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PRÁTICAS DE JOVENS UNIVERSITÁRIOS COM OS MEDIA

Total 43 43 Bandas desenhadas 7 Agostinho Neto e outros

3. Ouvir rádio na infância e adolescência

Num artigo publicado em 2010, Baroni e Baldo escreveram que "pensar em rádio é ter em mente características básicas como o uso apenas da linguagem oral, a penetração, sua mobilidade – tanto de emissor quanto de receptor, o baixo custo de produção, seu imediatismo, instantaneidade e autonomia, mas, principalmente, sua sensorialidade" (p. 2). Pelas suas características, a rádio foi sempre considerada o mass media "mais popular e de maior alcance público" e, "muitas vezes o único a levar a informação para populações de vastas regiões que ainda hoje não têm acesso a outros meios, seja por motivos geográficos, económicos ou culturais" (Amaral, 2009).

Em Angola, a ubiquidade da rádio pode considerar-se igualmente um facto. Apesar de alguma carência de dados efectivos sobre o alcance nacional da rádio, tanto em sinal de difusão como em quantidade de aparelhos-receptores nos domicílios ou em posse dos cidadãos, sabe-se que todas as sedes provinciais e de alguns municípios e comunas têm sido servidas pelo sinal de rádio garantido pela Rádio Nacional de Angola, a emissora estatal e única com representação nacional até aqui autorizada. O mesmo se passa em relação à expansão de receptores pelos milhares de domicílios e/ou milhões de utentes, cuja contabilização é igualmente inexistente, revelando-se mais complexa na actualidade devido a multiplicidade de plataformas tecnológicas de audição de rádio.

De qualquer modo, alguns estudos de audiência de media em Luanda, a capital e a mais densa província do país, realizados nos últimos 15 anos, revelaram uma supremacia da rádio em relação a outros meios de comunicação quanto à penetração territorial e sociocultural. Em 2002, por exemplo, foi apontado como "instrumento de acesso à informação mais comum nos lares luandenses, uma vez que em cada vinte lares inquiridos, em dezanove declarou-se posse de aparelho de rádio" (Carvalho, 2002:54).

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Em termos práticos, quer em Luanda quer em outra província de Angola o acesso e o uso da rádio podem ser concretizados independentemente da localização territorial e da condição socioeconómica e cultural dos cidadãos. Isto é igualmente confirmado pela transversalidade do aparelho receptor nos lares dos sujeitos do nosso estudo, enquanto mais novos, vista no início deste capítulo.

Nesta secção, a nossa atenção incide sobre a relação que os jovens universitários de Benguela estabeleceram com a rádio, enquanto crianças e adolescentes. Vimos que este meio de comunicação esteve presente em todos os lares. Isto traduz o contacto dos mesmos com o referido artefacto de comunicação, desde muito cedo, uma vez ter constituído um aparelho que integrou os seus berços de media.

Deste modo, o acesso e uso da rádio por estes jovens deve ser analisado à luz da exposição dos mesmos, na infância e adolescência, aos meios disponíveis no seu ambiente mediático. A paisagem de media doméstica deve servir de base para a análise, embora não esgote na totalidade o sentido de exposição aos meios de comunicação já que houve circunstâncias de acesso aos media em ambientes extra domésticos. A seguir veremos o conteúdo desse contacto mediático dos jovens com a rádio, enquanto crianças e adolescentes.

 Modos de interacção com a rádio

O tradicional aparelho de rádio esteve presente em todos os domicílios familiares dos sujeitos durante a infância e adolescência. Isto traduz que os mesmos tiveram condições básicas de acesso ao aparelho de rádio e, por conseguinte, ao sinal das estações emissoras, mesmo que individualmente não tivessem tido interesse ou intenção de ouvir algum programa radiofónico. Nesta entrevista, foram solicitados a responder quanto ao modo ou a frequência de uso desse meio de comunicação e, ao mesmo tempo, a relatar a experiência de ouvir rádio num tempo em que a televisão já se afirmava no país e que todos tinham televisor em casa.

