3. GESTÃO DE MARCAS
3.4 Brand Equity
O valor de um nome de marca pode ser considerado como um ativo intangível de valor crítico. Possuir uma ou mais marcas com nomes bem reconhecidos e aceitos pelo mercado proporcionam à empresa muitas vantagens que já foram elencadas anteriormente (AAKER, 1998).
Contudo, o que se pode notar é a inexistência de um gerenciamento coordenado e coerente de muitas marcas por parte das empresas. As marcas necessitam de trato e manutenção, pois, o poder conquistado através de intensos e duradouros investimentos pode se deteriorar em função de descuidos de gestão.
Dessa forma, procurou-se entender o que torna uma marca forte dentro de um mercado. Esse entendimento levou à formulação da expressão Brand Equity que pode ser definida como:
Conjunto de ativos e passivos ligados a uma marca, seu nome e seu símbolo, que se somam ou se subtraem do valor proporcionado por um produto ou serviço para uma empresa e/ou para os consumidores dela (AAKER, 1998, p. 16).
Os elementos que formam o brand equity podem ser agrupados nas cinco categorias listadas abaixo e conferidos na figura 4.
Lealdade à marca; Conhecimento da marca; Qualidade percebida;
Outros ativos da marca – patentes e relações com distribuidores.
Fonte: Adaptado de Aaker (1998).
De acordo com Aaker (1998) alguns questionamentos devem ser respondidos para uma correta avaliação da lealdade dos consumidores. A precisão com estas questões forem respondidas afetará positivamente o valor da marca:
Quais são os níveis de lealdade à marca por segmento? Estão os consumidores satisfeitos?
Por que os consumidores estão deixando a marca? O que está causando insatisfação?
A lealdade à marca, de acordo com Aaker (1998), é uma medida da ligação do consumidor com a própria marca. Reflete, dessa forma, a probabilidade de o cliente mudar ou não para outra marca, especialmente se a concorrente fizer uma mudança, quer seja em preço, quer seja em características do produto. Assim, à medida que a lealdade da marca aumenta, a vulnerabilidade da ação concorrente diminui.
Um conjunto de compradores habituais tem valor considerável para a marca, uma vez que representa um fluxo de caixa que pode prosseguir por muito tempo. Aaker (1998) afirma que se uma relação de lealdade e frequencia de compra de uma marca puder ser estimada, o valor dessa lealdade poderá ser estimada.
A experiência de uso pode ser considerada o principal fator para a lealdade da marca, ou seja, não pode haver lealdade sem compra e experimentação prévia. A lealdade pertence à marca, o que significa dizer que não é possível transferi-la sem o consumo de elevadas somas de dinheiro, recusa e renuncia de lucros.
Para Aaker (1998) um gerenciamento criterioso e bem explorado da lealdade da marca proporciona valor e vantagens de difícil superação tais como: custos de marketing reduzidos, alavancagem comercial, atração de novos consumidores e um maior tempo para reagir as ameaças dos concorrentes.
Para o fortalecimento desse valor as empresas devem conservar e aumentar ainda mais a lealdade de seus clientes às suas marcas. A manutenção e o aumento da base de consumidores leais à marcapode ser obtida seguindo as regras elencadas a seguir:
Tratar o consumidor corretamente – um produto/serviço que funciona corretamente proporciona uma base para a lealdade. Para se manter um cliente é preciso não afastá-lo. Tratamento adequado aos clientes significa experiência e treinamento.
Ficar próximo do consumidor – encontrar maneiras de ficar próximo ao consumidor proporciona oportunidades de receber sinais do mercado.
Medir/gerenciar a satisfação do consumidor – pesquisar a satisfação e a insatisfação ajuda no ajuste da oferta de produtos/serviços. O resultado dessa pesquisa direcionará discussões detalhadas de problemas e possíveis providências.
Criar custos de mudança – recompensando plenamente a lealdade criam-se custos de mudança de dificil superação. Solucionar problemas dos clientes redefinindo os negócios são bases para a lealdade.
Proporcionar extras – pode-se esperar o entusiasmo de grupos de clientes oferecendo poucos serviços inesperados.
CONHECIMENTO DA MARCA
De acordo com Aaker (1998) o conhecimento da marca é a capacidade que um comprador potencial tem de reconhecer ou de se recordar de uma marca como integrante de uma certa categoria de produtos.
O conhecimento da marca proporciona valor de formas distintas, a saber: âncora a que outras associações possam estar ligadas, familiaridade/simpatia, comprometimento, marca a ser considerada.
