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Escola EE Ribeirinhos na Gleba XV de Novembro setor III – Rosana/ Euclides da Cunha – maio de

Constatamos que todas as crianças têm acesso à escola, se não no assentamento, nas escolas das cidades vizinhas. Quando indagados sobre o acesso à educação no próprio assentamento, apenas 17% responderam que têm acesso. Verificamos que são assentados dos municípios de Presidente Epitácio do Assentamento São Paulo e dos que tem acesso muito próximo das escolinhas da Agrovila do projeto Lagoa São Paulo como é o caso dos assentamentos Maturi e Luis de Moraes Neto em Caiuá.

A maioria das escolas é no meio urbano, no entanto, averiguamos que não existem problemas graves com relação à disponibilização de transporte por parte das prefeituras municipais que atendem as crianças e, em número reduzido, e salvo algumas exceções também pais de alunos.

Observamos que as dificuldades em prolongar os anos de estudos vão se ampliando progressivamente conforme as séries vão aumentando. O transporte para as criança e jovens do ensino fundamental (1 a 8ª série) é terminantemente garantido pelas prefeituras, no entanto, a partir do ensino médio, varia muito de acordo com a demanda, se esta for pequena o estudante deve encontrar um outro meio de locomoção, segundo relatos de alguns estudantes.

Saúde nos assentamentos

Com relação ás políticas de saúde “deve-se lembrar que a grande luta para implantação dos primeiros PSFs- Programa da Saúde da Família - na Região do Pontal do Paranapanema foi travada inicialmente dentro dos acampamentos e assentamentos de Mirante do Paranapanema, e a contratação das primeiras agentes de saúde se deu em 1999, conforme relato de Lourdes Azedo, funcionária da Fundação ITESP e uma grande colaboradora nos trabalhos para implantação e viabilização dos Assentamentos rurais na região. Assim, desde a implantação do PSF que os assentamentos são atendidos, a qualidade deste atendimento varia muito em função da organização da comunidade e da equipe que foi destinada para atender cada assentamento.

Baseado num modelo cubano, em vigor no país desde 1994 somente em 1999 é regulamentado conforme Decreto Nº 44.544, de 16 de dezembro de 1999, traz em seu artigo primeiro:

Artigo 1º - Fica instituído o Programa de Saúde da Família, doravante denominado QUALIS/PSF, no âmbito da Secretaria da Saúde, que tem por objetivo a reorientação da assistência à saúde no Sistema Único de Saúde - SUS/SP, mediante ações de promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e da família de forma integral e contínua a serem desenvolvidas por equipes de saúde da família, que atuarão em áreas de abrangência definida36

Trata-se de uma medicina preventiva. Geralmente o médico dá plantão uma vez na semana, cabendo à Agente de Saúde, dar suporte e acompanhamento às famílias assentadas. As agente de saúde são escolhidas dentro do assentamento, o que facilita o relacionamento com a comunidade e as visitas que devem ser feitas com freqüência nas casas das famílias.

Segundo entrevistas com agentes de saúde nos assentamentos, constatamos que as principais ações destas estão relacionadas a dar orientações sobre a alimentação adequada para crianças, controle da hipertensão e estímulo ás gestantes e mães em fase de aleitamento. Relatam que apesar de visitarem todas as casas, dão atenção especial a alguns grupos (crianças menores de cinco anos, gestantes, idosos e hipertenso). As agentes também são responsáveis por elaborar e encaminhar relatórios ao médico responsável a fim de dar suporte ao acompanhamento dos casos, bem como pela organização de reuniões mensais com grupos de hipertensos e diabéticos.

Observamos que a maioria dos Assentamentos pesquisados possuem posto de atendimento do PSF no assentamento ou nas suas imediações. São poucos assentamentos que possuem tratamento odontológico e os casos mais complicados de saúde ou exames específicos, devem ser encaminhados à sede do município ou à Sede Regional, em Presidente Prudente.

Em Caiuá existem dois postos de saúde nas agrovilas III e IV do Reassentamento Lagoa São Paulo que atende os assentamentos de Caiuá e um posto de saúde na cidade, demonstrando, neste caso, que a demanda no campo é maior ou melhor atendida que na cidade.

