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Capítulo 2: Fake news e social media em Portugal: O caso da página “Os Truques da

2.3 Entrevista e análise

Como referido, no sentido de aprofundar e de contextualizar a realidade da página de Facebook “Os Truques da Imprensa Portuguesa” e de justificar a relevância e a pertinência do estudo da mesma, optou-se por realizar uma entrevista a um dos criadores e administradores deste projeto. O guião de entrevista utilizado encontra-se exposto no Anexo 6, enquanto a transcrição integral da mesma entrevista pode ser consultada no Anexo 7.

Esta entrevista exploratória não teve como objetivo verificar hipóteses nem recolher ou analisar dados específicos, mas sim abrir pistas de reflexão e tomar consciência das dimensões e dos aspetos do problema em análise (Quivy & Campenhoudt, 2008). Desta forma, não há lugar para a verificação de hipóteses de pesquisa, havendo sim a sistematização e a estruturação da informação recolhida num modelo conceptual e analítico correspondente a um quadro hipotético explicativo das dinâmicas em causa com o qual se pretende interrogar a realidade, reformulando-o à medida que se procuram novas pistas empíricas. Em suma, a interação entre teoria e empiria é horizontal e não vertical, como na lógica hipotético-dedutiva: a incidência do foco de pesquisa define-se progressivamente, a focalização da atenção no objeto e a definição dos contornos da questão dá-se por meio da clarificação do objeto produzida à medida que a recolha e a análise de dados se realizam. Esta função exploratória da entrevista realizada justifica-se com a unicidade do fenómeno estudado – neste caso, a página de Facebook “Os Truques da Imprensa Portuguesa” – e pela consequente busca das principais linhas de força do mesmo, no sentido deste “caso único” abrir pistas de análise à investigação de análise para generalização numa fase posterior (Guerra, 2006).

A entrevista realizada caraterizou-se por ser uma entrevista semidiretiva, no sentido em que não foi inteiramente aberta nem encaminhada por um grande número de perguntas precisas, tendo o investigador sido orientado por um conjunto de perguntas- guias relativamente abertas, mas que não foram colocadas necessariamente pela ordem nem com a formulação prevista. Foi, então, dado espaço ao entrevistado para o mesmo falar abertamente, com as palavras que desejou e pela ordem que lhe conveio. O esforço do investigador passou por reencaminhar a entrevista para os objetivos pretendidos sempre que o entrevistado deles se afastou e por colocar as perguntas relativas a temáticas

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que o entrevistado não abordou por si mesmo, no momento mais apropriado e da forma mais natural possível (Quivy & Campenhoudt, 2008).

No que toca ao perfil do entrevistado, Pedro Bragança, um dos criadores da página de Facebook em análise, é do sexo masculino, tem 28 anos de idade, é natural e residente na cidade do Porto e é arquiteto e investigador, sendo atualmente bolseiro de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia.

As tabelas apresentadas infra sintetizam os principais pontos abordados pelo entrevistado. Optou-se por analisar a entrevista de forma a salientar os principais pontos abordados pelo entrevistado, associando-se os mesmos aos excertos correspondentes da entrevista. Inicialmente, a análise prende-se, fundamentalmente, com a dimensão interna da página, i.e., as suas motivações, modos e processos de funcionamento, avançando-se gradualmente no sentido de abordar temáticas menos específicas, relacionadas com os conceitos e as dimensões teóricas analisadas, particularmente no que toca à temática das fake news e contextos associados.

Tabela 2 – Análise de entrevista: âmbito e finalidade da página Dimensões de análise Excerto da entrevista  Motivação inicial para a

criação da página;  Falta de escrutínio na

imprensa e a necessidade de relativização e subjetivação de um poder com dimensão pública.

“entendíamos que havia (…) um problema de falta de escrutínio na imprensa, nos meios tradicionais da imprensa portuguesa, que era um poder com uma dimensão pública, (…) e que, sendo um poder tão grande e tão extenso, que era necessário criar uma forma de relativização, de subjetivação desse poder.”

 Página criada sem qualquer base de apoio inicial;  Crescimento progressivo da

base comunitária que hoje carateriza este projeto.

