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ENTREVISTA À CRIANÇA

No documento CPCJ Guia FS (páginas 125-128)

sua aplicação

2 RELATO LIVRE

9.3. ENTREVISTA À CRIANÇA

Em determinadas ocasiões, o testemunho das crianças na fase de investigação criminal de presumíveis maus tratos é imprescindível, mas a fiabilidade do relato

destas, sobretudo no caso das mais pequenas, também é frequentemente posta em causa.

Sabe-se que a capacidade cognitiva das crianças evolui com a maturação fisiológica

e a estimulação ambiental. Por isso, os processos de memória e raciocínio são

muito diferentes dos adultos. As crianças não costumam recordar os factos da

mesma forma que os adultos e não se centram nos mesmos detalhes. Além disso, não se podem evitar as consequências ou sequelas emocionais que a criança pode sofrer pelo facto de ter de recordar e relatar o facto traumático em várias ocasiões e em contextos não familiares (vitimização secundária).

Actualmente considera-se que o testemunho ou declaração de uma criança é válida se ela tiver memória e competência cognitiva suficientes, admitindo-se

testemunhos desde os três ou quatro anos de idade, sempre e quando a capacidade

linguística, a capacidade para criar imagens, a memória e o raciocínio o permitam. Ainda que as crianças possam fornecer dados válidos para a investigação, podem

cometer erros de omissão, têm problemas com as coordenadas espaço-tempo e são mais vulneráveis do que os adultos à influência de conhecimentos posteriores ao acontecimento na construção do relato.

As técnicas gerais da entrevista cognitiva, anteriormente expostas, também

contribuem para aumentar os dados fornecidos pelas crianças e podem ser utilizadas tendo em conta algumas considerações.

9.3.1. PRINCÍPIOS ORIENTADORES

Seguidamente apresentam-se alguns princípios orientadores e fundamentais para a entrevista à criança:

Os processos de memória e raciocínio de uma criança são muito diferentes dos adultos. As crianças não recordam os factos da mesma forma que os adultos e não se centram nos mesmos detalhes.

Manual da APAV

Manual Core. Para o atendimento de crianças vítimas de violência sexual, 2.ª ed. Lisboa, APAV, 2002.

Manual de procedimentos para o atendimento de crianças vítimas de violência sexual e que se destina a auxiliar todos os profissionais que, em Portugal, e nos outros estados- membros da União Europeia, trabalham com crianças vítimas de violência sexual, com seus pais e familiares e/ou amigos.

Para fazer o download do Manual ir a:

http://ebookbrowse.com/core- compreender-pdf-d66268817

Furniss, T. (1993). Abuso Sexual da Criança. Porto Alegre: Artes Médicas.

• Em primeiro lugar, explicar quem é o entrevistador, onde trabalha e a razão da sua presença.

• Estabelecer uma relação de empatia explicando-lhe que pode ajudá-la e que

entende o seu receio em relação à entrevista. É importante que a criança se sinta segura para dar a sua colaboração.

• O local de realização da entrevista e as pessoas presentes na mesma devem ser determinadas em função das características da situação. O local escolhido deve ser agradável, protector e adaptado às características das crianças.

Também se deve evitar que existam elementos de distracção no ambiente. • As perguntas devem ser claras, formuladas numa linguagem compreensível

para a criança e apropriada ao seu estado emocional, devendo ter-se em

conta a sua capacidade para avaliar os factos.

• Devem ser utilizadas perguntas abertas e ter o cuidado de não sugerir

respostas, evitando ao máximo perguntas que sugiram respostas do tipo sim/ não (perguntas fechadas).

• As crianças têm menos capacidade de atenção do que os adultos e fatigam-se com facilidade. Portanto, há que adequar o ritmo da entrevista à capacidade

da criança/vítima.

• Com crianças de mais de 5 ou 6 anos podem ser utilizadas técnicas como o

desenho, a montagem de cenários dos acontecimentos ou a reconstrução, se esta não for traumática.

• Para situar os acontecimentos no tempo e no espaço pode recorrer-se a

referências objectivas, tais como se estava sol ou era noite. Se a criança não

se lembrar da rua, talvez se lembre da loja por onde passou ou de alguma outra referência objectiva.

• Nos casos em que o possível agressor ou responsável pelos maus tratos ou negligência é um ou são ambos os progenitores, seria importante, sempre que possível, que eles não estivessem presentes durante a entrevista. Nessa

altura deve-se evitar criticar os pais.

• É conveniente realizar entrevistas conjuntas com outros profissionais, se aconselhável, a fim de evitar a duplicidade de entrevistas.

• Deve ser avaliado o possível impacto da entrevista sobre a criança.

Art. 4.º da LPCJP - Princípios da intervenção.

Anexo A – Princípios orientadores da intervenção.

Anexo B - Definições legais e conceitos jurídicos.

Ponto 2.1. – Necessidades da criança.

Ponto 3.2. – Princípios orientadores da intervenção no sistema de promoção e protecção de crianças e jovens.

• É necessário garantir que o agressor ou responsável pela situação não tente vingar-se ou castigar a criança, pelo facto de esta ter falado.

• Devem ser evitadas promessas que não possam ser cumpridas pelos técnicos.

9.3.2. CRITÉRIOS PARA NÃO ENTREVISTAR A CRIANÇA

Sempre que os dados da investigação criminal sejam suficientes, é recomendável não os ampliar com a declaração da criança. Na realidade, pode existir uma série

de circunstâncias que desaconselhem a entrevista à criança dentro do contexto

policial.

Como critérios para não se entrevistar e colherem declarações da criança, podem

destacar-se, entre outros, os seguintes:

• Se estiver a sofrer graves consequências como vítima (estado de elevado stress: choro, treme, falta-lhe a fala, etc.). Nestes casos, adia-se a declaração

até à recuperação psicológica da criança.

• Se existir uma denúncia de um profissional devidamente fundamentada. • Se existirem provas físicas, médicas, entre outras, suficientes.

• Se for possível obter as provas por outra via.

• Se se tratar de uma criança com maturidade ou desenvolvimento que não permita um testemunho aceitável e/ou que lhe cause sofrimento acrescido.

9.3.3. CRITÉRIOS PARA ENTREVISTAR A CRIANÇA

Como critérios para se obter a declaração da criança, destacam-se entre outros,

os seguintes:

• Se a vítima for fazer a denúncia sozinha ou acompanhada de uma pessoa e

não se verificar nenhum dos pressupostos do ponto anterior.

• Se o caso chegar ao conhecimento das FS a pedido de um órgão judicial ou do Ministério Público, a investigação criminal será efectuada em coordenação

com outras instâncias e limitando ao estritamente necessário as actuações com a criança.

A lei obriga a que a entrevista com a criança se faça na presença dos pais ou representantes legais e, no caso de estes serem presumivelmente os autores, a entrevista deve ser realizada pelo procurador do Ministério Público.

9.4. CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DA VERACIDADE DOS

No documento CPCJ Guia FS (páginas 125-128)