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Torna-se cada vez mais difícil encontrar ou mesmo propor uma definição de desenvolvimento que contemple a abrangência de seu significado. Observamos, no entanto, que todos os modelos ditos de desenvolvimento, favoreceram a evolução do modo de produção capitalista, que é extremamente concentrador e excludente, trazendo como conseqüência direta a crescente pauperização da população.

Sabe-se que desde meados do século XVIII, com a Revolução Industrial, que o conceito de desenvolvimento passou a ser utilizado como sinônimo de crescimento, industrialização e modernização, principalmente no pós Guerra, quando apareceram os “milagres econômicos” que pareciam indicar estágios de desenvolvimento. Pouco a pouco se tornou impossível desconsiderar que o crescimento está ligado diretamente a um adjetivo quantitativo e econômico, ou seja, se produz mais e conseqüentemente gera-se mais riquezas, o que não significa dizer que isto é um imperativo para que a sociedade viva melhor, uma vez que o trabalho excedente da classe trabalhadora é apropriado pela classe dominante.

Até a Segunda Guerra Mundial, a temática predominante nos estudos brasileiros se deu entorno da caracterização do espaço e do povo brasileiro. Mais precisamente a partir de 1946, com o final da guerra, apareceram novos questionamentos e a tônica dominante passou a ser a questão do desenvolvimento/subdesenvolvimento, influenciados pelas contribuições teóricas marxistas. Busca-se a partir de então, entender as razões de uma nação tão rica como o Brasil ser subdesenvolvida.

A partir de então, vários estudos têm revelado as desigualdades sociais, a miséria e suas diferentes faces no campo e na cidade, os desequilíbrios regionais e a postergação de soluções de problemas teoricamente simples, fruto das contradições do modo de produção capitalista e do antagonismo entre as classes sociais. Muitos pesquisadores ainda tentam justificar tais problemas pelo mau funcionamento das instituições públicas ou pelas debilidades políticas e éticas que prejudicam o bom funcionamento das coisas, no entanto as razões destes males possuem outras fontes ligadas diretamente ao modelo de desenvolvimento adotado no país e no mundo.

Para fundamentar o entendimento a respeito do conceito de desenvolvimento, consultamos várias bibliografias3, no entanto foram escolhidos apenas alguns teóricos que se debruçaram mais sobre a questão do desenvolvimento e que oferecem diferentes contribuições; são eles : Samir Amin (1976, 2001, 2002 e 2003), Neil Smith (1988), Celso Furtado (1974, 1998, 2002 e 2004), Amartya Sen (2000 e 2001) e Ignacy Sachs (2001, 2002 e 2004). Procuramos desconstruir suas análises ao mesmo tempo em que tentamos construir outra, embora compreendamos que este deve ser um esforço contínuo, no sentido de ir além do aparente, além dos enunciados teóricos e além das transcrições feitas por estes teóricos, num jogo contínuo entre teoria e objeto, cientes de que o próprio objeto se movimenta no espaço e não é visualizado por completo. Se a realidade é formada de fragmentos corre-se o risco de que esta análise se torne ainda mais fragmentada.

Samir Amin é um dos primeiros teóricos a falar da característica desigual do processo de desenvolvimento e subdesenvolvimento. Afirma que uma política econômica de desenvolvimento deve ir sistematicamente contra “as leis naturais” da economia visando reduzir as diferenças de renda entre as categorias sociais com vistas a assegurar a coesão nacional. (AMIN, 1976, p.187).

Amin em sua obra “O desenvolvimento desigual: ensaio sobre as formações

sociais do capitalismo periférico” defende, claramente, um projeto socialista de

desenvolvimento, acreditando que o capitalismo preencherá sua função histórica, que é a acumulação, preparando-se para sua superação.Amin (1976, p.330). Difícil de apreender tal situação, talvez porque realmente estamos diante de um impasse que exigirá novas formas de desenvolvimento ou a crescente deteriorização da qualidade de vida que atingirá indiscriminadamente toda a humanidade, caso não exista uma terceira alternativa.

