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Equidade na Forma de Participação no Custeio

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 59-63)

CAPÍTULO II – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DE SEGURIDADE SOCIAL

2.2. Princípios Constitucionais de Seguridade Social

2.2.5. Equidade na Forma de Participação no Custeio

A equidade na forma de participação no custeio revela-se como o quinto princípio constitucionalmente expresso no parágrafo único do artigo 194. Apesar

114 Para se ter uma idéia, no ano de 2009, o salário mínimo aumentou 12,05%(Medida Provisória n. 456, de 30 de Janeiro de 2009), com aumento real de 6,39% acima da inflação, ao passo que os benefícios previdenciários de valor superior ao mínimo tiveram aumento de 5,92% (Portaria do Ministério da Previdência Social n. 48, de 12 de fevereiro de 2009), superando a inflação somente em 0,26%.

de sua importância para o contexto de financiamento da seguridade, mostra-se ainda pouco estudado pela Doutrina pátria.

Revela-se a equidade como o método de aferição da isonomia mais adequado ao contexto do risco social, aplicável a todo o Sistema de Seguridade Social.

Na técnica tradicional do seguro civilista, em regra, o segurado exposto a maior grau de risco deverá arcar com montante maior do prêmio, diferentemente daqueles menos expostos ao risco assegurado.

Contudo, no que tange à contribuição dos cidadãos para a Seguridade Social, tende a se dar exatamente o oposto, principalmente em um país de grande contraste social, no qual geralmente quem mais precisa de proteção é justamente quem menos tem condições para contribuir.

Assim, tal princípio determina que a regra geral de contribuição de um seguro deve adaptar-se à realidade do sistema de seguridade social brasileiro.

Nesse ponto, conclui Wagner Balera que

quando o fim é a superação das necessidades, a equidade autoriza a imposição de maiores encargos aos que menores necessidades possuem. Vice-versa, quanto maior a necessidade, menor ou nenhum ônus haverá de ser cometido ao indivíduo. A equidade é um critério de justiça. 115

De outro lado, a equidade na forma de participação no custeio pressupõe, para os contribuintes em idêntica situação, um mesmo nível de tributação, revelando-se como verdadeira expressão da igualdade perante a lei, determinada pelo caput do artigo 5º da Constituição Federal116.

115 Op.cit., p. 42.

116 “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros

e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”

Ensina Balera que tal princípio destina-se a evitar que o custeio da Seguridade Social se constitua como um elemento propulsor ou agravante das desigualdades sociais117.

Na redação original da Carta Magna de 1988, o parágrafo 4º do artigo 239118 já buscava concretizar este ideal no financiamento do seguro-desemprego ao prever a existência de alíquota adicional para as empresas cujo índice de rotatividade de emprego superasse o índice médio do setor. Com tal medida, o constituinte impôs às empresas que dessem maior causa à concessão de tais benefícios uma maior participação no seu custeio, diferentemente das demais, não se justificando que empresas em situações diferentes continuassem sendo tributadas de forma idêntica.

Na mesma esteira, elogiosa a Emenda Constitucional no 20, de 15 de dezembro de 1998, ao introduzir o parágrafo 9o, do artigo 195, da Constituição Federal, posteriormente alterado pela Emenda no 47, de 05 de julho de 2005, ao possibilitar maior concreção desse princípio no âmbito das contribuições dos empregadores e das empresas, nos seguintes termos

§ 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão-de- obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho.

Como se vê, trata-se de medida que buscou viabilizar, na esteira do princípio em comento, tratamento fiscal adequado à realidade de cada empresa, o que é fundamental, notadamente no atual contexto em que se coloca em pauta uma desoneração tributária das empresas.

117 Op.cit., p. 22.

118 Artigo 239, § 4º: “§ 4º - O financiamento do seguro-desemprego receberá uma contribuição adicional da

empresa cujo índice de rotatividade da força de trabalho superar o índice médio da rotatividade do setor, na forma estabelecida por lei”.

Tal dispositivo constitucional abriu caminho para a criação do Fator Acidentário de Prevenção – FAP–, através da Lei no 10.666, de 08 de maio de

2003, e atualmente regulamentado pelos Decretos nos 6.042, de 12 de fevereiro de 2007, 6.257, 19 de novembro de 2007, 6.577, de 25 de setembro de 2008 e 6.957, de 09 de setembro de 2009.Trata-se de índice que passou a vigorar em janeiro do ano de 2010, buscando flexibilizar as alíquotas do Seguro Acidente de Trabalho – SAT– (1%, 2% e 3%) em alíquotas que variam de 0,5% a 6%, de acordo com cada gestão empresarial, conforme leciona Airton Kwitko

O FAP é um multiplicador que deve flutuar em um intervalo fechado contínuo de 0,5 a 2,0 (redução de 50% na tributação ou majoração de 100%), considerando os coeficientes de gravidade, freqüência e custo. Este fator é uma forma desburocrática de proceder com a majoração ou redução da alíquota de 1%, 2% ou 3% do antigo SAT, visto que os dados probabilísticos serão baseados na concessão de benefícios concedidos pelo INSS a um mesmo tipo de doença/acidente de trabalho.

(...)

A empresa que não investe em segurança e medicina no trabalho, ou ainda, aquela empresa que mascara o risco ambiental, poderá ter que pagar muito de carga tributária, porém, aquela que zela pela segurança e saúde de seu empregado terá uma redução tributária e poderá investir este valor em mais produção, passando a ganhar novos mercados e clientes.119

Assim, o FAP possibilita tratamento fiscal mais equânime às empresas, premiando com alíquotas menores aquelas que, investindo em segurança e medicina do trabalho, derem menor ônus ao Sistema de Seguridade Social, e, por outro lado, cobrando maior participação daquelas que exigirem maior atuação protetiva do Regime Geral de Previdência Social.

Enfim, o princípio da equidade na forma de participação no custeio revela- se como lapidar diretriz constitucional de justiça aplicada ao contexto do financiamento da Seguridade Social brasileira.

119

KWITKO, Airton. FAP e NTEP: As novidades que vêm da Previdência Social. São Paulo: LTr, 2008, p. 15 e 18.

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 59-63)