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Posicionamento de adolescentes sobre mudanças climáticas e estilos de vida sustentáveis: (re)significando o planeta e o futuro?

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Programa de Pós-Graduação em Psicologia

Posicionamento de adolescentes sobre mudanças climáticas e estilos de vida sustentáveis: (re)significando o planeta e o futuro?

Hellen C. L. Barros

Natal – RN 2019

(2)

Hellen Chrystianne Lucio Barros

Posicionamento de adolescentes sobre mudanças climáticas e estilos de vida sustentáveis: (re)significando o planeta e o futuro?

Tese elaborada sob a orientação do Prof. Dr. José de Queiroz Pinheiro e apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Doutora em Psicologia.

Natal – RN 2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA

Barros, Hellen Chrystianne Lucio.

Posicionamento de adolescentes sobre mudanças climáticas e estilos de vida sustentáveis: (re)significando o planeta e o futuro / Hellen Chrystianne Lucio Barros. - Natal, 2019. 285f.: il. color.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-graduação em Psicologia. Natal, RN, 2019.

Orientador: Prof. Dr. José de Queiroz Pinheiro.

1. Mudanças climáticas - Tese. 2. Percepção - Tese. 3. Adolescentes - Tese. 4. Estilo de vida sustentável - Tese. 5. Abordagem multimetodológica - Tese. I. Pinheiro, José de Queiroz. II. Título.

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Programa de Pós-Graduação em Psicologia

A tese “Posicionamento de adolescentes sobre mudanças climáticas e estilos de vida sustentáveis: (re)significando o planeta e o futuro?”, elaborada por Hellen Chrystianne Lucio Barros, foi considerada aprovada por todos os professores da Banca Examinadora e aceita pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia, como requisito parcial à obtenção do título de DOUTORA EM PSICOLOGIA.

Natal, RN, 10 de Dezembro de 2018.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. José de Queiroz Pinheiro (presidente) Profa Dra Maria Inês Gasparetto Higuchi (UFAM/INPA)

Prof. Dr. Gustavo Martineli Massola (USP) Profa Dra Tatiana de Lucena Torres (UFRN) Profa Dra Cimone Rozendo de Souza (UFRN)

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Ella (la utopía) está en el horizonte — dice Fernando Birri—. Me acerco dos pasos, ella se aleja dos pasos. Camino diez pasos y el horizonte se corre diez pasos más allá. Por mucho que yo camine, nunca la alcanzaré. ¿Para qué sirve la utopía? Para eso sirve: para caminar EDUARDO GALEANO

Educação ambiental não pode ser que nem um trem, que para em qualquer estação. Ela tem que continuar, seguir... PROFESSOR ENTREVISTADO

(6)

Dedico esta tese aos meus pais que possibilitaram o início dessa jornada, a Marcel que me segurou, dirigiu – literalmente – e evitou que eu tropeçasse pelo caminho, e a Zé que acreditou em mim para que a jornada continuasse, e me serviu de bússola.

(7)

Agradecimentos

É extremamente desafiador romper uma página em branco, principalmente se for para agradecer. Tenho tanto a dizer, tantas pessoas a quem agradecer, que se torna difícil organizar o pensamento e preencher tais páginas. Uma certeza que tenho é que elas não serão suficientes para expressar tamanha gratidão que sinto ao finalizar essa longa jornada.

O início dessa jornada não foi o ingresso no curso de doutorado. Não, essa jornada se iniciou muito antes, arrisco dizer que começou no dia em que recebi a notícia de que fui aprovada no vestibular para cursar psicologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Por isso, meu profundo agradecimento aos meus pais. Desde a escola, durante vestibular, durante todo curso de graduação, durante meu mestrado, e agora durante o doutorado, eles foram fonte de suporte, apoio, foram solidez, foram lucidez. Obrigada.

Hoje posso afirmar que a psicologia é meu lugar, de trabalho, de pesquisa, de afetos, e a psicologia ambiental tem toda parte nisso. Não caí nessa área de pesquisa à toa, avalio que construí meu caminho nela. Tudo começou em 2006, durante meu segundo ano de graduação, com uma disciplina complementar chamada “Comprometimento Ambiental & Conduta Sustentável”, ministrada por um dos professores mais temidos de minha turma, com fama de rígido e antipático. O professor Pinheiro.

O cuidado com o meio e a ideia de educação ambiental sempre me atraíram, por isso, mesmo diante do “difícil” professor, fui lá e me matriculei. A cada aula, a cada conteúdo eu me interessava mais e mais. O receio de aproximação com o “rígido” docente continuava, mas suas discussões, os debates trazidos e até os elogios aos trabalhos que eu entregava me motivaram a buscar uma participação voluntária no seu grupo de pesquisa, o Grupo de Estudos Inter-Ações Pessoa-Ambiente (GEPA). Não tive coragem de perguntar ao professor Pinheiro sobre o grupo

(8)

pessoalmente, hoje posso admitir isso. Tinha vergonha de levar uma resposta antipática. Daí escrevi um e-mail com a maior cautela que pude. O texto dizia: “Professor, ia te perguntar na aula de hoje, mas acabei esquecendo”. Esquecendo? Claro que não. Mas me pareceu plausível. E insisti: “Enviar e-mail me impede obviamente de esquecer de novo!!!!” Com as exclamações e tudo, continuei: “Você aceita voluntários na base de pesquisa? Como agora é final de ano eu não sei se realmente tem condições, já que os projetos estão em andamento, mas eu gostaria muito de conhecer mais a respeito dessa área ... enfim... é isso!”. É isso. Foi isso.

Minha jornada no GEPA começou em 2006, continuou e continua. O outrora professor Pinheiro deu espaço rapidamente ao Zé. E o que dizer ao Zé? Não existe palavra que descreva a minha imensa gratidão ao longo desses doze anos de parceria; professor da iniciação científica, orientador de mestrado, de doutorado, orientador da minha postura profissional enquanto psicóloga, enquanto pesquisadora, enquanto Hellen. Obrigada! Eu não seria a pessoa e a profissional de hoje se não fosse por você. Se eu conseguir inspirar em um aluno toda a ética, postura, sensibilidade, simpatia (sim simpatia!), seriedade e humanidade que você me inspira, terei cumprido uma parte de minha missão enquanto docente. Eu não teria construído essa trajetória se não fosse por seu apoio, acadêmico, intelectual, emocional. Obrigada!

Agradeço também a todos os colegas do GEPA, fonte de suporte e incentivos, Raquel, Tadeu, Fernanda, Alexandra, Cíntia, Leonardo, em especial a Claudinha e aos nossos cafés, um apoio afetivo essencial durante a construção da tese. E ainda, agradeço imensamente a Gleice, professora e pesquisadora exemplar, a quem sempre admirei.

Agradeço aos meus amigos e familiares que de uma forma ou de outra sempre se fizeram presentes, em especial Juliana, Mariana, com quem sempre dividi meus dramas acadêmicos. À Lui, pela redução de tensões. Agradeço aos meus sogros, Vera e Marcílio, pelas comidas deliciosas em tempos de estresse, pelas palavras acolhedoras, e até pelas dicas de português do professor Marcílio.

(9)

Agradeço às amigas que a vida de professora me presentou, e que me deram suporte durante essa caminhada, Martha, Carol, em especial a Cíntia Gallo, que me auxiliou no retorno à docência, que época maravilhosa trabalhar com vocês. Obrigada.

Agradeço ainda a Nívia, Gabi, Ana Isaura, Antonimária, Vânia, Carina, pelos papos e descontrações psicológicas diante das dificuldades enfrentadas no cotidiano da docência, vocês me inspiram! Inspiram a me construir e reconstruir a cada semestre enquanto psicóloga, enquanto professora, obrigada pela caminhada, diante das dores e sabores da rotina docente. Em especial à Astrid, por ter me auxiliado tanto na conciliação de horários entre esse cotidiano e finalização da tese. A vocês minha gratidão.

