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5. ANÁLISE E RESULTADOS

5.1 ESTUDO DE CASO 1: URBANIZAÇÃO DA VILA TORRES

5.1.3 Entrevistas

Foram realizadas treze entrevistas com moradores e lideranças da Vila Torres em 24/11/2015. A seleção buscou abranger diferentes setores do núcleo, bem como mesclar moradores e representantes.

As quatro (4) lideranças e os nove (9) moradores que participaram da entrevista moram nos seguintes “setores”: Setor “Avenida das Torres”: três (3) entrevistados; Setor próximo à av. Comendador Franco entre a rua Baltazar Carrasco dos Reis e rua Guabirotuba: Quatro (4) entrevistados; Setor próximo à av. Comendador Franco entre a rua Guabirotuba e rua Aquelino Orestes Baglioli: Três (3) entrevistados; Setor Vila Prado: Um (1) entrevistado; Setor “Vila dos Ofícios”: Um (1) entrevistado e; Setor “Beira do rio Belém”: Um (1) entrevistado.

As perguntas enfocaram a relação existente entre o morador, Curitiba e os bairros próximos; a relação entre o morador e a Vila Torres; como o entrevistado compreende a urbanização implantada na Vila Torres e; por último, se o entrevistado participa das reuniões sobre as melhorias da Vila Torres e as reuniões promovidas pela associação de moradores. O QUADRO 4 apresenta a sistematização das questões abordadas.

A Vila Torres tem a representatividade dividida entre a Associação de

Moradores da Vila das Torres, que faz a intermediação entre a comunidade e os

órgãos públicos, participando inclusive das reuniões do Observatório da Cidade, conforme citado anteriormente; há também a Associação de Moradores Liceu das

Torres, que tem como enfoque estabelecer parcerias com instituições de ensino,

como a PUC-PR que implantou um projeto para aula de reforços para os estudantes da comunidade; e o Clube de Mães União Vila das Torres, que promove diversas

atividades para a comunidade e que tem sede própria localizada na av. Comendador Franco, 1034. Entre as atividades desenvolvidas está a promoção de cursos e palestras realizados por meio de parcerias com diversas instituições e a implantação do Programa Vila Torres Digital.19 Existem ainda outras associações não tão

atuantes ou inativas: Associação de Moradores Vila das Torres II; Associação Vila dos Ofícios e a Associação Iniciativa Cultural.

RELAÇÃO COM CURITIBA E BAIRROS PRÓXIMOS Você e/ou sua família frequentam outros

bairros de Curitiba?

Quase todos os entrevistados afirmaram que frequentam outros bairros e municípios da RMC (10), principalmente para visita a familiares, compras e lazer.

Os bairros mais citados foram: Centro; Jardim Botânico e Uberaba.

Você e/ou sua família utilizam os equipamentos públicos do bairro?

Sim. Posto de saúde e escola. RELAÇÃO COM A VILA TORRES

Por que você e/ou sua família vieram morar na Vila Torres?

Os principais motivos elencados foram o fato de parentes já morarem no local; baixo custo da terra e a localização.

Chegaram a sair da Vila Torres? Por que retornaram?

Parte dos moradores (6) relatou que saíram e retornaram pela localização e pelas relações com a comunidade.

Considera morar na Vila Torres um ato de resistência?

Nenhum dos moradores vê o fato de morar na Vila Torres como um ato de resistência.

As opiniões sobre como é viver na Vila Torres ficaram divididas: Alguns disseram que é um bom lugar para se morar e, em contrapartida, outros disseram que, se pudessem, mudariam para outro local.

RELAÇÃO COM A VILA TORRES

Sofreu preconceito? A maioria (10) informou que sim. Principalmente em entrevistas de emprego.

VILA TORRES E A URBANIZAÇÃO Está satisfeito com as melhorias realizadas na Vila Torres?