Em suas produções mais atuais (2002), Amin expressa uma crítica fundamentada à globalização neoliberal. Afirma que as políticas de desenvolvimento neoliberais fracassaram (para a maioria da população e não para os donos do capital) tanto no terreno social quanto econômico, isto porque, identificadas com o seu projeto de globalização, estimularam a criação de blocos regionais sob a égide do grande capital financeiro. Essa prática tem demonstrado que os problemas dos

3 Veiga (1991, 2000 e 2005); Gómez (2002 e 2006); Molina (2003); Alentejano (2003 ); Bobbio (2000);

povos, em vez de se resolverem, agravam-se. Segundo ele, as políticas neoliberais fomentam a divisão e ampliam as divergências entre os países periféricos. Por outro lado, acredita que essa estratégia contribuiu para tornar mais evidente a necessidade de uma globalização da unidade e da solidariedade em defesa do bem comum.

Neste sentido, percebemos que o acesso aos meios de comunicação e informação, que diminuem espaço e tempo, pode facilitar maior organização social em termos mundiais. Do mesmo modo, facilitam maior supervisão e controle dos conflitos entre as classes. De fato, para controlá-los o Estado deverá injetar cada vez mais recursos e, sob pressão, será forçado a instalar medidas redistributivas e de desconcentração da renda, como tem sido feito no caso da implantação dos assentamentos rurais.

Difícil, no entanto é acreditar na supressão do conflito do jogo que envolve o crescimento econômico e o desenvolvimento, uma vez que é marcado por interesses que não correspondem aos ideários da harmonia, do consenso, da fraternidade e da justiça e muito menos na redistribuição das riquezas. A igualização será sempre suplantada pela diferença.

Amin utiliza o conceito de desenvolvimento desigual, justificando-o a partir das formações sociais dos países do capitalismo periférico, demonstrando que o mesmo tem uma estrutura fundamentalmente diferente da do capitalismo central:

Enquanto estes últimos conhecem a acumulação auto-centralizada, as formações sociais periféricas conhecem uma estrutura de desenvolvimento essencialmente desequilibrado. No centro o desenvolvimento gira em torno da produção de bens de capital e do incentivo ao consumo de massa: na periferia, contudo é a produção para exportação e o consumo de bens de luxo que forma a base da economia, sendo uma estrutura essencialmente desequilibrada. (AMIN, 1974, p.167)

que gera os contrastes entre riqueza e miséria tão perceptíveis no Brasil, são favelas ao lado de condomínios de luxo, carros com mais de 30 anos circulando ao lado dos modelos mais avançados, as lojas de grifes e os camelódromos.

Concordamos que o avanço das transnacionais, juntamente com o aumento das exportações, não resolve os problemas dos países, pelo contrário, deixa a economia ainda mais vulnerável,

(...) em princípio porque a alocação exclusiva de recursos neste tipo de negócio é feito em detrimento da agricultura e das indústrias destinadas ao

mercado interno, arrastando nestes setores um crescimento rápido das importações.(AMIN, 1974, p.188).

Percebe-se que a transferência dos lucros para o exterior cancela todo o impacto que parece positivo das exportações.

É por este motivo que, Bobbio reforça a colocação de Amin, ressaltando que não podemos descuidar da análise histórica e sócio-política dos modelos de organização das diferentes sociedades quando o assunto em questão é o desenvolvimento, porque muitas vezes o que aparenta ser desenvolvimento significativo

talvez seja mais correto falar, na maioria dos casos em crescimento quantitativo sem mudanças estruturais) e isto ocorre também nos países periféricos, tem um preço e algumas conseqüências bem precisas, embora nem todas caracterizáveis, para o futuro destes países” (BOBBIO, 2000, p.1227).

Assim, o crescimento econômico instigado pelo capital estrangeiro, acaba por apossar-se dos setores mais avançados destas economias controlando-os mais rigorosamente, tornando-os ainda mais dependentes do que antes.

Amin (2002) levanta questões importantes sempre em caráter de alerta e denúncia sobre as novas relações de produção e de trabalho no modo de produção capitalista coloca que a

revolução tecnológica decompõe de forma atual a organização do trabalho. Ela não aboliu as classes, mas decompôs as formas internas da organização das classes e as recompõe. (...) A atual revolução tecnológica e científica tem uma natureza nova, por se apoiar em dois ramos novos: a informática e a genética. As duas permitem um aumento gigantesco da produtividade. (AMIN, 2002).

