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incompreensão sobre o aspecto do conteúdo de que a densidade não interfere na solubilidade, como ilustra o trecho a seguir:

Joana: Na verdade, eu quis dizer assim: nesse sistema (se refere ao sistema contendo água e óleo) pode até explicar (se refere ao conceito de densidade), porque tem

separação.

Professora formadora: O que explica é o que vocês estavam reforçando com eles (se refere aos estudantes), que era a interação. Pelo jeito que vocês falaram não é só a

densidade que determina, é a densidade e as interações. (...) Vocês poderiam levar pra

eles a informação de que a densidade do sal é maior do que a da água e ele dissolve na água. A densidade do álcool é menor do que a da água e ele dissolve na água.

Joana: Nesse caso a gente até falou, né? Que por exemplo, a água e o álcool vão interagir...

Letícia: Mas a gente não falou que a densidade não influencia. Joana: É. Então foi uma falha nossa.

Somente a partir das discussões promovidas pela professora formadora durante as entrevistas, as futuras professoras parecem ter compreendido que a densidade dos componentes de uma mistura não influencia na sua dissolução. Além disso, elas reconheceram que este aspecto foi abordado de maneira incorreta na aula que ministraram. Esse e outros momentos de intervenção e discussão comentados anteriormente ressaltam a importância da reflexão no aprimoramento dos conhecimentos dos futuros professores.

As futuras professoras também manifestaram suas impressões a respeito do papel da analogia utilizada na aula. No trecho transcrito a seguir, Joana evidenciou seu entendimento de que analogias podem facilitar a compreensão de conceitos:

Eu acho que talvez ... talvez seria mais fácil de trabalhar com analogia... vendo a realidade (se refere à realidade de aprendizagem de Ciências dos estudantes), que eles

tem muita dificuldade. Talvez conseguindo fazer essas comparações com coisas simples é mais fácil deles entenderem do que às vezes eu chegar aqui e falar ou mostrar... por exemplo, um modelo também, mas um modelo difícil eles não vão conseguir compreender de cara.

Um aspecto criticado por elas durante essa entrevista foi com relação ao uso de analogias após a explicação do conceito de interação, tal como haviam previsto no planejamento. A esse respeito, as futuras professoras fizeram os seguintes comentários:

Letícia: No final da aula não ia nem ter o que discutir.

Joana: Tipo assim, a gente não ia perceber o grau de dificuldade que eles têm. A gente

ia chegar e falar, falar, falar e aí, tipo assim, eles iam escrever o que a gente queria ouvir. Entendeu?

Letícia: Verdade.

Por meio dessa crítica, elas evidenciaram considerar mais adequado que

analogias fossem introduzidas durante a discussão do conteúdo científico. Caso contrário, elas não possibilitariam que os estudantes expressassem suas dificuldades sobre a temática. A partir dessa reflexão sobre a ação, as futuras professoras forneceram mais argumentos sobre a mudança que realizaram no uso da analogia com relação ao planejamento 2.

A dupla também comentou sobre o uso da terminologia partícula para se referir aos pedaços de ímã e limalha:

Professora formadora: Agora eu queria que vocês analisassem o uso da terminologia

partícula, usada por vocês para os sistemas que vocês estavam comparando. Vocês utilizaram o termo partículas para falar da água e óleo; e água e sal, mas também usaram partículas pra falar da areia e do ímã e do ímã e limalha.

Letícia: Eu acho que a gente fez uma confusão na nossa própria cabeça.

Joana: É. Mas depois, assim, eu corrigi. Que não é partícula é pedaço. Porque ali eu

não tenho partículas. No início a gente tava confundindo, tava falando partícula de ímã. Porque a gente tava querendo deixar claro pra eles: ah vocês têm que associar isso aqui (se refere aos pequenos pedaços de ímã) com isso aqui (se refere às partículas de água). Partículas disso com partículas daquilo, mas não era partícula. Até porque

se não ficaria só um experimento.

Letícia: Lá no sistema 1 era composto por óleo e água. Aí nós tínhamos partículas de

óleo que iriam... aqui no caso não iriam interagir com as partículas de água. E no outro experimento, que envolvia o ímã, eh... seriam pedaços de ímã que não seriam atraídos... que a areia não seria atraída pelos pedaços de ímã.

Como é possível observar pelo trecho acima, após refletirem junto com a professora formadora sobre o uso do termo partículas para se referir ao ímã, as futuras professoras chegaram à conclusão de que a forma como fizeram uso desse termo durante a comparação foi inapropriada.

Ao final da entrevista as futuras professoras fizeram uma análise comparativa entre as aulas 1 e 2:

Professora formadora: Você acha mais difícil?