É com imenso prazer que agradeço aos 484 adolescentes e às 8 escolas participantes, aos professores das mesmas que me receberam com muita disposição, atenção e interesse. Ao Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFRN, que tornou todo esse esforço possível, à CAPES, pela concessão de bolsa de estudos. Agradeço, especialmente, aos professores Maria Inês Higuchi, Tatiana Torres, Cimone Rozendo, Jorge Sarriera e Gustavo Massola pelas contribuições, diálogos, e inspirações geradas durante o andamento e finalização da tese, e a todos os meus mestres que estiveram presentes nessa trajetória acadêmica.

Por fim, e principalmente, é preciso agradecer a Marcel. Mais uma vez fico sem palavras apropriadas para descrever o meu agradecimento. É como diz aquela música do PaulMcCartney (que ele absolutamente adora): “Blackbird singing in the dead of night, take these broken wings and learn to fly; all your life, you were only waiting for this moment to arise”. Assim como esse blackbird, eu mudei minha perspectiva, meu estilo de vida. Marcel me inspirou, juntou meus cacos, me apoiou; ajudou a voar, me guiou, me dirigiu – nesse caso literalmente; meu motorista para coleta de dados de norte a sul, pelas estradas que me levaram às cidades participantes. Lutou batalhas comigo, estava lá para qualquer queda, para qualquer crise, para qualquer problema. Sem Marcel, não haveria doutorado. Não haveria Hellen. Obrigada.

(10)

Sumário

Lista de Figuras...xiv Lista de Tabelas...xv Resumo...xvii Abstract...xviii Resumen...xix Apresentação...20 Introdução...24

1.

Mudanças Climáticas...

...29

1.1. O que são mudanças climáticas?...30

1.1.1. O quinto relatório de avaliação do IPCC...32

1.1.2. Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas...33

1.2. Mitigação das MCs e adaptação aos seus impactos...35

1.2.1. Adaptação e vulnerabilidade...36

1.2.2. Medidas de mitigação...40

1.2.3. Mitigação e fontes renováveis de energia...43

2.

Dimensões psicológicas e sociais

...47

2.1. Percepção, conhecimentos, fantasias e escala...48

2.1.1. A percepção das mudanças climáticas...48

2.1.2. O conhecimento sobre mudanças climáticas...50

2.1.3. Crenças, ideias e fantasias sobre o problema...52

2.1.4. Mudanças climáticas: uma questão de escala?...55

2.2. Comunicação das MCs...57

2.2.1. Aspectos sociais e midiáticos...57

2.2.2. Percepção de risco...60

2.2.3. Aspectos afetivos...61

3.

Sustentabilidade e Psicologia

...65

3.1. De um compromisso pró-ecológico a um estilo de vida sustentável...66

3.2. A orientação de futuro...69

3.3. Conectividade com a natureza...72

3.4. Práticas de cuidado com o meio ambiente...76

(11)

4.

Adolescência, sustentabilidade e mudanças climáticas

...78

4.1. A adolescência...79

4.2. Adolescentes, ambiente e estilos de vida sustentáveis...83

4.3. O adolescente diante das mudanças climáticas globais...88

5.

A proposta do estudo

...94

5.1. O olhar ecológico...95

5.1.1. A orientação pró-sustentabilidade na perspectiva ecológica...98

5.1.2. O tempo na experiência ambiental...102

5.2. Declaração de objetivos...104

6.

Método

...105

6.1. Primeira etapa do estudo...107

6.1.1. Participantes...107

6.1.2. Composição do questionário...112

6.1.3. Procedimentos...116

6.1.4. Análise de dados... 117

6.2. Fase mediadora: entrevistas exploratórias com professores...118

6.2.1. Procedimentos e roteiro semiestruturado das entrevistas...118

6.3. Segunda etapa do estudo: As rodas de conversa com os adolescentes...121

6.3.1. Procedimentos para rodas de conversa: devolutivas e melhor “aprofundamento” do posicionamento sobre mudanças climáticas...122

6.4. Análise dos dados das entrevistas e rodas de conversa...125

7.

O posicionamento dos adolescentes sobre mudanças climáticas...128

7.1. Categorizações do posicionamento diante das MCs...128

7.1.1. Categoria Causa...131

7.1.2. Categoria Consequência...134

7.1.3. Categoria Solução...140

7.1.4. Categoria Atribuição de responsabilidade...141

7.1.5. Categoria Menção à temporalidade...143

7.1.6. Tipo de escola, gênero e idade influindo no posicionamento...145

7.2. Avaliando a gravidade das MCs nas escalas espacial e temporal...148

7.3. Compondo um posicionamento de base afetiva...152

8. I

ndicadores de estilos de vida sustentáveis e o posicionamento sobre

mudanças climáticas

...

156

(12)

8.1. Práticas de cuidado ambiental...156

8.2. Inventário de perspectiva temporal...159

8.3. Escala de conectividade com a natureza...166

9.

A contribuição de professores: um olhar sobre o posicionamento e

contexto ecológico do adolescente...174

9.1. Ideias dos professores sobre a relação: adolescente e MCs...176

9.1.1. Visão de MCs como mais um problema ambiental...177

9.1.2. Estratégias e ferramentas para abordar o tema...178

9.1.3. Contato com a prática...180

9.1.4. Interdisciplinaridade...182

9.1.5. Desafios para abordar/comunicar sobre o tema...184

9.1.6. Visão positiva sobre o jovem...186

9.2. Contexto de inserção do adolescente...189

9.2.1. MCs como conteúdo programático...189

9.2.2. Projetos esporádicos sobre temas do meio ambiente...189

9.2.3. Inexistência de projetos sobre MCs...190

9.2.4. Dificuldades institucionais...190

9.2.5. Contato com a realidade e com a natureza...193

9.2.6. Presença de guias: pessoas experientes...196

9.2.7. Continuidade e interdependência...198

9.3. Opinião dos professores sobre o questionário aplicado ao adolescente...200

9.3.1. Preocupação com o desconhecimento sobre o problema...200

9.3.2. Sentimento de surpresa ao saber do viés do otimismo...201

9.3.3. Questionário compreendido como prova pelo aluno...204

9.3.4. Não compreensão da diferença entre “clima” e “tempo”...205

9.4. Contribuições diretas sobre estratégias e tópicos de discussão para rodas de conversa...205

9.4.1. Predominância do tema lixo (como causa)...206

9.4.2. Consequências e soluções - globais e locais...206

9.4.3. Sentimento de satisfação e interesse ao ser implicado...207

9.4.4. Viés do otimismo na interpretação dos adolescentes...207

9.4.5. Como o adolescente se vê conectado...208

10.

As rodas de conversa: aprofundando o posicionamento dos

adolescentes e integrando a análise dos dados...209

10.1. Aprofundamento das noções de “causa”...209

10.2. Aprofundamento das noções de consequências (globais e locais)...214

10.3. Explorando possíveis soluções (locais e globais)...217

(13)

10.5. A conectividade com a natureza e seus sentidos...227

11.

