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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

4.2 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E QUALIDADE DE VIDA

Desde os anos 1970, a ONU vem liderando uma série de ações e discussões sobre a questão ambiental em geral. Da I Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (ECO 72), ocorrida em Estocolmo, Suécia, em 1972, deco eà aà fo ulaç oà doà o eitoà deà eco- dese ol i e to ,à ueà e oluiuà pa aà aà e p ess oà dese ol i e toà suste t el ,à consagrada no Relatório Brundtland, em 1987.56 Nesseà elat io,à oà dese ol i e toà suste t el à à defi idoà o oà a ueleà ueà ate deà sà e essidades do presente sem

55 Ferreira e Machado (2010) mencionam que, na implantação de corredores verdes em Setubal, Portugal, as

áreas foram classificadas em uso predominantemente público, de acesso restrito e privadas. O mix de áreas com base nessa condição de posse e acesso definiu o grau de exequibilidade e de sustentabilidade da proposta.

56 Referência ao relatório Our Common Future (Nosso Futuro Comum), elaborado na United Nations Conference on Environment and Development (UNCED), promovida pela ONU em 1987, presidida nessa época pela

primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, razão de esse documento ser conhecido como Relatório Brundtland. (ONU, 1987).

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comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias e essidades ,àse doàdadaàp io idadeàaosà po esàdoà u do .

O que interessa entender para os fins do presente trabalho é o significado de e essidades ,à oàcaso dos bairros da OUCAE escolhidos para análise. Não são pobres e, portanto, não prioritários nos programas governamentais; embora sejam atores essenciais na produção do capital, não detêm o poder; é verdade que buscam denominadores comuns constituindo associações de amigos do ai o à pa aà ga ha e à algu aà ozà e à istaà deà outras pressões sociais sobre as políticas públicas; porém, como se verá a seguir, isso se mostra insuficiente frente aos grandes impactos (positivos e negativos, dependendo do ponto de vista) que esses bairros vêm sofrendo.

4.2.1 QUALIDADE DE VIDA E QUALIDADE AMBIENTAL

O modo de uso de um espaço implica em percepções diferentes do mesmo local: automóvel, a pé, de trem; a passeio, a trabalho, com a família (CERASI e PESCI, 1977; YAZIGI, 2006). Um lugar de múltiplas atividades é diferente daquele que admite apenas uma forma de uso. Como definir o que é adequado, no caso de uma Operação Urbana concebida numa escala tão grande quanto a da Água Espraiada, com 1.400 hectares? Para quem? Para o que? As respostas não estão neste trabalho, mas são perguntas que levam a algumas reflexões.

As necessidades humanas são um tema amplo, que vem incitando pensadores de várias épocas57. Mongin (2009), entre outros, considera que a cidade seja o lugar mais provável para o convívio humano, por aí ser possível explorar o meio de maneira consciente e consequente. Na condição de seres urbanos, é na cidade que se passa pela experiência

57 P. ex. Epicuro, filósofo grego, 341a.C. a 270 a.C., em sua carta a Meneceu, sobre a felicidade, fala de desejos

e necessidades, entendendo que as necessidades sejam parte dos desejos naturais fundamentais para a felicidade, o bem-estar corporal e para a própria vida; resume que praticamos todas as nossas ações, para nos afastarmos da dor e do medo. (EPICURO, 2002).

Ribeiro e Vargas (2004), em busca de parâmetros para criação de instrumentos de gestão ambiental urbana na atualidade, expõem as linhas gerais do entendimento de vários autores sobre o que seriam necessidades humanas e qualidade de vida. Dentre eles, aqui se destaca Abraham Maslow (1908-1970, psicológo motivacional) e a pirâmide motivacional (in MAXIMILIANO, 2000), que de certa maneira abarca o que vários outros dizem, tanto em relação a aspectos objetivos quanto subjetivos, pessoais e sociais. Também Kevin Lynch (1960), pela relação direta com a paisagem visível, de modo a se construir um quadro mental sobre o conjunto da cidade, que leve a um juízo de valor individual.

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política, multidimensional, que envolve deliberação, igualdade, liberdade, representação democrática, hospitalidade.