A maioria esclareceu que não está satisfeito com as melhorias. Questionam que poderia haver mais investimentos; que os serviços deveriam ser feitos com mais qualidade, como em outros bairros da cidade; reclamaram da “maquiagem” realizada pelo Programa Comunidade em Cores; por não haver fiscalização para os “carrinheiros”20 e pela existência de

resíduos nas ruas e nas margens do rio Belém.

O que poderia ser feito para melhorar? Educação, segurança (diminuição da violência) e manutenção dos serviços realizados.

Rio Belém Reclamam da poluição e descarte de resíduos nas margens do

rio; mau-cheiro, principalmente nos dias mais quentes; e a presença de roedores que podem ocasionar doenças.

Sugerem que a prefeitura implante caçambas para diminuir o descarte de resíduos no rio; promova a recuperação ambiental das margens com plantio de árvores e uma campanha de conscientização para a população.

Continua

19 O Vila Torres Digital é um sistema de comunicação que tem como intuito estabelecer o

desenvolvimento social e a inclusão digital. O projeto é promovido pela parceria entre o Clube de Mães União Vila das Torres, By Air Brasil/ MCM Telecom e Zum Comunicação e disponibiliza banda larga na residência de todos os moradores da Vila Torres. Fonte: http://vilatorresdigital.com.br/

PARTICIPAÇÃO POPULAR Conclusão Discussões sobre as melhorias da Vila

Torres

A maioria participa das discussões. O mais citado foi a participação nas discussões do Programa Comunidade em Cores e reuniões com a COHAB-CT para o projeto do Setor Vila Prado.

Associação de moradores Mencionaram, principalmente, as atividades promovidas pelo Clube de Mães.

QUADRO 4 – VILA TORRES: ENTREVISTA COM MORADORES E LIDERANÇAS FONTE: Entrevistas com moradores da Vila Torres (2015). Elaborado pela autora (2016).

As questões que mais incomodam os moradores são a necessidade de segurança e a violência, que ficam divididos entre a truculência policial e a marginalidade, gerando uma imagem da Vila Torres de insegurança e violência para o restante da cidade ao invés de demonstrar que houve melhorias no local. Essa imagem acaba por reforçar o preconceito sofrido pela população quando circula pela cidade e mencionam que são moradores da Vila Torres.

Uma das reivindicações feitas pelos moradores é de que a Vila Torres é um local como qualquer outro e repudiam a denominação de favela. Nesse sentido, entendem que serviços existentes em outras regiões, como farmácias, panificadoras e casas lotéricas, deveriam ser implantados também ali. A necessidade dos órgãos públicos fazerem a manutenção das melhorias realizadas, como em qualquer outro bairro da cidade, é bastante reforçada. Se a Vila Torres é um núcleo regularizado, não veem motivo para receber um tratamento diferenciado dos outros locais de Curitiba.

A questão colocada se morar na Vila Torres representa um ato de resistência foi negada por todos os entrevistados. O entendimento é que o fato de se manterem no local não ocorreu pela organização da comunidade, mas por não haver interesse na área por eles ocupada. Como a regularização da Vila Torres é de 1989, desde então, os moradores não se sentem inseguros em permanecer no local.

Ainda foram realizadas entrevistas com técnicos da COHAB-CT que participaram do processo de urbanização da Vila Torres. Ao todo foram três (3) técnicos da COHAB-CT que responderam ao questionário: o arquiteto Marco Aurélio Becker, Coordenador de Programas Especiais; a arquiteta Vivian Troib, aposentada da COHAB-CT recentemente e; a assistente social Mary Magda Rodrigues Gomes, que atua especificamente no Setor Vila Prado.

De forma a compreender a relação existente entre a Política de Habitação implantada no município e a urbanização da Vila Torres, foram elaboradas questões que abordaram a política implementada; as etapas de urbanização; a possibilidade

de minimizar os processos de vulnerabilidade socioambiental e segregação socioespacial; regularização fundiária e participação popular.