Considerações finais

...235 Referências... 242 Apêndice A...256 Apêndice B...260 Apêndice C...263 Apêndice D...267 Apêndice E...270 Apêndice F...278 Apêndice G...281 Anexo A...283

(14)

Lista de Figuras

Figura Página

1 Expressão gráfica do viés do otimismo constatado na escala espacial 149

2 Expressão gráfica do viés do otimismo constatado – temporalidade 151

3 Gráfico de Sedimentação da primeira extração fatorial realizada, a partir dos 27 itens do Inventário de Perspectiva Temporal

160

4 Gráfico de Sedimentação da primeira extração fatorial realizada, a partir dos 14 itens da Escala de Conectividade com a Natureza

(15)

Lista de Tabelas

Tabela Página

1 Escolas e séries participantes, por cidade e tipo de instituição 108

2 Quantitativo de participantes por escolas e séries 109

3 Média de idade dos participantes e descrição de acordo com o gênero 111

4 Frequência absoluta e percentual de ocorrência das categorias encontradas 129

5 Frequência absoluta e percentual de ocorrência das subcategorias de causas 132

6 Trechos de respostas referentes às causas, de acordo com as subcategorias 134

7 Frequência absoluta e percentual de ocorrência das subcategorias de consequências gerais das MCs

135

8 Trechos de respostas referentes às consequências gerais, de acordo com as subcategorias

137

9 Frequência absoluta e percentual de ocorrência das consequências LOCAIS das MCs

137

10 Frequência absoluta e percentual de ocorrência das subcategorias de solução das MCs

140

11 Trechos de respostas referentes às soluções, de acordo com as subcategorias 141

12 Frequência absoluta e percentual de ocorrência das subcategorias de atribuição de responsabilidade pelas MCs

141

13 Trechos de respostas referentes às atribuições de responsabilidade, de acordo com as Subcategorias

143

14 Frequência absoluta e percentual de ocorrência das subcategorias de menção à temporalidade

144

15 Trechos de respostas referentes às menções de temporalidade, de acordo com as Subcategorias

144

16 Frequência absoluta (f) e frequência esperada (fe) das associações entre indicação da categoria causa e o tipo de escola

145

17 Frequência absoluta (f) e frequência esperada (fe) das associações entre indicação da categoria consequência geral e o tipo de escola

146

18 Frequência absoluta (f) e frequência esperada (fe) das associações entre indicação da categoria atribuição de responsabilidade e o tipo de escola

146

19 Frequência absoluta (f) e frequência esperada (fe) das associações entre indicação da categoria mensagens de conservação e o tipo de escola

(16)

20 Frequência absoluta de indicações de gravidade das MCs de acordo com as escalas espaciais: cidade, país e mundo

149

21 Frequência absoluta de indicações de quando são ou serão graves as MCs de acordo com as escalas espaciais: cidade, país e mundo

151

22 Frequência absoluta e percentual de ocorrência do posicionamento de base afetiva 155

23 Frequência absoluta (f) e frequência esperada (fe) das associações entre indicação da categoria consequência geral e o cuidado ambiental

158

24 Frequência absoluta (f) e frequência esperada (fe) das associações entre a percepção da categoria consequência local e o cuidado ambiental

159

25 Estrutura fatorial do Inventário de Perspectiva Temporal (Bardagi et al., 2015), com itens, cargas fatoriais, comunalidades (h²), número de itens, valores próprios, percentuais de variância e coeficientes Alfa de Cronbach.

161

26 Médias (M), desvios-padrão (DP) e mediana (Md) do fator de visão ansiosa de futuro para a variável Não sei

165

27 Estrutura fatorial da Escala de Conectividade com a Natureza (Mayer & Frantz, 2004), com itens, cargas fatoriais, comunalidades (h²), número de itens, valor próprio, percentuais de variância e coeficientes Alfa de Cronbach

168

28 Médias (M), desvios-padrão (DP) e mediana (Md) do fator de conectividade com a natureza para a variável prática de cuidado ambiental

169

29 Médias (M), desvios-padrão (DP) e mediana (Md) do fator de conectividade com a natureza para a variável local de moradia

170

30 Médias (M), desvios-padrão (DP) e mediana (Md) do fator de conectividade com a natureza para a variável de atribuição de responsáveis

171

31 Médias (M), desvios-padrão (DP) e mediana (Md) do fator de conectividade com a natureza para a variável de percepção de consequências locais

172

32 Aspectos norteadores para análise das entrevistas e eixos temáticos extraídos a partir de cada aspecto

176

(17)

Resumo

O objetivo deste estudo foi investigar como os adolescentes se posicionam diante das mudanças climáticas (MCs), e como esse posicionamento se associa a indicadores de estilos de vida sustentáveis. A abordagem multimetodológica utilizada constou de duas etapas. Na primeira, um questionário foi aplicado a 484 estudantes, com média de idade de 15,5 anos (DP = 1,34), de escolas públicas e particulares, nas cidades de Natal, Arez e São Miguel do Gostoso, no estado do Rio Grande do Norte. Uma fase mediadora foi conduzida, por meio de 11 entrevistas exploratórias com professores desses alunos, elucidando informações provenientes da primeira etapa e auxiliando na estruturação da segunda, que correspondeu à realização de nove rodas de conversa com alguns dos respondentes do questionário. As causas do problema foram a categoria mais indicada nos questionários, com temáticas associadas à poluição pelo acúmulo de lixo e poluição do ar. Ao mesmo tempo, 70% dos adolescentes mencionaram perceber consequências locais. Um viés de otimismo espacial foi constatado: os adolescentes avaliaram que as MCs são mais graves para o mundo do que para suas cidades. Identifiquei que 73% afirmaram praticar ações de cuidado ambiental, o que se associou com a percepção de consequências das MCs, e com a conectividade com a natureza, que também foi significativamente associada com a atribuição de responsabilidade pelo problema. Os dados obtidos pelas rodas de conversa auxiliaram no aprofundamento e esclarecimento dos resultados anteriores. Os adolescentes explicaram porque entendem que o lixo desempenha papel importante, forneceram interpretação para o viés do otimismo, e indicaram maior variabilidade de ações em que consideram ser possível se engajar com vistas à mitigação das MCs. Este estudo, portanto, enfatiza a importância de abordagens multimetodológicas, e ressalta norteadores para projetos de educação socioambiental pautados na percepção desse público.

Palavras-chave: mudanças climáticas; percepção; adolescente; estilo de vida sustentável;

abordagem multimetodológica.

(18)

Abstract

The objective of this study was to investigate how adolescents position themselves in the face of climate change (CC) and how this positioning is associated with indicators of sustainable lifestyles. The multi-method approach used consisted of two steps. In the first one, a questionnaire was applied to 484 students, with a mean age of 15.5 years (SD = 1.34), of public and private schools in the cities of Natal, Arez and São Miguel do Gostoso, in the state of Rio Grande do Norte. A interceding phase was conducted, whereby 11 exploratory interviews with teachers of these students were performed, in order to elucidate previous information from the first stage and to assist the structure of second step, which involved nine focal groups with some of the questionnaire respondents. The causes of the problem were the most indicated category in the questionnaires, with issues associated with pollution by the accumulation of garbage and air pollution. At the same time, 70% of adolescents mentioned perceiving local consequences. A bias of spatial optimism was found: adolescents assessed MCs as more serious to the world than to their cities. I identified that 73% affirmed to practice environmental care actions, which was associated with the perception of consequences of MCs, and with connectivity with nature, which was also significantly associated with the assignment of responsibility for the problem. The data obtained by the focal groups helped to deepen and clarify the previous results. The adolescents explained why they understand that garbage plays an important role, provided an interpretation for the bias of optimism, and indicated a greater variability of actions in which they consider that it is possible to engage in mitigation of CC. This study, therefore, emphasizes the importance of multi-methodological approaches, and highlights guiding principles for socio-environmental education projects based on the perception of this public.

(19)

Resumen

El objetivo de este estudio fue investigar cómo los adolescentes se posicionan ante el cambio climático (CC), y cómo ese posicionamiento se asocia a indicadores de estilos de vida sostenibles. El enfoque multimetodológico utilizado consta de dos etapas. En la primera, un cuestionario fue aplicado a 484 estudiantes, con edad media de 15,5 años (DP = 1,34), de escuelas públicas y particulares, en las ciudades de Natal, Arez y São Miguel do Gostoso, en el estado de Rio Grande do Norte. Una fase mediadora fue conducida, por medio de 11 entrevistas exploratorias con profesores de esos alumnos, para elucidar informaciones provenientes de la primera etapa y para auxiliar en la organización de la segunda, que correspondió a la realización de nueve grupos focales con algunos de los encuestados del cuestionario. Las causas del problema fueron la categoría más indicada en los cuestionarios, con temáticas asociadas a la contaminación por la acumulación de basura y la contaminación del aire. Al mismo tiempo, el 70% de los adolescentes mencionaron percibir consecuencias locales. Un sesgo de optimismo espacial fue constatado: los adolescentes evaluaron que el CC es más graves para el mundo que para sus ciudades. Además, se observó que el 73% afirmaron practicar acciones de cuidado ambiental, lo que se asoció con la percepción de las consecuencias de las MC, y con la conectividad con la naturaleza, que también fue significativamente asociada con la atribución de responsabilidad por el problema. Los datos obtenidos por los grupos focales ayudaron en la profundización y aclaración de resultados anteriores. Los adolescentes explicaron porque entienden que la basura desempeña un papel importante, proporcionaron interpretación para el sesgo del optimismo, y indicaron mayor variabilidad de acciones en las que consideran posible involucrarse con miras a la mitigación del CC. Este estudio, por lo tanto, enfatiza la importancia de enfoques multi-metodológicos, y resalta orientadores para proyectos de educación socio-ambiental pautados en la percepción de ese público.