173 Gráfico 7 – Sujeitos por frequência de uso de rádio na infância/adolescência (N=44)

De acordo com gráfico, apenas 18% dos sujeitos, maioritariamente do sexo feminino, referiu que ouvia rádio com frequência. Entre ouvintes irregulares ou que não se recordam de ter tido a experiência de audição de rádio, foram recorrentes afirmações como: “Não ouvia mesmo rádio, não ouvia rádio" (Tchingue, 30 anos); “Na infância nunca aconteceu eu por minha vontade ir ligar a rádio” (Tchitumba, 22 anos); “Ouvia de vez em quando, não era assídua, era pouco” (Cassinda, 26 anos).

São diversas as razões apontadas para a não audição de rádio. As razões mais referenciadas confluem num certo desinteresse dos informantes resultante do fraco hábito de consumo de rádio:

"Nunca me interessei assim em ouvir rádio naquele tempo" (Mazunina, 22 anos);

"Me aborrecia enquanto criança ouvir rádio" (Cláudia, 21 anos);

"Não, eu nunca fui ligado a isso" (Aristófanes, 25 anos);

"Nunca tive interesse, ouvia muito pouco. Sozinha não consigo, talvez se tivesse no meio de gente e tivesse um rádio aí a trabalhar. Até mesmo agora no carro quando estou a conduzir prefiro ouvir música do que rádio" (Jamba, 21 anos).

As afirmações revelam que o consumo de conteúdos radiofónicos não constituiu rotina na infância e adolescência da maioria dos sujeitos. Em algumas circunstâncias, o uso esporádico desse meio de comunicação pelos mesmos não foi intencional. A sua exposição aos distintos canais ou programas radiofónicos foi induzida por pessoas adultas, da família ou não, quando estes ouviam espaços de sua preferência:

"Raras vezes ouvia rádio, mas não por iniciativa minha, ouvia porque alguém ligou a rádio" (Lussati, 20 anos);

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"Ouvia assim à distância. Não é porque eu sentava para ouvir. Ouvia porque

alguém passou" (Catarina, 29 anos);

"Rádio ouvia na casa dos outros, porque mesmo em casa quem abria rádio era o pai" (Amândio, 26 anos);

"Ouvia por influência dos pais. Ligavam o rádio e eu acabava por ouvir"

(Fernanda, 21 anos).

Como se vê, normalmente os pais eram os principais mediadores de consumo de rádio na família. Não que quisessem intencionalmente cultivar o hábito de audição de rádio nos mais novos. Tratava-se de uma acção indirecta resultante do ritual doméstico em que os membros da família acabavam por se ajustar às preferências de consumo de rádio do chefe de família:

"Ouvia porque o pai estava aí a ouvir. Eu a fazer o trabalho de casa e ouvia porque o pai estava a ouvir, só assim. Por iniciativa própria não ouvia"

(Cambovo, 24 anos);

"O meu pai só podia fazer-se aquilo que ele gostava. Então não podia aceitar

mais outras interacções e nós não tínhamos como, tínhamos que admitir apenas isso" (Abelardo, 24 anos);

Trata-se de comportamentos de consumo típicos de modelos familiares tradicionais, ainda vigentes em muitas comunidades angolanas, consubstanciados na supremacia das preferências da figura paterna às quais, habitualmente, se sujeitam ou obedecem os restantes membros da família. Nestes casos, os jovens acabavam por ouvir programas de rádio favoritos dos pais mesmo que, na maioria das vezes, não os preferissem ou percebessem:

"Ouvia algumas vezes por intermédio do pai. Ouvia o programa umbundu, mesmo que não entendesse nada" (Fátima, 20 anos);

"Ouvia muito por influência do meu pai, porque não gosto muito do futebol pela rádio. Ele porque era adepto do futebol, eu era uma espécie de porta-voz dele. Era obrigado a ouvir rádio para lhe transmitir os resultados dos jogos, tinha que apontar, tendo luz ou não, tinha que ouvir a Rádio 5" (Maurício, 22 anos).