Na última pesquisa realizada pela Fundação ITESP em 2003, foi constatado que existiam 22 equipes de PSF em Postos de Saúde dentro dos assentamentos e 110 Agentes de Saúde, indicando mais de uma por assentamento, uma vez que existem, atualmente, 103 assentamentos.

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Na pesquisa desenvolvida junto ás famílias assentadas 79% revelaram receber atendimento médico no próprio assentamento e apenas 21% na cidade. Convém ressaltar, entretanto, que estes 21% refere-se à pessoas que responderam que tem acesso aos dois tipos de assistência médica, uma vez que não foi constatado nenhum caso em que o entrevistado respondesse que não existe atendimento médico no assentamento ou em suas proximidades.

Um diagnóstico realizado em 2006 nos assentamentos de Mirante do Paranapanema por Lourdes Azedo revelou problemas que não se diferem da realidade dos demais assentamentos da região. Os principais problemas levantados foram: demora no atendimento; dificuldade de agendamento de consultas com médicos especialistas, falta de ambulância dada a distância destes núcleos da sede municipal; falta de infra-estrutura dos postos de saúde; demora no agendamento de exames; mau atendimento por parte de funcionários; falta de variedade de medicamentos; ausência de plantão para casos de emergência, etc.. No entanto,

apesar destas dificuldades averiguamos que o acesso por parte dos assentados às políticas de saúde é muito mais facilitado, do que para qualquer outra família do campo com as mesmas condições econômicas, que não seja assentada. Há casos de sitiantes que se dirigem ao PSF do assentamento para serem atendidos, como fora relatado anteriormente.

Meios de locomoção e transportes

Com relação aos meios de locomoção e transporte de pessoas e produção dos assentamentos, verificamos que um primeiro obstáculo é a má qualidade das estradas, 69% dos entrevistados revelaram que a qualidade das estradas de acesso aos assentamentos variam de péssimas à regular e apenas 31% dos entrevistados classificaram as vias de acesso entre ótimas e boas.

O meio de locomoção mais utilizado pelas famílias é o carro com 25% das respostas, seguido do ônibus com 19% das respostas. Verificamos que 59% dos assentamentos são servidos de transporte público da prefeitura, que transporta com exclusividade estudantes, mas também não deixam de transportar a comunidade assentada que precise deste meio de locomoção. Por outro lado o interesse de empresas particulares de linha em atender os assentamentos rurais é grande, em 39% dos casos existe esta opção.

No município de Caiuá, por exemplo, o acesso às cidades de Presidente Venceslau e Presidente Epitácio é feito pelas empresas de transporte Andorinha e Áurea respectivamente, segundo relatos dos assentados, estes ônibus passam a cada três horas, todos os dias da semana. De modo que o transporte de assentados de Caiuá para estas cidades é mais facilitado que até a sede do próprio município, fato que comentaremos adiante ao mencionarmos as implicações que isto traz para o comércio local e regional.

Dentre os municípios entrevistados Piquerobi é o único no qual os assentamentos não são atendidos por uma linha de ônibus, restando para estes o transporte próprio, carona ou do ônibus da prefeitura.

Observamos que além de ¼ da população assentada possuir carro próprio, demonstraram possuir também outros meios de locomoção 15% possuem carroça, 13% possuem moto, 2% trator, 2% caminhão e 3% utilitário do tipo camionete.

Acesso à água potável

Com relação ao acesso à água potável a pesquisa revelou que 56% da população entrevistada é abastecida a partir de poços artesianos comunitários, 21% poço artesiano particular e 22% ainda é abastecida por poços simples de tijolos, também conhecidos como cisterna e cacimba, apenas 1% dos entrevistados disse não ter acesso a este recurso e depender de terceiros para consegui-lo, conforme podemos constatar no Gráfico 07.

Convém ressaltar que o maior número de poços artesianos comunitários apareceu entre os entrevistados do município de Presidente Epitácio. Verificamos que recentemente (2006/2007) foi aprovado um projeto ligado ao Projeto de Micro bacias de instalação de poços artesianos comunitários nos assentamentos Lagoinha e Engenho. A média é que cada poço artesiano atenda de 14 a 24 famílias.

