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CAPÍTULO 4. APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

4.9 Melhoria do processo de transição: alguns contributos

4.9.3 Sugestões dos alunos

A última questão do questionário aplicado aos alunos do 5.º ano de escolaridade é uma questão de resposta aberta, em que lhes era pedido que dessem um conselho aos alunos do 1.º CEB que, no ano letivo seguinte, entrariam na sua escola. Tal como se mostra no Gráfico 22, responderam à questão formulada mais de metade dos alunos inquiridos.

No Quadro 63 apresentam-se os “conselhos” que foram dados por mais de metade dos alunos do 5.º ano. O indicador mais citado foi estudar muito, com 17 referências. Seguiram-se os indicadores ter cuidado com os alunos mais velhos e cumprir as regras, cada um, respetivamente, com 14 e 13 registos. O indicador, estar atento nas aulas, obteve 8 referências, enquanto o indicador, respeitar os professores, registou 7 referências. O indicador preparar-se para a mudança teve quatro citações. Seguiram-se os indicadores, fazer novas amizades e fazer os trabalhos de casa, com três citações cada um. Com duas referências emergiram os indicadores: trazer o lanche de casa, ser assertivo, ter sucesso académico. Por fim, apenas com uma referência, o indicador pedir ajuda quando for necessário para deslocar-se no espaço escolar.

Quadro 63. Sugestões dadas pelos alunos do 5.º ano aos colegas do 4.º ano sobre a entrada no 2.º CEB

Unidades de Registo

Indicadores F

Preparar-se para a mudança 4

Estudar muito 17

Ter cuidado com os alunos mais velhos 14

Cumprir as regras 13

Estar atento nas aulas 8

Fazer novas amizades 3

Fazer os trabalhos de casa 3

Respeitar os professores 7

Trazer o lanche de casa 2

Ser assertivo 2

Pedir ajuda 1

Ter sucesso académico 2

16%

84%

Alunos do 5º ano respondentes e não respondentes à última questão

Não respondentes Respondentes

Alguns alunos do 5.º ano de escolaridade consideram que, na sua escola atual, existem bons professores, fazem-se muitas amizades e aprendem-se coisas novas, tal como testemunham as seguintes falas:

“Não pensem que isto é um pesadelo, como eu pensava. Pelo contrário, vão adorar. Vão fazer muitos mais amigos e os professores são adoráveis, não são maus. Esta escola é interessante. Vão conhecer coisas novas e aprender matérias excelentes. Vão ficar admirados!” (A/11/5).

“Não se preocupem, porque esta escola é um máximo e os professores são bons.” (A/09/5).

Estas palavras deixam antever a perceção positiva que os alunos têm sobre a escola do 2.º CEB. Nesta linha de pensamento, Abrantes (2005) advoga que “as transições entre ciclos de ensino não são necessariamente dramáticas, sendo, para muitos alunos, momentos intensos de aprendizagem, de estruturação de laços de sociabilidade e de construção identitária” (p. 96).

Outro aluno reconhece que o desconhecimento do espaço e das novas rotinas escolares pode ser um constrangimento e aponta as seguintes conselhos:

“Nos primeiros dias de escola peçam a alguém conhecido para indicar onde ficam as salas e os corpos. Levem também o lanche de casa para não terem de ir ao bar.” (A/27/5).

Estes alunos parecem saber que a mudança de ciclo e de escola implica adaptação e ajustamento, como tal consideram que para a transição decorrer bem é necessário estar preparado, como evidenciam as seguintes citações:

“Preparem-se para a mudança de escola, a mudança de professores, a mudança de colegas.” (A/14/5).

“Não se preocupem! O 4.º ano é uma pequena preparação do 1.º período do 5.º ano.” (A/35/5).

“Preparem-se para fazer o melhor que conseguirem em todas as disciplinas.” (A/39/5). “Preparem-se para sobreviver nesta escola.” (A/55/5).