Os reflexos de tudo isto são sentidos tanto no campo como na cidade. Nos auxiliam na compreensão das novas relações de trabalho e produção e na necessidade de valorizar o saber do homem do campo, da defesa do banco de sementes e opor-se contra os trangênicos, a fim de preservar as estratégias de luta e resistência no campo.

Amim denuncia que os países ricos teriam condições de sanar as principais deficiências materiais da humanidade se assim o quisessem, no entanto, não o fazem. Embora controlem os dados sobre a pobreza ano pós ano

apresentando-a só como um fato medido empiricamente, tanto de forma muito grosseira através da distribuição do rendimento (linhas de pobreza) ou de uma forma um pouco menos grosseira através dos índices compostos (tais como o Índice de Desenvolvimento Humano proposto pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), sem nem mesmo

levantar a questão das lógicas e dos mecanismos que geram esta pobreza. (AMIN, 2003)

Várias são as contribuições deste pensador na concepção deste trabalho. Esta sua necessidade de perseguir a lógica e os mecanismos que geram a pobreza; sua visão globalizada dos problemas oriundos do modo de produção capitalista que nos auxiliam a compreender as relações presentes na sociedade brasileira principalmente no que diz respeito aos mecanismos de concentração de renda e poder.

Torna-se relevante compreender o papel do nosso país e dos demais países, por ele classificados de periféricos, na divisão internacional do trabalho, que envolve a necessidade de um mundo globalizado para ampliação incondicional do capital. Tal afirmação só pode ser compreendida quando se busca as raízes históricas desta divisão, impossível de ser esgotada nesta discussão, mas que se tornou mais clara ao analisarmos as idéias de Neil Smith.

É através do caráter contraditório de produção do espaço que Neil Smith analisa o desenvolvimento desigual e por isto não considera a existência de um único tipo de desenvolvimento, mas de vários desenvolvimentos, com escalas, tempo e processos desiguais. (SMITH,1988, p.147).

Hoje o processo de desenvolvimento desigual apresenta-se em contornos mais nítidos em todas as escalas espaciais do que em qualquer outro período anterior (...) as tendências contraditórias para a diferenciação e a igualização são determinadas pela produção capitalista do espaço. (...) A desigualdade espacial não tem sentido algum, exceto como parte de um todo, que é o desenvolvimento contraditório do capitalismo. (SMITH, 1988, p.149-151).

O autor propõe uma análise que considere sociedade e natureza como produto da unidade do capital, sendo preciso separar os momentos essenciais da produção da natureza de suas aparências variadas, que ora revela desenvolvimento, ora revela subdesenvolvimento.

Sua teoria de desenvolvimento desigual é embasada fortemente pelo fato de considerar a tendência à igualização dos espaços, impossível sob o modo de produção capitalista,

por razões profundamente estruturais. Quanto mais a produção atinge alguma condição de equilíbrio espacial (...) tanto maior o incentivo competitivo para os capitalistas individuais romperem a base daquele equilíbrio (...). (SMITH, 1988 p.192).

Tanto o subdesenvolvimento, como o desenvolvimento, ocorre em todas as escalas espaciais, e o capital tenta se movimentar geograficamente de tal maneira que continuamente explora as oportunidades de desenvolvimento, sem sofrer os custos econômicos do subdesenvolvimento. Isto é, o capital tenta fazer um vaivém de uma área desenvolvida para uma área subdesenvolvida, para então num certo

momento posterior voltar à primeira área que agora se encontra subdesenvolvida, e assim sucessivamente. Na medida em que o capital não pode encontrar um fixo espacial na produção de um ambiente imóvel para a produção, ele recorre à completa mobilidade como um fixo espacial. (SMITH, 1988, p. 213).

As colocações de Neil Smith sobre o vaivém realizado pelo capital sob os diferentes espaços, gerando desenvolvimentos desiguais, permite questionar sobre aqueles locais onde isto não é visível. E mesmo transferindo para uma escala em que se é colocado mais próximo do exercicío de compreensão deste fenômeno, que é o espaço estadual e regional, fica difícil compreender este movimento.

Se Neil Smith coloca que o desenvolvimento é desigual à medida que o capital se movimenta sobre os diferentes espaços geográficos num vaivém constante e tenta aproveitar as vantagens do desenvolvimento, fugindo dos malefícios do subdesenvolvimento, também significa dizer que é o capital que promove o desenvolvimento e também o subdesenvolvimento é uma contradição. Se o capital só promovesse o desenvolvimento ele seria permanente, como também promove o subdesenvolvimento e em escalas ainda maiores ele precisa se movimentar.

