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8. I ndicadores de estilos de vida sustentáveis e o posicionamento sobre

8.3. Escala de conectividade com a natureza

A análise da fatorabilidade dos dados também indicou adequação do banco de dados para realização da análise fatorial (KMO = 0,821; Teste de Esfericidade de Bartlett: x² = 1005,497; gl = 91; p ≤ 0,001). A primeira análise fatorial exploratória realizada considerou os valores próprios (eigenvalues) maiores que um. Essa gerou uma solução de quatro fatores, que, apesar de um bom índice de variância explicada (50,149%), também não condizia com as bases teóricas.

Posteriormente, realizamos uma extração que obedecia à perspectiva teórica adotada, sugerindo a unidimensionalidade da escala (Mayer & Frantz, 2004). O gráfico de sedimentação corrobora esse número, pois, indica a existência de um fator proeminente em relação aos demais (Figura 4).

Figura 4. Gráfico de Sedimentação da primeira extração fatorial realizada, a partir dos 14 itens da Escala de Conectividade com a Natureza.

Ao realizar essa extração, a variância explicada foi reduzida para 24,936%, e os itens 04, 12 e 14, que são revertidos durante a análise, não obtiveram cargas fatoriais acima de 0,30 e, por isso, foram excluídos. Suas redações expressavam uma não-conectividade com a natureza (04: “Frequentemente me sinto desconectado da natureza”; 12: “Quando penso no meu lugar

na Terra, me considero como um membro superior de uma hierarquia que existe na natureza”; e 14: “Meu bem-estar pessoal não depende do bem-estar do mundo natural”).

A extração seguinte a essa exclusão, manteve a fatorabilidade dos dados, e a variância explicada aumentou para 30,625%. A Tabela 27 contempla a denominação do fator, itens, respectivas cargas fatoriais e comunalidades (h²), valor próprio, percentuais de variância explicada e coeficiente Alfa de Cronbach. O histórico de eliminações de itens se encontra no apêndice G.

Tabela 27

Estrutura fatorial da Escala de Conectividade com a Natureza (Mayer & Frantz, 2004), com itens, cargas fatoriais, comunalidades (h²), número de itens, valor próprio, percentuais de variância e coeficientes Alfa de Cronbach

Itens Conteúdo Fator 1

11

Assim como uma árvore pode ser parte de uma floresta,

eu me sinto parte de um mundo natural mais amplo. 0,704 0,496 09 Com frequência eu me sinto parte da teia da vida. 0,645 0,416 01

É comum eu me sentir em conexão com o mundo natural

que me rodeia. 0,643 0,413

07

Eu sinto como se eu pertencesse ao planeta Terra da

mesma forma que ele me pertence. 0,635 0,404 05

Eu me imagino fazendo parte de um grande ciclo da

vida. 0,579 0,336

02

Eu considero o mundo natural como uma comunidade à

qual eu pertenço. 0,555 0,308

06

É frequente eu me sentir aparentado com animais e

plantas. 0,522 0,273

03

Reconheço e valorizo a inteligência de outros seres

vivos. 0,512 0,262

10

Eu acho que todos os habitantes da Terra, humanos e

não-humanos, compartilham a mesma “energia de vida”. 0,439 0,193 08

Tenho uma profunda compreensão de como minhas

ações afetam o mundo natural. 0,378 0,143 13

Eu não me sinto mais importante que a grama no chão,

ou que os pássaros nas árvores. 0,355 0,126 Valores próprios 3,369 - Percentual de Variância 30,625 - Percentual de Variância Acumulada 30,625 - Alfa de Cronbach 0,759 - Fator 1: Conectividade com a Natureza

O escore fatorial de conectividade com a natureza se associou significativamente com a adoção de práticas de cuidado ambiental (U de Mann Whitney = 17100,500; z = -4,404; p ≤ 0,005), conforme Tabela 28.

Tabela 28

Médias (M), desvios-padrão (DP) e mediana (Md) do fator de conectividade com a natureza para a variável prática de cuidado ambiental

Fator Tem/teve cuidado c/ ambiente?