Palabras clave: cambio climático; percepción; adolescente; estilo de vida sostenible; enfoque

(20)

Apresentação

Nos últimos anos, muito tem se falado a respeito do meio ambiente e de problemas ambientais, já sendo uma realidade a gravidade destes problemas (Corral-Verdugo, 2010; Held, 2001; Lago, Amaral, & Mühl, 2013; Milbrath, 1995). Observa-se um aumento da atenção dada pela mídia e de conferências e reuniões internacionais para debate desses, como por exemplo, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro em 1992, conhecida como Rio 92, a posterior e mais recente Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, também no Rio de Janeiro em 2012, conhecida como Rio+20. Além das Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, conhecidas como COPs, tais como a COP 15, em Copenhagen, na Dinamarca, que ocorreu em dezembro de 2009, e a COP 21, realizada em 2015, em Paris, objetivando a discussão do fenômeno e o estabelecimento de acordos para redução na emissão de gases e enfrentamento das mudanças climáticas (MCs).

Por meio desses debates, as evidências científicas sobre o papel humano envolvido nos diversos problemas ambientais são cada vez mais conhecidas e inegáveis (Corraliza, 1997; Corral-Verdugo, 2010; Olson, 1995; Oskamp, 2000). Logo, eles podem ser considerados como problemas humano-ambientais (Pinheiro, 1997). Por um lado, porque podem ser causados ou intensificados pela ação humana e, por outro, porque as consequências destes problemas são e serão vivenciadas pelos seres humanos, afetando tanto sua qualidade de vida no planeta, quanto a própria sobrevivência. O dilema ambiental atual reside em um conflito entre desejos humanos de obter e consumir mais recursos e a necessidade de conservar esses recursos (Corral-Verdugo,

(21)

2010). A crise ambiental deflagrada na atualidade é, portanto, uma crise de ordem humana (Lago, Amaral, & Mühl, 2013).

O advento da noção de sustentabilidade intensificou a atenção dada aos aspectos sociais e humanos da preservação ecológica, esta deixou de ser meramente física e de conservação imediata, para ser pensada em aspectos culturais e de futuro. A sustentabilidade passa a ser entendida como um modo possível de existência de todos os ecossistemas, e tem entre seus princípios a interdependência entre a diversidade ecológica e social, atualmente e no futuro, nas localidades dos indivíduos e em todo o globo (Corral-Verdugo, Bonnes, Tapia-Fonllem, Fraijo-Sing, Frías-Armenta, & Carrus, 2009; Corral-Verdugo, 2010).

Nesse contexto, as MCs, também chamadas de mudanças climáticas globais, correspondem a um problema humano-ambiental complexo que continua se agravando, considerando que os comportamentos humanos de emissão de carbono continuam intensos e insustentáveis (Gifford, 2008; IPCC, 2014a; PBMC, 2014a; Scannel & Gifford, 2013). Assim, estudos dos aspectos psicológicos relacionados à temática são de extrema relevância, pois permitem investigações que busquem maior compreensão de comportamentos de degradação ambiental, engajamento e aceitação de políticas públicas para proteção ecológica, além da compreensão de elementos atrelados à adoção de estilos de vida sustentáveis, de barreiras psicológicas para esta adoção, dentre outros aspectos psicológicos presentes na interação pessoa-ambiente (Gifford, 2008; 2014; Milbrath, 1995; Werner, 1999).

Foi com algumas dessas inquietações que comecei enquanto bolsista de iniciação científica, durante minha graduação em psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a investigar as dimensões psicológicas envolvidas nas MCs (Barros & Pinheiro, 2008). Esta trajetória me levou à realização do mestrado na área, pelo Grupo de Estudos Inter-Ações Pessoa-Ambiente (GEPA-UFRN), buscando investigar o que os adolescentes natalenses conheciam sobre o assunto e se esse conhecimento se associaria a um

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compromisso pró-ecológico por parte dos mesmos (Barros, 2011). Os resultados de minha dissertação indicaram conhecimento confuso sobre o tema pelos participantes do estudo, e revelaram associações entre o desconhecimento sobre o que seria aquecimento global e o desinteresse por questões ambientais.

Naquele momento, a questão feita aos adolescentes era aberta e pedia para que imaginassem que estavam explicando sobre o aquecimento global a um amigo, e, assim, o que diriam a respeito. O que busco hoje, a partir dos dados encontrados em 2011, é aprofundar e ampliar esse conhecimento e entender como se posicionam sobre o tema, utilizando, para isso, o termo mudanças climáticas globais. Existem diferentes compreensões quando se utiliza o termo aquecimento global e quando se utiliza mudanças climáticas. Em um estudo feito no Reino Unido, constatou-se que o primeiro foi mais relacionado a uma problemática com causas antropogênicas, e o segundo muito mais associado a causas naturais (Whitmarsh, 2009). O esclarecimento dessas diferenças pode contribuir para fomentar a comunicação das MCs em projetos de educação socioambiental.

Para além disso, nestes mais de sete anos desde a coleta inicial, alguns aspectos mudaram. A mídia já começa a tratar o tema com o termo MCs, e não apenas como aquecimento global, bastante utilizado em 2010. O assunto também é mais tratado no cenário nacional, em jornais e pela documentação científica, e por meio, ainda, do maior desenvolvimento de fontes renováveis de energia. A temática também parece chegar mais aos adolescentes e jovens em idade escolar, devido às cobranças representadas pelo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que, ano após ano, traz questões sobre sustentabilidade, aspectos energéticos e mudanças climáticas em si. Questões nas provas de 2009, 2011 e 2016 ilustram isso e, à guisa de exemplo, algumas delas foram dispostas no anexo A desta tese. Assim, é pertinente questionar: como os adolescentes se posicionam atualmente sobre MCs?

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e Lorenzoni, Nicholson-Cole e Whitmarsh (2007), que utilizam o termo engajamento para se referirem a tal posição, em sentido abrangente. Este engajamento é muito mais do que a ação em si, e muito mais do que a consciência da existência do problema, inclui conhecer, se importar com, e estar disposto a agir considerando as MCs (Scannel & Gifford, 2013). Em português, “engajar-se” está muito atrelado à realização do comportamento, e pode perder seu sentido de amplitude. Já “posicionar-se” não se refere apenas à posição de algo ou alguém no espaço físico, mas também se refere à uma posição tomada a respeito de um assunto, não sendo apenas uma atitude, mas também um ponto de vista: “Assumir posição, opinião”, conforme dicionário Caldas Aulete de língua portuguesa (2004).

Nesta investigação, utilizo o termo dessa forma abrangente, entendendo-o como o que os adolescentes conhecem sobre MCs, como as compreendem, como as percebem, além de possíveis sentimentos envolvidos diante da temática, sentido que também se pauta nas contribuições teóricas de autores como Clayton et al. (2015), McDonald, Chai e Newell (2015) e Uzzell (2000). Desse modo, os achados da minha dissertação trouxeram novas questões a serem exploradas por esta tese, que tem como objetivo compreender o posicionamento que os adolescentes possuem a respeito das mudanças climáticas globais. E ainda, se este posicionamento pode ser compreendido à luz de indicadores de estilos de vida sustentáveis.

A intenção maior para realização deste estudo é a possibilidade de fornecer indicadores que norteiem a elaboração de ações de conscientização e de educação sócio-ambiental, que sejam orientadas para esta população específica, e pautadas em suas próprias ideias.

