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CAPÍTULO III – Apresentação e Análise dos Dados

1. Entrada no Ensino Superior: Expectativas e Motivações

Neste capítulo apresentamos os resultados obtidos através da entrevista, após uma análise de conteúdo dos discursos dos docentes principiantes. Com o intuito de facilitar a leitura e compreensão dos dados recolhidos, apresentamos alguns quadros que permitem sistematizar e simplificar a informação recolhida. Os dados são apresentados com base nos temas que já descrevemos no capítulo da metodologia. 

1. Entrada no Ensino Superior: expectativas e motivações  

As motivações do professor principiante subjacentes à escolha da profissão são um dos aspectos importantes a explorar na fase inicial da docência.

A escolha da profissão pode ser a escolha de um lugar a tomar na “estrutura social e num sistema de relações interpessoais com o fim de, assim, construir uma imagem de si” (Postic, 1990,p.26), tornando-se indissociável da identidade social do professor (Kelchtermans, 1995). Sem dúvida, a motivação profissional é um dos principais factores que está na base do (in)sucesso profissional dos professores (Cruz et al., 1998, cit. por Jesus, 1996), o que corrobora o que afirma Vila (1998) ao defender que a motivação do professor está directamente relacionada com o seu próprio envolvimento, desenvolvimento, satisfação, sucesso e realização profissional.

No quadro 4 apresentamos uma sintese dos temas e das categorias emergentes dos discursos dos entrevistados.

Quadro 4 – Entrada no ensino categorias e subcategorias

Domínio Categorias e Subcategorias

Entrada no ensino Motivações intrínsecas Razões pessoais • Sonho / ambição • Investigação • Ensino • Ampliar os conhecimentos • Gosto pela disciplina

Motivações extrínsecas

Razões profissionais

• Insatisfação naquilo que estava a fazer

• Instabilidade na colocação nos ensinos básico e secundário Razões sociais

• Prestígio social • Remuneração

No que diz respeito à docência como um sonho, três entrevistados referiram que foi sempre uma ambição, um sonho ser docente do ensino superior, como nos elucidam os seus relatos:

“Optei pelo ensino superior, porque essa foi sempre a minha ambição”(E4) “Vim para o ensino superior porque era o meu sonho”(E3)

“Leccionar no ensino superior representa a concretização de um sonho”(E8)

Os restantes docentes optaram pela docência no ensino superior por várias motivações intrínsecas e extrínsecas.

Dentro das motivações intrínsecas, os docentes revelaram motivações positivas, as que estão relacionadas com as razões pessoais, como o gosto pela investigação, a possibilidade de ampliar os

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conhecimentos, a leccionação e o gosto pela disciplina são os aspectos mais referenciados pelos docentes entrevistados, na escolha do ensino superior, como se depreende dos testemunhos seguintes:

“Optei pelo ensino superior, porque queria ser investigadora. Em Portugal para se ser investigadora tem de ser professora universitária. Foi sempre o meu sonho a investigação.”(E2)

“Ser professor atraía-me, cativava-me. Vim para a universidade pelo ensino e pela parte da investigação. Trabalhar na universidade correspondia ampliar os meus conhecimentos.”(E3)

“O que me atrai no ensino superior e que me levou optar por este nível de ensino foi a possibilidade de ter contacto permanente com grandes quantidades de informação. Posso estar constantemente actualizar-me e a aprender. Foi o que me motivou na altura e continua a motivar.”(E6)

“O trabalho no ensino superior era aliciante, a investigação e a leccionação fascinavam-me. Daí a minha ambição pelo ensino superior.”(E3)

“Apesar de nunca ter leccionado, tinha o gosto de o fazer, daí o ensino superior. Além disso, não me sentia muito bem naquilo que estava a fazer anteriormente. Mas sempre achei que gostaria de dar aulas” (E8)

“…há outra coisa que pesou na minha decisão, foi leccionar uma disciplina diferente. Eu sabia que isso na universidade era possível, mas no ensino básico, dificilmente, isso iria acontecer. Eu gostava muito de leccionar a disciplina. Também pesou na decisão.”(E4)

Outros docentes revelaram motivações negativas extrínsecas, - aquelas que dizem respeito a factores não directamente relacionadas com tarefas profissionais, como por exemplo: razões sociais, como o prestígio social e a segurança económica (Amiel-Lebigre e Pichot, 1969).

