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5 Liderança

5.2 As Escolas de Liderança

5.2.1 Escola dos Traços e Atributos

Desde a antiguidade a busca em identificar quais eram os traços que diferenciavam os líderes dos não-líderes estava presente. Conforme Bass (2008) menciona em seu livro, noções sobre liderança já estavam presentes em antigas sociedades no Egito, Babilônia, Ásia e Islândia. O objetivo desta pesquisa era de “... conhecer e identificar as qualidades do líder eficaz, o grande herói ou o monarca sensato,...” (Zaccaro,

Kemp e Bader, 2004, p. 102); ainda como mencionado na mesma obra, esta busca já inquietava os primeiros pensadores e contadores de histórias.

Apesar desta longevidade, os estudos científicos começaram somente, no final do século XIX, supostamente com Hereditary Genius por Galton no ano de 1869. Contudo, a maior parte foi publicada cerca de 60 anos depois entre 1930 e 1950. Estes estudos, na sua grande maioria, não possuíam um embasamento teórico e estavam inseridos num Funcionalismo, que caracterizava os estudos iniciais da Psicologia Americana (Zaccaro, Kemp e Bader, 2004). Estas pesquisas buscavam identificar quais eram as características que diferenciariam de forma universal um líder de um não-líder. Nesta gama de estudos, os traços pesquisados contemplavam desde características físicas como sexo, altura, energia e aparência até traços psicológicos e motivações como autoritarismo, inteligência, necessidade de realização e necessidade de poder (House e Aditya, 1997).

Em função da falta de embasamento teórico e da dificuldade de reprodução dos experimentos, esta escola foi alvo de muitas críticas. Fato este que aconteceu mesmo depois de influentes trabalhos como Mann (1959) e Stogdill (1948).

O resultado destas críticas, apontadas por Zaccaro, Kemp e Bader (2004), como talvez as revisões mais influentes do período, pode ser visto no Quadro 2, que reflete uma forte queda no número de publicações desta escola na década seguinte. Apesar desta queda, é conveniente apresentar alguns pontos importantes encontrados nas revisões.

Em seu trabalho, Mann (1959) fez uma meta-análise com todos os estudos de 1900 até outubro de 1957. Neste conjunto, ele encontrou mais de 500 diferentes medidas de personalidades que, por questões de análise, foram agrupadas em sete fatores: inteligência, ajustamento, extroversão, dominância, masculinidade, conservadorismo e sensibilidade interpessoal. Mann classificou e usou, como variáveis dependentes,

status e comportamento nos grupos. Seis foram as classes usadas: liderança,

popularidade, taxa de atividade total, atividade voltada à tarefa, atividade sócio- emocional, e concordância. Ele ainda analisou fatores situacionais como: natureza da população, sexo, histórico e tamanho do grupo.

Apesar de algumas limitações mencionadas por ele, como por exemplo, a ausência de estudos de interdependência entre as variáveis, três conclusões são bastante expressivas: “as relações positivas de inteligência, ajustamento e extroversão com liderança são muito significativas” (Mann, 1959, p. 252), também positivas, mas de

menor força, são as relações da liderança com dominância, masculinidade e sensibilidade interpessoal e, por último, o conservadorismo que está de modo negativo relacionado à liderança.

Ele ainda continua: “A relação entre fatores de personalidade e liderança variam de acordo com a forma de medição.” (Mann, 1959, p. 253)

O estudo de Stogdill, em 1948, foi bastante semelhante. Ele partiu de 32 atributos e concluiu que, em 15 ou mais estudos, a média pessoal do líder era superior à média do grupo nos seguintes fatores: inteligência, conhecimento, confiança em exercer a responsabilidade, atividade e participação social e condição socioeconômica.

Bass (1990), posteriormente, em sua revisão, categoriza estes 32 atributos em 6 grupos: características físicas, passado social, inteligência e habilidade, personalidade, características relacionadas à tarefa e características sociais.

