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SITUAÇÃO NO TERRITÓRIO DA OUCAE

5.1 ESTRUTURA ECOLÓGICA E IMPACTOS DA URBANIZAÇÃO

5.3.3 ENTRE PARADIGMAS DE DRENAGEM

5.3.3.2 Subsistema de macrodrenagem

A macrodrenagem se constitui de estruturas de maiores dimensões, destinadas à acumulação das águas recolhidas pelos sistemas de microdrenagem e a sua condução paulatina ao sistema fluvial, de modo a evitar enchentes em áreas ocupadas pelo homem. Esses reservatórios podem ser do tipo seco (piscinões) ou em água (lagoas).

O sistema tradicional de macrodrenagem é projetado para período de retorno em torno de 100 anos. Quando bem projetado, pode reduzir consideravelmente o custo do sistema inicial, por exemplo, quanto à extensão das tubulações enterradas. Do seu bom funcionamento dependem, essencialmente, a segurança urbana e a saúde pública.

Quando este sistema não é projetado, ele acontece naturalmente, pois nas cheias a água pluvial escoa pelas depressões topográficas e pelos cursos fluviais naturais. Se a área urbana

Figura 139 - Canal de drenagem

ciclável. Protótipo modular pré- fabricável, de autoria do designer holandês Jean-Paul de Garde. Tem dupla função: galeria de microdrenagem e pista de bicicletas. Observe-se que o terreno que o cerca, granulado e plantado, absorve a água da chuva, filtra-a e a encaminha para a valeta pluvial. Notícia creditada a CROW Fietsberaad, Centro de Conhecimento para a Política de Ciclismo dos Países Baixos, em 2010, encontrada em Pedale Piaui (s/ data).

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não se desenvolver de forma coerente com essas condições, são grandes os riscos de prejuízos materiais, e mesmo de perda de vidas humanas. A urbanização das áreas baixas marginais aos cursos d´água deve ser feita cautelosamente, sendo desejável sua destinação como áreas verdes com fins de recreação e lazer. (SÃO PAULO - Município, 2012, p.13-16).

Sob o ponto de vista da infraestrutura verde, essa mesma situação poderia ser solucionada com a fragmentação das grandes estruturas, distribuindo-as pelo percurso das águas, aproveitando as características do terreno e mimetizando as soluções que a própria natureza daria (Apêndice A). Ao invés de grandes reservatórios de retenção construídos em concreto, no vale, seriam implantados pequenos reservatórios secos ou molhados inseridos na trama dos bairros. (Figura 141)

Figura 141 – Waterworks Gardens. À esquerda, área antes esquecida em meio a grandes plantas industriais em Seattle, EUA. À direita, transformação em conjunto de jardins, desde o topo até o alagado, pelas mãos da artista Lona Jordan, na década de 1990. (LORNA JORDAN, s/ data).

No caso da OUCAE, existem as duas soluções: o Reservatório de Retenção e Controle de Vazão do Jabaquara (piscinão) e a proposta de 3 lagoas no Parque Linear, que se espera seja de fato implantado.

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Embora esse expediente já tenha sido usado no passado, p. ex. em Boston, por Olmsted95, Mascaró e Yoshinaga (2005) observam que há apenas quatro décadas se ouve falar (com certa frequência) em áreas deliberadamente alagadas como parte dos projetos de drenagem:

A primeira notícia que se tem de acumulação de água em cidades para controle de enchentes urbanas como técnica de drenagem urbana foi do trabalho desenvolvido por técnicos franceses da Agência de Ordenamento e Desenvolvimento no Exterior96, atuando como assessores técnicos urbanos nas cidades que tinham, até pouco tempo, feito parte do Império Colo ialàF a s.àáàpa ti àdeà ,àpu li a àoà Ma ualàd u a is àpou àlesà pa sà e à de eloppe e t ,à o à u à olu eà ha adoà Lesà I f ast utu es .à Chamam a acumulação de água como bacias de estocagem, com duas a ia tes:à a ias deàa u ulaç oàse a àeà a iasàdeàa u ulaç oàe à gua .à A primeira perde toda água nos períodos de estiagem e a outra, na estiagem, mantém um nível mínimo de água e pode funcionar como um lago permanente de recreação urbana. (MASCARÓ E YOSHINAGA, 2005, p.96)