“E a página (…), como qualquer página de Facebook ou qualquer veículo numa rede social, começou com uma pequena dimensão, (…) com as próprias pessoas, neste caso éramos dois [João Marecos], e ganhou uma dimensão maior, foi ganhando ao longo dos tempos, é uma coisa muito progressiva”

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 Crítica a partir de casos concretos, confrontando as notícias com a realidade;  Crítica não-especializada,

mas sim do ponto de vista do público.

“era necessário, sempre a partir de casos concretos (…) estabelecer uma crítica do ponto de vista do público, não uma crítica especializada.”

“confrontar notícias e as suas diversas componentes com uma determinada realidade”  Seguidores da página

contribuem com sugestões e propostas;

 Base de funcionamento comunitária.

“sendo uma página com uma base de funcionamento comunitária, ou seja, as pessoas enviam sugestões e tal, sendo a comunidade mais alargada, ela é também mais forte, mais robusta”

 Gradual menor

personificação da escrita e uniformização da linguagem e das publicações;

 Menor subjetividade nas publicações;

 Fornecimento de contexto e de enquadramento da crítica realizada.

“há muita coisa que mudou na nossa forma de escrita, acho que há menos personificação, há menos “de nós” nos textos”

“Nós fazemos a verificação da sugestão que as pessoas nos fazem, a confirmação dessas denúncias ou propostas (…), e damos um tratamento editorial àquilo, (…) Procuramos fazer uma uniformização da linguagem entre as diversas publicações e que haja uma sequência, e (…) um enquadramento, portanto, preocupamo-nos por manter esse nivelamento em todas as publicações.”

A tabela-síntese apresentada supra decorre diretamente do ponto 2 do guião de entrevista, que incide sobre o âmbito e a finalidade da página de Facebook “Os Truques da Imprensa Portuguesa”. Neste sentido, e no que toca à motivação inicial para a criação da página, o entrevistado refere que a mesma se prendia com um problema de falta de escrutínio na imprensa portuguesa e a consequente necessidade de relativização e subjetivação de um poder com uma dimensão pública.

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No que toca ao processo concreto de criação da página e ao apoio e suporte da mesma, ao nível dos seguidores e da comunidade, Pedro Bragança refere que a mesma começou sem qualquer tipo de apoio inicial, contando apenas com os dois criadores, remetendo o crescimento da base comunitária que hoje se assume como um dos principais pontos fortes deste projeto para um processo progressivo que se deu ao longo do tempo. Ainda sobre a vertente comunitária da página, o entrevistado assume que a base de funcionamento da mesma é a própria comunidade, que contribui frequentemente com uma grande quantidade de sugestões e propostas para a atividade d’”Os Truques”.

Este é um ponto muito relevante nesta investigação, pois o sucesso e a consolidação de uma qualquer página numa rede social passa, forçosamente, pelo engajamento e pela participação dos seguidores da mesma. Desta forma, a comunidade assume-se como um – ou como o – elemento primordial para o estabelecimento desta página em particular. Como o entrevistado refere, a página é tão mais forte e robusta quanto mais alargada – e engajada, refira-se – a comunidade também for.

Relativamente ao papel da página, o interlocutor refere a realização de uma crítica não-especializada, mas sim do ponto de vista do público, como a principal missão d’”Os Truques”. Neste sentido, a página opta por realizar esta crítica a partir de casos concretos de notícias publicadas em diversos órgãos de comunicação social portugueses, confrontando as mesmas notícias e as suas componentes com a realidade, desconstruindo assim publicações que apresentem problemas, falhas ou enviesamentos.

No que diz respeito à evolução e ao desenvolvimento da página e dos seus processos, o entrevistado refere que, ao longo do tempo, se verificaram algumas mudanças na mesma, particularmente a nível de apresentação dos posts, notavelmente uma gradual menor personificação da escrita e, simultaneamente, uma maior preocupação de uniformização da linguagem e de enquadramento e nivelamento das publicações, no sentido de garantir uma subjetividade diminuta na crítica realizada.