Mesmo com estas conclusões e, o chamado para novos estudos para maior aprofundamento, pesquisadores começaram a enxergar, nesta linha de pesquisa, uma baixa utilidade para explicar uma liderança eficaz. Murphy (1941 apud Zaccaro, Kemp e Bader, 2004, p. 107) menciona que “Liderança não reside na pessoa. É uma função de toda a situação.” Esta abordagem defende que para determinadas situações, qualidades específicas do líder serão demandadas, e a pessoa com estas características será o líder mais eficaz. Em uma situação distinta, outra pessoa poderia ser a mais apropriada. Esta escola será apresentada no tópico seguinte, mas antes, dois outros pontos devem ser mencionados: a definição de traços e a evolução e futuro desta escola.

Assim como a escola, a definição usada para traços também evoluiu e apesar de ser uma única palavra, traços (traits), representa e já representou diferentes significados, trazendo uma considerável confusão na literatura. Para mostrar esta evolução, duas definições em diferentes momentos serão comentadas. Allport (1961 apud Zaccaro, Kemp e Bader, 2004, p. 103) se referia a uma “estrutura neuropsíquica” e uma resposta consistente de comportamento diante de muitos estímulos. Zaccaro (2007, p. 7) de forma mais completa define traços do líder como: “padrões relativamente coerentes e integrados de características pessoais, refletindo uma série de diferenças individuais, que promovem uma liderança eficaz e consistente numa variedade de grupos e situações organizacionais.” Com esta definição, que é bastante recente, ele destaca três pontos importantes, não considerados anteriormente: (1) os traços de um líder não devem ser avaliados de

forma isolada, mas sim integrada, o que o autor chama de “integrated constellations

of attributes”; (2) inclusão de qualidades pessoais que promovam a estabilidade na

liderança eficaz, como, motivação, valores, habilidades cognitivas e sociais, competência na solução de problemas e experiência; e (3) determinação de atributos duradouros, produzindo uma estabilidade em diferentes situações.

Após ter ficado por quase duas décadas, praticamente, sem grande significado, a Escola dos Traços voltou a assumir uma importante posição nas pesquisas sobre liderança, principalmente, quando combinada com outras escolas.

Atualmente, em duas revisões feitas por Mumford et al. (1993 e 2000), eles citam e especificam cinco categorias de atributos, onde as principais publicações estão concentradas. São elas:

Habilidades Cognitivas: com grande ênfase em inteligência, mas ainda considera pensamento divergente e criativo.

Personalidade: possivelmente, a categoria mais estudada das cinco, apresenta duas linhas diferentes de pesquisa: a Classificação Tipológica Myers-Briggs (Myers-Briggs Type Indicator - MBTI) e o Modelo dos Cinco Grandes Fatores (Big Five Model). Estão incluídos neste último: neuroticismo, extroversão, abertura a experiências, socialização e realização.

Motivação: a necessidade de poder ou de dominância, a necessidade de realização e a de liderar são as principais áreas de pesquisa.

Apreciação Social e Habilidades Interpessoais: definido por Marlowe (1986 apud Zaccaro, Kemp e Bader, 2004, p.115) como “a capacidade de compreender os sentimentos, pensamentos e comportamentos das pessoas, inclusive o próprio, em situações interpessoais, e agir, apropriadamente, em consequência da compreensão”. Esta linha de pesquisa tem recebido destaque nos últimos anos e ficou muito reconhecida com o conceito de Inteligência Emocional.

Habilidades de Liderança e Conhecimento Tácito: como apresentado por Mumford et al. (2000, p. 14), “... liderança representa uma forma de resolver problemas sociais...”. Com um foco em solução de problemas, a aquisição de conhecimentos tácitos em diferentes experiências é importante, mas, só adquirir, não será suficiente, se o líder não apresentar as habilidades cognitivas de avaliação para que possa tirar as lições.

Como conclusão desta apresentação, pode-se afirmar que se trata de uma Escola muito fértil e bem aquecida com possibilidade de grandes contribuições para o estudo de liderança.

A Escola dos Traços e Atributos, além de ter sido um dos gatilhos para as pesquisas de Liderança Situacional, como será visto a seguir, também é uma importante base para a Escola da Liderança Transformacional, principal Escola de Liderança na atualidade.