Numa análise geral, a ideia que sobressai dos discursos analisados é que os alunos inquiridos entendem a importância dos hábitos de estudo e trabalho, neste ciclo de ensino, e aconselham os colegas a trabalhar e estudar muito, como podemos verificar nas seguintes falas:

“Eu diria para estudarem e começarem o ano adiantados”.”( A/05/5). “Estudem mais para os testes e para as aulas.” (A/10/5).

“Devem estudar muito, porque a matéria é diferente e às vezes mais difícil.” (A/56/5).

A ideia de estudar e ter hábitos de trabalho associada ao sucesso académico é também frequente nas falas dos alunos.

“(…) Estudem mais para terem boas notas e serem bons alunos.” (A/02/5).

“É preciso se esforçarem para passar de ano e serem bons alunos. (…) estudem muito, façam os trabalhos de casa.” (A/20/5).

Das palavras dos alunos podemos inferir que, a nível académico, a pressão para o sucesso e para a obtenção de bons resultados é uma realidade no 2.º CEB, pois revelam preocupação quer com a organização e gestão do estudo, quer com o excesso do trabalho.

Uma parte dos alunos apela para a necessidade de “cumprir as regras” na escola do 2.º CEB. Quase todos os que apresentam este indicador (13) associam as consequências que daí advêm, no caso de subverterem as regras.

“Quando entrarem nesta escola não façam asneiras, não abusem dos professores, nem façam barulho nas aulas, para não terem participação disciplinar.” (A/02/5).

“(…) e não se comportem mal na sala de aula, se não levam recados e têm falta disciplinar” (A/18/5).

De acordo com os relatos, a adaptação ao funcionamento e regras da escola e a relação com os professores, são também dimensões que causam preocupação nos alunos que frequentam pela primeira vez o 5.º ano de escolaridade. Os alunos experienciam a estratégia adotada pelos professores, no início do ano letivo, e que assenta na “definição estrita de regras de conduta na sala de aula, com recurso a uma certa intimidação dos actores, sugerindo-lhes que qualquer desvio será, no novo ciclo, motivo de dura sanção” (Abrantes, 2005, p. 86).

Do ponto de vista de alguns alunos, é fundamental ter cuidado com os alunos mais velhos, de modo a não ser posta em causa a própria segurança.

“Não se metam com os alunos mais velhos, se não serão vítimas de bulling diariamente. (…).”

(A/18/5).

“Nunca se metam com os mais velhos, porque eles podem fazer coisas que vocês não vão querer!” (

A/04/5).

“Não falem com os alunos mais velhos, porque podem vos bater. (…).” (A/45/5).

Podemos, assim, inferir das palavras de alguns alunos a existência de stress em contexto escolar, associado à transição entre escolas, o que vai de encontro a múltiplos estudos que

identificam como potenciais focos de preocupação dos alunos três domínios da vida escolar: o domínio académico, o da relação com o professor e com as regras da escola e o da relação com os pares.

Uma aluna do 5.º ano alerta os colegas do 4.º ano para determinados comportamentos que não são considerados apropriados à situação do novo ciclo e que tendem a ser motivo de gozo.

“Se estiveres atrasada para as aulas não corras, irão pensar mal de ti; não brinques à apanha ou a outras brincadeiras do 1.º ciclo à frente dos mais velhos; não te metas com os mais velhos; tenta não dar nas vistas e não te comeces a armar…” (A/15/5).

Parece-nos que a ideia aqui presente é aquela defendida por Abrantes (2005), sobre a transição da infância para a adolescência, que “implica uma actualização das linguagens, dos interesses e das formas de apresentação do self, processo que uns realizam com maior velocidade e eficácia do que outros” (p. 89).

A questão Por fim, que conselho darias aos alunos do 1.º ciclo que vão entrar, nesta escola, no próximo ano letivo?” foi uma oportunidade para os alunos expressarem ideias e opiniões muito significativas sobre a mudança de ciclo associada à mudança de escola.