Sobre a política proposta para manter as famílias nos locais escolhidos, mesmo próximo das áreas centrais, em áreas valorizadas pelo mercado imobiliário, e se essa política, implantada na Vila Torres, se estende a outros locais de Curitiba, os técnicos responderam que desde 2007 essa é uma política prevista no Plano Municipal de Regularização em Áreas de Preservação Permanente. As famílias permanecem no local sempre que possível, desde que não haja uma situação de risco ou previsão de implantação de arruamento ou equipamento público. Dessa forma, desde que não existam impedimentos, e haja disponibilidade de imóveis vagos, a COHAB-CT tem como política manter as famílias nos mesmos locais ou reassentar os moradores em locais próximos. Segundo Troib, “Não há vínculos com o mercado imobiliário na tomada de decisão sobre a permanência ou não das famílias no local da ocupação”.

A possibilidade de verticalização para atender um maior número de famílias não foi aceita pelos moradores da Vila Prado e parte dos moradores teve que ser relocado para um bairro distante. Segundo Becker, essa decisão foi tomada em conjunto com a comunidade:

Como política de intervenção todos os projetos de urbanização são apresentados e discutidos com as comunidades envolvidas no processo e é muito difícil contentar a todos, pois existe dificuldade para os moradores entenderem os aspectos técnicos e ambientais que precisam ser aplicados para viabilizar a regularização.

De acordo com os técnicos da COHAB-CT, os processos de vulnerabilidade socioambiental e segregação socioespacial podem ser amenizados pela urbanização uma vez que outros órgãos da prefeitura são envolvidos nas intervenções. Com isso, o atendimento pode ser individualizado e, caso necessário, as famílias recebem “o encaminhamento adequado para uma melhoria das condições de vida e cidadania destas pessoas”. O intuito dos projetos visa não somente a regularização dos assentamentos, mas incorporar as comunidades no “ambiente urbano e as famílias nos programas de proteção social”. Ainda de acordo com Becker,

O processo de urbanização colabora na solução dos problemas de segurança e de saúde das comunidades atendidas, haja vista que fica facilitado o acesso dos veículos de segurança (polícia, bombeiros, ambulâncias) e todos os moradores passam a ser atendidos pelas redes de água, esgoto, energia elétrica e iluminação pública, reduzindo os riscos de doenças.

Os projetos implantados pela COHAB-CT têm uma preocupação urbanística e ambiental, e são, muitas vezes, implementados em parceria com outros órgãos que também têm como diretrizes a preocupação socioambiental, como os projetos financiados pelo BID ou pelo Governo Federal por meio do PAC. De acordo com Troib, “mais que diretrizes de agentes financeiros, a diminuição dos processos de segregação social e de vulnerabilidade socioambiental são objetivos perseguidos pela política habitacional do município de Curitiba através da COHAB-CT”.

A regularização fundiária da Vila Prado será viabilizada, pois o terreno é de propriedade da COHAB-CT. O projeto está sendo aprovado pela Secretaria Municipal de Urbanismo e o Decreto de aprovação do loteamento está em vias de ser assinado. Assim que as obras estiverem concluídas e o loteamento aprovado, os moradores receberão a matrícula das unidades habitacionais.

Excetuando-se a Vila Prado, a Vila Torres “já está regularizada e é de propriedade de seus moradores”. Becker ainda esclarece que

A COHAB está estudando a possibilidade de realizar uma intervenção para a melhoria das moradias em situação precária, haja vista que na época da regularização não houve preocupação com a situação das casas, mas tão somente com a questão da terra. Esta situação permanece até hoje, pois os recursos disponíveis não permitem grandes investimentos em moradia, priorizando-se tão somente a urbanização e regularização da terra.

O projeto referido corresponde à Fase II do Programa Comunidade em Cores, que no momento está suspenso para reprogramação junto à Caixa Econômica Federal, conforme esclarecido anteriormente.

Com isso, pode-se inferir que as respostas dos moradores e dos técnicos da COHAB-CT foram bastante esclarecedoras e puderam auxiliar na elaboração de um quadro confiável sobre todo o processo de urbanização ocorrido e em andamento na Vila Torres.