Houve quem olhasse para esse tipo de consumo como algo retrógrado, uma vez que ouvir rádio era considerado um hábito inerente a pessoas adultas:

"Eu não ouvia rádio. Só o meu pai é que ouvia rádio. As vezes nós nos perguntávamos o que é que este estava a ouvir aí na rádio. Eu só dizia que

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rádio era para velhos, não era para crianças nem para jovens. Era só para velhos" (Tomás, 20 anos);

"Era tipo uma sociedade muito atrasada e nós sempre assim ficávamos a ouvir rádio por influência dele [pai]" (Abelardo, 24 anos).

Apesar disso, um grupo restrito de jovens revelou que era ouvinte regular de rádio na infância e adolescência. Contrariamente aos que não ouviam ou que ouviam pouco a rádio, os indivíduos deste grupo podem ser considerados de ouvintes selectivos na medida em que aliavam a regularidade de audiência de rádio a preferências concretas de programas radiofónicos:

"Enquanto criança ouvia, sobretudo na adolescência, ouvia rádio (...). Todos os dias" (Amarildo, 22 anos);

"Ouvia rádio com muita frequência até. Eram mais programas infantis, só não me recordo bem. Gostava da Rádio Lobito, aos sábados dava boa música. Era só essa que me fazia ouvir e umas notícias também que davam. Ouvia bastante"(Jinga, 20 anos);

"Era mais frequente em ouvir a rádio até do que a televisão. Ouvia música, tinha muitos programas bons, tem até agora na Rádio Namibe. Nós assistíamos «Clube da Tarde», tinha um programa das crianças que era «O Futuro Somos Nós», um dos programas da Rádio Namibe" (Ngueve, 20 anos).

A frequência de uso da rádio na época é justificada pela possibilidade de interacção telefónica com as emissoras locais, variedades musicais, programas infantis, entre outras atracções:

"Por causa das músicas. É o que a gente mais ouvia (...). Na altura era ouvir rádio todos os dias até porque também nos programas infantis havia hora que pediam para os ouvintes ligarem e eu gostava muito de ligar para rádio"

(Josefina, 31 anos);

"Me lembro, as 7h30 ou 8h, tinha um programa na Rádio Morena “Entre Nós”, onde havia discussões entre diversos jornalistas. E na Rádio Benguela ficava atento, sobretudo domingo às 21 para ouvir aquele programa “De coração para coração”, em que passavam muitas músicas brasileiras e não só. Gostava de ouvir esses programas" (Amarildo, 22 anos);

"Ouvia mais o programa “Aiué Sábado”, há programas que eu já não me lembro assim muito bem. Ouvia muito rádio. A mesma frequência com que via a televisão é a mesma com que ouvia a rádio" (Kutala, 24 anos);

"Ouvia tudo na rádio. Sempre que tivesse disponibilidade, o dia todo. Os programas infantis também né. Mas ouvia tudo" (Bimbi, 28 anos);

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Miranda, Afonso Quintas, mas já na adolescência" (Isabel, 34 anos).

Como se pode ver, estamos diante de uma audiência infanto-juvenil com alguma consciência de consumo sobre os canais de rádio usuais, horários de emissão, nome de espaços, programas ou tipo de conteúdos, nome de realizadores ou condutores dos programas. Apenas este grupo ínfimo de sujeitos, com predominância feminina, era ouvinte regular de rádio enquanto criança e adolescente. O modo em como se relacionava com esse meio de comunicação foi influenciado em grande medida pelos adultos no meio doméstico, independentemente da localidade e da zona de residência.