Tabela 3 – Análise de entrevista: funcionamento e razões do sucesso Dimensões de análise Excerto da entrevista

“Houve um momento em que outros amigos nossos, (…) em comum, se juntaram (…) e houve também um momento em que nós decidimos abrir a edição (…) a

60  Dois momentos de aumento da equipa de edição da página: 1. Rede próxima; 2. Abertura à comunidade.  Edição comunitária da página  Propriedade comunitária da página e a importância da participação da comunidade

quem quisesse, e também se juntaram pessoas nesse momento.”

“a propriedade da página é de todos, todos os seguidores. E uma parte bastante significativa das publicações advém de sugestões das pessoas”

“as publicações, muitas vezes, têm muito mais dessas pessoas da comunidade que enviam as suas propostas do que de nós próprios.”  Razão do sucesso da página;  Agregação de opiniões comuns de diferentes pessoas num só espaço – crítica do público.

“aí que está a sua originalidade e (…) a razão do seu sucesso (…) é que ela colige no mesmo espaço (…) um conjunto de perceções que são comuns a muita gente, mas que não estavam reunidas num só espaço. Sempre houve (…) também muita crítica do público (…) O que, eventualmente, pode ser uma novidade é ela existir de forma integrada e (…) revista, num só espaço.”

Relativamente à relação entre a equipa editorial da página e a base comunitária da mesma, particularmente no que toca à edição das publicações, o entrevistado identifica dois momentos fundamentais. Inicialmente, para além dos dois criadores originais – Pedro Bragança e João Marecos – era comum a contribuição de membros das suas redes próximas – “amigos em comum” – pontualmente ou por períodos mais alargados. Num segundo momento, a própria página decidiu abrir a oportunidade de edição à comunidade, tendo neste período aumentado a equipa de editores da mesma. No que toca à propriedade da página e à importância da participação da comunidade, Pedro Bragança é claro: a página é de todos os seguidores, sendo que uma parte bastante significativa das publicações advém de sugestões da comunidade e que estas mesmas publicações refletem,

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muitas das vezes, mais dos indivíduos que fazem as sugestões e as propostas do que dos próprios administradores.

No que toca ao que o entrevistado considera ser a razão do “sucesso” da página, o mesmo aponta o facto de reunir e agregar num só espaço, neste caso, numa página numa rede social, um conjunto de perceções e opiniões comuns de diferentes pessoas. Adicionalmente, esta é, segundo o entrevistado, a verdadeira inovação da página, pois, tal como o mesmo refere, sempre houve crítica espontânea e pontual do público relativa à imprensa, mas nunca de forma integrada, sistematizada e revista num só espaço.

Tabela 4 – Análise de entrevista: recursos

Dimensões de análise Excerto da entrevista  Tempo como principal

recurso necessário para a manutenção do projeto;  Reconhecimento público

e papel social da página.

“Os recursos é algum tempo nosso, é isso (…) É um recurso que tem algum valor (…) porque o tempo de trabalho é valor (…) é uma coisa que nós fazemos com dedicação e também é reconfortante ver que há um papel social da página (…) e que há muita gente a reconhecê-lo.”

 Recusa de inúmeras propostas de apoio e financiamento da página;  Evitamento de relações de dependência e manutenção da autonomia e liberdade.

“recebemos centenas de mensagens (…) a oferecerem-se para financiar a página e a nossa resposta é sempre a mesma (…) não aceitamos (…) apoios financeiros porque eles não fazem falta. Além disso, no caso de serem de instituições (…) geram relações de dependência que nós temos de evitar (…) que não queremos, de todo, criar.”  Regime de voluntariado

 Inexistência de receitas

“Receitas? Não (…) nem tem forma de gerar qualquer receita. (…) Não tem publicidade (…)”

No que toca aos recursos necessários para a manutenção deste projeto, o entrevistado refere apenas um: o tempo. No entanto, refere também que este não deve ser desconsiderado, na medida em que “tempo de trabalho é valor”. Adicionalmente, assume ainda que apesar do caráter voluntário da atividade dos administradores e do dispêndio de um recurso tão valioso como o tempo, todo este projeto é levado a cabo com dedicação,

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pois é reconfortante, para os mesmos, haver muita gente a reconhecer publicamente que a página desempenha um papel social muito relevante na sociedade portuguesa.