Gráfico 07 – Acesso à água potável 10; 12% 18; 21% 47; 56% 8; 10% 1; 1% Sim, do poço

Sim, do poço artesiano particular

Sim, do poço artesiano comunitário

Sim, da cacimba

Não

Fonte: Trabalho de Campo 2005/2006 Acesso à energia elétrica

Com relação ao acesso à energia elétrica convém ressaltar que existem basicamente dois programas do Governo Federal para instalação de energia elétrica no meio rural. Um é o mais antigo, o Luz da Terra, os beneficiários deste programa auxiliam pagando uma parcela pela instalação da rede, o que dificultava em muito o processo inicial dentro dos assentamentos, uma vez que nem todos possuíam tal recurso para auxiliar os custos da implantação da rede, gerando uma série de problemas e transtornos para o grupo inteiro de assentados.

Dadas às inúmeras reclamações e reivindicações, o Governo Federal iniciou, em 2003, a implantação do Programa Luz para Todos. Trata-se de uma ação integrada coordenada pelo Ministério de Minas e Energia (MME) em que o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) participam indicando quais assentamentos rurais têm prioridade para receber energia elétrica. A instalação da energia nos domicílios é gratuita e inclui três pontos de luz e duas tomadas em cada residência.

O Gráfico 08 demonstra que 49% dos entrevistados já foram beneficiados com este programa, os demais 48% tiveram que pagar a devida taxa, 1% declarou

ter colocado a energia com recursos próprios. Apenas 2% dos entrevistados, até o momento da pesquisa, não tinha acesso à energia elétrica.

Gráfico 08 - Acesso a energia elétrica nos assentamentos Pesquisados37

41; 49%

40; 48%

1; 1% 2; 2%

Sim, luz para todos

Sim, luz da terra

Sim, recursos próprios

Não

Fonte: Trabalho de Campo, 2005/2006

Nos casos das Agrovilas do município de Piquerobi, os assentados demonstraram grande desejo em morar no lote, sendo que um dos impedimentos que ainda os mantém na agrovila é pelo acesso facilitado à energia e à água. Se optarem por ir para o lote, deverão arcar com estes custos sozinhos, situação que começou a mudar a partir de outubro de 2006, quando segundo relatos de moradores, a energia seria instalada nos lotes pelo Programa Luz para Todos.

O acesso à energia elétrica permite a manutenção de uma série de equipamentos que podem facilitar em muito a vida no campo, como o triturador, a máquina de lavar, o ferro elétrico, aparelhos de áudio e vídeo, geladeira, freezer, ventiladores, entre outros, aumentando o nível de conforto das famílias no campo.

Nesta pesquisa buscamos saber um pouco mais sobre o acesso a alguns destes itens, considerados mais relevantes pelo papel que desempenham dentro de uma casa, são eles: a televisão, o computador, a geladeira e o telefone, conforme apresentamos no Quadro 20:

Quadro 20 – Presença de Eletrodomésticos, audiovisuais e meios de comunicação nos assentamentos:

Equipamentos sim não

Televisão 96% 4%

Geladeira 97% 3%

microcomputador 12% 86%

telefone 70% 30%

Fonte: Trabalho de campo, 2005/2006

Com relação ao acesso a computadores, conforme Quadro 20, apenas 12%

dos entrevistados tem acesso a computadores, sendo 1% no próprio lote, 7% na escola e os demais 6% em outros locais como trabalho, vizinho ou instituições como o ITESP.

Recentemente, no final de 2005 e início de 2006, através do Programa de Inclusão Digital (CDI), foram implantadas salas com computadores em 03 dos assentamentos do Pontal, processo este, ainda em fase de expansão. Das três unidades em funcionamento, está no Setor II da Gleba XV de Novembro em Primavera, Distrito de Rosana, outra no assentamento Haroldina em Mirante do Paranapanema e 1 no assentamento Santa Zélia em Teodoro Sampaio. Num período anterior também foram feitas salas de informática na Agrovila III do Projeto Lagoa São Paulo em Epitácio cujos assentados de Caiuá da Luis de Moraes Neto e Maturi têm acesso. Tal fato tem facilitado o acesso aos computadores no campo e motivado principalmente o jovem.

