5. Enquadramento epistemológico e metodológico 49
5.1. Recolha de dados 51
5.1.3. Entrevistas 54
Privilegiamos a realização de entrevistas semiestruturadas baseadas num guião34, quer aos atores dos grupos, quer aos dirigentes/formadores do GTO que são simultaneamente dinamizadores/curingas dos 4 grupos de jovens.
34
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O contacto inicial com cada jovem realizou-‐se de várias formas. A maioria dos jovens já conhecíamos dos ensaios ou espetáculos e foram contactados por telefone, explicando os objetivos do estudo e marcando a data da entrevista. Outros foram entrevistados em dia de espetáculos/ensaios, tendo os mesmos tido uma explicação por parte da dirigente do GTO sobre quem éramos e o que estávamos a fazer. A duração das entrevistas foi muito variável face à personalidade de cada jovem, disponibilidade do mesmo, idade, tempo que pertencem ao grupo, e mesmo a situação do próprio dia (houveram dias em que tivemos de fazer entrevista com tempo e/ou espaço limitado). Tivemos como objetivo dar liberdade aos entrevistados para poderem falar como desejavam, sobre a temática do Teatro do Oprimido, uma vez que na entrevista qualitativa podemos dar maior ênfase à fala dos sujeitos e seus pontos de vista. Não definimos por isso indicadores específicos de empowerment, sendo estes definidos com os resultados das entrevistas.
A nível ético, foram asseguradas as condições para um consentimento esclarecido (Moreira, 2007). Foi dada informação sobre o estudo, objetivos, entidade que realiza e o seu âmbito. Foi assegurado anonimato e confidencialidade dos dados. De qualquer forma, sendo uma temática ligada ao mundo das artes dramáticas, a maioria dos atores estão habituados a dar entrevistas e não aparentaram ter problemas em dar a cara pelas opiniões sobre esta metodologia e o impacto da mesma nas suas vidas. O guião de entrevista35 foi aplicado de forma livre, tendo em conta o ritmo de cada entrevistado. Existiu por exemplo uma situação em que sentimos que a pessoa estava mais tímida, respondendo de forma mais fechada pelo que acabamos por não insistir em que desenvolvesse um pouco mais.
Ao início pensámos também em fazer entrevistas a espect-‐atores, de forma a analisar a marca que o Teatro do Oprimido lhes deixava, contudo não foi possível por motivos
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de tempo/espaço/económicos e acesso aos mesmos. De qualquer forma, o nosso estudo tem o seu foco nos atores e no trabalho que é feito com os mesmos, bem como em eventuais mudanças na comunidade onde os grupos funcionam.
Em relação ao tratamento de dados que resultaram das entrevistas, primeiramente procedeu-‐se à transcrição das entrevistas e de seguida foi elaborada uma segunda versão mais resumida das entrevistas, contendo o mais pertinente tendo em conta o nosso tema e objeto de estudo.
Após as transcrições foi efetuada uma análise e interpretação dos dados, fazendo notas e resumindo ideias. Após esta análise foi feito o quadro ilustrado de seguida.