“Outra influência importante foi a carreira universitária, porque ser professor do ensino superior dá mais prestígio social. Além disso, a questão remuneratória também pesou na minha decisão (E7)

Cinco entrevistados fazem referência a experiências profissionais prévias que influenciaram a tomada de decisão, nomeadamente o facto de terem tido experiências docentes ou profissionais que os levaram a querer mudar de carreira:

“No básico, há incerteza de conseguir colocação efectiva. Andava nos mini -concursos e sabia que essa situação se podia prolongar. Era muito instável…”(E4)

“Antes de vir para a universidade, trabalhei numa empresa, mas numa situação precária, de recibos verdes, portanto, era uma situação instável. Daí, também, ter optado pelo ensino superior.”(E1)

“Eu não me sentia muito bem naquilo que estava a fazer, não foi uma experiência muito positiva. Tinha outra expectativa, por isso, apostei no ensino superior. Além disso, tinha o gosto pela leccionação.”(E8)

“Antes de entrar para a universidade, trabalhava numa instituição, onde não se podia inovar quase nada. Eles gostavam que a pessoa cumprisse o que estava determinado. Portanto, não me sentia nada bem, nunca levaram em conta as minhas ideias.”(E3)

“As empresas são boas, mas castram as pessoas…a pessoa tem de evoluir no sentido que lhes interessa. Para a empresa era pouco relevante se tinha mestrado ou doutoramento, o que importava é que eu desempenhasse com distinção as funções que me atribuíam. Portanto, eu tinha outros interesses, não me sentia bem dentro daqueles moldes.”(E5)

A influência de familiares professores também foi uma razão para uma entrevistada optar pelo ensino superior.

“ Talvez uma figura que me influenciou por optar pelo ensino superior foi um tio, formado em economia. Portanto, ele é uma referência para mim, exerceu uma influência na minha decisão. Além disso, os meus pais também são professores e, indirectamente, influenciaram. Eu cresci num ambiente de professores. (E8)

Tal como aconteceu nos estudos de Galvão (1998) e Flores (2000), outros entrevistados referiram a influência de antigos professores como motivação e modelos profissionais na escolha da profissão, como expressam as seguintes afirmações:

“A relação que tive com os docentes, enquanto aluna da licenciatura, cativou-me imenso. Foi algo muito importante na minha decisão, na opção pela universidade. É uma fase que nunca mais esqueço. Foi muito bom, tinha um a relação

59 especial com os docentes, não sei se tem a ver com a licenciatura, há uma proximidade grande entre os alunos e

professores, mas sempre com muito respeito. (E3)

“Os meus professores foram muito importantes. Eu gostei muito deles, especialmente da minha professora de matemática. Ela era muito profissional, ensinava muito bem e tinha uma boa relação co os alunos. Foi e é um modelo para mim. Aprendi muito com ela, a todos os níveis. Hoje procuro de certa maneira adoptar a mesma postura.”(E2)

“Tive uma professora do 12.º ano espectacular. Ainda hoje admiro-a. Era muito completa, quer na vertente humana, quer profissional. É um dos meus modelos e influenciou-me na minha decisão. Também tive outros professores muito bons ao longo do meu percurso, e isso foi importante. Deixaram marcas positivas.”(E6)

Um entrevistado referiu os meios de comunicação social como influência na tomada de decisão de opção pelo ensino superior.

“Outra influência importante foram os meios de comunicação social, porque, por um lado, forçaram o lado da economia. Na altura os economistas, dos diferentes quadrantes políticos, falavam muito na televisão, e isso parecia-me uma coisa engraçada. Portanto, isto foi muito importante para mim e marcou-me.”(E8)