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4. ENVELHECIMENTO POPULACIONAL

4.4 Envelhecimento populacional reflexões

Neste item discorre-se acerca dos reflexos que o envelhecimento populacional traz em diversos setores da sociedade. As demandas e ofertas que os idosos proporcionam à estrutura social, política e econômica de um país. O item 4.4 aborda alguns pontos que devem ser tratados sobre o envelhecimento populacional, demonstrando como o debate é amplo. E como ainda é longo o caminho que promete suscitar grandes discussões.

4.4.1 Saúde

 Saúde - o primeiro ponto se refere à assistência a saúde. A saúde do idoso é uma questão de saúde coletiva. Acesso ao sistema de saúde (preventivo ou não) é imprescindível para todas faixas etárias. Porém, ao considerar a parcela mais velha da população está se tratando de uma maior complexidade. Doenças crônicas e degenerativas, longos períodos de recuperação e de internação, alto custo de tratamentos, tratamentos mais complexos, aumento progressivo da utilização de medicamentos de uso continuado. Lidar com a saúde do idoso é assumir a necessidade de um grande dispêndio financeiro, investimento em pessoal qualificado,

1 Frase muito utilizada no ideário brasileiro, que tem origem no livro - “Brasil, país do futuro”, livro de Stefen Zweig

(1881-1942), filósofo Vienense; estudo histórico sobre o Brasil, em que o autor, sob sua ótica européia, analisa as características físicas, sociais e culturais e vislumbra uma potencialidade deste país, Brasil, de se tornar um grande país no futuro, a despeito de suas mazelas.

equipamentos, medicamentos. Por outro lado, negligenciá-la, postergando estas despesas e este planejamento é plantar um problema de gestão ainda maior no futuro próximo.

É preciso ter uma visão holística, associando tratamentos que incluam não só o foco em um problema físico em si, mas um conjunto de ações que visem o bem estar geral do paciente, com atendimento preventivo, informações para o esclarecimento e profilaxia, terapias psicológicas, desenvolvimento de relações interpessoais e de habilidades. Tudo focando a saúde como um conjunto. O ser de forma integral.

É preciso haver um plano conciso de investimento em clinica médica especializada para atendimento de doenças diversas, com foco naquelas mais incidentes na terceira idade. Na velhice estes tratamentos têm alto custo, pois além de ocasionarem, em geral, maiores complicações que em pessoas mais jovens, a recuperação, internações, o tempo de atendimento em consultas e os custos dos medicamentos são maiores e mais longos.

 Psicologia – envelhecer é um processo difícil e muitas vezes doloroso para a grande maioria das pessoas. Com os anos a debilidade física vai aumentando; o vigor da juventude se esvai; a queda na produtividade; a aposentadoria; a perda (por morte ou afastamento físico) de pessoas queridas; a síndrome do ninho vazio (quando os filhos crescem e saem de casa para viverem suas vidas longe dos olhos protetores de seus pais, gerando um vazio nestes, pela falta que sentem de seus filhos, de cuidar deles, do compromisso intenso na atividade diária de criá-los durante anos); busca de uma nova ocupação (dado que já não podem mais fazer o que sempre fizeram – cuidar dos filhos ou do trabalho, após a aposentadoria). Tudo pode gerar um quadro de insegurança, de depressão, de baixa autoestima, potencializado por uma sociedade despreparada para acolhê-lo e muitas vezes preconceituosa e discriminatória que o marginaliza. O que pode levar ao agravamento de outras doenças. O acompanhamento psicológico é fundamental nesta fase.

 Capacitação de profissionais da área de saúde - aumento do número de profissionais na área de geriatria e gerontologia, atualizados e preparados para absorver a demanda que só tende a crescer. Inclui-se aqui não apenas médicos e enfermeiros especializados, mas também psicólogos, cuidadores, fisioterapeutas, entre outros.

 Esporte – a prática de esportes, de atividades físicas, além de ser uma demanda crescente desse público é fonte essencial para manutenção da saúde física e mental. A expansão de academias de ginástica oferecendo programas de exercícios direcionados a este público pode ser vista por todo o país. Somando-se a isto, há em muitos municípios programas governamentais de incentivo à prática desportiva na terceira idade.

 Conflitos intergeracionais – numa sociedade onde a juventude tem lugar de destaque, é preciso uma alteração na cultura como um todo. É uma questão de educação, de formação. É preciso se modificar o discurso em que se estrutura o mito de que velhice é sinônimo de “fim da linha”. Todos, em todas as idades, estão sujeitos a dependências e a doenças. Todos têm suas necessidades e sua contribuição a dar. A discriminação dos mais jovens contra os idosos, e até mesmo de idosos contra sua própria condição; a falta de paciência e de zelo devem ser combatidos através de políticas educacionais que promovam a interação entre as gerações, a troca de experiências; que incentivem a convivência entre as gerações. Um ensinando e aprendendo com o outro, lado a lado. O que é produtivo não só para o idoso, mas principalmente para o jovem, pois é uma forma de propagar a cultura e a história da comunidade. Além de reverter em elevação da autoestima de todo o grupo, e ter como resultado o respeito à cidadania. E este movimento de interação e respeito deve começar dentro das famílias.