Joana: Eu acho mais difícil, porque tipo assim, você tem que partir ...

Letícia: Mas é um tema que eu já estudei sobre ele, já tenho meus conhecimentos

formados sobre a questão de interação e solução. Até porque a gente não aprofundou nas questões... na... tipo assim classificar as interações, quais são as interações, a gente não fez isso, a gente só introduziu que existem as interações e elas tem diferentes intensidades, né?! Ah... eu achei mais fácil.

Joana: É, mas eu penso assim, tem que ficar claro pra gente, pra gente conseguir

ensinar pra eles. Por exemplo, a gente fez algumas confusões como de densidade e a gente tá ensinando isso pra eles, entendeu? Então assim, acho que tem que ficar bem claro pra gente, pra gente ensinar, no caso.

Letícia: Mas tem outra questão: racismo, tem muitos pontos de vista diferentes sobre

racismo. É uma questão delicada de você entrar dentro da sala e falar sobre isso. E química, de certa forma, é tipo assim... conceito e tal...

Joana: Mas por outro lado, racismo você tá ali conversando, você quer ouvir o que que

ele acha. Agora a química você tá ensinando eles. Igual, por exemplo, de início eles tinham uma dificuldade muito grande.

Professora formadora: Mas vocês deixaram de ouvir a opinião deles (se refere à situação de ensino do conteúdo químico)?

Joana: Não, também não, mas aí eu teria que tá formulando uma ideia mais científica,

né?! Teria que tá estruturando a ideia dele.

O trecho acima evidencia a concepção das futuras professoras de que é importante apresentar um bom conhecimento de conteúdo para abordar a temática. As futuras professoras também parecem reconhecer o fato de que em certos momentos da aula 2, elas fizeram algumas confusões conceituais sobre o assunto que estavam discutindo.

Por outro lado, para as futuras professoras, apenas o conhecimento de conteúdo não é suficiente para garantir uma boa aula. Isso fica evidente na fala de Joana no final do trecho transcrito, quando ela expressa a dificuldade de conduzir a aula em direção ao conteúdo científico, considerando a necessidade de estruturação das concepções dos estudantes a partir de uma nova base conceitual.

Apesar de reconhecerem a necessidade de discutir os pontos de vista dos estudantes, parece que esse elemento do conhecimento manifestado pelas futuras professoras estava associado, sobretudo à discussão das ideias prévias dos estudantes sobre o conceito científico (como as concepções alternativas apresentadas por eles). Isso porque, quando se depararam com uma situação na qual um dos estudantes buscava compreender como ocorreriam as interações, caso fosse adicionado álcool a um sistema

composto por sal e água (situação hipotética), elas forneceram uma resposta imediata, sem abertura para a discussão de possíveis explicações formuladas pelos estudantes para o fenômeno. Isso pode estar relacionado ao fato de que, como já mencionado, as futuras professoras passavam pela sua segunda experiência de ensino e, por esse motivo, elas não haviam tido diferentes oportunidades de experimentar e refletir sobre diferentes situações da prática que lhes possibilitassem desenvolver seu conhecimento pedagógico neste sentido.

Por último, as futuras professoras comentaram sobre a participação dos estudantes ao longo das aulas:

Joana: Eu acho que quanto mais você eh... permitir que eles participem, a aula fica

mais dinâmica e acho que fica mais... mais fácil da gente conseguir trabalhar e chegar em cada um. Acho mais fácil do que só chegar lá e falar assim... Igual, por exemplo, a analogia do racismo a gente chegou lá e fez. Deixou tudo claro pra eles. A gente deixou tudo claro e só deu voz com as nossas perguntas.

Letícia: A gente chegou: aqui tá o ratinho, é assim que isso funciona, nós estamos

comparando isso, isso e isso...

Joana: E aqui não. Meio que na aula inteira a gente deixou eles participarem. Letícia: A gente colocou com as palavras deles o mapeamento. Eu achei melhor.

As futuras professoras evidenciaram, dessa forma, a ideia de que a interação com os estudantes torna a aula mais dinâmica. Elas reconheceram esse aspecto contrastando a aula 1 com a aula 2. Isso evidencia novamente a importância dessa primeira experiência de ensino para que as futuras professoras pudessem repensar certos aspectos de sua prática pedagógica. Essas ideias estão em consonância com aquelas apresentadas por autores como Shulman (1986); Gauthier et al. (1998); Tardif (2002); Diniz-Pereira (2011a) e Pimenta (2012), os quais salientam a importância dos saberes advindos da prática docente para a atuação dos professores.

4.8 ENTREVISTA 4: REFLEXÕES SOBRE A MODELAGEM ANALÓGICA E