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CAPÍTULO 4. APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

4.2 Envolvimento dos pais/encarregados de educação na transição

A Tabela 8 apresenta as atitudes dos pais/ encarregados de educação dos alunos do 4.º ano face à transição de ciclo de ensino e à mudança de escola dos seus educandos.

Tabela 8. Atitude dos pais/ encarregados de educação dos alunos do 4.º ano face à transição de ciclo de

ensino e à mudança de escola dos seus educandos

Sim Não

Freq. % Freq. %

Converso com ele sobre o assunto 43 100,0%

Espero que tenha um bom desempenho 41 100,0% 18 47,4%

Fico preocupado 29 72,5% 11 27,5%

Fico ansioso 29 78,4% 8 21,6%

Fico animado 13 35,1% 24 64,9%

As atitudes mais generalizadas entre os pais/encarregados de educação são de “converso com ele sobre o assunto” (100,0%) e “espero que tenha um bom desempenho” (100,0%), como se pode verificar através da tabela anterior. Contudo, um número significativo de encarregados de educação expressa ansiedade (78,4%) e preocupação (72,5%).

A Tabela 9 continua a ser reveladora da atitude dos pais/encarregados de educação dos alunos 5.º ano, aquando a transição de ciclo de ensino e mudança de escola.

Tabela 9. Atitude dos pais/ encarregados de educação dos alunos 5.º ano, aquando a transição de ciclo de

ensino e mudança de escola

Frequência Percentagem

Conversei com ele(a) sobre o assunto 33 70,2%

Fiquei preocupado(a) 8 17,0%

Fiquei ansioso(a 18 38,3%

Fiquei animado(a) 38 80,9%

Os encarregados de educação dos alunos do 5.º ano referiram que aquando a passagem do 1.º para o 2.º ciclo do ensino básico, conversaram com os seus educandos sobre o assunto

(70,2%). Admitiram que, apesar de terem ficado animados (80,9%), também sentiram ansiedade (38,3%) e preocupação (17,2%).

Quando questionados sobre as reações dos pais/encarregados de educação relativamente à transição do 1.º para o 2.º CEB dos seus educandos, todos os docentes referiram que era a preocupação. Entre outros sentimentos/atitudes, a ansiedade foi referida por 3 professores. Com dois registos seguiram-se dois indicadores, receio e tranquilidade. Por fim, com apenas uma citação, o indicador satisfação (quadro 37).

Quadro 37. Perceção dos professores sobre os sentimentos dos pais/encarregados de educação na transição

Na ótica dos professores titulares de turma do 4.º ano, bem como dos diretores de turma do 5.º ano, os encarregados de educação preocupam-se com a transição de ciclo e mudança de escola dos seus educandos, como podemos verificar através dos seguintes testemunhos:

“No atendimento semanal os pais começaram a aparecer e a falar sobre a mudança de ciclo e de escola. Havia uns muito tranquilos, outros demonstraram mais ansiedade. A preocupação era geral.” (P3).

“Eles ficam preocupados e ansiosos. Não fazem grandes perguntas. É mais a preocupação e a

ansiedade de como as crianças vão reagir, se vai correr tudo bem.” (P4).

A subcategoria, grupos específicos de pais/encarregados de educação, integra 2 indicadores: sim e não. Esta subcategoria dá a conhecer a perceção que os docentes entrevistados têm sobre a existência de pais/encarregados de educação que manifestam maior ou menor preocupação na transição de ciclo escolar dos seus educandos. O valor de frequência mais elevado recai no segundo indicador, como é demonstrado no Quadro 38. Quadro 38. Grupos específicos de pais/encarregados de educação que manifestem maior preocupação

Frequências Indicadores P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 T Preocupação 1 1 1 1 1 1 1 1 8 Receio - - - 1 1 - - - 2 Ansiedade - - 1 1 - - 1 - 3 Tranquilidade - - 1 - - - 1 - 2 Satisfação 1 - - - 1 Total 16 Frequências Indicadores P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 T Sim 1 - - - 1 - - - 2 Não - 1 1 1 - 1 1 1 6 Total 8

Na opinião de seis entrevistados a preocupação dos pais/encarregados de educação é generalizada, não tendo sido identificados grupos específicos, como evidenciam os seguintes excertos:

“Tal como entre os alunos, também não há nenhum grupo de encarregados de educação que se destaque.” (P 2).

“Há um ou outro pai que é mais protetor, mas em geral, ninguém manifestou preocupação excessiva.” (P3).

“A preocupação dos pais com a transição de ciclo e com a mudança de escola é generalizada.”

(P6).

Dois entrevistados, porém, têm a perceção que os pais/encarregados de educação que expressam maior preocupação são aqueles que participam mais na vida escolar dos filhos.

