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O envelhecimento da população é um fenômeno constante nas últimas décadas e que impõe desafios do ponto de vista social, econômico e de sistemas de saúde. É um processo caracterizado pela degradação das propriedades e funções fisiológicas e biofísicas de diversos órgãos e tecidos, particularmente, a pele (LIMBERT et al., 2019). O constante avanço na expectativa de vida, chegando próximo aos 100 anos em alguns países, gera um grande impacto não só na qualidade de vida, mas também na aparência dos indivíduos, requerendo cuidados especiais para essa população (LIMBERT et al., 2019; WANG; WU, 2019).

De uma forma geral, o envelhecimento cutâneo leva à diminuição da espessura da pele, bem como ao achatamento da junção entre epiderme e derme e um consequente prejuízo às trocas de nutrientes, circulação e vascularização; aumento do pH da pele; diminuição da capacidade neurossensorial; prejuízo ao processo de renovação celular; variações na composição, fragmentação e diminuição da produção do colágeno; elastose e acúmulo de elastina; diminuição do conteúdo lipídico e xerose; redução da síntese de vitamina D; diminuição da imunidade mediada pelas células de Langerhans e maior susceptibilidade a infecções e neoplasias cutâneas (GROVE; KLIGMAN, 1983; SHAH; KENNEDY, 2018; WANG; WU, 2019).

O envelhecimento cutâneo é classificado em dois tipos: intrínseco e extrínseco, os quais contribuem sinergicamente para as alterações estruturais e fisiológicas da pele envelhecida (FARAGE et al., 2008). O envelhecimento intrínseco é caracterizado como o envelhecimento celular geneticamente programado sujeito à atividades metabólicas normais e variações hormonais, que levam a produção de radicais livres, danos no DNA,

encurtamento dos telômeros e ao acúmulo de mutações aleatórias (FARAGE et al., 2008; LIMBERT et al., 2019; MAKRANTONAKI; ZOUBOULIS, 2007; WANG; WU, 2019). A pele cronologicamente envelhecida é caracterizada por atrofia da epiderme e derme, xerose, pequenas rugas e linhas de expressão, redução de mastócitos e possível desenvolvimento de neoplasmas benignos (KADDURAH et al., 2018; LIMBERT et al., 2019; TOBIN, 2017; YAAR, 2006).

Já o envelhecimento extrínseco está relacionado a fatores externos, divididos em três grandes grupos: ambientais, tais como a exposição à radiação ultravioleta e ionizante, e poluição; mecânico, como o movimento repetitivo de músculos faciais aos redor dos olhos e testa; e hábitos de vida, como padrão de sono, ingestão de álcool, tabagismo e dieta (FARAGE et al., 2008; LIMBERT et al., 2019). O envelhecimento extrínseco se manifesta na pele sob a forma de rugas , alterações na pigmentação da pele, queratose, atrofia, elastose, hiperplasia e possibilidade de desenvolvimento de neoplasias malignas (KADDURAH et al., 2018; LIMBERT et al., 2019; TOBIN, 2017).

O envelhecimento extrínseco também é chamado de fotoenvelhecimento. É estimado que cerca de 80% dos efeitos observados na pele envelhecida sejam causados pela exposição crônica à radiação UV. Além disso, esses efeitos são mais observados em regiões mais expostas, como a face, pescoço, peito e dorso dos braços (FISHER et al., 1997; LIMBERT et al., 2019).

Diversas teorias explicam o envelhecimento cutâneo sob diferentes aspectos, mas há fortes evidências de que os principais mecanismos envolvidos são o estresse oxidativo e a produção de espécies reativas de oxigênios e radicais livres causando danos às membranas biológicas e células; a senescências celular e o encurtamento dos telômeros levando à apoptose; doenças relacionadas à idade, bem como alterações hormonais (GRAGNANI et al., 2014).

Radicais livres são descritos como espécies químicas que possuem um elétron desemparelhado no seu orbital externo, sendo consideradas espécies indispensáveis à vida (RILEY, 1994). Podem ser formados em processos aeróbicos, tais como respiração celular, bem como em infecções microbianas mediadas pela ativação da fagocitose, durante atividade física intensa e sob ação de outros fatores exógenos como fumaça do cigarro, álcool, radiação ultravioleta e ionizante, pesticidas e ozônio (PISOSCHI; POP, 2015; RILEY, 1994).