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Introdução

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, ou Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC, 2014a), inicia seu quinto relatório de avaliação de mudanças climáticas com as seguintes frases em destaque: “A influência humana no sistema climático é clara, e as recentes emissões antropogênicas de gases são as mais altas na história. Recentes mudanças climáticas têm espalhado impactos nos sistemas humanos e naturais”1 (p. 40). Sobre esses impactos, destacam: “A atmosfera e o oceano têm aquecido, as quantidades de neve e gelo têm diminuído, e o nível do mar tem aumentado” (p. 40).

Para uma pessoa como eu, que sempre residiu em um país tropical – mais especificamente no Nordeste do Brasil, local sem as quatro estações do ano bem definidas, e que possui altas médias de temperaturas anuais com pequena variação entre elas – não é fácil visualizar que alguns eventos catastróficos sejam consequências de um problema como as MCs. Nem é fácil ver, muito menos tocar, tais mudanças climáticas. É um problema complexo, amplo, e global, diferente de um cano de esgoto estourado em nossa rua.

O avanço do nível do mar e a contingente erosão costeira também não eram algo facilmente visto nas praias nordestinas, pelo menos até há alguns anos. Essa situação vem se modificando, e tornando-se mais visível, por exemplo, com a construção de “quebra-mares” e a maior perda das faixas de areia. Estudos compilados pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC, 2014a) – órgão nacional com objetivos análogos aos do IPCC – ressaltam esse avanço do nível do mar em todo Brasil. As consequências para a população desse aumento

1 As citações apresentadas ao longo de todo o texto, originais de material de língua estrangeira, foram traduzidas pela própria autora.

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são inúmeras e afetam a saúde e qualidade da vida humana, e vão muito além do redesenho de praias por causa da erosão. Esse aumento do nível do mar é associado a frequentes enchentes e inundações durante tempestades, à intrusão salina em lençóis freáticos e reservatórios de água natural, e à perda de ecossistemas – a exemplo de manguezais (PBMC, 2014a). Segundo o quarto relatório do IPCC (2007), o nível do mar aumentou em torno de 1,7 a 1,8 mm/ano no último século, com um aumento da taxa em torno de 3 mm/ano durante a última década.

Ainda assim, esse avanço pode passar despercebido no âmbito nacional. Nesse sentido, além dos achados de minha dissertação de mestrado, um aspecto vivencial me impulsionou a continuar a pesquisar sobre fatores psicológicos das MCs. Tal aspecto foi poder ver e sentir impactos do problema de forma mais intensa do que a que eu tinha vivenciado até então; o que permitiu, posteriormente, ampliar a visualização dos impactos em território nacional. Na sequência destas páginas faço um breve relato dessa vivência.

No inverno europeu, em um período entre dezembro de 2014 a janeiro de 2015, tive a oportunidade de conhecer uma região dos Alpes Franceses. Mais especificamente, uma pequena cidade chamada Chamonix-Mont-Blanc, na tríplice fronteira França-Itália-Suíça. Lá se situa o Mont Blanc (Monte Branco), considerado o ponto mais alto da Europa Ocidental. Ao fazer uma visita a uma das geleiras, chamada Mer de Glace (Mar de Gelo), vivenciei uma sensação extremamente emocionante, porém também entristecedora.

Subimos de trem até o topo da geleira, aproximadamente a 1.930 metros de altura, e que tem aproximadamente 7 km de extensão. Do topo, as pessoas podem ir descendo até o “coração da geleira”, onde se encontra uma gruta de gelo, esculpida (e re-esculpida) todo ano, e que abriga um museu sobre as pessoas que viveram nas montanhas durante início do século XIX. A descida até à gruta é realizada em duas partes. Primeiro é possível descer por uma “gôndola-elevador” (uma espécie de teleférico), e, depois da chegada desta ao seu ponto final, são necessários descer ainda 430 degraus. A sensação inicial foi de alegria por estar contemplando

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neve pela primeira vez. Uma felicidade pueril tomou conta e fez com que eu me engajasse em uma guerra de bolas de neve. Mas essa alegria infantil e o encantamento de turista durou pouco.

O que me chamou atenção no passeio foi o fato de que estes 430 degraus foram acrescentados ao longo dos anos. O nível de gelo atingia, até o século XX (aproximadamente até 1990), o ponto em que o elevador parava, e para até hoje. Ao pesquisar na internet, em sites de informações e no site oficial da cidade, descobri que foram acrescentados em média 15 degraus por ano. Em 19 anos, a geleira perdeu aproximadamente 100 metros de espessura, e o nível de gelo diminui em torno de 5 metros a cada ano. Em 2009 eram 360 degraus até chegar ao nível do gelo no “coração” da geleira. Atualmente, já são os 430 degraus anunciados no site do departamento de turismo da cidade.

Essas informações não foram obtidas a priori. Fui conhecer a geleira sem saber desses números. O que me fez pesquisá-los foi ver que, durante a descida dos degraus, existiam placas nas paredes da montanha indicando os níveis máximos de gelo em diferentes anos, por exemplo, desde 1990, 1995, 2000, 2005 até 2010. Era possível ver um comparativo muito claro e concreto de até onde o gelo chegava antes, e qual o máximo que ele alcança atualmente durante o inverno. Mais drástico ainda foi perceber que as placas de 2005 e 2010 eram muito mais próximas entre si que as de 2000 e 2005, e que já havia um espaçamento entre a placa de 2010 e o nível do gelo em 2014.

O propósito deste relato vivencial não é detalhar cientificamente a realidade da Mer de Glace. Mas sim afirmar que pude experienciar e sentir pessoalmente o que havia lido anteriormente em fontes científicas, como as encontradas nos relatórios do IPCC (2007; 2014a), o que me motivou mais ainda a continuar este estudo. As geleiras estão derretendo, o nível do mar está aumentando; pude ver as corredeiras de água descendo pelas paredes das montanhas em pleno inverno e formando pequenas cascatas de água doce.

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cidade, o que é uma das consequências atuais mais palpável do problema, e nem pode arcar financeiramente com essa experiência. A falta de visualização pode gerar uma grande barreira para o enfrentamento do problema; afinal, como enfrentar algo que não se conhece, ou que não se vê? As consequências do problema em território nacional começam a se intensificar ano a ano (PBMC, 2014a), não sendo necessária uma viagem extrema referente à realidade de outro local para que as consequências de um problema global possam ser discutidas.

Essa discussão é necessária, e entender o posicionamento das pessoas em relação ao problema contribui para o surgimento de diretrizes que fomentem a implementação, aceitação e participação em políticas públicas voltadas para mitigação e adaptação das MCs nos âmbitos locais (Heft & Chawla, 2005; Gifford, 2008). Afinal, reconhece-se a existência do campo político na vida social, que inclui muito mais que conhecimento e desejos individuais, e vai além, inclui posições nacionais, internacionais, e conflitos multilaterais nessas esferas. Assim, estudos como este representam esforços que tentam fazer com que o lema ambientalista “pensar globalmente e agir localmente” possa ser posto em prática, tanto no dia-a-dia das pessoas quanto em esferas públicas de gestão.

Nesse contexto, o primeiro capítulo desta tese dedica-se a apresentar o que são as MCs, a partir do que se tem produzido pelos principais documentos que as discutem, tanto no cenário nacional, como no internacional, bem como as principais medidas de mitigação e adaptação diante do problema. O segundo capítulo apresenta as dimensões psicológicas e sociais das MCs, os aspectos teóricos que as circundam e os estudos que foram desenvolvidos até mais recentemente.

O terceiro capítulo destina-se à discussão sobre sustentabilidade e psicologia, e discorre sobre os elementos psicológicos que são associados pela literatura a um estilo de vida sustentável. O quarto capítulo aborda a adolescência diante dessas questões, enfatizando elementos que têm sido investigados como relevantes para a construção de um interesse pela

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sustentabilidade, de uma orientação pró-sustentabilidade (Corral-Verdugo et al., 2009), e como a adolescência tem sido discutida diante das mudanças climáticas globais.