“Geralmente, os pais que gostam de estar mais informados sobre as aprendizagens, dificuldades e comportamentos dos seus educandos são aqueles que revelam maior preocupação sobre este assunto.” (P1).

“Os pais mais preocupados com a adaptação são precisamente aqueles que acompanham mais os filhos e que vão às reuniões.” (P5).

O grau de preocupação dos pais/encarregados de educação dos alunos 5.º ano, após a transição, é possível identificar mediante a leitura da Tabela 10.

Tabela 10. Grau de preocupação dos pais/ encarregados de educação dos alunos 5.º ano após a transição

Frequência Percentagem Percentagem

válida Percentagem acumulada

Muito preocupado 10 18,9% 20,0% 20,0% Preocupado 13 24,5% 26,0% 46,0% Pouco preocupado 20 37,7% 40,0% 86,0% Nada preocupado 7 13,2% 14,0% 100,0% Total 50 94,3% 100,0% Omissos 3 5,7% Total 53 100,0%

Os resultados obtidos mostram que passados dois períodos letivos, os pais/encarregados de educação dos alunos do 5.º ano de escolaridade, ainda, manifestam preocupação relativamente à transição. A percentagem obtida nas categorias “muito preocupado”, “preocupado”, “pouco preocupado”, respetivamente, 18,9%, 24,5% e 37,7% é expressiva dessa opinião. Apenas 13,2% dos respondentes confirma não estar preocupado.

Como podemos observar no quadro a seguir proposto (quadro 39) surgem 11 indicadores nesta subcategoria, reveladores das perceções que os professores entrevistados têm sobre os motivos de preocupação dos pais/encarregados de educação. Os indicadores encontrados foram: maturidade, número de professores, alunos mais velhos, novos relacionamentos, comportamento, número de disciplinas, trabalhos de casa, novas regras e rotinas, in(sucesso) académico, critérios de avaliação e (in)segurança.

Quadro 39. Perceção dos professores sobre os motivos das preocupações dos pais/encarregados de educação

na fase da transição

De acordo com a opinião de alguns docentes, os pais manifestaram preocupações relacionadas com as caraterísticas do novo ciclo, nomeadamente, pluridocência, novas regras e rotinas, hábitos de estudo e trabalho, como podemos depreender das seguintes citações:

“Os pais manifestam preocupação com o aumento e diversidade dos trabalhos de casa, as regras da escola e os critérios de avaliação. Têm medo que os filhos tenham menor rendimento escolar.” (P5).

Uma das questões que levantam com frequência é o tempo de intervalo. Será que os seus educandos vão ter tempo de chegar ao bar e ter tempo para lanchar?” (P6).

Outro dos inqueridos considera que os pais/encarregados de educação se preocupam, essencialmente, com o (in)sucesso académico dos seus educandos.

“[Os pais] Querem saber quais são os critérios de avaliação; como funcionam as atividades, se há sala de estudo. Há pais mais ansiosos com o bem-estar dos filhos, com sua a segurança e formação. Querem que sejam bem orientados no sentido de terem um aproveitamento escolar satisfatório ou

até mais que satisfatório…Também questionam como podem ajudar os filhos a estudar.” (P7).

Frequências

Indicadores P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 T

Maturidade - - 1 - - - 1

Número de professores - 1 1 1 - - - - 3

Alunos mais velhos - - 1 - 1 1 - 3

Novos relacionamentos - 1 1 - 1 - - - 3

Comportamento 1 - - - 1 - - - 2

Número de disciplinas - 1 - - - 1

Trabalhos de casa - - - - 1 - - - 1

Novas regras e rotinas - - - - 1 1 - - 2

In(sucesso) académico - - - - 1 - 1 1 3

Critérios de avaliação - - - - 1 - 1 - 2

(In)segurança 1 - - - 1 1 3

Na perspetiva de dois respondentes, a preocupação expressa pelos pais/encarregados de educação prende-se com as relações que os filhos irão estabelecer nesta nova etapa, nomeadamente, o receio de fazer novos amigos, de más companhias, da humilhação e agressão.

“Também receiam que os seus filhos se “percam” nos comportamentos, nas amizades e que os alunos mais velhos possam batê-los.” (P5).

“Preocupam-se com o facto de existirem alunos mais velhos e com a forma como poderão eles se comportar com os seus filhos.” (P6).

Também existem pais/encarregados de educação preocupados com as caraterísticas individuais dos seus educandos, nomeadamente a maturidade, como salienta a seguinte inquirida:

“(…) há uns pais que colocam questões sobre a maturidade dos seus filhos. Questionam-se se eles terão dificuldade em conviver com os novos colegas, com os colegas mais velhos e com tantos professores.” (P3).