Um lugar precisa ter elementos que atraiam o sujeito e condições para que o mesmo se identifique com aquele território, constituindo-se,àassi ,àu à lugar-sítio . Precisa também se comunicar com os demais lugares, suprindo com o que não possui, expandindo oportunidades,à eà assi à seà fo a à osà lugares-fluidos . É preciso se poder sonhar com outros lugares e ser possível acessá-los (lugares-fluidos), mas também é necessário se poder ficar no próprio lugar, com orgulho disso (lugares-sítio).58

Na pós-modernidade59, a criação de relações entre fluido e sítio se mostram mais adequadas do que os modelos de base predominantemente funcionalista que imperaram na primeira metade do século XX; preparam cidadãos para o enfrentamento das incertezas e o convívio com múltiplos atores sociais; pela negociação, possibilitam que compromissos locais sejam firmados para a construção de hábitat específicos.

É interessante observar que qualidade de vida e qualidade ambiental são conceitos diferentes, embora interdependentes. A qualidade de vida é dada pelo atendimento a necessidades de foro íntimo, individual, embora consigam ser agrupadas com base em curvas normais para a espécie humana. A qualidade ambiental, por sua vez, refere-se à capacidade do meio em atender às necessidades de seus habitantes, não exclusivamente humanos. Hoje, mediante a consciência de que os recursos do planeta são limitados, está

58 Neste ponto, se poderia desenvolver a discussão sobre identidade do lugar, genius loci , sensação de

pertencimento como condição para fixação e construção do habitat, nos moldes de Aldo Rossi (1931-1997, arquiteto). (NORBERG-SCHULZ, 2008; ONU, 2008). Isso ficará para outra oportunidade, bastando que se aceite que nos lugares-sítio as relações com a retaguarda devem ser fortes e seguras, podendo ser fracas com os lugares-fluidos.

Mongin (2009), ao desenvolver esse tema, tem po à efe ia,àdeàu àladoàosà guetos àdeà ai oàpad oàeàaà dificuldade que representam na constituição de relações cidadãs ideais; de outro lado, as comunidades tradicionais que desenvolvem sua cultura em torno de atividades às vezes em decadência e que precisam ser renovadas sem perda da identidade do lugar.

No presente estudo, esse assunto foi trazido em razão de outro fenômeno, comum em São Paulo (e não só), que são os condomínios fechados; verticais e horizontais, disseminam-se pela trama urbana, especialmente em bairros de nível alto e médio, inclusive na região da OUCAE em análise. Têm por trás essa necessidade de formação e proteção de uma identidade (patrimônio, status, modo de vida, proteção pessoal), porém levado a um limite de isolamento da cidade, às vezes de incivilidade em relação às pessoas que transitam por suas calçadas.

59á uià oàseàdis uti àoàse tidoàdeà p s- ode idade ,àseà àouà oàdeàfatoàu aà o aà po a,àouàape asàoà

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ocorrendo um movimento de reavaliação dessas necessidades e de aproveitamento racional daquilo de que já se dispõe: reuso de água servida, utilização de água da chuva, redução de perdas energéticas, aproveitamento de energias renováveis, aplicação de tecnologias adequadas a cada meio físico, redução de importação e exportação de materiais, entre outras iniciativas.

O conceito de cidade sustentável reconhece que a cidade precisa atender aos objetivos sociais, ambientais, políticos e culturais, bem como aos objetivos econômicos e físicos de seus cidadãos. É um organismo dinâmico tão complexo quanto a própria sociedade e suficientemente ágil para reagir com rapidez às suas mudanças que, num cenário ideal, deveria operar em ciclo de vida contínuo, sem desperdícios (cradle to cradle)60. [...]

A população residente tem mais oportunidades para interação social, bem como uma melhor sensação de segurança pública, uma vez que se estabelece melhor o senso de comunidade – proximidade, usos mistos, calçadas e espaços de uso coletivo vivos – que induz à diversidade socioterritorial – uso democrático e por diversos grupos de cidadãos do espaço urbano. (LEITE e AWAD, 2012, p. 135-136)

A governança passa, assim, a ser de extrema importância e extrapola a responsabilidade governamental, exigindo a participação da sociedade; todavia, a prática democrática exige treino. Que experiências do dia a dia preparam os habitantes de um lugar para essa participação na definição de seu próprio habitat? No Capítulo 5, são apresentados alguns exemplos de lugares em que a governança da infraestrutura verde centraliza o exercício da cidadania com liberdade.