O quinto capítulo apresenta a proposta desta investigação e declara os objetivos da tese, e sumariza o olhar ecológico que a embasa. O sexto capítulo discorre a respeito dos aspectos metodológicos adotados, e, na sequência, são apresentados os capítulos referentes aos resultados do estudo e sua discussão.

No primeiro deles, capítulo 7, identifico e analiso o posicionamento dos adolescentes sobre MCs com base na primeira etapa do estudo. No capítulo 8 apresento as associações desse posicionamento com os indicadores de estilos de vida sustentáveis pesquisados. O capítulo 9 apresenta as contribuições oriundas das entrevistas exploratórias com os professores, a respeito do adolescente diante das MCs. O capítulo 10 discorre sobre a segunda etapa do estudo, e discute o posicionamento aprofundado dos adolescentes sobre MCs, a partir das rodas de conversa realizadas. Por fim, no capítulo 11, apresento discussões que integram os dados oriundos dos diferentes momentos do estudo, encerrando com o capítulo 12, referente às considerações finais.

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1. Mudanças Climáticas

As mudanças climáticas globais (MCs) expõem as pessoas, as sociedades, os setores econômicos e todo o ecossistema ao risco. O IPCC, em seu quinto relatório síntese de avaliação das mudanças climáticas (2014a), define risco como o potencial de consequências a serem geradas, a probabilidade de ocorrência de eventos catastróficos, a partir da interação entre: a) o surgimento desses eventos, por exemplo, fortes tempestades fora de época (disparados pelas ou relacionados às MCs); b) a vulnerabilidade das regiões (suscetibilidade aos danos); e c) a exposição de pessoas, ecossistemas a essas potenciais consequências.

Com a combinação desses três elementos ficam ressaltadas as implicações humanas que a problemática envolve. Não adianta olhar para o fenômeno como se o mesmo correspondesse apenas a um problema físico, de debate das ciências naturais, cuja solução seria meramente tecnológica. As MCs envolvem necessariamente instâncias humanas: psicológicas, comportamentais, sociais, político-econômicas e culturais (O`Neill, 2008; Pawlik, 1991; Stern, Young, & Druckman, 1992; Swim, Clayton, Doherty et al., 2009; Uzzell, 2000). A influência humana no sistema climático hoje é clara, e as recentes emissões dos chamados Gases de Efeito Estufa (GEE) são as maiores da história, ocasionando por todo globo terrestre impactos nos sistemas humanos e naturais (IPCC, 2014a).

Convém ressaltar que, apesar desta clareza apresentada por documentos científicos (IPCC, 2014a; PBMC; 2014a), o papel humano como causa única de sua ocorrência é debatido e contestado por alguns cientistas, que afirmam que o aumento de GEE é oriundo, em sua maioria, de ciclos biogeológicos naturais (Lima, 2009; Molion, 2008). Ainda assim, atualmente, há uma redução de incertezas (IPCC, 2014a), assumindo que as atividades humanas contribuem para o chamado “efeito estufa ampliado”, e para rapidez e intensidade da ampliação desse

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fenômeno, desde a Revolução Industrial (Lima, 2009). Nesse sentido, a variabilidade natural não é um aval para o ser humano continuar a degradar o meio em que vive, e as mudanças de hábitos para sobrevivência das atuais e futuras gerações são necessárias (Molion, 2008).

Diante desse cenário, os estudos dos aspectos psicológicos envolvidos devem incluir ainda os âmbitos local e global do problema, e devem reconhecer também que a esfera de atuação diante das MCs pode e deve ser tanto individual como coletiva, contribuindo para que políticas públicas de mitigação possam ser pensadas, questionando continuamente o atual padrão de exploração ambiental (Gifford, 2008). Todavia, antes de prosseguir nessa discussão, é importante ter claro como vem sendo atualmente respondida a questão posta na seção seguinte.

1.1. O que são mudanças climáticas?

A temperatura terrestre, entre 1880 e 2012, aumentou aproximadamente em 0,85°C, o que representa um grande aumento em um tempo relativamente curto (IPCC, 2014a). As forças antropogênicas que têm colaborado com esse aumento correspondem, primordialmente, à intensa liberação dos gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, somada à degradação da camada de ozônio (IPCC, 2014a). Essa degradação foi ocasionada em partes também pela liberação histórica de gases, tais como o CFC (Clorofluorcarbono), usado em sprays, refrigeradores e solventes, mas, cujo uso tem sido intensamente combatido e proibido em diversos países, inclusive no Brasil, conforme publicação sobre ações brasileiras para proteção da camada de ozônio, do Ministério de Meio Ambiente – MMA (MMA, 2014).

Contudo, as emissões de GEE oriundos da ação humana continuam. Elas têm aumentado desde a Revolução Industrial movidas pelo crescimento econômico e pelo crescimento populacional. Essas emissões partem de atividades industriais, desmatamento e queimadas para

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uso de terra, e queima de combustíveis fósseis no uso de veículos de transporte de carga e de pessoas. De 2000 a 2010 as emissões foram as mais altas da história. A quantidade atual de gases na atmosfera, tais como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4)e óxido nitroso (N2O) é sem precedentes na história da humanidade (IPCC, 2014a).

Essa concentração de gases impede a liberação de volta ao espaço do calor emitido pela superfície terrestre, a partir de seu aquecimento pelo Sol, retendo mais calor do que o esperado naturalmente, assemelhando-se a uma estufa. O aquecimento global, nome utilizado por vezes na mídia para se referir às mudanças climáticas globais, representa então, o agravamento do efeito estufa (IPCC, 2007; 2014a). E, apesar desse nome popular utilizado, as MCs correspondem a muito mais do que somente o “aquecimento”.

Cada consequência do problema acarreta novas consequências para o planeta, que irão afetar mais diretamente os sistemas vivos e a qualidade de vida humana. Esses impactos ocorrem em cascata (IPCC, 2014a), em uma cadeia complexa de acontecimentos que envolve todo o globo. Por exemplo, o derretimento das geleiras contribui para o aumento do nível do mar, que por sua vez, leva à perda de faixas litorâneas e prejuízos ao habitat de vários animais. Além disso, o aumento da temperatura das massas de ar altera os padrões nos períodos de chuvas e de secas, o que leva a alterações nos sistemas hidrológicos, afetando os recursos de água e abastecimento de rios, tanto em termos de quantidade como de qualidade; o que afeta mais diretamente ainda a população (principalmente a mais carente de recursos) com a falta de água em determinadas regiões (IPCC, 2014a).

De forma sintetizada, apresento a seguir os documentos base para essas conclusões, como uma forma de contextualizar o que se tem investigado e produzido sobre MCs no cenário nacional e internacional.

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1.1.1. O quinto relatório de avaliação do IPCC

Os documentos mais recentes do IPCC compõem o quinto relatório de avaliação das mudanças no clima, e apresentam probabilidades de ocorrências de suas causas e consequências. Esse relatório integra contribuições de três grupos de trabalho, com dados oriundos desde 2011 e 2013. Um dos materiais mais comumente acessado é o relatório síntese (IPCC, 2014a), que apresenta uma compilação de três outros materiais.

Há um relatório dedicado a apresentar as bases físicas e científicas do problema, que conta com 14 capítulos, e que apresenta conclusões claras e robustas sobre a atividade humana como causa do observado aquecimento, desde meados do século XX. Este relatório esclarece as mudanças físicas nos sistemas do planeta, e estabelece altos índices de probabilidades para suas causas. Seus capítulos discutem mudanças físicas na atmosfera, no oceano, informações relativas ao ciclo do carbono, aos ciclos biogeoquímicos, avaliam modelos climáticos, e atribuições das mudanças em nível global e regional, e projetam e preveem como as mudanças climáticas continuarão a ocorrer (IPCC, 2013).