Âncora a que outras associações possam estar ligadas – o conhecimento da marca desenvolve associações que promovem os benefícios do produto;
Familiaridade/simpatia – o reconhecimento proporciona familiaridade com a marca. As pessoas gostam do que lhes é familiar. Esse sentimento pode, às vezes, ser fundamental na decisão de compra;
Comprometimento – o conhecimento do nome pode ser sinal de comprometimento, substancia e presença, mesmo para consumidores de bens duráveis. No caso de compras que o envolvimento é fundamental, este fator pode ser crucial;
Marca a ser considerada – em muitos casos o processo da compra é iniciado pela seleção das marcas a serem consideradas. Um consumidor pode elencar de três a quatro alternativas. Dessa forma, uma lembrança forte da marca pode ser fundamental para a decisão final de compra.
Para atingir o conhecimento da marca algumas diretrizes devem ser atingidas: Ser diferente, memorável; Desenvolver um slogan ou jingle; Expor o símbolo; Contar com uma assessoria de imprensa; Patrocinar eventos; Para haver lembrança deve haver repetição.
Alguns questionamentos devem ser levados em consideração para um melhor gerenciamento do conhecimento da marca:
Qual o valor como ativo e o conhecimento da marca neste mercado?
Qual o nível de conhecimento da marca quando comparada aos concorrentes? Quais são as tendências?
A marca está sendo considerada?
O que pode ser feito para melhorar o conhecimento da marca?
QUALIDADE PERCEBIDA
Segundo Aaker (1998) a qualidade percebida pode ser entendida como o conhecimento que o consumidor tem da qualidade ou superioridade de um produto ou serviço pretendido em relação as alternativas. A qualidade percebida se diferencia de outros conceitos de qualidade como pode ser visualizado abaixo:
Qualidade geral ou objetiva – o quanto o produto ou serviço agrega com serviço superior; Qualidade baseada no produto – a natureza e a quantidade dos ingredientes, características ou serviços envolvidos;
Qualidade de fabricação – conformidade com as especificações, a meta de “defeito zero”. A qualidade percebida não pode ser determinada objetivamente pois trata de um conhecimento e, principalmente, porque estão envolvidos julgamentos sobre o que seja importante para os consumidores. De acordo com Aaker (1998) a qualidade percebida é definida com relação a um propósito pretendido e um conjunto de alternativas.
A satisfação com uma marca difere da qualidade percebida. Um consumidor pode estar satisfeito com um produto porque sua expectativa era baixa. A qualidade percebida é intangível, é um sentimento sobre uma marca que gera valor de cinco formas distintas, de acordo com Aaker (1198):
Razão de compra– a qualidade percebida oferece uma razão de compra importantíssima; Diferenciar/posicionar – nesse quesito uma marca pode se posicionar como a melhor ou apenas mais uma marca competitiva;
Preço premium – a qualidade percebida pode proporcionar maiores margens através da cobrança de um preço premium. Esses recursos podem ser reinvestidos no aumento do conhecimento da marca ou das associações de marca;
Interesse dos participantes do canal de distribuição – a imagem dos distribuidores é afetada pelos produtos com os quais se trabalha, ou seja, estocar produtos de qualidade é fundamental;
Extensões de marca–a qualidade percebida pode ser explorada pela introdução das extensões de marca, usando o seu nome para entrar em novas categorias de produtos. Uma marca forte quanto à qualidade percebida será capaz de estender-se mais além, e terá uma probabilidade de sucesso mais elevada que uma marca mais fraca.
Para um gerenciamento sério e eficaz da qualidade percebida é necessário responder alguns questionamentos:
Por que alguns consumidores acreditam que a qualidade é alta ou baixa? Como se poderia melhorar a qualidade percebida?
Que atributos usam os consumidores para fazer julgamentos gerais sobre a qualidade?
O que impulsiona a qualidade percebida? O que sinaliza a qualidade?
O que é importante para o consumidor?
A qualidade percebida é valorizada, ou o mercado está se movendo para um negócio de commodity?
A qualidade percebida, segundo Aaker (1998) possui sete dimensões no que se refere ao contexto do produto: desempenho, características, conformidade com as especificações, confiabilidade, durabilidade, disponibilidade de serviços e forma e acabamento.