Relativamente a propostas de financiamento ou de estabelecimento de parcerias com entidades ou instituições, o entrevistado refere que a página nunca as recebeu. Por outro lado, afirma, isso sim, que a página já recebeu centenas de propostas de financiamento por parte de pessoas anónimas e singulares, que nunca foram aceites, por não serem necessárias. Adicionalmente, refere ainda que a página rejeita apoios oriundos de instituições pois estes seriam geradores de relações de dependência, que a mesma pretende evitar, no sentido de garantir a manutenção da autonomia, da independência e da liberdade da mesma.

Por fim, Pedro Bragança afirma que todo o trabalho desempenhado pelos colaboradores d’”Os Truques” é realizado em regime de voluntariado, sendo que a página não gera receitas, nem através de publicidade nem de nenhum outro mecanismo de monetização da mesma.

A tabela infra sintetiza as principais dimensões de análise relativa às principais dificuldades encontradas pelo entrevistado no desenvolvimento e na administração da página, assim como à reação dos jornalistas, dos órgãos de comunicação social e do poder político, à mesma.

Tabela 5 – Análise de entrevista: dificuldades encontradas e reações Dimensões de análise Excerto da entrevista

 Página lida com poderes públicos significativos, pois criam regimes de perceção e de visibilidade

“este é um (…) poder de criar regimes de perceção e de visibilidade na sociedade, através de órgãos que são os (…) principais intermédios entre a realidade e as pessoas. É um poder que não estava a ser relativizado, que não estava a ser alvo de crítica (…) estruturada”

 Alguns jornalistas recusam a crítica não especializada

“algumas pessoas (…) achavam que o trabalho dos jornalistas não podia ser alvo de crítica, se não pelos próprios jornalistas (…) essa é uma reação muito frequente por parte de alguns jornalistas (…) a mais negativa e (…) a que gerou mais problemas”

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 Conflitos criam-se com três grupos fundamentais de agentes; 1. Jornalistas; 2. Consultores de Comunicação; 3. Políticos

“Elas geram conflitos (…) com três grupos de pessoas. Primeiro (…) com os próprios jornalistas, em segundo lugar, com consultores de comunicação (…) e, em terceiro lugar, com os próprios políticos”

 Independência da página relativamente à política

“nós não temos qualquer relação dessa natureza, nem com uma parte nem com outra e, portanto, é- nos absolutamente indiferente”

 Perceção de que a página se coloca contra o jornalismo ou contra os jornalistas  Defesa de princípios importantes no jornalismo, do ponto de vista do público

“há uma perceção (…) errada de que a página (…) é feita contra os jornalistas ou contra o jornalismo. Não é. (…) nós defendemos princípios (…) do ponto de vista do público, que achamos que devem ser preservados no jornalismo”

 Muitos jornalistas

compreendem a existência e suportam a página

“há muitíssimos jornalistas (…) que apoiam a página e que suportam os seus princípios e modo de funcionamento e a página funciona com fontes de diversas naturezas, entre os quais jornalistas. Há jornalistas que comunicam, interagem frequentemente com a página e que enviam também sugestões e críticas”

 Não há alvos preferidos nem “ódios de estimação”

“órgãos de comunicação social (…) acharem que são especialmente visados pela página, o que não é verdade (…) todos (…) foram sujeitos à crítica em algum momento (…) não temos nenhum ódio de estimação, não temos nada que nos motive especialmente num em vez de outro”

 Particular conflitualidade com os órgãos de direção

“depende muito se estamos a falar de órgãos de direção ou se estamos a falar de “operários de

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jornalismo” (…) é mais frequente haver problemas e conflitualidade com os órgãos de direção.”

 Acusações de partidarismo ou de uma suposta

orientação política

“uma vez em que fomos a uma entrevista e o entrevistador tinha uma (…) estatística (…) que dizia que (…) a página versava mais sobre notícias (…) prejudiciais para uma determinada tendência política do que para outra, tentando a partir daí retirar alguma conclusão (…) de uma suposta orientação política da própria página. (…) E isso é uma coisa que nós rejeitamos em absoluto.”

