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6.1.4 – Assentamento São Paulo

O assentamento São Paulo é o que fica mais distante do perímetro urbano, 50 km aproximadamente, lá estão assentadas 78 famílias, como podemos ver pela quantidade de lotes representados na Planta 06. Segundo relato dos entrevistados a fazenda pertencia à Companhia Mate Larangeira, referenciada anteriormente, como uma das grandes latifundiárias no início da colonização.

Este é o assentamento mais novo implantado no município de Presidente Epitácio. É de 2003 e já sob responsabilidade integral da Fundação ITESP. O mesmo é resultante de todo processo de luta anterior, existindo aí famílias que estão em acampamentos desde a época da luta pela conquista do assentamento Lagoinha, em 1998.

Fiquei 6 anos acampada, esperando terra, só fui assentada em 06/07/2003. Trabalhei com a liderança tentando ajudar os outros, até que hoje, conseguimos ser assentado. Hoje todos nós assentados temos que tentar...estamos tentando.... nos organizar na terra.

(Maria Helena da Silva, 49 anos – Assentamento São Paulo – Presidente Epitácio – 11/10/2006)

Tudo indica que as famílias que não conseguiram lote no assentamento Lagoinha, já na seqüência em 1998, ocuparam esta fazenda, utilizando a mesma estratégia de construção de barracos às margens da estrada. Dada à distância dos centros urbanos, o período de luta e espera nos barracos foi extremamente difícil principalmente para as famílias que tinham crianças.

No relato acima Maria Helena ressalta a luta coletiva, ela não fala “eu consegui”, ela fala “nós conseguimos o lote”, demonstra ter clara a necessidade de se estabelecer um novo processo de organização coletiva para que possam se manter na terra, passando da luta pela terra á luta na terra.

6.2 – O Município de Caiuá

O Município de Caiuá está localizado ao lado do município de Presidente Epitácio como ilustrado na Figura 07. Sua importância política e econômica na região é uma das menores, comparando-se aos demais municípios da pesquisa.

Figura 07 – Localização do Município de Caiuá24

Foi escolhido como estudo de caso para esta pesquisa por dois motivos principais, primeiro porque a maioria dos municípios com assentamentos localizados no Pontal do Paranapema são pequenos, com menos de 20 mil habitantes, em 2002 sua população era de 4.359 habitantes e mais da metade da população, aproximadamente 2.423 habitantes, vivem no campo.

Devido às suas características sócio, políticas e econômicas trabalhamos com a hipótese de que a implantação de assentamentos rurais neste município, tenha impactos imperceptíveis em sua sede e que tenha repercussões diretas e indiretas nos municípios vizinhos, como em Presidente Epitácio e em Presidente Venceslau.

Formação Territorial

O surgimento do primeiro vilarejo está também relacionado com o surgimento da Estrada Boiadeira por volta de 1909 com a necessidade de transporte do gado vindo do sul matogrossense. Consta na história oficial que neste local existia uma antiga aldeia da tribo Caiuá pela qual passava a Estrada Boiadeira. Esse local passou a ser utilizado como uma parada para descanso do gado e dos tropeiros. Tal fato impulsionou o surgimento de estruturas de suporte a esta parada, como casas,

24 Para melhor visualização do município de Caiuá e dos assentamentos implantados dentro de seus limites

vendas, entre outros. Em 1922 com a chegada dos trilhos da Ferrovia Sorocabana, ampliam-se as casas de moradores que se dedicavam exclusivamente ao corte e transporte da madeira até às margens do rio Paraná já na Vila Tibiriçá, futura Presidente Epitácio.

Depois disto, Antônio Marinho de Carvalho, loteou “suas” terras, dando início ao núcleo urbano de Caiuá, cuja fundação é atribuída a grandes “proprietários de terra”: José Moysés, João Manjolo, Salvador Antônio, Irmãos Creto, Benjamim Arruda e João Crisóstomo Ferraz. Foi elevado à categoria de Distrito de Presidente Venceslau em 1923, alcançando sua emancipação política apenas no ano de 1953.

A história se repete, os índios são expulsos e dizimados, sua aldeia é tomada de assalto pelos boiadeiros e “bandeirantes”. As terras já tinham um dono e as primeiras famílias que se fixam na povoação dedicam-se exclusivamente ao extrativismo da madeira, substituída mais tarde, pelas culturas de milho e algodão e uma vez limpas as terras, entra a pecuária de corte que passa a ser a base sócio- econômica do município.

Sem “grandes políticas de desenvolvimento” setorial, os trilhos ferroviários cortam o núcleo urbano que está parcialmente distante da rodovia SP – 270. Recebeu no final dos anos 1990 uma praça de pedágio e mais recentemente (2004), foi instalado um Complexo de Segurança Penitenciária.

O modo como foram estabelecidas as relações de domínio e dependência acirraram a disputa por terra no município a partir de 1997, quando ocorreram aproximadamente 10 ocupações de terra de modo que a conquista do primeiro assentamento rural se deu em 1998. De lá para cá foram conquistados mais 5 assentamentos, proporcionando à bóias frias, assalariados rurais temporários, meeiros e arrendatários do município o que nenhuma política anterior foi capaz de oferecer: casa, comida e trabalho.

No município de Caiuá existem atualmente 6 assentamentos rurais, conforme quadro 14 e planta 07 no anexo 6.

