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CAPÍTULO 2. REVISÃO DE LITERATURA

2.4 A transição a nível do contexto organizacional

2.4.6 Envolvimento parental na transição

É consensual na literatura que as transições entre ciclos de ensino são momentos muito importantes na vida dos alunos, da escola e das famílias. Abrantes (2008) refere que, de entre os diversos intervenientes no processo de transição, os pais são aqueles que

manifestam uma maior preocupação relativamente ao tema, pois “reconhecem vários riscos na adaptação dos seus filhos a uma nova escola, com disciplinas, professores e colegas desconhecidos, e em geral mais numerosos” (p. 18).

Recentemente, investigadores portugueses (Pereira, Reis, Canavarro, J., Canavarro, M., Cardoso & Mendonça, 2003) realizaram um estudo sobre o envolvimento parental em escolas portuguesas do 1.º e do 2.º ciclo do ensino básico e o seu papel no ajustamento emocional e académico das crianças.

A análise dos dados do estudo referenciado anteriormente, indica que o envolvimento parental percebido pelos professores diminui na transição do 4.º para o 5.º ano de escolaridade, verificando-se diferenças significativas no que concerne ao envolvimento parental em atividades na escola e voluntariado. Os fatores que estão associados à diminuição do envolvimento parental na escola do 4.º para o 5.º ano de escolaridade são a diminuição do rendimento escolar, a permanência no ensino público e a pertença ao sexo masculino. O estudo procurou, ainda, averiguar que fatores estavam associados a um maior ou menor envolvimento parental na escola. Os resultados apontam como fatores mais relevantes o nível de escolaridade dos progenitores e as práticas educativas parentais. Os resultados desta pesquisa revelam, também, uma associação positiva entre o envolvimento parental na escola e o ajustamento das crianças. Por um lado, a perceção dos professores do envolvimento parental na escola é a que apresenta associações mais elevadas com o desempenho académico. Por outro lado, é o envolvimento parental percecionado pelos pais que apresenta associações mais elevadas com o ajustamento emocional.

Os mesmos autores (Pereira et al., 2003) advogam que as escolas devem ser promotoras de políticas/estratégias que promovam a maior aproximação das famílias à escola e nesse sentido, apresentam um conjunto sugestões, quer para os professores e para as escolas, quer para os pais. De acordo com os autores, cabe à escola ajudar a família a cumprir as suas obrigações básicas; promover a comunicação entre a escola e a família; envolver os pais em atividades no espaço escolar; envolver os pais em atividades de aprendizagem em casa; envolver os pais na tomada de decisões; envolver a comunidade. No que concerne aos pais, os autores fazem as seguintes recomendações: comunicar com os educandos acerca da escola e proporcionar-lhes experiências de aprendizagem; comunicar com a escola dos filhos; participar nas atividades da escola.

A socióloga norte-americana Joyce Epstein (1990), citada por Silva (1993, pp. 80-81), apresenta uma tipologia de envolvimento dos pais que se resume a cinco categorias, designadamente:

 Tipo 1 – As obrigações básicas dos pais – referem-se às responsabilidades dos pais em assegurar as necessidades fundamentais da criança, relativas à saúde, segurança e criação de condições positivas para um comportamento social adequado e uma boa aprendizagem escolar.

 Tipo 2 – Obrigações básicas da escola – referem-se à comunicação escola-casa, ou seja à forma e frequência com que a escola informa a família das diversas atividades desenvolvidas, bem como do comportamento e progresso de aprendizagem da criança.

 Tipo 3 – Envolvimento pais na escola – referente à participação voluntária dos pais em diversas atividades desenvolvidas na escola, de apoio aos professores e aos alunos, nomeadamente espetáculos, acontecimentos desportivos, celebrações, entre outras.

 Tipo 4 – Envolvimento dos pais em atividades de aprendizagem em casa – referente à ajuda e acompanhamento, por parte da família, em atividades escolares que os alunos executam em casa, procurando orientar e motivar para a aprendizagem.  Tipo 5 – Envolvimento dos pais no governo da escola – referente à participação na

tomada de decisões por parte dos pais tanto nas associações de pais ou em órgãos como Assembleia de Escola ou Conselho Pedagógico.

Existem graus de envolvimento dos pais qualitativamente diferentes que vão desde o seu envolvimento no processo educativo dos filhos à sua participação na vida das escolas. Silva (1993) salienta que “autores como Joyce Epstein e Don Davies fazem uma distinção conceptual (…) entre envolvimento e participação dos pais” (p. 81). De acordo com o autor, o primeiro conceito corresponde à criação de um espaço de estudo para a criança, à ajuda no trabalho de casa, ao trabalho voluntário na escola e à comunicação com os professores; o segundo corresponde às formas mais atuantes de colaboração dos pais na vida dos estabelecimentos de ensino e a nível da política educativa do país.

Múltiplos estudos realizados, nesta área, têm revelado os benefícios de um trabalho de parceria entre pais e escola. Geralmente, estabelecem uma associação positiva entre

envolvimento parental na escola e desempenho académico e apontam o baixo envolvimento parental na escola como um fator de risco para o abandono escolar.

Silva (1993, pp. 66-67) refere alguns desses benefícios: o incentivo e ajuda aos filhos, de forma a estes valorizarem a escola; os pais sentem-se implicados no processo, aumentando as expetativas não só dos pais como também dos filhos, fomentando capacidades como a autoconfiança, a autoestima e o autoconceito académico que influenciarão um percurso escolar positivo; o envolvimento dos pais aumenta a expetativa dos professores, pese embora esta teoria não esteja provada estatisticamente, surge como um potencial fator de correlação positiva no que concerne aos resultados dos alunos.

Sendo certo que a amplitude e importância dos benefícios do envolvimento parental nas escolas sejam aceites por toda a comunidade educacional, Marques (1993, pp. 27-30) aponta alguns obstáculos à participação efetiva dos encarregados de educação:

 A tradição de separação entre a escola e as famílias, em que os pais se habituaram a entregar os seus filhos à escola e a demitirem-se do seu papel de educadores e os professores habituaram-se a aceitar essa posição e passividade dos pais.

 A tradição de culpar os pais pelas dificuldades dos filhos, em que os professores encaram que os pais que não contactam com a escola como pouco interessadas pela educação dos filhos.

 A mudança das condições demográficas, em que o aumento da situação de pobreza, as disfunções familiares e a falta de condições de habitação, favorece um rendimento escolar baixo, problemas de comportamento e abandono escolar.  As estruturas escolares em que mantêm os padrões tradicionais de relacionamento

com o exterior, limitando-se a reuniões no início do ano, reuniões com as associações de pais e a realização de festas com a presença dos pais.

Urie Brofenbrenner tem dado grandes contributos para esta área de estudo. A sua teoria ecológica do desenvolvimento humano mostra que o mundo da criança é constituído por vários contextos que precisam de estar em comunicação. Se as instituições das quais as crianças fazem parte, viverem de costas voltadas umas para as outras, é provável que se criem ruturas no seu desenvolvimento. Nesta linha teórica, Portugal (2008) argumenta que “as transições ecológicas bem sucedidas requerem apoio e acompanhamento por parte de figuras de referência, afetivamente significativas” (p. 43) para a criança, incluindo-se aqui, naturalmente, os pais, os colegas e os professores.