidente da República de Angola avançou novos dados, ao declarar a existência no país de "17 universidades e 44 institutos superiores"(Buza, 2012:5). Nos anos subsequentes ampliou-se este quadro de oferta de oportunidades de ensino, tanto no sector universitário público como no privado. No sector universitário público, a criação da VIII Região Académica e, concomitantemente da Universidade Cuito Cuanavale, cobrindo as províncias do Cuando Cubango e do Cunene, conferiu novas oportunidades de ensino às populações dessas regiões e não só. Até 2016, o país contava com 73 Instituições de Ensino Superior (IES), sendo 64 funcionais. Destas, 24 são públicas e 40 privadas. Do universo da IES destacado, contam-se 18 universidades (8 públicas e 10 privadas), 41 institutos superiores (11 públicas e 30 privadas) e 4 escolas superiores estatais (MES, 2015; MES, 2017).

 Evolução do efectivo estudantil universitário em Angola (2012-2016)

Quando terminou a guerra em Angola, em 2002, era reduzida a capacidade instalada no ensino superior perante a grande demanda. Com base nos dados de que dispunha, Teta (2013) afirmou que "a população estudantil geral do subsistema do ensino superior era composta, no ano lectivo 2001/2002, de 9.129 estudantes na UAN e cerca de 2.000 estudantes nas universidades privadas" (p. 32).

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Com a paz vigente no país, acelerou-se a expansão da rede universitária e a oferta curricular. Por exemplo, o então Reitor da Universidade Agostinho Neto descreveu o crescimento registado entre 2002 e 2007 nos seguintes termos:

A procura anual pelos cursos ministrados na UAN variou de cerca de 5.000 (cinco mil) para cerca de 70.000 (setenta mil), enquanto a oferta (numerus clausus) anual variou de 856 (oitocentos e cinquenta e seis) para 8.300 (oito mil) vagas; O número de estudantes inscritos num dado ano lectivo cresceu de 9.129 para cerca de 54.000 (cinquenta e quatro mil) estudantes; O número de finalistas por ano (graduados e pós-graduados) aumentou de 172 (2001/02) para 2.557 (2007) finalistas, entre mestres, licenciados e bacharéis; O número de cursos cresceu de 31 para 83. (Teta, 2013:32).

A Tabela 1 espelha alguns indicadores de crescimento registados na Universidade Agostinho Neto, nos primeiros cinco anos de paz e reconstrução nacional no país (2002- 2007):

Tabela 1 – Alguns indicadores de crescimento da UAN (2001/2-2007)

Indicadores Anos Académicos

2001/2 2007