 Programas radiofónicos consumidos

O que ouvia na rádio enquanto criança e adolescente? A esta questão os sujeitos forneceram um conjunto de respostas reunidas em categorias de programas/conteúdos usuais, como ilustra a Tabela 24.

Os informantes do sexo masculino referiram-se a 16 tipos de programas ou conteúdos de rádio, menos três em relação aos espaços apontados pelo sexo feminino. Os programas ou conteúdos Info-recreativos, Infanto-juvenis e Musicais, foram os mais transversais à infância e adolescência de ambos sexos.

Uma análise individualizada permite ver que os programas desportivos, designadamente o futebol (Rádio 5) e outros informativos, foram tendencialmente os mais consumidos entre os rapazes:

"Ouvia mais quando falassem do desporto internacional e quando houvesse assim debate sobre o futebol, basquete, desporto em geral aqui em Angola"

(Dominiano, 23 anos);

"Isto de gostar de futebol, por exemplo, tanto mais eu com os meus 10, 11 anos, já ia as vezes ao municipal assistir jogo naquele tempo de gira bola. Já ouvia a Rádio 5, como um dos canais de rádio favoritos para mim" (Bartolomeu, 23 anos);

"Desde sempre sou fanático de futebol. Desde sempre ouvia a Rádio 5. Na Rádio Nacional ouvia as vezes a Rádio Lobito, o programa das 7h do director da Rádio Lobito... depois, o "Manhã de Domingo”, o “Tendências e Debate” da RNA, até desde criança, quando tinha 8, 12 anos já acompanhava o 'Tendências e Debate'" (Evangelista, 23 anos).

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Tabela 24 – Conteúdos de rádio usuais na infância/adolescência dos sujeitos

MASCULINO FEMININO

Programas/conteúdos de rádio usuais t T

Programas/conteúdos de rádio usuais t T

Informativos Infanto-juvenis

Jornal da Noite (Rádio Lobito) 1 Rádio Pió (Rádio Lobito) 2

Programa das 7 horas (Rádio Lobito) 1 4 Paraíso Pió (Rádio Benguela) 3 8

Tendências e Debate (Rádio Nacional de Angola) 1 O Futuro Somos Nós (Rádio Namibe) 1

Noticiários, não especificados 1 Outros não especificados 2

Info-recreativos Info-recreativos

Entre Nós (Rádio Benguela) 1 Canal Jovem (Rádio Lobito) 1

Manhã de Domingo (Rádio Nacional de Angola) 1 Nova Dimensão (Rádio Lobito) 1

Clube Sabatino (Rádio Benguela) 1 5 Programa da Tarde (Rádio Lobito) 1

De Coração para Coração (Rádio Benguela) 1 Clube da Tarde (Rádio Namibe) 1 7

Variedades juvenis 1 Programa do Paulo Miranda (Rádio Luanda) 1

Musicais Programa do Afonso Quintas (Rádio Luanda) 1

Tarde Musical (Rádio Benguela) 1 Aiué Sábado (Rádio Morena Comercial) 1

Fone e Disque (Rádio Morena Comercial) 1 5 Musicais

Programa musical das 22 horas (Rádio Mais) 1 Dedicatórias musicais (Rádio Morena Comercial) 1

Outros não especificados 2 Fone e Disque (Rádio Morena Comercial) 1

Desporto Tarde Musical (Rádio Lobito) 1 7

Futebol (Rádio 5) 2 Romântico (Rádio Benguela) 1

Desporto internacional (Rádio 5) 1 4 Outros não especificados 3

Outro não especificado (Rádio 5) 1 Radionovela

Total 18 18 Kamatondo 1 1

Língua Nacional

Noticiários em umbundu (Rádio Benguela) 1 2

Outro programa não especificado 1

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Por sua vez, a categoria infanto-juvenil que integra programas como Paraíso Pió, da Rádio Benguela, e Rádio Pió, da Rádio Lobito, foi tendencialmente a mais popular entre os sujeitos do sexo feminino.