Outro meio de comunicação cada vez mais indispensável nos dias de hoje é o

telefone, observa-se que apenas 30% não tem acesso a nenhum meio de comunicação, por outro lado, 20% dos assentados entrevistados possuem telefone fixo e 50% telefone celular. Cabe aqui ressaltar que no caso das Agrovilas e também

nos assentamentos mais numerosos, existem telefones públicos instalados, próximo às escolas e postos de saúde.

Conta Bancária percebe-se que a maioria dos assentados principalmente aquelas que tiveram acesso à linhas de crédito do governo federal, 55% possuem conta no Banco do Brasil. Aqui convém lembrar, que está agência não está presente nem no município de Caiuá, nem de Piquerobi. Para os assentados de Caiuá o Banco do Brasil mais próximo está em Presidente Epitácio ou Presidente Venceslau, já no caso dos assentados de Piquerobi o banco mais próximo está no município de Santo Anastácio e as relações que se desdobram a partir dai serão relatados mais adiante quando comentaremos sobre os impactos dos assentamentos no comércio local e regional.

Dado a estas dificuldades verifica se que os assentados mantêm relação também com outras redes de banco, aparecendo o Banco Nossa Caixa Nosso Banco com 11%, Banespa/Santander com 6%, Caixa Econômica Federal com 3% e ainda outros com 5% notadamente Bradesco e Itaú. Apenas 15% dos assentados revelaram não possuírem conta bancária.

O último item que pretendemos trabalhar dentro do eixo qualidade de vida e infra-estrutura nos assentamentos é a habitação

7.1.3 – As casas nos assentamentos

Os impactos socioterritoriais são perceptíveis nas transformações provocadas na paisagem do campo pela implantação dos assentamentos rurais e pelas alterações na qualidade de vida das famílias assentadas. Vimos que a luta inicial é pela conquista da terra, em seguida é pela reivindicação das principais políticas públicas: água, luz, habitação, saúde, educação, estradas, áreas comunitárias, barracões de armazenamento, crédito e assistência técnica. As políticas públicas conforme especificado anteriormente são uma resposta do Estado à situações de conflito, à constatação de necessidades coletivas e para solucionar ou amenizar problemas recorrentes da população.

Estas necessidades para tornarem-se políticas públicas devem ser reconhecidas, problematizadas e assumidas por sujeitos coletivos. Só então a necessidade torna-se pública e como tal passa a ser uma demanda da sociedade, ou parte dela. Este processo não é harmônico, pois envolve interesses antagônicos como, por exemplo, os interesses do MST serão contrários aos interesses da UDR e

vice-versa e estes dois sujeitos coletivos pressionarão o Estado para que este dê respostas. Existe uma correlação de forças na disputa por territórios. A implantação dos assentamentos rurais constitui a materialização da luta pela terra. Perceptível a partir, da ocupação do latifúndio por camponeses de produção familiar, pela ampliação das possibilidades de acesso às políticas públicas a um número relativo de pessoas, bem como pela melhoria na qualidade de vida das famílias assentadas, revelado também pelas casas que foram edificadas no campo conforme o Gráfico 09:

Gráfico 09 – Tipos de Casas nos Assentamentos38

19; 21% 44; 50% 8; 9% 5; 6% 2; 2% 11; 12% Alvenaria

Alvenaria sem acabamento Madeira

Alvenaria e madeira Lona / Barraco

Casa de alvenaria em construção

Fonte: Trabalho de campo 2005/2006

Das famílias entrevistadas constatamos que 50% já estão morando em casas de alvenaria, ainda sem acabamento, 21% já concluíram a construção de suas casa, 9% das casas são de madeira, 6% mantém uma casa mista de madeira e alvenaria e apenas 2% ainda permanecem em barracos. Observamos que as políticas de habitação ofereceram subsídios para construção destas casas, sendo, no entanto insuficientes, como pudemos comprovar pelos créditos liberados (R$ 3.000,00