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3. Capítulo Laboratório Clínico

3.3 Garantia da Qualidade Laboratorial

3.3.3 Erros em laboratório

Todas as medições estão associadas a um erro, que se entende pela diferença entre o valor observado e aquele que seria o valor real de uma determinada quantidade medida. Como os valores verdadeiros são invariavelmente não conhecidos, a exata magnitude do erro envolvido num resultado analítico é também invariavelmente não conhecido. No entanto, é possível estimar a provável magnitude desses erros pelo estudo cuidado das propriedades da fase analítica. O Comité de métodos analíticos da Royal

Society of Chemistry afirma que “os resultados analíticos têm de ser acompanhados de uma indicação

quantitativa de incerteza, se não houver nenhum significado definido ao termo ou uma informação da interpretação dada. Se este requisito não poder ser cumprido, então existem fortes motivos para questionar se a análise deve ser realizada em todos” (Mullins, 2003). Incerteza é um parâmetro associado aos resultados obtidos pelas medições laboratoriais e que indica a dispersão dos valores, sendo, à semelhança do erro total, um indicador da qualidade e uma alternativa ao cálculo deste. A experiência sugere que a importância do erro na medição não é devidamente apreciada. Exemplo disso pode ser a medição de parâmetros que podem determinar existência ou não de uma dada patologia que pode consequentemente levar à necessidade de um tratamento indevido ou não.

Os termos bias e precisão são introduzidos para descrever a natureza dos erros da medição, sendo que é realizado em contexto dos estudos interlaboratoriais. A curva normal é discutida como o mais importante modelo estatístico para descrever e quantificar o erro analítico. Várias medidas da magnitude do erro analítico são então consideradas, como o desvio padrão, coeficiente de variação, repetibilidade e reprodutibilidade.

Quando se trata de avaliar uma provável magnitude de um erro analítico em qualquer resultado de um ensaio, é útil distinguir que tipo de erros pode ocorrer. Estes erros são frequentemente entendidos por erros sistemáticos e erros aleatórios, embora a distinção entre eles nem sempre seja tão definida como as palavras podem indicar. Estes dois tipos de variabilidade são frequentemente observadas em estudos interlaboratoriais.

Os erros aleatórios correspondem aos erros positivos ou negativos, cuja direção e magnitude não pode ser prevista. Estes revelam-se pela distribuição mais alargada dos pontos, aumentando a curva de Gauss, em virtude da imprecisão do método e podem ser expressos pelo desvio padrão ou coeficiente de variação. É desejável que se tenha um Controlo da qualidade mais apertado, no sentido de criar melhor qualidade nas medições, com vista a obter-se maior estabilidade dos pontos em torno da média. (Fornasini, 2008).

É no decorrer do Controlo interno da qualidade laboratorial que é passível a avaliuação dos erros aleatórios. Estes erros resultam das condições em que são efetuadas as medições (ambiente laboratorial), do operador, dos equipamentos, dos reagentes e calibradores, entre outros. Já os erros

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Todos os tipos de erros decorrentes do procedimento analíticos (TTP) estão agrupados em cada uma das três fases distintas acima mencionadas (pré-analítica, analítica e pós-analítica), conforme se apresenta a Tabela 3.1. A fase pré-analítica é naturalmente a que contribui com maior peso na percentagem de erros associados, sendo que a maior fatia desta fase diz respeito a procedimentos realizados fora da alçada do laboratório clínico e por esse motivo difíceis de monitorizar e controlar, pelo que para prevenção dos mesmos o laboratório deve fornecer os procedimentos escritos de preparação do doente.

Tabela 3.1 – Erros encontrados em cada fase do procedimento laboratorial (ISO/TS 22367, 2008).

Erros do ciclo TTP

Erros pré-analíticos

 Identificação incorreta do paciente

 Informação do diagnóstico incorreta ou insuficiente  Interpretação incorreta da prescrição médica  Preparação incorreta do paciente

 Recipiente ou conservante da amostra incorreto  Rotulagem incorreta do recipiente

 Preparação incorreta da amostra  Hora incorreta de recolha da amostra  Tempo e condições de transporte incorretas

Erros analíticos

 Discrepância de resultados do Controlo da qualidade  Procedimento em não conformidade

 Equipamento, reagente ou calibrador errado  Atraso na conclusão do procedimento

Erros pós-analíticos

 Resultados incorretos

 Transcrição incorreta dos resultados  Relatório ambíguo

 Resultado atribuído ao paciente errado  Relatório enviado ao paciente errado

 Falta de informação acerca das restrições na interpretação dos resultados

Na fase pré-analítica a identificação incorreta do paciente, informação incorreta ou insuficiente do diagnóstico e a interpretação incorreta da prescrição médica conduz a uma análise errada do estado do paciente, o que pode originar a presença ou ausência falsa de determinada patologia. Sendo que a preparação do doente para o exame pode também ser completamente errada.

Na preparação incorreta dos recipientes ou conservantes da amostra implica o aumento da imprecisão nos resultados obtidos e, por conseguinte, o possível aumento da variação entre os resultados no caso de ocorrer sistematicamente este tipo de erro.

Quanto à preparação da amostra, esta inclui centrifugação, pipetagem, preparação das amostras em alíquotas e diluição das amostras. A qualidade da amostra é um dos fatores relevantes para a qualidade

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dos resultados, sendo que uma má preparação da amostra condiciona a partida a qualidade dos resultados das medições.

A fase analítica é atualmente das fases de todo o procedimento laboratorial mais controlada pela existência de diversos indicadores da qualidade inerentes e uniformização dos procedimentos respeitantes, sendo que o número de erros associados tem diminuído fortemente nos últimos anos. No entanto, permanece sempre o risco de incorrer num dos erros mencionados como fator humano, contudo não é espectável que seja sistemático.

Na fase pós-analítica surgem, em geral, erros resultantes da má preparação da amostra (fase pré- analítica), bem como da análise crítica incorreta ou transcrição incorreta dos resultados o que condiciona a conclusão do procedimento laboratorial.

A utilização de diferentes unidades de medida e intervalos de aceitação na determinação dos parâmetros também é outra fonte de erro da fase pós-analítica e que proporciona o aumento da inexatidão laboratorial.

3.3.4 Avaliação dos Sistemas de Medição

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