Numa escala entre urbanização compacta e os subúrbios rarefeitos, alguns bairros das encostas da OUCAE estão no meio termo, ainda com baixa densidade e com cobertura vegetal além da média da cidade; essa cobertura é, normalmente, fruto do valor que as pessoas que aí vivem dão à natureza e não exatamente por esforço governamental. Nem todas as pessoas gostam de morar em prédios e em lugares densos, embora também tenham direito à cidade; os moradores dos bairros consolidados, que preservam essa

60áàe p ess oài glesaà cradle to cradle ,àlite al e teàt aduzidaà o oà doà e çoàaoà e ço ,à efe e-se à ideia do

despe dí ioàze o ,àe si a e toà ueà e àdaàp p iaà atu eza:àoà ueà à esíduoàpa a um sistema, é matéria prima em outro. Essa expressão transmite uma filosofia que se contrapõe ao atual modelo cradle to grave

(doà e çoà à o a ,à segu doà aà ualà seà e t aià – produz – distribui/vende – des a ta ,à u aà atitudeà extremamente nociva para o meio ambiente.

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condição de ilha de frescor urbana, contribuindo positivamente para o microclima da cidade, também precisam ser atendidos.61

4.2.1.1 Das reuniões do Grupo Gestor da OUCAE

A Lei 13.260 de 2001, que criou a OUCAE, também instituiu o Grupo Gestor (GG) da operação, composto de nove entidades governamentais, além da Empresa Municipal de Urbanismo (EMURB) que coordenava o grupo (sucedida pela SP Urbanismo), e nove entidades da sociedade civil organizada. 62

As atas das 33 reuniões do Grupo Gestor, desde 2003 até abril de 2014, estão disponíveis no website da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano. De sua leitura se depreende que uma operação urbana do porte da OUCAE, assim estruturada, consegue cuidar bem dos lugares-fluidos de interesse comercial e criar novos lugares-sítio para as populações removidas; não dá, porém, a devida atenção aos lugares-sítio já estabelecidos, como se verifica nas manifestações dos participantes em ocasiões diversas. Fica por ali evidente a falta de coordenação entre entidades governamentais63 e entre elas e a sociedade civil, fato

61 Nos jornais de bairro há sempre relatos de antigos moradores trazendo ao público a memória da região; em

alguns casos, justificam sua mudança de residência para regiões mais calmas, frente ao avanço das altas torres sobre suas casas, do trânsito, ruído e impessoalidade decorrentes. Nos terrenos antes vegetados instalam-se condomínios horizontais quase completamente pavimentados e condomínios verticais com grande número de pessoas e equipamentos que alteram a temperatura da região. Como referência das manifestações dos moradores da região de Santo Amaro, veja-se a Revista Em Sintonia, vários números.

62 Entidades governamentais participantes do GG-OUCAE, segundo a Lei 13.260/01: Secretaria Municipal de

Planejamento (SEMPLA), Secretaria Municipal de Finanças (SF), Secretaria Municipal de Transportes (SMT), Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA), Secretaria Municipal de Habitação (SEHAB), Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (SIURB), Administração Regional de Santo Amaro (AR/SA), Administração Regional do Jabaquara (AR/JA). Algumas dessas mudaram de denominação desde então.

Entidades da sociedade civil organizada participantes do GG-OUCAE, segundo a lei: Movimento Defenda São Paulo, Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Instituto de Engenharia (IE), Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (APEOP), Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais (SECOVI), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), União dos Movimentos de Moradia, associação formada por moradores das favelas contidas no perímetro da Operação.

63 Algumas entidades envolvidas na OUCAE além das secretarias municipais e subprefeituras: Companhia do

Metropolitano de São Paulo (Metrô), Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo (DER), Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET), Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE).

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também manifesto nas seções deste trabalho que tratam do Parque Linear Água Espraiada, do Parque Chuvisco e do Parque Linear Córrego Invernada.