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DISTRIBUÍDO DE ÁGUAS PLUVIAIS NA BACIA ÁGUA ESPRAIADA

PÁTIO PAVIMENTADO

2.3.2 ENTRE AS DÉCADAS DE 1950 E

A classe de arquitetos paulistas se mobilizava e amadurecia, tendo como referência as observações e ações que ocorriam pelo mundo; essas alertavam sobre o modo precário de vida, em especial das populações migrantes, que precisavam ser incluídas nos planos para a

Claudete Gebara J. Callegaro Mackenzie / PPG / Mestrado nov2014. .

cidade24. Na década de 1950, engenheiros e arquitetos do Departamento de Urbanismo da Prefeitura de São Paulo desenvolveram o Plano Diretor de 1960, publicado em 1961 na gestão Adhemar de Barros, considerando circulação e transporte, uso e aproveitamento do solo e reorganização administrativa; nesse plano, o vale do Água Espraiada comparecia como parte de um dos anéis viários. Na mesma época, o governo do estado de São Paulo desenvolveu o projeto dos Anéis Rodoviários em torno da cidade de São Paulo, porém, com traçado diferente dos propostos no Plano Diretor municipal. Desarticulações como essa ocorreram também em anos posteriores (figura 47). (ANELLI, 2007; BOSI, 2012; ZMITROWICZ e BORGHETTI, 2009).

Figura 47 – Intervenção da autora indicando o leito dos córregos da Traição, Água Espraiada e do Cordeiro, sobre mapa dos anéis viários propostos na segunda metade do século XX. (ZMITROWICZ e BORGHETTI, 2009, p.147).

24 A vinda de Joseph-Louis Lebret a São Paulo, em 1950, trouxe novo sopro de ideias à sociedade. Padre Lebret,

como era conhecido, apresentou os princípios e métodos do movimento Economia e Humanismo, cujas equipes estudavam as condições de vida dos bairros pobres de cidades francesas após a II Grande Guerra. Com reflexos da obra de Marx, mas comprometido com a doutrina social cristã, trouxe o entendimento de que a cidade é um fenômeno histórico, social e econômico. Esse pensamento impressionou os arquitetos de então, visto já surgirem favelas, além dos cortiços dos migrantes no Brás e na Bela Vista (Bexiga). As observações do fenômeno e as discussões sobre essa nova realidade amadureceram a sociedade e resultaram em planos urbanos bem mais complexos nas décadas seguintes. (ANELLI, 2007; BOSI, 2012).

Segundo Deák (2001), decorre daí o primeiro plano de caráter mais abrangente elaborado para São Paulo, o Pla oàU a ísti oàB si oà PUB ,àdeà .àE aà po aàdoà ilag eà asilei o à editadoàaoàgo e oà ilita àeàoà otimismo decorrente do rápido crescimento da economia brasileira se refletiu também nas propostas do PUB.

ESTADUAL ESTADUAL ESTADUAL TRAIÇÃO ÁGUA ESPRAIADA CORDEIRO Congo nhas

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Percebia-se, todavia, que instrumentos legais impostos de cima para baixo eram (e são) insuficientes para controlar as ações do mercado imobiliário e as ações individuais; estas vão desde ocupações precárias sobre áreas de preservação, à impermeabilização do solo por excesso de pavimentação, influindo na salubridade geral do ambiente urbano (insolação, ventilação, umidade, paisagem, entre outros fatores). A constatação sobre a ineficiência de ações impositivas em sociedades democráticas ocorreu em várias partes do mundo, especialmente a partir dos anos 1960, levando a novos experimentos em políticas públicas; estas se ocupavam tanto do controle sobre o uso do solo, como ao atendimento das necessidades crescentes decorrentes da densificação e da expansão urbana. Discutia-se pelo mundo sobre o eco-desenvolvimento, resultando no Relatório Brundtland em 1987, reforçado pela Agenda 21 em 1992, temas que serão tratados no Capítulo 4. (KOOLHAAS, 1995; ONU, 1987; SOMEKH e CAMPOS NETO, 2002).