O Reservatório de Retenção do Jabaquara foi inaugurado no ano 2000, mas projetado segundo esse modelo francês dos anos 1970, no que tange à introdução de equipamentos para a comunidade nas áreas do reservatório sujeitas a alagamentos sazonais (figura 142). Tal realidade está em transformação, pois as áreas inundáveis do piscinão, antes abertas, estão sendo cobertas por laje que abrigará o pátio de manutenção da linha 17 – Ouro do Metrô. (Figuras 143 e 144)

95 Frederick Law Olmsted (1822-1903), o side adoà pai à daà a uitetu aà paisagísti a,à p ojetouà eà e e utouà

parques e sistemas de áreas verdes urbanos em cidades dos Estados Unidos, produzindo paisagens bucólicas no coração de núcleos urbanos desertificados, degradados e/ou altamente densos em população. No caso de Boston, o Emerald Necklace, sistema de parques criado na segunda metade do século XIX no último trecho do Rio Charles, antes de sua foz na Baía de Massachusetts, inclui várias lagoas de regulação do nível do rio em função de chuvas e marés. (SCHENK, 2008).

96 Pela forma com que o nome da agência foi grafado no texto, p. 96, não foi possível encontrar a instituição

para complementar a informação. O que hoje existe é a Agence Française de Développement (AFD), que financia projetos de desenvolvimento econômico e social em numerosos países em desenvolvimento.

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Figura 142 (à esquerda) – Bacia de estocage à o fo eà a ualà f a sà so eà I f aest utu aà Ha ita io alà

álte ati a .à(MASCARÓ e YOSHINAGA, 2005, p.98).

Figura 143 (superior) – Quadras de esportes na área inundável do piscinão do Jabaquara, território da OUCAE, conforme projeto original. (NUNES, 2009).

Figura 144 (inferior) – Área para pátio de manutenção da linha 17 – Ouro do Metrô sobre o reservatório de retenção, com remanescente verde destinado a recreação. Imagem apresentada pela SP Urbanismo na 32ª reunião do Grupo Gestor da OUCAE. (SÃO PAULO - Município, SP URBANISMO, 2013 f).

Por razões diversas, no Brasil é comum se ver alagados e lagoas naturais serem aterrados, sob pretexto de saúde e segurança; é uma pena, pois são instrumentos importantes no cruzamento das redes azul, verde e vermelha, com funções complexas difíceis de serem reproduzidas artificialmente.97 Percebe-se certa contradição nesse comportamento, porque, os piscinões também são objeto de crítica quanto à manutenção, seja pelos efeitos estéticos que produzem na vizinhança, seja pela proliferação de pragas urbanas (roedores, insetos), e continuam sendo construídos.

A drenagem urbana nestes novos tempos aos poucos se destaca dos sistemas viário e de saneamento, criando um escopo de princípios próprios (TUCCI, 2006):

97E à us aàpo à ate a e toàdeàlagoas à aàI te et,àpode-se encontrar várias reportagens e artigos sobre

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a) Não transferir impactos para jusante;

b) Não ampliar cheias naturais;

c) Propor medidas de controle para o conjunto da bacia;

d) Desenvolver legislação e planos de drenagem para controle e orientação;

e) Atualizar constantemente os estudos de horizontes de expansão;

f) Controlar permanentemente o uso do solo e as áreas de risco;

g) Garantir competência técnico-administrativa dos órgãos públicos gestores;

h) Promover educação ambiental qualificada para o poder público, a população e o meio técnico.

O sistema pluvial ganha, assim, sustentação para interagir com os demais sistemas infra e super estruturais da cidade. Lima (2004) complementa a lista anterior com itens relativos ao manejo da bacia hidrográfica:

i) Complementar o sistema estrutural tradicional de escoamento com um sistema estrutural de retenção / infiltração;

j) Assegurar a natureza pública do sistema de drenagem, para a efetividade de resultados e condições de ampliação / manutenção;

k) Criar mecanismos específicos de captação de recursos para investimento em drenagem, p.ex. a taxa de drenagem, já implantada em alguns municípios;

l) Implementar ações de sensibilização junto ao usuário do lote pertencente à sub-bacia, para manejo interno, visando à ampliação das condições de retenção intra-lote;

m) Praticar a democracia na definição de riscos a serem enfrentados ou mantidos, frente à limitação dimensional do sistema de retenção.

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