5.1.3.1. Caracterização sumária dos jovens entrevistados Quadro 1 – Informação Geral sobre entrevistados
Entrevista Idade Género Escolaridade Estudante Profissional Situação
1 29 Fem. 12º (freq.lic.) Não Desempregada
2 22 Fem. 12º Não Empregada
3 21 Fem. Licenciada Sim Estudante
4 22 Fem. 12º Não Desempregada
5 28 Masc. 12º Não Empregado
6 17 Fem. 9º Sim Estudante
7 18 Fem. 9º Sim Estudante
8 16 Fem. 8º Sim Estudante
57 Quadro 2 – Nacionalidade/Nascimento/Origem
Entrevista Nacionalidade País Nascimento Ascendentes
1 Portuguesa Portugal Cabo-‐Verde
2 Portuguesa Portugal Cabo-‐Verde
3 Portuguesa Portugal Cabo-‐Verde
4 Portuguesa Portugal Cabo-‐Verde
5 Portuguesa Portugal Cabo-‐Verde
6 Portuguesa Guiné-‐Bissau Guiné-‐Bissau
7 Portuguesa Guiné-‐Bissau Guiné-‐Bissau
8 Portuguesa Portugal Guiné-‐Bissau
Quadro 3 –Tempo de frequência no grupo
Entrevista Idade de entrada no grupo Tempo no GTO (Anos) 1 25 3 2 20 2 3 18 3 4 16 6 5 20 8 6 15 2 7 16 2 8 15 1
Como já referimos anteriormente, embora a definição de juventude definida pela Assembleia Geral da ONU em 1985, aponte para o grupo etário entre os 15 e os 24
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anos, alguns dos grupos de teatro do GTO Lx, têm alguns jovens até aos 29 anos que também considerámos jovens face a diversas características comuns. Por outro lado, considerámos de extremo interesse analisar estes últimos casos, sobretudo no caso em que o jovem integrou o grupo com 20 anos e se mantem hoje, após 8 anos, já exercendo o papel de curinga36, uma vez que podemos analisar de uma forma mais direta e intensiva o papel que a metodologia e respectivo Grupo de Teatro do Oprimido teve na vida deste jovem. Também o caso da jovem que iniciou com 16 anos e hoje tem 22, tendo iniciado recentemente funções de curinga, é de extrema riqueza. Foram entrevistados um total de 8 jovens 1 do grupo DRK, 2 do grupo Valart, 2 do grupo Mira Kapaz e 3 do Grupo Muda Gosi Fasil.
Como se pode verificar pelos quadros acima, em relação aos jovens entrevistados os mesmos frequentam o respectivo grupo há cerca de 2 ou 3 anos, com exceção de um jovem que frequenta o seu grupo há 1 ano e outros dois jovens que frequentam os seus grupos há 6 e 8 anos respectivamente.
Uma outra nota que faço em relação à caracterização dos entrevistados é que todos têm nacionalidade portuguesa, sendo que apenas duas das jovens, nasceram na Guiné-‐Bissau, tendo uma vindo com cerca de 4 anos para Portugal e outra com 11 anos. Todos são descendentes de imigrantes cabo-‐verdianos ou guineenses.
De salientar que se destacam 2 grupos mais antigos e com mais experiência que são os DRK e os Valart, sendo que os grupos mais recentes são o grupo Mira Kapaz (2001) e o grupo Muda Gosi Fasil (2013), contendo este último uma população mais nova e também com menos tempo de experiência.
Embora de uma forma geral possamos dizer que todos os entrevistados poderão ser considerados de alguma forma, socialmente vulneráveis, face às condições
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sociodemográficas e de localização dos bairros a que pertencem, o que determina, como já vimos, questões de acesso, teremos também de referir que o grau de vulnerabilidade pode ser bastante diferenciado e apenas poderia ser melhor explorado com uma análise psicossocial de cada indivíduo e respectiva família, o que não foi possível de realizar. De salientar que entre os jovens entrevistados, existe uma jovem licenciada e outra que frequentou a licenciatura mas teve de desistir da mesma por questões económicas. Existem ainda 3 jovens com o 12º ano de escolaridade.
Relativamente ao trabalho existem 2 jovens que se encontram a trabalhar e 2 jovens que se encontram desempregados e não estudam. Os restantes quatro jovens são estudantes.
6. Teatro do Oprimido e Empowerment: Apresentação dos resultados.
6.1. Dando Voz aos Jovens – Perceções dos atores.
Através das “vozes” dos jovens chegámos aos indicadores de empowerment sentidos pelos próprios nas dimensões individual, grupal e comunitária. De salientar que dividimos as dimensões de análise em 2 grupos, sendo eles o grupo da dimensão individual e grupal e um segundo grupo mais ligado à dimensão comunitária, mas que implica também indicadores individuais e grupais. Decidimos fazer esta divisão uma vez que os jovens referem os indicadores de empowerment individuais e grupais como sendo sinónimos, ou seja, as características ou competências pessoais e sociais que referem ter mudado neles próprios são normalmente as que identificam nos outros colegas atores e no grupo em geral.
Por outro lado, no segundo caso, também as características que identificam como contributos para a mudança na comunidade e nos espect-‐atores que vão ver os