Sim (n = 353) Não (n=131)

M (DP) Md M (DP) Md

Conectividade com a natureza

2,51* (0,56) 2,54 2,25* (0,58) 2,23

Esse resultado concorda com a literatura, na medida em que essa sugere que o sentimento de conectividade com a natureza se associa a elementos pró-ecológicos (Collado et al., 2015; Mayer & Frantz, 2004; Schultz, 2002). O que ressalta a importância de estimular com as crianças e adolescentes o contato com a mesma; afinal, esse contato desde cedo na infância contribui para existência de um cuidado ambiental na vida adulta (Collado et al., 2015). Esse é um enorme desafio para familiares e educadores, considerando fenômenos da atualidade que aumentam a artificialização das vivências e desconexão com o mundo que nos cerca, seja por causa do sentimento de insegurança pública, que impede que crianças se engajem em atividades extra-muros, ou pelo excesso de tecnologia que encantam os olhos dos pequenos e prendem atenção dos adolescentes.

As áreas rurais vêm sendo identificadas – ainda – como provedoras de maior contato com a natureza (Collado et al., 2015). E de fato, este estudo identificou associações significativas entre a conectividade e os adolescentes residentes no interior (U = 21798,500; z = -3,663; p = p ≤ 0,005), conforme Tabela 29.

Tabela 29

Médias (M), desvios-padrão (DP) e mediana (Md) do fator de conectividade com a natureza para a variável local de moradia

Fator Local de moradia

Interior (n = 178) Capital - Natal (n = 306)

M (DP) Md M (DP) Md

Conectividade com a natureza

2,57* (0,51) 2,59 * 2,36 (0,59) 2,40

Todavia, os autores chamam a atenção também para a qualidade desse contato, pois ele pode acontecer por diversos motivos e de diversas formas; pode ser uma relação utilitarista de lazer, ou de necessidade pelo trabalho, ou de hábito, por ser residente de áreas cercadas por espaços naturais. Esse é um risco que envolve as cidades participantes, principalmente no interior, afinal, o hábito pode se associar à apatia. Ao considerar que esse estudo não encontrou associação entre o cuidado ambiental e o local de moradia (esse foi declarado em proporções semelhantes tanto por moradores do interior como na cidade), destaca-se tal ressalva para projetos de educação ambiental, estimulando uma conectividade com a natureza que tenha um sentido de pertencimento apontado pela literatura (Olivos et al., 2011), e vinculada a uma perspectiva de futuro, como dimensão psicológica da sustentabilidade (Corral-Verdugo, 2011).

Com uma análise da correlação entre os escores fatoriais da conectividade com a natureza e da orientação de futuro da IPT, foi possível observar dados que corroboram a discussão do parágrafo anterior, uma vez que as duas variáveis se correlacionaram expressiva e significativamente em r = 0,37.

O escore ponderado de conectividade com natureza gerou uma média de 2,44 (DP = 0,58), com limites mínimo de 0,84 e máximo de 3,80, que são valores que podem ser considerados baixos para a escala utilizada. Há um cenário natural que estimularia a conectividade com a natureza nos adolescentes, com praias, parques e sítios, por exemplo; mas, como dito anteriormente, também temos videogames, iphones, internet e netflix, além de um

cotidiano marcado pelo imediatismo e pressa nas famílias, oriundos de uma lógica neoliberal (Ladner, 2009; Southerton, 2003). Esses dados, portanto, embasaram a necessidade de questionar sobre o sentimento de conectividade com a natureza também nas rodas de conversa realizadas.

Para além disso, a escola pode assumir um papel importantíssimo diante desse cenário, afinal, como afirma Caetano (2014), essa instituição, como detentora de conhecimentos sobre desenvolvimento pedagógico e humano, tem por obrigação o papel de aproximar os pais e responsáveis da discussão crítica sobre fenômenos sociais e sobre aprendizagem e, porque não, sobre a relação com o meio ambiente – superando aquela dicotomia entre escola, que ensinaria conhecimentos científicos, e família, que educaria com base em seus princípios. A escola é um espaço privilegiado para dar o primeiro passo nessa aproximação, não precisando aguardar que seja uma iniciativa apenas da família (Caetano, 2014), já que, nela, existem profissionais que podem fazer o papel de guias experientes para surgimento de competências ambientais (Heft & Chawla, 2005), não só nos alunos, mas também nos seus familiares e responsáveis.