 Tendência das publicações da página é definida pela tendência da própria imprensa

“Se existem mais publicações que criticam notícias supostamente favoráveis ou contrárias a uma determinada tendência, isso está a dizer muito mais relativamente à própria imprensa do que em relação a nós (…) Aquilo que (…) nunca fizemos e garantimos que não iremos fazer nunca é (…) um equilíbrio artificial (…) entre tendências”

 Recusa de acusações de partidarismo

“nós tivemos sempre uma espécie de carta de princípios na página, ainda hoje está lá disponível e nunca a editámos (…) e que diz exatamente aquilo que é: somos pessoas sem filiação partidária”

“tudo aquilo que tínhamos dito nesse momento confirma-se no momento da revelação das nossas identidades (…) o anonimato acabava por alimentar uma espécie de novela em torno desse assunto que morre também nesse momento.”

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 Modo de funcionamento e de gestão das sugestões do público

 Processo de “fact- checking”,

independentemente da origem

“O nosso modo de funcionamento é o seguinte: nós recebemos uma proposta (…) e observamos para aquele ponto de vista do público (…) na forma como (…) se confronta com a realidade, independentemente dela ter origem em A, em B ou em C, e para nós esse assunto é, de facto, irrelevante.”

 Alcance semanal da página

 Público vê página como importante na vida pública portuguesa

“há momentos em que a página atinge (…) um alcance semanal de um milhão e meio de pessoas, (…) dois milhões de pessoas. (…) há muita gente que vê a página como um espaço útil e importante para a vida pública portuguesa e, neste caso, como um mecanismo de relativização deste poder e que o vê com importância”

Relativamente às principais dificuldades encontradas pela página e pelos seus administradores no desenvolvimento deste projeto, o entrevistado começa por ressalvar que “Os Truques” lidam com poderes públicos significativos, o que naturalmente afeta o grau de impacto da página junto da sociedade. Assim, e na medida que a página lida com poderes capazes de criar e orientar regimes de perceção e de visibilidade de informação, o inquirido aponta três grupos fundamentais de agentes com os quais se geram frequentemente conflitos: jornalistas, consultores de comunicação e políticos.

No que toca ao primeiro grupo, o dos jornalistas, Pedro Bragança refere que a reação de alguns jornalistas foi notoriamente negativa, particularmente devido ao facto de os mesmos recusarem aquilo que se define como uma crítica não-especializada, ou seja, uma crítica do ponto de vista do público, não realizada pelos seus congéneres jornalistas. No que toca à reação do terceiro grupo mencionado supra, os agentes políticos, o mesmo reafirma a independência da página perante qualquer que seja a tendência político-ideológica em questão.

De um ponto de vista mais concreto, e analisando a reação de cada um deste grupo de agentes, atentaremos agora em particular à reação dos órgãos de comunicação social. O entrevistado começa por referir uma questão que considera essencial para a compreensão deste tipo de reações, o facto de haver uma perceção – errada, na sua opinião

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– de que a página, por realizar crítica não-especializada àquilo que considera ser más- práticas jornalísticas, se coloca contra os jornalistas ou contra o jornalismo. No sentido de desconstruir esta ideia, Pedro Bragança afirma que a página se pauta pela defesa de princípios importantes no jornalismo, do ponto de vista do público, que devem ser preservados, sendo que, adicionalmente, relata que muitos jornalistas compreendem esta visão e que, inclusivamente, suportam e contribuem para o desenvolvimento da página, através de críticas e sugestões. Por fim, refere que, ao contrário do que alguns órgãos de comunicação social afirmam, a página não tem alvos preferenciais nem “ódios de estimação”, visando de forma transversal todos os órgãos de comunicação social portugueses. Curiosamente – ou não – o entrevistado afirma ainda que os principais conflitos se dão com os órgãos de direção dos referidos órgãos de comunicação social.

Relativamente à reação do poder político, Pedro Bragança começa por referir o facto de terem existido, desde os primeiros momentos, acusações de partidarismo ou de uma suposta orientação político-ideológica da página, o que o mesmo rejeita categoricamente. Ademais, o mesmo afirma que a suposta tendência ideológica das publicações da página decorre diretamente da tendência ideológica da própria imprensa, recusando ainda a criação de um equilíbrio artificial entre as mesmas tendências. Por fim,