O Plano Urbanístico Básico (PUB) municipal, de 1968, bem mais complexo do que os anteriores, articulava parâmetros de uso do solo (coeficientes de aproveitamento e de altura dos edifícios) com os eixos de circulação viária e de transporte coletivo, criando o que se de o i ouà Co edo esà deà áti idadesà Múltiplas ;à estesà fu io a a à o oà i duto esà deà adensamento e proporcionavam os serviços necessários para as populações de sua abrangência, evitando que se deslocassem desnecessariamente pela cidade (ANELLI, 2007).

As figuras 48 e 49 mostram a situação de uso do solo em 1968 na região do Córrego Água Esp aiada,ào deàp edo i a a à ha itaç esàse i-isoladas 25 e a indicação de transformação de parte do vale em via estrutural.

A região metropolitana precisava ser tratada como um todo, pois a ocupação se alastrava sem controle; os problemas eram graves e comuns aos municípios e se enredavam sistemicamente, impactando diretamente sobre o meio físico. O Plano Metropolitano de Desenvolvimento Integrado (PMDI), desenvolvido pelo Governo do Estado de São Paulo em 1970, gestão do governador Roberto de Abreu Sodré, propunha a descentralização do emprego terciário como estratégia para redução do congestionamento do Centro Metropolitano; estimulava, para isso, a concentração de serviços ao longo dos corredores de

25 No mapa, o Brooklin Paulista comparece como zona com predominância de habitação semi-isolada; contudo,

apesar dessa classificação, em visita ao Brooklin Velho encontra-se um bairro-jardim, com lotes de tamanho acima do padrão da cidade; as edificações, mesmo quando encostadas na divisa, em geral não são geminadas.

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alto fluxo, voltados prioritariamente ao transporte individual. O Água Espraiada comporia o Pequeno Anel Viário, encabeçado pelo Departamento Estadual de Estradas de Rodagem DE‘ àdoàgo e oàdoàestadoàdeà“ oàPaulo.à Naà po aà[ ],àoàDE‘à hegouàaàdesap op ia à e aàdeà ài eis,à asàasào asà oàa o te e a àpo àfaltaàdeà e u sos. à JN“,à ,àp.

Nessa mesma época, 1971, gestão do prefeito Figueiredo Ferraz, foi aprovado o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado municipal (PDDI), Lei 7.688. O PDDI buscava compatibilizar os projetos municipais e metropolitanos, respeitando o quanto possível as situações pré-existentes resultantes do processo histórico de urbanização da cidade; definia alguns núcleos de polarização e expansão, reservando territórios para as diferentes funções urbanas de habitação, trabalho, lazer e circulação, mediante um detalhamento no zoneamento de uso e ocupação do solo. O leito do Água Espraiada compunha o anel estrutural intermunicipal proposto pelo PDDI; no zoneamento de suas encostas, parte se destinaria à densidade média (150 hab/ha) e parte à baixa densidade (80 hab/ha)26. (SÃO PAULO - Município, 1971).

26 Lei 7.688/1971

(Grifos da autora):

Z1- Zonas de uso estritamente residencial de densidade demográfica baixa.

É uma zona destinada exclusivamente a residências unifamiliares horizontais, sendo permitida a construção de apenas uma edificação por lote com área máxima construída igual à área do lote. Nela, os moradores não encontrarão junto às residências, o comércio ou serviços locais, tendo que se deslocar para o núcleo comercial do loteamento, ou para os bairros vizinhos, onde encontrarão essas atividades. Desse modo, o maior sossego, que é uma qualidade, traz o inconveniente do maior deslocamento, em geral feito por automóvel, Figura 48 – Principais referenciais sobre segmento

da proposta viária do PUB 1968. (SÃO PAULO - Município, 1968)

Figura 49 – Indicação do córrego da Água Espraiada (tracejado azul) sobre segmento de uso do solo do PUB 1968, com indicação dos principais referenciais. (SÃO PAULO - Município, 1968)

Av. Vicente Rao/ Roque Petroni Av. dos Bandeirantes

Av. Washington Luis

Água Espraiada

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Em relação ao território do recorte desta pesquisa, as pretensões do PDDI 1971 quanto à distribuição demográfica (figura 50) foram em parte bem sucedidas; a margem norte do Água Espraiada (Campo Belo e Jardim Aeroporto) prossegue se adensando. Na margem sul, as previsões foram todas contrariadas; o bairro-jardim (Brooklin Velho) permanece uma ilha de baixa densidade, embora esteja perdendo seu frescor; Jardim Brasil e seus vizinhos, Vila Alexandria, Vila Mascote, Vila Paulista e Vila Santa Catarina, se adensaram e desertificaram. Sobre isso, o Capítulo 6 trará mais detalhes.

