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23 2.3.6 Complexo Eruptivo do Pico da Antónia (PA)

2.4 G EOMORFOLOGIA DA I LHA DE S ANTIAGO

Geomorfologicamente, podem considerar-se dois grupos de ilhas distintos no arquipélago de Cabo Verde. O grupo oriental, das ilhas mais planas e áridas, apresenta altitudes máximas que não ultrapassam os 450 metros, como as do Sal (Monte Grande, 406 m), Boavista (Monte Estância, 387 m), Maio (Monte Penoso, 436 m) e Santa Luzia. A ilha de S. Vicente é considerada de posição intermédia (Monte Verde, 725 m). As ilhas do grupo ocidental, são mais montanhosas e húmidas, como por exemplo as ilhas do Fogo

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(2829 m), de Santo Antão (Topo da Coroa, 1979 m), Santiago (1304 m) e S. Nicolau. Este grupo de ilhas altas apresenta grandes declives nos relevos e uma intensa rede de drenagem e é neste grupo que estão as ilhas com maior potencial hídrico e agrícola.

Na ilha de Santiago destacam-se dois maciços montanhosos com altitudes superiores a 1000 metros, a Serra do Pico da Antónia (com o ponto mais alto da ilha a uma altitude de 1392 m) e a Serra da Malagueta (com uma altitude máxima de 1063 m), separados por uma região planáltica, a Assomada, com uma altitude média de 550 metros. A ilha de Santiago caracteriza-se por formas de relevo muito irregulares, com extensas áreas planas nas zonas litorais até altíssimas encostas separadas por desfiladeiros, com profundos vales de vertentes quase verticais, em grande parte da ilha, sobretudo na parte oeste, dispostos segundo as geratrizes do cone principal.

O clima seco e árido, sujeito a chuvadas torrenciais, provocam forte erosão hídrica, originando vales profundos que se prolongam até ao mar, e podem apresentar perfis transversais em “V” (vales abertos), quando são escavados em formações antigas e alteradas, com alguma argila na sua constituição e ravinas quando são escavados em formações mais recentes, principalmente em mantos basálticos do Complexo Eruptivo Principal. A morfologia destes vales ravinados está relacionada com a disjunção colunar dos mantos subaéreos (Serralheiro, 1976).

Em Santiago distinguem-se sete unidades geomorfológicas (Amaral, 1964; Marques, 1990): Achadas Meridionais (I), Maciço Montanhoso do Pico da Antónia (II), Planalto de Santa Catarina (III), Flanco Oriental (IV), Maciço Montanhoso da Malagueta (V), Tarrafal (VI), e Flanco Ocidental (VII) (Figura 2.14).

As Achadas Meridionais (I) têm altitudes abaixo dos 500 metros. São superfícies estruturais e/ou subestruturais com declives de 2% a 12% na direcção do mar (Marques, 1983), formadas por escoadas basálticas intercaladas com tufos, do Complexo Eruptivo do Pico da Antónia (PA). No fundo dos seus vales afloram frequentemente as rochas do Complexo Eruptivo Interno Antigo (CA), sob as formações do PA (Figura 2.15a-d). As linhas de água mais importantes, são as ribeiras de Santa Clara, Fundura, São João, Caniço Grande, Ribeira Grande, São Martinho Grande, Trindade e São Francisco (Marques, 1990).

O Maciço Montanhoso do Pico da Antónia (II) eleva-se acima dos 600 metros de altitude e atinge os 1392 metros (Figura 2.15e, f). Tem direcção principal de NW-SE e apresenta-se fortemente erodida cumeadas pontiagudas. Os relevos isolados de Monte Brianda e Pedroso podem ainda ser considerados como resíduos da sua antiga extensão (Mota Gomes, 2007).

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Figura 2.14 – Grandes unidades geomorfológicas da ilha de Santiago (Marques, 1990).

O Planalto de Santa Catarina (III) localiza-se na região central da ilha de Santiago e é formado por um conjunto de achadas com uma altitude média de 500 metros e declives médios entre 2% e 12%. O planalto (Figura 2.15g, h) está intercalado entre o Pico da Antónia a Sul e o maciço da Malagueta a Norte, é cortado por cones vulcânicos da Formação do Monte das Vacas. Segundo Serralheiro (1976) corresponde à “Formação de Assomada”, com 50 metros de espessura. Esta unidade geomorfológica está exposta à meteorização provocada pela humidade dos ventos alísios, dando origem a solos ainda conservados cultivados essencialmente com culturas de sequeiro (Faria, 1970; Mota Gomes, 2007), mas nalguns vales em canhão existem regadios (Marques, 1990; Mota Gomes, 2007).

O Flanco Oriental (IV) é uma região exposta aos ventos alísios, muito erodida, com grande variabilidade das formas de relevo e de declives acentuados, com elevada densidade populacional, de encostas preenchidas com cultura de sequeiro, a qual exige

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várias mobilizações do solo ao longo dos seus ciclos vegetativos, em função das precipitações.

A pouca densidade de coberto vegetal, a exposição aos ventos alísios e a forte precipitação promovem também a erosão dos solos. Litologicamente, predominam os tufos e tufos-brechas alternando com escoadas lávicas pouco espessas do Complexo do Pico da Antónia.

Figura 2.15 – Imagens das diferentes unidades geomorfológicas da ilha de Santiago (imagens (g), (i) e (j) de Pina (2009).

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Figura 2.15 (Continuação) – Imagens das diferentes unidades geomorfológicas da ilha de Santiago (imagens (g), (i) e (j) de Pina (2009).

