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Capítulo 2: Fake news e social media em Portugal: O caso da página “Os Truques da

2.4 Apresentação e discussão de resultados

2.4.2 Relações entre dimensões de análise

2.4.2.1 Temática da Notícia

De forma a compilar, de forma clara, as principais descobertas e conclusões retiradas após a análise realizada, atentaremos inicialmente à relação da categoria 20, relativa à temática das notícias analisadas, com as restantes dimensões de análise. Assim, as principais conclusões a retirar relativamente à temática das notícias enviesadas são:

 No que toca aos diferentes órgãos de comunicação social;

o Mais de metade das publicações problemáticas (55,9%) do Jornal de Notícias prendem-se com a temática “Internacional”;

o Mais de um terço das notícias (34,2%) do Correio da Manhã enquadram- se na temática “Sociedade”;

o Cerca de três em cada dez notícias do Expresso (30,4%), assim como do Público (29,4%) e do Observador (32%) tratam da temática “Política”; o A temática mais tratada (27,3%) pelo Diário de Notícias é “Internacional”; o Um terço (33,3%) das notícias enviesadas do Jornal i prendem-se com a

temática “Política”;

o Um terço (33,3%) das notícias com problemas da TSF enquadram-se na temática “Economia”.

Tabela 9 – Órgão de comunicação social por temática

JN CM DN EXP PUB OBS Ji TSF Política 5,9% 23,7% 22,7% 30,4% 29,4% 32% 33,3% 16,7% Economia 5,9% 5,3% 18,2% 26,8% 7,8% 12% 11,1% 33,3% Sociedade 17,6% 34,2% 22,7% 26,8% 27,5% 10% 22,2% 16,7% Internacional 55,9% 18,4% 27,3% 8,9% 19,6% 38% 22,2% 29,2% Ciência 0% 0% 0% 3,6% 5,9% 4% 5,6% 4,2% Cultura 2,9% 5,3% 2,3% 3,6% 2% 2% 2,8% 0% Tecnologia 5,9% 7,9% 6,8% 0% 2% 2% 0% 0% Desporto 5,9% 5,3% 0% 0% 5,9% 0% 2,8% 0% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

A tabela supra compreende as frequências verificadas dos órgãos de comunicação social mais visados por temática das notícias analisadas.

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 Relativamente à data de publicação;

o Desde o segundo semestre de 2015 até ao segundo semestre de 2016, inclusive, a temática mais abordada é consistentemente “Política”;

o Desde o primeiro semestre de 2017 até ao primeiro semestre de 2018, inclusive, a temática mais abordada é consistentemente “Internacional”. Um dos motivos que poderá explicar estas tendências, na medida em que se verifica uma coincidência temporal, passa pelas eleições legislativas portuguesas, realizadas no segundo semestre de 2015, e que levaram à formação de um novo governo do Partido Socialista, suportado por um acordo de incidência parlamentar com os restantes partidos de esquerda, e pelas eleições presidenciais realizadas no primeiro semestre de 2016, que elegeram Marcelo Rebelo de Sousa como o novo Presidente da República Portuguesa. Ambos estes eventos foram extensamente mediatizados e cobertos pela imprensa portuguesa, o que pode justificar esta tendência.

Analogamente, o ano de 2017 e o primeiro semestre de 2018 foram marcados por diversos eventos internacionais incontornáveis. Desde a formalização do Brexit, através da invocação do Artigo 50 do Tratado de Lisboa pelo Reino Unido, à libertação de Mosul, segunda maior cidade do Iraque, passando pela escalada de tensão entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, entre muitos outros, os inúmeros eventos internacionais de relevância incontestável durante este período podem ajudar a explicar este padrão.

 No que toca ao direito ao contraditório;

o Mais de um terço (35,8%) das publicações que apresentam problemas relativamente ao direito ao contraditório enquadram-se na temática “Sociedade”.

Esta conclusão pode ser justificada pelo facto de esta temática ser naturalmente mais propensa a situações de desentendimentos e de acusações entre diferentes partes, o que poderá gerar mais situações em que a imprensa não dá oportunidade a todos os agentes de se defenderem e de apresentarem os seus pontos de vista, exercendo, assim, o seu direito ao contraditório.

 No que toca a alterações de quem beneficia ou é prejudicado com a notícia; o Mais de um terço (33,6%) destes enviesamentos enquadram-se na temática

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Esta descoberta não se assume como uma completa surpresa, na medida em que a posição político-ideológica das direções dos órgãos de comunicação social, mais ou menos vincada, acaba sempre por se traduzir, de forma mais ou menos visível, na própria orientação e tendência política das notícias. Neste sentido, e pela importância cabal da política e, principalmente, das perceções da política e dos políticos, na sociedade, acaba por ser natural perceber que os principais beneficiados ou prejudicados pelas mesmas acabem por ser agentes de círculos políticos. Inclusivamente, também Pedro Bragança referiu, como vimos, na entrevista realizada, que um dos grupos de agentes dos quais a página recebeu mais pressão e uma reação mais negativa foi precisamente dos agentes políticos, o que poderá ajudar a explicar o porquê de se verificar uma preponderância tão vincada da temática “Política” em algumas das dimensões de análise.

Adicionalmente, é, provavelmente, sobre as notícias de natureza política que os enviesamentos se tornam potencialmente mais graves, particularmente dada a importância das perceções da mesma e dos seus agentes, como referido. Neste sentido, atentaremos agora a mais algumas categorias onde esta problemática se verifica.

 No seguimento do referido supra, e relativamente a problemas identificados nos títulos das notícias;

o A maior tranche (26,6%) destas notícias enquadra-se na temática “Política”.

 Relativamente à dimensão de análise da parcialidade das notícias;

o Mais de 4 em cada 10 (40,5%) das notícias que apresentam evidências de parcialidade prendem-se com “Política”.

 Ainda com base no raciocínio supramencionado, importa referir, relativamente à relação da temática da notícia com o grau de enviesamento, que:

o Mais de metade (54,2%) das notícias classificadas com o grau mais grave de enviesamento – “erros graves” – enquadram-se na temática “Política”. o No que toca aos enviesamentos considerados moderadamente gravosos – “notícias enganadoras” – também a maior parcela (27,1%) trata de “Política”.

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o Relativamente ao grau de enviesamento menos gravoso – “clickbait” – mais de 4 em cada 10 notícias (42,1%) enquadram-se na temática “Internacional”.

Com base nestes resultados, é possível concluir que, no que toca à temática em que se enquadram as notícias analisadas, a maioria das notícias que se enquadram nos dois graus mais graves de enviesamento considerados – “notícias enganadoras” e “erros graves”, versam sobre assuntos de natureza política. No que se refere ao grau menos gravoso de enviesamento das notícias, designado por clickbait, a temática mais recorrente contende com assuntos de carácter internacional.

Adicionalmente, as únicas temáticas que apresentam uma maioria de notícias de grau de enviesamento que não o intermédio – “notícias enganadoras” – são as de “Cultura” e “Tecnologia”, que apresentam uma maioria de notícias clickbait, o grau de enviesamento menos gravoso, constituindo 76,9% e 92,3% das publicações dessas temáticas, respetivamente. Com base nesta amostra, é, então, possível concluir que as temáticas “Cultura” e “Tecnologia” são as preferenciais para a publicação de notícias clickbait por parte dos órgãos de comunicação social analisados.

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