Para que seja fornecido um alto nível de qualidade é necessária a observação de alguns pontos:
Comprometimento com a qualidade – atingir e manter a qualidade ao longo do tempo; Uma cultura de qualidade – o compromisso com a qualidade precisar se refletir na cultura da organização, nas suas normas, símbolos e valores;
Input dos consumidores – são os consumidores que definem o que é qualidade. É fundamental descobrir o que os clientes consideram como de qualidade.
ASSOCIAÇÕES DE MARCA
Segundo Aaker (1998) associações de marca são “imagens” na memória que se ligam à marca. As associações existem e tem graus de força. Uma ligação com uma marca será forte quando for baseada em muitas experiências e em exposições contínuas de propagandas. Será mais forte também se apoiada por uma rede de associações.
Uma marca bem posicionada terá uma atraente posição competitiva suportada por fortes associações. A posição de marca reflete como as pessoas percebem a marca. Uma marca ficará bem posicionada se possuir atributos desejáveis, como serviço amigável, ou poderá obter uma posição diferenciada dos concorrentes, como a única empresa com entrega em domicílio.
As associações de marca criam valor para as empresas de cinco formas diferentes:
Ajudam a processar/achar informação: as associações podem servir para resumir um conjunto de fatos e especificações, os quais, seriam difíceis para os consumidores processarem e acessarem, e dispendioso para a empresa comunicar. Uma associação pode criar um pacote compacto de informações para o consumidor, proporcionando-lhe um meio de assimilação.
Diferenciação: as associações do nome da marca podem desempenhar um papel crítico na superação de uma marca da outra. Uma associação diferenciadora pode ser uma vantagem competitiva fundamental. Se a marca estiver bem posicionada sobre um atributo chave sua classe de produtos, ou sobre uma aplicação, concorrentes terão dificuldades em atacar. Razão de compra: de acordo com Aaker (1998) muitas associações de marca envolvem
atributos de produtos ou benefícios aos consumidores que propiciam uma razão para comprar e usar a marca. Algumas associações influenciam a decisão de compra pela credibilidade e confiança da marca.
Criar atitudes/sentimentos positivos: algumas associações são apreciadas e estimulam sentimentos positivos, os quais são transferidos para a marca. Associações que criam sentimentos positivos durante o uso servem para transformar uma marca em algo diferente do que seria.
Base para extensões: uma associação pode proporcionar a base de uma extensão, criando um senso de adequação entre o nome da marca e um novo produto, ou dando uma razão de compra da extensão.
OUTROS ATIVOS
O último item do composto do Brand Equity são os outros ativos pertencentes a empresa, tais como: patentes, marcas registradas e relacionamentos com canais de distribuição.
De acordo com Aaker (1998) esses ativos possuem uma força poderosa pelo fato de impedirem ou inibirem as ações dos concorrentes. Uma marca registrada protegerá o valor da marca contra concorrentes que tentarem confundir os consumidores utilizando nomes, símbolos ou embalagens semelhantes. Uma patente forte e relevante pode impedir a competição direta. Um canal de distribuição pode ser controlado por uma marca com um histórico de performance positiva. Para que um conjunto de ativos possa proporcionar valor à marca algumas questões devem ser respondidas:
Existem vantagens competitivas sustentáveis ligadas ao nome da marca que não estejam refletidas nas outras dimensões do brand equity?
Há uma patente ou marca registrada que seja importante?
Existem históricos de relacionamentos com canais de distribuição que propiciem barreiras aos concorrentes?
Percebe-se que as respostas para estas questões apontam o nível de relevância destes ativos para a marca. Por exemplo, se um conjunto de pontos comerciais puder ser explorado eficazmente por outra marca, não contribuirá para o fortalecimento do valor da marca. No caso do valor de uma patente puder ser transferido para outra marca sua contribuição será pequena.
3.5 Considerações sobre o capítulo
Observa-se relevância das marcas para o sucesso de uma organização que procura criar relacionamentos lucrativos com os seus clientes. É de suma importância um planejamento sobre as marcas, ou seja, como pensar em um processo de criação e manutenção de marcas fortes em mercados cada vez mais complexos e dinâmicos.
Muitas decisões devem ser levadas em consideração para criação e manutenção de marcas que conquistam a preferencia dos consumidores: nomes, layout, símbolos, etc. Cada elemento deve criar nos consumidores expectativas que devem ser atendidas por toda uma cadeia até que o produto ou serviço seja entregue ao cliente final. Dessa forma, através de um processo planejado de criação de marcas fortes, criar-se-á também uma maneira de gerar marcas que serão, na verdade, um pacote de valor para os clientes e para a empresa.