Figura 50 – Segmento do PDDI de 1971, com indicação do uso do solo proposto e o corredor da Água Espraiada. Em lilás a área do recorte desta pesquisa. (ZMITROWICZ e BORGHETTI, 2009).

Dos anéis viários projetados, o governo municipal implantou algumas partes, embora não necessariamente com o padrão original das propostas viárias; o governo estadual desistiu de seus projetos. (ZMITROWICZ e BORGHETTI, 2009).

para realização de compras ou acesso a serviços, mesmo os mais simples como são as padarias, farmácias, quitandas, barbeiros etc. Essas zonas correspondem em geral a bairros de alto padrão (por ex. Jardins), que foram os primeiros a serem regulamentados.

Z2- Zona de uso predominantemente residencial de densidade demográfica baixa.

Corresponde à parte da área urbana não incluída nos perímetros das demais zonas, caracterizando-se pela predominância residencial, sendo também permitidos usos comerciais, de serviços, industriais de pequeno porte e institucionais. Nesta zona, as edificações podem ter área construída máxima igual à área do lote, ocupando apenas metade do terreno, sendo permitido que, nos edifícios residenciais, a área construída seja o dobro da área do lote, com uma ocupação menor da superfície do lote.

Z3 - Zona de uso predominantemente residencial, de densidade demográfica média. Permite um adensamento considerável, porque nela a edificação poderá ter uma área total construída máxima igual a duas vezes e meia a área do lote, possibilitando-se que, reduzida a ocupação da superfície do terreno, a área construída da edificação seja igual a quatro vezes a área do lote. Destina-se à localização de atividades típicas de centros de bairros, as quais irão coexistir com a habitação horizontal ou vertical. (SÃO PAULO – Município, 1971).

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Em 1985, a carência efetiva da população urbana em São Paulo (e não só aqui) era assustadora e as projeções demográficas e econômicas não eram mais amenas. As áreas desapropriadas começaram a ser invadidas com habitações precárias. As figuras 51, 52 e 53 ilustram a expansão ocorrida desde os primeiros planos de avenidas, tendo como referência o Aeroporto de Congonhas.27

27

Na figura 51, a região da Água Espraiada consta como urbanizada entre 1930 e 1949, não comparecendo nas figuras 29 e 30. Cabe lembrar que se trata de uma distorção de informações, pois antes disso a bacia pertencia a Santo Amaro, como visto em seções anteriores, razão de não constar nos mapas mais antigos de São Paulo.

Figura 51 – São Paulo: área urbanizada em 1949. Indicação do Aeroporto de Congonhas como referencial para comparação dos mapas. (SÃO PAULO – Município, SMDU a).

Figura 52 – São Paulo: área urbanizada em

1962..(SÃO PAULO – Município, SMDU a).

Figura 53 – São Paulo: área urbanizada em 2002.(SÃO PAULO – Município, SMDU a).

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Em 1988, passa a vigorar a nova Constituição Federal do Brasil, nascida em sintonia com o movimento mundial em busca de novas soluções para a urbanização crescente e descontrolada, e para a situação precária de boa parte de seus habitantes. Trouxe em seu escopo a chamada para a função social da propriedade urbana, a obrigação dos municípios de garantir o bem-estar de seus habitantes, a necessidade de tratar o meio físico com vistas às futuras gerações (BRASIL, 1988). Em 1990, foi aprovada a Lei Orgânica do Município de São Paulo (LOM), coerente com os princípios da federação. (SÃO PAULO - Município, 1990).