No entanto, não se pode confundir as forças produtivas do homem com as forças produtivas do capital: só o homem é capaz de produzir valores e só ele pode definir o que tem valor ou não. Deste modo o desenvolvimento pode ser considerado uma condição, um estado de ser. Discordando de Smith concluímos que não se pode afirmar, que a ausência do capital gera o subdesenvolvimento, são as relações sociais que moldam a construção do espaço e dos territórios que geram o subdesenvolvimento ou o desenvolvimento.

Furtado (1958, 1985, 2000, 2004), ao estudar profundamente a estrutura política e econômica do Brasil e se consagrar comoum dos intérpretes latino- americanos das questões do subdesenvolvimento e um ativo militante dedicado à sua superação, revela que nos encontramos diante de um impasse, que só poderá ser superado pela criatividade política impulsionada pela vontade coletiva.

Considera que o ponto de partida do processo de reconstrução que temos que enfrentar deverá ter uma participação maior do povo no sistema de decisões. Sem isso, o desenvolvimento futuro não se alimentará de autêntica criatividade e pouco contribuirá para a satisfação dos anseios legítimos da nação. Impõe formular a política de desenvolvimento a partir de uma explicitação dos fins substantivos que almejamos alcançar, e não com base na lógica dos meios imposta pelo processo de acumulação comandado pelas empresas transnacionais. A superação do impasse com

o qual nos confrontamos requer que a política de desenvolvimento conduza a uma crescente homogeneização de nossa sociedade e abra espaço à realização das potencialidades de nossa cultura. (FURTADO, 2004, p.07)

Furtado compreende que só existirá desenvolvimento de fato se o mesmo estiver imbricado de processos que deva levar a sociedade a uma contínua homogeneização, o que parece impossível na análise de Neil Smith, da qual falamos anteriormente.

Cabe lembrar, no entanto, que a CEPAL (Comisión Econômica para América Latina y el Caribe), da qual Furtado foi o grande expoente brasileiro, propôs um modelo de desenvolvimento para o Brasil que fundamentou a elaboração dos dois grandes Planos de Desenvolvimento Econômico (I e II PNDs), baseados na modernização da indústria e na produção dos produtos para exportação. As principais características da modernização da agricultura proposta neste período e ainda em curso, tem indicado contradições a partir do modelo de desenvolvimento do qual a modernização foi gestada.

Furtado acreditava que o modelo proposto poderia trazer benefícios gerais não apenas para a burguesia industrial e os grandes proprietários de terras, mas também para as demais classes sociais, o que de fato não ocorreu.

Para Mantega, tal propositura carecia de como fazer, e de uma explanação detalhada de como se difundiria a riqueza e o bem-estar para toda essa população, levando a crer que isso deveria efetivar-se de forma automática e espontânea (1984, p.42).

A partir do modelo de desenvolvimento adotado, tornaram-se ainda mais concentradas a terra e a renda, houve aumento considerável no nível de desemprego e aumentaram-se as desigualdades sociais. Além dos fatores estruturais internacionais, por se investir mais na produção para exportação que para o consumo interno, na década de 1970, a baixa oferta de gêneros alimentícios refletiu-se nas altas taxas de inflação, principalmente na elevação do custo da cesta básica.

Observamos neste processo que o subdesenvolvimento gerado a partir de tanto investimento (PNDs), não foi a ausência de capitalismo, mas sim o seu resultado. O crescimento da economia ocorreu, mas de forma totalmente perversa, alimentado pelo aprofundamento das desigualdades sociais e os conflitos presentes na gestão da distribuição das riquezas geradas. Assim, o Brasil foi o campeão do crescimento durante quatro décadas, mas saiu desta experiência como um país profundamente injusto e subdesenvolvido.

No entanto, a grande contribuição de Celso Furtado na compreensão do processo de desenvolvimento e principalmente na compreensão das políticas traçadas para o Brasil, está no seu livro “Formação Econômica do Brasil” de 1958. Aponta o desenvolvimento do capitalismo brasileiro como lento, resultado da situação do que atribuiu à dialética do desenvolvimento (o desenvolvimento dos países ricos significa o subdesenvolvimento dos países mais pobres). Inspirado em J.M.Keynes e na CEPAL, propôs um desenvolvimento autônomo, não-dependente, baseado nos investimentos estatais e apoiado pela burguesia nacional e pelas forças da coletividade, o que efetivamente não foi seguido.