Os espaços musicais também constituíram uma tendência de consumo partilhada por ambos sexos:

"Ouvia rádio, muito, praticamente todos os dias. Gostava da Rádio Lobito, Rádio Morena. Ouvia música, programas infantis "Paraíso Pió", "tarde musical", também um programa de dedicatórias musicais" (Lucrécia, 31 anos);

"Quando era puto gostava muito das músicas que passavam, ou que tocavam na rádio. Era mais música, caso não abandonava a rádio. Ouvia sobretudo a Rádio Mais. Lembro-me que havia assim um horário, 22 ou 23, era só música"

(Domingos, 20 anos);

"Programa infantil, que nos era permitido, só mesmo “Rádio Pió”, sobretudo aos domingos quando repunham todas edições da semana" (Yanilsa, 30 anos).

Foi ainda diferenciador a preferência pelos rapazes de programas informativos em detrimento de espaços em língua umbundu, apenas referenciados pelas raparigas. Há a salientar que 17 dos 44 informantes não referiram nenhum programa ou conteúdo radiofónico em concreto e afirmaram que não ouviam rádio.

Gráfico 8 – Sujeitos por tipos de programas de rádio na infância/adolescência (%)

O Gráfico 8 espelha em síntese as percentagens de cada um dos géneros radiofónicos referenciados pelos sujeitos enquanto mais novos. Houve pelo menos 43

19

28 28

9 9

5

2

Infanto-juvenis Musicais Info-recreativos Informativos Desportivos Língua nacional umbundu Radionovela % d e re fe rê nc ias

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referências de conteúdos diversos, reunidos em sete géneros radiofónicos. Os mesmos perfazem a memória pessoal dos sujeitos com a rádio. Não houve grandes diferenças de consumo entre ambos sexos, excepto a tendência masculina pelos programas radiofónicos informativos e desportivos, contrariamente a preferência feminina pelos infanto-juvenis, língua nacional umbundu e radionovela.

Os relatos atestam que a audição de rádio foi feita fundamentalmente sob influência de adultos. Apenas um número ínfimo de indivíduos, em algum momento e de forma consciente, ligou o aparelho-receptor para seleccionar e ouvir um programa de sua preferência.

Por sua vez, a localização territorial revelou-se diferenciador quanto à diversidade de consumos de rádio relatados pelos sujeitos. O Gráfico 9 espelha a distribuição dos conteúdos radiofónicos habituais em função das localidades de residência dos mesmos, enquanto mais novos. Verifica-se que os sujeitos do Lobito capitalizam quase metade de conteúdos radiofónicos referenciados, seguidos de Benguela com 35%. Os sujeitos que viveram noutros pontos do país, Catumbela e Balombo vêm nas posições subsequentes. Comparando as duas localidades de maior concentração de sujeitos na infância e adolescência, Lobito sobressai ligeiramente em relação a Benguela, quanto à quantidade de conteúdos radiofónicos consumidos usualmente pelos informantes, sobretudo no que diz respeito aos infanto-juvenis e musicais.

Gráfico 9 – Programas de rádio por localidades de residência na infância/adolescência (N=43)

3 0 4 0 1 4 2 5 0 1 3 1 5 0 3 1 0 3 0 0 2 0 2 0 0 2 0 0 0 0 0 0 1 0 0

Benguela Catumbela Lobito Balombo Outras

N º p ro gr ama de rá di o

Localidades de residência na infância/adolescência

Infanto-juvenis Musicais Info-recreativos Informativos Desportivos

Língua nacional umbundu Radionovela

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A lógica de pensamento aplica-se em relação às zonas de residência dos sujeitos. Viver no meio urbano ou no suburbano não foi significativamente estruturante quanto a variedade e quantidade de conteúdos radiofónicos consumidos. Apesar do relativo equilíbrio no consumo de programas, há a assinalar a ligeira propensão pelos info- recreativos no meio urbano e pelos musicais no meio suburbano.