No fundo dos vales ocorre uma densa rede filoniana que pertence ao Complexo Eruptivo Interno Antigo (Serralheiro, 1976; Mota Gomes, 2007), e sobre estas repousa a Formação dos Flamengos, Formação dos Órgãos e por último o Complexo Eruptivo do Pico da Antónia.

O Maciço Montanhoso da Serra da Malagueta (V) é formado por espessas camadas de basaltos intercaladas de piroclastos, e cortados por uma rede densa de filões (Figura 2.15 i). O maciço atinge os 1063 m de altitude, localiza-se na zona Norte da ilha e é limitado a Sul por uma escarpa com orientação E-W no cimo da qual se localizam os pontos mais elevados (Diniz & Matos, 1986). Os ventos alísios atingem a encosta Norte do maciço, originando uma densa cobertura vegetal. A erosão das encostas abruptas do maciço da Malagueta é principalmente função da acção da gravidade (Figura 2.15f, i).

A unidade geomorfológica Tarrafal (VI) corresponderá a uma região vulcânica insular que se juntou à ilha de Santiago (Serralheiro, 1976). Trata-se de uma área de achadas com altitudes a variar entre os 20 e os 300 metros, declives médios compreendidos entre 2% e 5% e constituídas essencialmente por formações do Complexo Eruptivo do Pico da Antónia, onde sobressai a cúpula de fonólitos e traquitos do Monte da Graciosa (634 m) (Figura

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2.15j) e cones da formação do Monte das Vacas. As achadas ocidentais (entre 20 e 100 m de altitude) dominam uma extensa plataforma de abrasão marinha, compreendida entre Tarrafal e Chão Bom, coberta por depósitos recentes de enxurrada e por algumas dunas (Marques, 1990; Mota Gomes, 2007). Esta unidade geomorfológica contém culturas de sequeiro e já se pratica a silvo-pastorícia desenvolvida principalmente na zona NE, exposta aos ventos alísios.

O Flanco Ocidental (VII) corresponde a uma região muito árida, de grandes declives, com descida abrupta, de arribas vivas para o mar. As encostas desenvolvem-se paralelamente à linha de costa e têm declives médios entre 12% e 25% (Marques, 1987). Representa a transição entre o planalto de Santa Catarina e o mar. Ocorrem formações do complexo filoniano de base, sobre o qual assentam escoadas lávicas e tufos do Complexo eruptivo do Pico da Antónia e mantos de fácies basáltica da formação da Assomada (Mota Gomes, 2007).

2.5 C

LIMA

O clima do arquipélago de Cabo Verde apresenta afinidades com os climas desérticos quentes, contudo, distingue-se destes pelas pequenas amplitudes térmicas, humidade e periodicidade das chuvas (Amaral, 1964). Localiza-se numa faixa climática que separa a zona quente da temperada e é caracterizada por um clima árido a semi-árido. Esta faixa atravessa a África, desde o Atlântico ao Mar Vermelho e continua pela Ásia, sendo influenciada por três massas de ar principais: o anticiclone dos Açores, a linha de convergência intertropical (ventos Alísios) e a monção do Atlântico Sul, que traz ventos quentes e húmidos (S e SW), e é responsável pelas chuvas de verão.

O clima da ilha de Santiago é caracterizado por duas estações meteorológicas: uma mais fria, ventosa e seca, de Dezembro a Junho – o tempo das brisas, e outra mais húmida

e quente, de Agosto a Outubro – o tempo das águas, que corresponde à estação das

chuvas. Os meses de Julho e Novembro são considerados de transição. Mota Gomes et al. (2005) in Mota Gomes (2007) identificaram em diferentes locais da ilha de Santiago características climáticas distintas:

a) Climas do litoral, como os da Praia e de S. Francisco;

b) Climas de altitude, como os do Pico da Antónia e da Serra Malagueta;

c) Climas de vertente não exposta aos alísios, como em Porto Mosquito e Chuva Chove;

d) Microclimas pontuais, no interior de certos vales, como nas ribeiras Seca, Principal, Engenhos, etc.

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As climatologias mensais e anuais da temperatura, humidade relativa, insolação, intensidade do vento a 2 metros e evaporação foram calculadas a partir dos dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG) de Cabo Verde (Anexo 2.1). A localização e altitude das estações estão mapeadas e apresentadas no mapa da Figura 2.16.

Figura 2.16 – Estações e correspondente altitude (em metros), onde foram amostradas as grandezas climáticas. Nas estações com os nomes escritos a negrito foram amostradas todas as variáveis climáticas em estudo, enquanto nas restantes apenas a precipitação foi amostrada.

Nas Tabelas 2.3 e 2.4 apresentam-se os intervalos temporais em que foram observadas, para cada estação, as grandezas climáticas.

Tabela 2.3 – Intervalo temporal em que foram observadas, para cada estação, a temperatura, humidade relativa, insolação, intensidade do Vento a 2 metros e evaporação. Entre parêntesis é apresentado o número de anos do intervalo temporal correspondente. Dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG).

Temperatura (ºC) Hum. Relativa (%) Insolação (h) Vento a 2 m (m/s) Evaporação (mm) Praia (Aeroporto) 1973-2005 (33) 1982-2005 (23) 1973-1998 (25) 1981-2002 (19) - Assomada 1987-2001 (14) 1987-2001 (14) 1987-1998 (12) 1987-1998 (12) 1987-1998 (12) S. Francisco 1980-2001 (22) 1981-2001 (21) 1981-1998 (18) 1981-2001 (21) 1981-2001 (21) S. Jorge dos Órgãos 1981-2004 (24) 1981-2004 (24) 1981-2001 (21) 1981-2004 (24) 1981-2001 (24) Chão Bom 1981-2001 (21) 1981-2001 (21) 1981-1998 (18) 1981-2001 (21) 1981-2001 (20)

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