Pouco se vê nos meios de comunicação se tratar da sabedoria, da experiência que apenas o tempo pode proporcionar ao indivíduo. Grandes estudiosos, acadêmicos, cientistas, prêmios Nobel, escritores, poetas, músicos, intelectuais, artistas, ou mesmo pessoas comuns com seu conhecimento dentro de sua comunidade, têm seus saberes deixados de lado. Ou apenas são lembrados em pequenas notas ou em programas exibidos em horários alternativos. Nunca em “horário nobre”. Porém, o conhecimento se constrói no tempo, com o tempo. A sociedade lamenta suas mazelas, mas seu lamento é feito na escuridão de sua ignorância, pois ela, apesar de todo desenvolvimento tecnológico, insiste em rejeitar a experiência e a sabedoria de quem já viveu mais.

4.4.2 Assistência

 Assistência familiar ou asilar – idosos precisam de cuidados diferenciados, de uma atenção especial, principalmente os mais fragilizados e com a saúde debilitada. A prioridade, conforme

assevera o próprio Estatuto do Idoso, é de que cada família cuide de seu idoso, porém isso não sendo possível, o Estado deve prover locais onde estes idosos tenham a assistência necessária;

 Seguridade Social e Previdência – “O problema da seguridade social advém do grande aumento da população aposentada em relação à mão-de-obra ativa, ou seja, à redução proporcional do número de pessoas que financiam os aposentados” (NUNES et al., 2003). Os governos de todo o mundo têm estudado formas de manter a sustentabilidade do sistema previdenciário. Em 1998, no Brasil, através das Emendas Constitucionais 20 e 41, com a Reforma da Previdência, foram feitas algumas alterações nos regimes de aposentadoria para o serviço público. Entretanto, a demanda tem crescido. E outras medidas devem ser estudadas para que haja sustentabilidade da previdência tanto no setor público quanto no privado.

4.4.3 Trabalho

 Mercado de trabalho e desenvolvimento de habilidades – Segundo Neri et ali (2006), “(...) melhorias nas condições de saúde promovem também maior sobrevida no mundo do trabalho, ou seja, idosos saudáveis tem maior chance de trabalhar em idades mais avançadas”. Permanecem inseridos no mercado de trabalho por prazer ou por necessidade, alguns postergam ao máximo a sua solicitação de aposentadoria; outros se aposentam e procuram outras formas de ocupação; outros, ainda, criam negócios próprios para se manterem e se realizarem após se aposentarem.

No serviço público a alteração na legislação eleva o prazo referente ao requerimento de aposentadorias. No setor privado diversas empresas têm incentivado a colocação desse pessoal separando um número de vagas para idosos em seus quadros de funcionários.

Como consequência também tem crescido a demandam por programas e cursos de atualização, desenvolvimento e adaptação do ambiente de trabalho, voltados à terceira idade.

 Programa de Preparação para a Aposentadoria (PPA) – algumas empresas, revelando uma preocupação com a qualidade de vida de seus trabalhadores, com a vida de seu funcionário após a aposentadoria, inserem em suas políticas de recursos humanos os PPAs. O PPA vai variar de empresa para empresa, podendo englobar a promoção de uma previdência complementar; orientações para que a pessoa busque novas formas de ocupação do seu tempo; orientações em

relação aos cuidados com a saúde, cursos profissionalizantes, preparação psicológica para a mudança da rotina de vida, entre outros.

4.4.4 Consumo

 Entretenimento, cultura e turismo – a terceira idade tem se mostrado um mercado em franca expansão no que tange o entretenimento. Ela quer aproveitar a vida, se divertir. Para muitos é o momento de conhecer coisas que não tiveram oportunidade de vivenciar na juventude. Ao contrário do que ainda se possa pensar, na maturidade muitas pessoas tem tido a oportunidade de vivenciar novas experiências. Após construir uma vida, criar os filhos, trabalhar, muitos têm, na terceira idade, a chance de viver para si próprios, usufruir da independência, da liberdade. Na medida do que lhes permite sua situação financeira e sua saúde, passam a viajar, conhecer novos lugares, dançar, participar de grupos sociais (de voluntariado, de igrejas, profissionalizantes). Frequentam teatros, shows, cinemas. Buscam viver intensamente. Querem aproveitar ao máximo o tempo livre da aposentadoria. Têm mais tempo para passear durante todo o ano (não se limitando ao período de alta temporada). Este público tem demandado mais opções de entretenimento, porém, exige maior comodidade, segurança, acessibilidade, e serviços especializados.

Empresas de turismo e entretenimento têm lançado várias promoções para este público, que passa a ser uma boa fonte de renda destas, principalmente nos períodos de baixa temporada. O governo brasileiro possui um programa de incentivo ao turismo na terceira idade, denominado “Viaja Mais Melhor Idade”. Visando estimular a indústria do turismo, detectou na terceira idade um bom mercado consumidor do produto.

O Viaja Mais Melhor Idade é um projeto realizado pelo Ministério do Turismo que conta com a parceria do Instituto Marca Brasil, da Associação Brasileira de Operadoras de Turismo (braztoa) e a Associação Brasileira dos Clubes da Melhor Idade (ABCMI). Visa incentivar o público com idade acima de 60 anos a viajar dentro do território nacional na baixa temporada, oferecendo pacotes de viagens com tarifas reduzidas. (BRASIL, MINISTÉRIO DO TURISMO, 2009).

Pensar em Política Pública para a terceira idade é pensar em diversas políticas concomitantemente. Relacionadas a varias áreas distintas, de modo articulado, visando o bem estar e a qualidade de vida dos idosos, que, via de consequência, se refletirá em toda a comunidade. Não é algo simples. Exige esforço de articulação entre diversos setores da sociedade e do governo e, principalmente, demanda um custo elevado.

A lista citada no item 4.4 não é exaustiva. Muitas questões circundam este tema. Muitas preocupações e também soluções estão por vir.