Espécies reativas de oxigênio (ROS) são representados tanto por radicais livres de oxigênio quanto por moléculas não-radicais livres, incluindo o radical superóxido (O2-),

espécies reativas de nitrogênio, ferro, cobre e enxofre (PISOSCHI; POP, 2015; RILEY, 1994; WANG et al., 2013).

O estresse oxidativo surge quando há um desbalanço entre a ocorrência destas espécies reativas, não apenas ROS, e a capacidade antioxidante do organismo em combatê-las. Ainda, esse estado está relacionado a vários problemas cardiológicos, câncer, envelhecimento, doenças neurodegenerativas, doenças inflamatórias e outras doenças correlatas (LÓPEZ-ALARCÓN; DENICOLA, 2013; PERSSON et al., 2014; PISOSCHI; POP, 2015; SIES, 1985).

Assim, os organismos vivos desenvolveram sistemas antioxidantes capazes de proteger suas biomoléculas (DRÖGE, 2002; MELO-SILVEIRA et al., 2014). Substâncias antioxidantes assumem um papel fundamental nesse contexto, e são caracterizadas como compostos que previnem ou agem diretamente impedindo a formação de espécies reativas, minimizando os danos causados por esses compostos (DRÖGE, 2002; MELO- SILVEIRA et al., 2014; WANG et al., 2013).

O Butilhidroxianisol (BHA) e Butilhidroxitolueno (BHT) são antioxidantes sintéticos utilizados largamente pelas indústrias alimentícia, farmacêutica e cosmética. No entanto, há relatos da toxicidade desses agentes antioxidantes (BARLOW; SCHLATTER, 2010; SAFER; J AL-NUGHAMISH, 1999; WICHI, 1988), encorajando a busca por novos ativos mais seguros com essa propriedade, com destaque aos de origem natural (WANG et al., 2013)

A atividade antioxidante de uma molécula é dependente de fatores como a estrutura química, o potencial redox, a polaridade, solubilidade e concentração (LUGASI, 1997). Por sua vez, a propriedade antioxidante decorrida da ação direta com radicais livres é reconhecida por três mecanismos: transferência de átomo de hidrogênio, transferência de elétron e quelação de metais de transição (LEOPOLDINI; RUSSO; TOSCANO, 2011). Ainda, as reações oxidativas de moléculas podem ocorrer em uma reação em cadeia envolvida em três estágios: iniciação, propagação e terminação, podendo o composto atuar em um ou mais estágios (MELO-SILVEIRA et al., 2014; PISOSCHI; POP, 2015). Assim, a avaliação da atividade antioxidante de matérias-primas mediante diferentes metodologias podem elucidar os mecanismos, bem como as etapas pelos quais os ativos antioxidantes podem atuar na prevenção de sinais do envelhecimento cutâneo. A avaliação da capacidade sequestrante de radicais 2,2-difenil-1-picrilhidrazila (DPPH), do poder redutor da amostra e a capacidade antioxidante total (CAT) (etapa de iniciação), da capacidade quelante de metais como o íon ferro (Fe2+) e íons de cobre (Cu2+) (etapa de propagação),

finalização), são exemplos de metodologias in vitro utilizadas para avaliação da atividade antioxidante de ingredientes vegetais.

Diante do exposto, opções para o manejo adequado do envelhecimento cutâneo são amplas e variadas, a abordagem cosmética deve ser multitargeting, envolvendo os cuidados diários com a pele, desde a limpeza, esfoliação e hidratação e o uso de protetor solar. Além disso, outros ativos como retinóides e fatores de crescimento podem ser utilizados no estímulo a recomposição de componentes da derme; alfa hidroxi ácidos para o processo de renovação celular; vitamina C e compostos antioxidantes na prevenção do estresse oxidativo e ativos que atuem no processo de pigmentação (MONTOYA et al., 2019; SHAH; KENNEDY, 2018; SUNDER, 2019).