Com relação ao posicionamento sobre MCs da etapa 01, esse estudo encontrou associação significativa entre a conectividade com a natureza e a atribuição de responsável (U =16249,500; z = -2,250; p ≤ 0,05) e a percepção de consequências locais (U = 21498,00; z = - 2,184; p ≤ 0,05), conforme Tabelas 30 e 31.

Tabela 30

Médias (M), desvios-padrão (DP) e mediana (Md) do fator de conectividade com a natureza para a variável de atribuição de responsáveis

Fator Atribuição de responsável

Sim (n = 116) Não (n =326)

M (DP) Md M (DP) Md

Conectividade com a natureza

Tabela 31

Médias (M), desvios-padrão (DP) e mediana (Md) do fator de conectividade com a natureza para a variável de percepção de consequências locais

Fator Percepção de consequências locais

Sim (n = 339 ) Não (n = 145 )

M (DP) Md M (DP) Md

Conectividade com a natureza

2,47* (0,59) 2,53 2,37* (0,53) 2,34

É interessante notar que a média de conectividade foi maior por parte daqueles que atribuíram responsabilidade pelas MCs, mas não houve associação de outras categorias como causa, consequências gerais ou solução. Seria a discussão de responsabilidades um caminho promissor para ampliar a visualização das MCs no âmbito local? Como já mencionado, a percepção de responsabilidade tem sido apontada como um preditor de comportamentos pró- ambientais (Kaiser & Shimoda, 1999), e tem aparecido nos estudos de forma espontânea (Barros & Pinheiro, 2013). Assim, tal resultado reforça que essa atribuição seja debatida pela educação ambiental, porém, de modo que possa ser modificada para além da culpabilização, em direção ao engajamento em ações de mitigação.

Em relação à associação da CN com a percepção de consequências locais, é possível afirmar que há uma concordância com a literatura. A conectividade com a natureza pressupõe a vivência, a experiência no e em contato com os cenários locais, sendo assim, faz sentido que a observação de impactos nesses locais tenha sido feita por pessoas com maior média de conectividade. Tais achados caminham na direção do fortalecimento dos pressupostos teóricos adotados por essa tese, ao entender que a consideração das MCs pode ser maior e mais bem feita pelas pessoas à luz de indicadores de estilos de vida sustentáveis. Isso porque, além da conectividade com a natureza ter se associado, por um lado, com a percepção dos impactos

locais e, por outro, com as práticas de cuidado ambiental, a percepção dos impactos locais também se associou com as práticas de cuidado.

Com base nesses achados, também realizei análises de regressão logística com vistas à investigação de associações integradas entre os indicadores utilizados (variáveis preditoras) e o posicionamento sobre mudanças climáticas (variáveis critério). Algumas relações significativas foram obtidas, porém com um R² muito baixo – por isso optei por não me deter na análise de tais resultados. Isso pode ter ocorrido devido a vieses metodológicos do próprio estudo, e não porque não haja relações quantificáveis entre posicionamento sobre MCs e indicadores de EVS. Esses vieses se referem à natureza exploratória do estudo, que optou por utilizar questões abertas sobre MCs, obtendo dados qualitativos a serem explorados em associação com dados quantitativos oriundos das escalas. Nesse sentido, as associações obtidas pela regressão condizem com os achados descritos acima, e, apesar de sua limitação, sugerem caminhos para novas investigações que busquem – a partir desse primeiro esforço exploratório – aprofundar-se nessas interações, de modo diretamente quantitativo, se for esse o caminho escolhido para análise dessas relações. Importante lembrar também que indicadores de EVS como os utilizados aqui têm sido cotejados com variáveis indicadoras de predisposições e comportamentos pró-ecológicos de outros níveis, que não os relativos às MCs.

9. A contribuição de professores: um olhar sobre o posicionamento e