Outro material que compõe o quinto relatório é um documento, dividido em dois, destinado à discussão dos impactos, vulnerabilidades e medidas de adaptação. A primeira parte, chamada de parte A, discute os aspectos globais desses impactos (IPCC, 2014b), focando-se nos sistemas de água potável, sistemas costeiros, segurança e produção de alimentos, áreas urbanas e rurais, saúde e segurança humana, estilos de vida e pobreza, riscos emergentes e planos e oportunidades para adaptação. A segunda parte, chamada de parte B, se volta para o detalhamento por regiões. Assim, esse documento discute os impactos regionais em capítulos relativos às regiões da África, Europa, Ásia, Austrália, América do Norte, Américas Central e do Sul, regiões polares, pequenas ilhas e oceanos.

O terceiro e último documento que compõe o quinto relatório de avaliação, é um volume a respeito da mitigação das MCs (IPCC, 2014d), entendendo mitigação como combate,

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enfrentamento, busca pela amenização do problema. Esse documento aborda opções relevantes para mitigar a mudança climática, seja limitando e prevenindo as emissões de GEE, seja aumentando atividades que reduzem as concentrações já existentes na atmosfera. Abordarei mais sobre ações de mitigação e adaptação na seção 1.2, após apresentar, brevemente, documentos relativos ao cenário nacional.

1.1.2. Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas

No cenário brasileiro há um organismo científico que mencionei anteriormente, criado pelos Ministérios da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente desde 2009: o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), cujo objetivo é fornecer avaliações científicas sobre as MCs de relevância para o território nacional.

A ideia do Painel é subsidiar o processo de formulação de políticas públicas e tomada de decisão para o enfrentamento dos impactos das MCs, servindo também como fonte de informações de referência para a sociedade. Recentemente, o PBMC publicou o primeiro Relatório de Avaliação Nacional sobre Mudanças Climáticas, dividido em três volumes, com organização semelhante aos documentos do IPCC: o primeiro trata das bases científicas das mudanças climáticas; o segundo trata dos impactos, vulnerabilidades e adaptação; e o terceiro trata de ações de mitigação, todos centrando-se no contexto brasileiro (PBMC, 2014a; 2014b; 2014c).

O primeiro volume do relatório destaca possíveis intensificadores nacionais do problema, que favorecem o aumento da temperatura média global. Entre eles são apontados: o desmatamento de áreas florestais, principalmente na Amazônia e no Cerrado; emissões de GEE industriais, provenientes dos grandes centros urbanos, como a cidade de São Paulo e arredores; intensa utilização de veículos e ilhas de calor das grandes cidades; e a queima de combustíveis fósseis para produção de energia, que vem aumentando nos últimos anos devido à escassez

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hídrica (PBMC, 2014a).

Muitos dos impactos nacionais das MCs podem ser mais intensamente observados nas localidades dos indivíduos hoje em dia. No entanto, por falta de conexão clara entre suas causas e consequências, a atribuição desses impactos ao aquecimento global se torna difícil e deve ser feita com cautela (IPCC, 2014a; PBMC, 2014a). Esse cenário de incertezas é atrelado primordialmente ao longo período entre as causas do aquecimento e suas consequências. Tais consequências não são imediatas, fato que caracteriza como “previsão” as conclusões dos cientistas, e não como “certeza” (IPCC, 2014c; PBMC, 2014a).

Nesse contexto, alguns impactos com maior grau de probabilidade podem ser atribuídos às MCs no território nacional. Dentre eles estão: mudanças nos padrões pluviais; eventos extremos, como secas, incêndios florestais, enchentes e inundações associadas a tempestades; o aumento do nível do mar; e consequente prejuízo aos manguezais. Tais impactos também acontecem em cadeia como mencionado, e acarretam outras consequências como perda da biodiversidade, fome e problemas de saúde ocasionados pela concentração da poluição, ou decorrentes das enchentes (Confalonieri & Marinho, 2007; PBMC, 2014b).

As previsões desses impactos sustentam, por exemplo, que na Amazônia deverá haver redução percentual de 10% na distribuição de chuvas e aumento da temperatura de 1º a 1,5ºC (até 2040), mantendo a tendência de diminuição de 25% a 30% nas chuvas e aumento de temperatura entre 3º e 3,5ºC no período 2041-2070. Isso pode comprometer esse bioma brasileiro em longo prazo. Em curto prazo, o desmatamento atual decorrente das intensas atividades de uso da terra representa uma ameaça mais imediata, e acaba por agravar as mudanças climáticas globais, intensificando e acelerando impactos em todo o mundo, prejudicando o padrão do ciclo hidrológico mais intensa e rapidamente (PBMC, 2014a).

Para caatinga, o relatório sugere tendência semelhante de aquecimento, e maior decréscimo da precipitação pluvial, de 10% a 20% até 2040, somado ao forte agravamento do

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déficit hídrico regional, que pode desencadear o processo de desertificação da caatinga. Também fizeram projeções para o Cerrado, para as regiões da Mata atlântica, e para o Pantanal, sendo a mesma tendência destacada com algumas variações. Estima-se intenso aquecimento depois de 2070 (maior que 3ºC), espera-se acentuação das variações sazonais, a existência de eventos intensos e “fora de época”, e grande risco de perda da biodiversidade, principalmente para o Pantanal. Já para região dos Pampas, o relatório aponta para uma grande intensificação de chuvas, apesar da mesma tendência de aquecimento como no restante do país (PBMC, 2014a; 2014b).

O terceiro e último volume do relatório destaca as medidas de mitigação necessárias ao cenário nacional (PBMC, 2014c). Nessa direção, é interessante ressaltar a existência do Plano Nacional sobre Mudança no Clima (PNMC), (Decreto nº 6.263), criado em de 21 de novembro de 2007 e publicado em 2008. É possível afirmar que esse plano é relativamente desconhecido pela população, apesar de seus relevantes objetivos, que envolvem: incentivar o desenvolvimento de ações no Brasil para o combate às MCs, criando ainda condições internas para o enfrentamento de suas consequências. Temáticas que são abordadas com maior detalhamento na seção seguinte.

1.2. Mitigação das MCs e adaptação aos seus impactos

Essa seção apresenta discussões a respeito das medidas de adaptação e de mitigação necessárias, nos âmbitos nacional e internacional, e se encerra com discussões e estudos sobre fontes renováveis de energia e sua relação com as mudanças no clima.

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1.2.1. Adaptação e vulnerabilidade

Por adaptação se entende a realização de ajustes necessários em sistemas humanos ou naturais, incluindo estruturas, processos e práticas (IPCC, 2007). Como exemplo, é possível mencionar a crise nos sistemas de abastecimento hídrico, que demanda medidas de adaptação (IPCC, 2014a; PBMC, 2014b), tais como as destinadas a assegurar o abastecimento de água. Essas medidas podem ocorrer com foco nos usuários que demandam o abastecimento, com adoção de instrumentos de incentivo econômico, cobrança e regulação para diminuir o desperdício, e aumentar a eficiência em seu aproveitamento, como também podem ocorrer com foco em quem o oferta, envolvendo aumento da capacidade de armazenamento, captação de cursos e transferência de água, além de ações de recuperação das bacias hidrográficas (PBMC, 2014b).

É importante mencionar que os materiais anteriores produzidos pelo IPCC se centravam na investigação sobre os impactos diretos do problema, na temperatura, nas precipitações de chuvas, nas colheitas e na vida de plantas e animais silvestres. As produções mais recentes, por outro lado, já apontam a necessidade de entender não apenas tais impactos diretos, mas também indiretos, incluindo impactos de ordem social e comunitária. Nesse sentido, dificilmente alguma esfera humana ou dos ecossistemas naturais poderia ser isolada dessas consequências, devido à interconexão dos sistemas terrestres, sendo basicamente impossível desenhar barreiras ou limites ao redor desses impactos (IPCC, 2014b). Por isso, as incertezas continuam existindo. Mas, ainda assim, os estudos se focam em elementos centrais ao problema e a partir disso, buscam identificar pontos de conexão das MCs com outros problemas de ordem local.

As investigações mais recentes do IPCC se focam, portanto, no aumento do conhecimento sobre o risco das MCs, e na prevenção desses como forma de adaptação, antecipando-se a prováveis impactos diretos. Isso porque o foco no risco pode ligar a experiência histórica (o que ocorreu ao longo dos anos) às projeções futuras, auxiliando na

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consideração de diversas consequências possíveis, e abrindo portas para desenvolvimento de ferramentas para mitigação.