Quadro 14 –Assentamentos no município de Caiuá

Fonte: Instituto de Terras do Estado de São Paulo, março de 2007

A exemplo do município de Presidente Epitácio a concentração de terra ainda é muito alta. Dados levantados pelo SNCR de 1998 revelaram que existiam no município neste período, um total de 282 imóveis rurais distribuídos numa área de 54.103,90 ha, que é a área total do município. Dentre estes imóveis, constatamos que apenas 13 latifundiários (que detêm áreas acima de 1000 ha), concentravam juntos uma área de 25.532,40 ha, ou seja, 47% das terras de todo o município estavam nas mãos de apenas 5% dos “proprietários” de terra.

Dentre os pequenos sitiantes (possuidores de 1 a 4 módulos fiscais de terra = 14 a 56 ha) estão a maioria dos imóveis rurais de Caiuá, com 187 sitiantes. A esta grande maioria de pequenos produtores que representam 66% dos ocupantes de imóveis rurais, sobravam apenas 3.211 ha de terra, ou seja, apenas 6% da área total do município, representando uma grande concentração fundiária.

Consideramos que, com a implantação dos assentamentos, ampliaram-se o número de famílias que retornaram ao campo, de modo que, se este cadastro fosse realizado hoje (considerando a área dos assentamentos), perceberiamos que juntaram-se aos 187 pequenos sitiantes que haviam em 1998, mais 334 pequenos produtores rurais assentados, aumentando para 521 o número de imóveis nas mãos dos pequenos sitiantes, significa uma ampliação de 64%.

Se antes os pequenos detinham uma área de apenas 3.211 ha, passam a deter com os assentamentos 11.512,70 ha, ampliando de 6%, para 21% do total

da área do município nas mão dos pequenos sitiantes. Por outro lado, conforme histórico dos assentamentos a seguir, podemos afirmar que as 6 áreas dos assentamentos (8.301,70 ha) foi subtraída de 3 grandes latifúndios, ou seja, houve um decréscimo nesta categoria que antes concentrava 25.532,40 ha e passou a concentrar 17.230,70 ha, percebe-se que houve uma redução de 32,5% da área

Assentamento Ano de

Implantação Domínio da Terra de Lotes Número Área (Há) Área Agrícola (Há)

Situação dos Lotes Luis Moraes Neto (São

Francisco)

Agosto 2003 Federal 72 1.713,09 1.329,70 Definitivo

Malu Março 2003 Estadual 24 477,11 370,51 Definitivo

Maturi Janeiro 1998 Estadual 172 4.519,35 3.197,61 Definitivo Santa Angelina Fevereiro 2002 Estadual 23 535,81 411,47 Definitivo

Santa Rita Set. 1998 Estadual 21 523,54 380,50 Definitivo Vista Alegre Fevereiro 2002 Estadual 22 532,80 392,75 Definitivo

do latifundio em favor das famílias assentadas, representando uma situação de desconcentração fundiária, ainda que de forma limitada uma vez alterou-se a situação fundiária em apenas três imóveis rurais, 10 ainda permanecem intocados detendo ainda 32% do total das terras do município.

O Quadro 15 representa de forma resumida a desconcentração fundiária percebida no município de Caiuá após a implantação dos assentamentos rurais.

Quadro 15 – Desconcentração Fundiária no Município de Caiuá

Sem os Assentamentos Com os assentamentos

Área (ha) % * Nº. de imóveis Área (ha) %* Nº. de imóveis Pequenos Imóveis Rurais 3.211 6% 187 11.512,70 21 521

Fonte: SNCR – Estatísticas Cadastrais – 1998 Fundação ITESP – 2007 * % sobre a área total do município Org. Eliane de Jesus Teixeira Mazzini

Descreveremos a seguir um pouco sobre cada assentamento conquistado no município de Caiuá:

6.2.1 – Assentamento Maturi

O primeiro assentamento e também o maior do município é o Assentamento Maturi com 4.519,35 ha, no qual estão assentadas 172 famílias, é juntamente com o assentamento Luis de Moraes Neto os que estão mais distantes da sede do município de Caiuá. Conforme Planta 08, o assentamento Maturi faz divisa com os assentamentos: Lagoinha em Presidente Epitácio; Luis de Moraes Neto em Caiuá; Assentamento Primavera e Tupanciretã em Presidente Venceslau, constituem o que Heredia et al (2001) chama de “mancha”, uma enorme área reformada, com vários assentamentos em seu entorno.

O processo de luta para conquista da terra não diferiu em muito dos relatados anteriormente, o que torna o assentamento ainda mais cheio de complexidade é a origem das famílias. Segundo relato dos assentados entrevistados, neste assentamento estão assentadas famílias provindas de vários acampamentos em vários municípios do Pontal do Paranapanema, dentre os mais citados são os

remanescentes dos assentamentos Lagoinha (1998), Primavera I e II (1996) e de vários outros do município de Teodoro Sampaio.

Através da Foto 10 é possível visualizar parcialmente o assentamento que por sua extrensão é totalmente cortado por estradas. Como a maioria dos assentados se dedicam a pecuária leiteira a paisagem predominante ainda é a pastagem, com o diferencial da existência das moradias, pequenas plantações e pomares.

Foto 10: Vista parcial do assentamento Maturi, visto a partir da antiga sede – atual área comunitária