Quando da publicação do livro o Mito do Desenvolvimento Econômico em 1998, Furtado revela toda sua preocupação com um sistema injusto e excludente que se move aproveitando-se da crença em um mito e denuncia que

o estilo de vida criado pelo capitalismo industrial será privilégio de uma minoria. O custo em termos de depredação do mundo físico, desse estilo de vida é de tal forma elevado que toda tentativa de generalização levaria inexoravelmente ao colapso de toda uma civilização, pondo em risco a sobrevivência da espécie humana (...) a idéia de que os povos pobres podem algum dia desfrutar das formas de vida dos atuais povos ricos é simplesmente irrealizável. Sabemos agora de forma irrefutável que as economias da periferia nunca serão desenvolvidas, no sentido de similares às economias que formam o atual centro do sistema capitalista. Mas como desconhecer que esta idéia tem sido de grande utilidade para mobilizar os povos da periferia e leva-los a sacrifícios para legitimar a destruição de formas de cultura arcaicas, para explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o meio físico, para justificar formas de dependência que reforçam o caráter predatório do sistema produtivo? Cabe, portanto afirmar que a idéia de desenvolvimento econômico é um simples mito. (FURTADO, 1998, p.88)

Em suas produções, revela a inquietude diante da contradição entre o formidável potencial de recursos do país e o baixo nível de desenvolvimento alcançado por este até o presente. Segundo ele, as causas desta contradição estariam essencialmente relacionadas “a propensão ao endividamento externo e a propensão à concentração social da renda” (FURTADO,2002, p.08).

Declara que um amplo programa social deve dar prioridade à habitação e à educação, antes de investimentos reprodutivos, ressaltando que

a distinção fundamental entre desenvolvimento e subdesenvolvimento está associada aos esforços e resultados das ações nos planos políticos para diminuir a heterogeneidade social que o modo capitalista de produção gera.

Segundo ele, a educação melhora a qualidade do fator humano, modificando por completo o quadro do país, abrem-se possibilidades de desenvolvimento muito maiores. Não há país que tenha conseguido se desenvolver sem investir consideravelmente na formação de gente. (...) Esse é o mais importante investimento a fazer, para que haja não só crescimento, mas autêntico desenvolvimento. (FURTADO, 2002, p. 19).

Furtado reconheceu sua responsabilidade ao assumir que acreditava que o simples crescimento econômico do país promoveria índices mais altos de poupança e com ele o desenvolvimento. Constata, no entanto, que após vários anos de estudo o país praticamente aumentou em dez vezes mais o seu crescimento, e na mesma proporção aumentaram-se as desigualdades e os pobres se tornaram ainda mais pobres. Não houve desenvolvimento, e conclui: “o desenvolvimento verdadeiro só existe quando a população em seu conjunto é beneficiada”. (FURTADO,2002, p.21). Já Amartya Sen (2000), surpreendeu o mundo com sua forma simples e ao mesmo tempo diferente de definir desenvolvimento, tornando o conceito mais próximo do humano e do social ao afirmar que desenvolvimento

consiste na eliminação de privações de liberdades que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de agente (p.10). Sob este enfoque as liberdades não são apenas os fins primordiais do desenvolvimento, mas também os meios principais (...) com oportunidades sociais adequadas os indivíduos podem efetivamente moldar seu próprio destino. (p. 25–26).

As pessoas passariam a ser agentes e não beneficiários passívos do processo de desenvolvimento. Sen (2000) entende que a liberdade deve ser meta e meio de promoção do desenvolvimento e propõe cinco tipos de liberdades fundamentais que o ser humano deveria ter para alcançar esta condição:

liberdades políticas (na forma de liberdade de expressão e eleições livres) que ajudam a promover a segurança econômica; facilidades econômicas (na forma de oportunidades de participação no comércio e na produção) que ao seu ver podem ajudar a gerar a abundância individual, além de recursos públicos para os serviços sociais; oportunidades sociais (na forma de serviços de educação e saúde,