Estas palavras deixam antever que, no seio do corpo docente, existe consciência das preocupações dos pais/encarregados de educação em relação a esta problemática. A este propósito, Abrantes (2008) na pesquisa realizada sobre a transição dos alunos entre ciclos de ensino, concluiu que, de entre os diversos intervenientes neste processo, os pais foram aqueles que revelaram uma maior preocupação quanto ao tema, pois “reconhecem vários riscos na adaptação dos seus filhos a uma nova escola, com disciplinas, professores e colegas desconhecidos e, em geral, mais numerosos” (p. 18).

O papel do professor é muito importante para a promoção do envolvimento parental com a escola e nas atividades que a escola organiza. O facto de, no primeiro ciclo do ensino básico, existir um sistema de monodocência, faz com que os pais possam estabelecer uma relação de proximidade que favorece um maior conhecimento dos alunos e das suas famílias, promovendo o envolvimento parental. Um dos docentes entrevistados expressa, assim, a sua opinião

“(…) Aquele medo! No 1.º ciclo têm um professor. Podem conversar mais com esse professor. Há mais ligação entre os pais e a escola. Receiam que no 2.º ciclo com tantos professores deixe de existir essa relação. É isso que os assusta mais…” (P4).

A opinião dos alunos do 4.º e 5.º anos de escolaridade sobre o envolvimento parental na vida escolar é apresentada, respetivamente, nas Tabelas 11 e 12.

Tabela 11. Envolvimento parental na escola percebido pelos alunos no 4º ano de escolaridade Muitas vezes Às vezes Poucas vezes Nunca

Ajuda-me nos trabalhos de casa Freq. 15 7 21 4

% 31,9% 14,9% 44,7% 8,5%

Vai às reuniões de pais % Freq. 63,8% 30 17,0% 8 12,8% 6 6,4% 3 Conversa com os professores % Freq. 29,8% 14 31,9% 15 29,8% 14 8,5% 4 Participa nas festas da escola % Freq. 46,8% 22 21,3% 10 21,3% 10 10,6% 5

Tabela 12. Envolvimento parental na escola percebido pelos alunos no 5º ano de escolaridade

Muitas

vezes vezes Às Poucas vezes Nunca

Ajuda-me nos trabalhos de casa Freq. 33 11 10 3

% 58% 20% 17% 5%

Vai às reuniões de pais Freq. % 70% 40 21% 12 7% 4 2% 1 Conversa com os professores Freq. % 53% 30 23% 13 19% 11 5% 3

Participa nas festas da escola Freq. 6 9 10 32

% 10,5% 16% 17,5% 56%

Com base nos resultados expostos nas duas tabelas anteriores, podemos afirmar que a larga maioria dos alunos tem a perceção que os pais vão às reuniões realizadas na escola e que conversam com os professores. Relativamente ao item “Ajuda-me com os deveres”, as opiniões dividem-se. A maioria dos alunos do 5.º ano (58%) refere que os pais ajudam “muitas vezes” na elaboração dos trabalhos de casa, enquanto apenas 31,9% dos alunos do 4.º ano referem esse apoio. No que diz respeito àparticipação dos pais nas festas da escola do 1.º e do 2.º ciclo, a situação inverte-se: 46,8% dos pais dos alunos do 4.º ano participam “muitas vezes”, contra 56% dos pais dos alunos do 5.º ano que “nunca” participam.

Estes resultados sugerem que a presença dos pais na escola não é, ainda, uma prática muito frequente. Os alunos de ambos os ciclos de ensino têm a perceção que o envolvimento parental na escola é mais elevado a nível da comunicação, o que poderá indiciar uma relação escola/família centrada, essencialmente, no desempenho académico dos educandos. A dispersão dos resultados nas práticas relacionadas com o envolvimento nas atividades de aprendizagem em casa talvez se explique pelo aumento e diversidade dos trabalhos de casa verificados no 2.º CEB. O afastamento dos pais do espaço escolar nas festas, percebido pelos alunos do 5.º ano, pode dever-se à escassa existência de programas deste tipo ou à diminuta disponibilidade dos pais para a participação em atividades que consideram como pouco relevantes para o sucesso do seu educando.

De acordo com a literatura, que aponta uma diminuição do envolvimento parental na escola à medida que a criança avança para níveis de escolaridade superiores, um dos diretores de turma partilhou, assim, a sua experiência.

“O diretor de turma tem 45 minutos, semanalmente, para o atendimento aos encarregados de educação. Mas nem sempre tem informação atualizada para transmitir aos pais, pois são vários professores e várias disciplinas. Geralmente, os encarregados de educação aparecem no princípio do ano letivo, mas ao longo do ano a sua participação vai diminuindo.” (P5).