 Estações/canais de rádio usuais na infância/adolescência

O Gráfico 10 revela que foram oito as estações ou canais de rádio que integraram o quotidiano mediático dos sujeitos antes de atingirem a idade juvenil. A Rádio Lobito, do grupo Rádio Nacional de Angola (RNA), e a Rádio Morena Comercial, em Benguela, foram as mais referenciadas.

Uma parte considerável dos entrevistados não se referiu a nenhuma estação ou canal de rádio específico. Numa análise por género afere-se que a Rádio 5 (emissora desportiva da RNA) e a Rádio Benguela foram as mais preferidas entre a população masculina e praticamente ignoradas entre a feminina.

Gráfico 10 – Estações/canais de rádio por referências na infância/adolescência dos sujeitos (%)

Há também a destacar que o índice de referências às estações ou canais de rádio é mais elevado no sexo masculino em relação ao feminino. Apesar disto, pela intensidade de audição e pela quantidade de programas informados por cada um dos géneros, infere-se

18 21 3,6 3,6 18 7,1 21 7,1 % de r ef er ên ci as

Estações/canais de rádio na infância/adolescência dos sujeitos

Rádio Benguela (do grupo RNA) Rádio Lobito (do grupo RNA) Rádio Luanda (do grupo RNA) Rádio Namibe (do grupo RNA) Rádio 5 (do grupo RNA) Rádio Nacional de Angola (canal A) Rádio Morena Comercial Rádio Mais

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que o uso da rádio foi mais intenso na infância e adolescência dos sujeitos do sexo feminino.

À semelhança do verificado em relação às leituras, houve poucas menções a locais, dias e horários preferenciais de audição de rádio. No entanto, aferiu-se que a casa foi o local comum de exposição ao sinal de rádio, embora um ou outro o fizesse, esporadicamente, na rua ou casa de amigos. Manhãs, tardes e, sobretudo, as noites foram os períodos de consumo radiofónico apontados consoante a disponibilidade de cada um:

"Gostava mais ouvir na sexta e sábado esses programas a partir das 21 horas" (Tadeu, 22 anos);

"Ouvia muito a Rádio Benguela, gostava sempre de ouvir um programa que era transmitido a partir das 22h, já não me lembro o nome. Era um programa muito bom, as pessoas ligavam e pediam uma música, basicamente isso. Era mais Rádio Benguela e Rádio 5" (Bartolomeu, 23 anos).

Alguns jovens procuravam as atracções de fim-de-semana (sexta, sábado e domingo), os debates e alguns programas radiofónicos info-recreativos como o Aiué Sábado, da Rádio Morena Comercial, ou Romântico, da Rádio Benguela, e outros.

Assim, vemos uma diversidade de atitudes face à audição de rádio na infância e adolescência dos sujeitos. Tal diversidade radica não apenas no modo como os indivíduos se relacionaram com o sinal de radiodifusão nos seus aparelhos receptores, mas também nas preferências em termos de conteúdos e dos horários de consumo.

Em síntese: a vasta maioria destes jovens, na prática, não ouvia rádio na infância e adolescência, contra uma minoria que ouvia regularmente esse meio de comunicação. Em termos de conteúdos, os programas musicais constituíram padrão entre ambos sexos na infância e adolescência. As singularidades incidiram sobre a preferência feminina para programas infantis contra a rejeição ou o não uso dos mesmos pelo sexo masculino. Ainda neste aspecto importa salientar também a paixão dos rapazes por temas de futebol e informação e o não uso destes pelas raparigas.

A localidade e zona de residência teve relevância insignificante na variedade de canais indicados pelos sujeitos, excepto no sexo feminino em que essa tendência se revelou maior entre raparigas do meio urbano.

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