Existem sistemas sociais ameaçados pelas consequências do problema, e que necessitarão de estratégias para se adaptarem às novas condições impostas pelas mudanças climáticas, que colocam grande parte do mundo em situação de vulnerabilidade, ou intensifica essas situações já existentes (IPCC, 2014a). Assim, vulnerabilidade é um constructo multidimensional, que se refere à interação entre a magnitude da ameaça e a intensidade do dano potencial, buscando caracterizar distúrbios e propensões aos impactos (Lindoso & Filho, 2016). Mas não somente isso, o conceito implica uma noção sistêmica para sua avaliação, o que inclui aspectos físicos, econômicos, sociais, ambientais, que aumentam a suscetibilidade aos impactos de determinado fenômeno, buscando também compreender condições que levem à adaptação, que possibilitem capacidade adaptativa (Furtado, 2015; Lindoso & Filho, 2016).

Esse conceito está intrinsecamente relacionado à ideia de resiliência, entendida, portanto, como o aumento na capacidade dos sistemas sociais e ecológicos de enfrentarem e se adaptarem diante de ameaças diversas (Furtado, 2015). O estudo de Andrade, Souza e Silva (2013), à guisa de exemplo, se interessou pela investigação de componentes da vulnerabilidade de agricultores familiares da região do Seridó Potiguar, identificando formas de fortalecer resiliência, e reduzir a exposição (grau, frequência, magnitude, duração do estresse) e a sensibilidade (extensão dos impactos que um sistema pode absorver sem sofrer danos de longo prazo). Por sua vez, a partir da ótica ecológica de Bronfenbrenner, Poletto e Koller (2008) ressaltam que fatores de risco e de proteção, em interação, podem contribuir para o equilíbrio entre vulnerabilidades e a promoção da resiliência. Portanto, apesar de entendimentos variados, há consonâncias que caracterizam essas noções como sendo complementares e dinâmicas, não sendo estáticas ou fixas (Furtado, 2015).

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muitos locais que irão sofrer as consequências das MCs não estão preparados para tal e podem ter contribuído muito pouco para a manutenção do problema (Lima, 2009). Clayton et al. (2015) afirmam que: “as pessoas necessitarão alterar seus comportamentos para se adaptarem a um clima alterado” (p. 643). Uma das direções que esses autores sugerem para futuras pesquisas nesse contexto, é a que se refere a comportamentos cooperativos e preparação comunitária frente, por exemplo, a secas ou inundações relacionadas às MCs (Clayton et al., 2015). Dessa maneira, aspectos como a redistribuição da terra, os padrões de agricultura, a insuficiência de recursos, a formação de ilhas de calor nos grandes centros urbanos e as estratégias para lidar com isso, são impactos que podem causar conflitos sociais e modificações nas dinâmicas intra e intergrupos, e que precisam ser levados em conta a fim de promover adaptação (Doherty & Clayton, 2011).

Os países em desenvolvimento e as comunidades econômica e socialmente fragilizadas sentirão mais fortemente os impactos negativos dos desastres associados às MCs (Clayton et al., 2015; Lima, 2009). Por isso, ao falar em vulnerabilidade é preciso questionar ao quê, de quem, onde (Furtado, 2015). Do mesmo modo, ao discutir adaptação, é preciso se questionar sobre que tipo de adaptação e a quem ela beneficiará. A adaptação não significa acomodação. As MCs já demandam e exigirão mais urgentemente com os anos, que o debate sobre sustentabilidade e suas dimensões, tais como equidade e solidariedade sejam intensificados. Desse modo, a adaptação não se trata de um processo passivo. Adaptação é compreendida como a tendência para encontrar um equilíbrio entre as capacidades e potencialidades das pessoas e as oportunidades que o meio oferece (Sarriera, 1998), sendo um processo ativo e de construção, que envolve os diferentes níveis de atuação – do micro ao macrossistema.

As condições ambientais diante de ameaças globais, nesse sentido, devem ser consideradas pelas – e, também devem considerar – discussões sobre direitos humanos (Doherty & Clayton, 2011). E ainda, deverão ser associadas a debates junto às comunidades

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para construção dessas medidas, que devem também repensar o modelo de desenvolvimento posto atualmente, e não apenas formas de reproduzi-lo por mais tempo (Lima, 2009).

Assim, considerar os aspectos sociais envolvidos nos impactos das MCs relaciona-se com a perspectiva de implementação de políticas públicas, que deverão contar com o apoio e engajamento individual. E mais, políticas estas que também podem e devem ser cobradas a partir do âmbito mais micro (Clayton et al., 2015; Stern et al., 1992), criando coletivos fortalecidos a partir de comunidades locais para pensar tais políticas, e não apenas apoiá-las.

Desse modo, é preciso refletir criticamente sobre as condições macro-políticas e interesses internacionais que influenciam grandemente nas medidas ambientais globais adotadas, influências que são pautadas em uma arena de conflitos multilaterais, na qual países discordam sobre seus papeis na ocorrência do problema e em suas responsabilidades, tais conflitos atrasam e dificultam negociações, se tornando extremamente prejudicial para o futuro da qualidade de vida humana no planeta (IPCC, 2014a), e por vezes, contribuem para soluções consideradas cosméticas e não efetivas em longo prazo (Lima, 2009).

A vulnerabilidade, então, varia como uma consequência da capacidade dos grupos e indivíduos de reduzir e gerenciar os impactos das mudanças climáticas, e estes podem ser, por fim, de ordem econômica, física, de infra-estrutura, também emocional. Alguns fatores podem determinar estados mais vulneráveis, tais como gênero, idade, status social, localização geográfica. Porém, como já dito, as persistentes inequidades devem ser as mais salientes das condições que levam às pessoas e comunidades a se tornarem vulneráveis (IPCC, 2014a; 2014b), isso devido a péssima qualidade de abrigos, a falta de prestação de serviços básicos locais, como centros de saúde, e falta de recursos para lidar e se recuperar de grandes eventos climáticos.

Apesar das diferentes necessidades, de acordo com diferentes grupos e locais geográficos, a adaptação requer, em geral, que comunidades, donos de casa, empresas do setor

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privado, instituições públicas, compartilhem aprendizados para lidar com essas mudanças. A adaptação é então um processo social de aprendizagem, para implementar ações, que combatam às inequidades citadas acima, que incluam educação e acesso à informação, respeitando o conhecimento científico, mas também o conhecimento oriundo das próprias comunidades (IPCC, 2014b; 2014c; Lima, 2009).

1.2.2. Medidas de mitigação

Algumas formas de mitigação do problema são apontadas com maior grau de certeza como possíveis e necessárias, são elas: a) a redução de carbono, por meio da promoção e recuperação de áreas que foram degradadas para pastagem; b) a mudança no padrão pecuarista, com encorajamento de adoção de sistemas lavoura-pecuária; c) a substituição dos combustíveis fósseis usados pela indústria, com a geração de energia solar e eólica; d) a implementação de sistemas de transporte públicos integrados e mais eficientes, com a ampliação de linhas de metrô e trens urbanos, implantação de linhas de veículos leves sobre trilho, e a implementação de medidas de gerenciamento de tráfego. Além disso, a redução de veículos automotivos nas áreas urbanas é extremamente necessária, assim como é necessário frear o desmatamento na Amazônia (PBMC, 2014b; 2014c).

Essas ações são do âmbito da gestão pública, mas outras ações individuais e coletivas também são demandadas. Desde o trabalho comunitário para cobrança dessas medidas, engajamento nas mesmas quando implantadas, mudanças nos padrões de transporte e de consumo energético, até a promoção de plantio e manutenção de áreas verdes, realização de um consumo consciente, reutilização e engajamento em reciclagem. Todas essas medidas contribuem direta ou indiretamente para reduzir a manutenção de GEE na atmosfera, e consequentemente mitigam as mudanças climáticas globais (PBMC, 2014c).

Referências

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