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Seletividade e Distributividade na Prestação dos Benefícios e Serviços

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 54-57)

CAPÍTULO II – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DE SEGURIDADE SOCIAL

2.2. Princípios Constitucionais de Seguridade Social

2.2.3. Seletividade e Distributividade na Prestação dos Benefícios e Serviços

Dispõe a Constituição Federal de 1988 que a Seguridade Social brasileira deve se organizar com base no objetivo de seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços.

Por seletividade deve-se entender o ato do legislador de definir os benefícios e serviços mais aptos a concretizar o ideal de proteção social;

102 “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua

condição social:” 103

Aprofundando-se em suas observações, Mario L. Deveali, no ano de 1960, dispunha: “O princípio da

igualdade que, como oportunamente fizemos sentir, traz como corolário o de ‘não assimilar situações diferentes´e que deve ser considerado no campo da previdência social, em face da tendência – bastante generalizada – de impor regimes uniformes para todos os trabalhadores, sem atender às suas diferentes necessidades. Consideramos um erro estender aos trabalhadores do campo, por exemplo, o mesmo regime útil aos trabalhadores urbanos, ou aos domésticos, o regime dos trabalhadores do comércio.” DEVEALI, Mário L. Alguns Princípios Básicos em Matéria de Previdência Social. In Revista de Direito Social no. 11. São Paulo: Notadez, 2003.

104

ANDREUCCI, Ana Cláudia Pompeu Torezan, BALERA, Wagner. Salário-Família no Direito

enquanto, distributividade é igualmente ato do legislador de escolher, dentre o rol definido anteriormente, as prestações mais adequadas a amparar de forma eficiente um maior contingente populacional.

Nesse ponto, pertinentes os ensinamentos de Wagner Balera

Instituindo um elenco de prestações que, consideradas em seu conjunto, proporcionam aos beneficiários a justa situação social que lhes assegura o Estado Supremo, o legislador – animado por critérios de política social que escapam ao conhecimento do jurista – esgota o momento da seletividade. É, em suma, o próprio direito positivo quem terá cumprido o objetivo da seletividade.

(...) A distributividade consiste na identificação daqueles bens que, mais do que por um direito próprio do indivíduo, são devidos por serem comuns, como sabiamente expressa São Tomás de Aquino.105

A Desembargadora Federal Marisa Ferreira dos Santos em sua obra especificamente destinada à análise desse princípio sintetiza

A ‘seletividade’ diz quais são as contingências-necessidades objetos da relação jurídica de seguridade social. A ‘distributividade’ fixa o grau de proteção a que terão direito os beneficiários das prestações previamente selecionadas.

(...)

A ‘seletividade’ destina-se à garantia dos mínimos vitais necessários à obtenção de bem-estar. A ‘distributividade’ visa à redução das desigualdades sociais e regionais, com o que implementa a justiça social.

A ‘seletividade’ e a ‘distributividade’, então, são instrumentos que, no campo da seguridade social, viabilizam a consecução dos objetivos da Ordem Social. 106

Na esteira do que ensinam ambos os autores, tem-se que o princípio da seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços da Seguridade Social busca imprimir racionalidade à distribuição da proteção social, uma vez que visa orientar o legislador a disponibilizar prestações sociais com maior potencial de efetividade protetiva, seja por buscar fixar os riscos mais

105 Op.cit., p. 38-40.

106

SANTOS, Marisa Ferreira dos. Princípio da seletividade das prestações de seguridade social. São Paulo: LTr, 2003, p. 180-181.

propensos ao amparo social (seletividade), ou delimitar o contingente de beneficiários mais carentes de proteção (distributividade).

Fábio Zambitte Ibrahim, atual Conselheiro Presidente da 10ª Junta de Recursos do Conselho de Recursos da Previdência Social, aponta que um exemplo da correta aplicação desse princípio especificamente na esfera da Previdência Social foi a alteração introduzida pela Emenda Constitucional no 20, de 15 de dezembro de 1998, que restringiu o pagamento do benefício de salário- família somente aos segurados de baixa renda

A seletividade foi corretamente aplicada ao salário-família pela Emenda Constitucional no 20/98, benefício de baixo valor, mas de importância para segurados de baixa renda. Não há razão para o pagamento desta prestação aos segurados mais abastados. 107

Através dessa medida constitucional de distributividade, a utilização dos recursos desse benefício pôde ser melhor direcionada ao custeio das prestações mais adequadas para a concretização do ideal de proteção social108.

Tal princípio coaduna com o da progressão racional, atinente à legislação trabalhista, porém plenamente aplicável à Seguridade Social, como bem leciona Mario L. Deveali

O princípio da progressão racional determina a observância de algumas regras, muito elementares, mas freqüentemente esquecidas pelos legisladores em matéria de previdência. Tais regras podem ser assim resumidas:

a) Dar preferência ao que é necessário, em face do que é apenas útil.

b) É preferível uma solução parcial de fácil realização a outra cuja realização seja problemática ou muito difícil.

c) No caso de serviços condicionados reciprocamente, é preciso começar pelos mais elementares.

No campo da previdência esquecemos freqüentemente a diferença existente entre o desejável e o possível. 109

107 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 8ª ed. São Paulo: Impetus, 2006, p. 55.

108

No ano de 1989, ao comentar as disposições pertinentes à Seguridade Social na Constituição Federal de 1988, advertia Wagner Balera: “Parece sem sentido, com efeito, a manutenção do benefício do salário

família para todos os trabalhadores. Se para o trabalhador que ganha o mínimo legal essa ajuda é, às vezes, superior ao próprio desconto da contribuição previdenciária e, portanto, tem significado pecuniário expressivo, nada representa para aqueles que recebem altos salários.” Op.cit., p. 101.

109

Assim, diferentemente do que poderia se pensar, o princípio da seletividade e distributividade não busca diminuir a efetividade do princípio da universalidade, mas sim adequar este último à realidade financeira do Estado brasileiro, buscando, através da aplicação racional dos recursos, otimizar a proteção social disponibilizada enquanto não se atinge o ideal objetivo e subjetivo de proteção.

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 54-57)