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Vista parcial do assentamento Maturi, visto a partir da antiga sede – atual área comunitária 03/10/

Os relatos revelam histórias de migrações, como no caso de alguns ex- barrageiros do município de Rosana, que passaram pelo acampamento em Teodoro Sampaio e encontraram seu destino nas terras do município de Caiuá.

Era barrageiro em Rosana, fiquei desempregado três anos à espera de uma oportunidade...resolvemos encarar o acampamento na época os filhos eram pequenos, mas deu certo, criei todos eles dentro do assentamento. Esta fazenda foi negociada, não precisou ocupar ela. (Azuir Ramos Silva, 60 anos, Assentamento Maturi – Caiuá – 03/10/2006)

A pesquisa indica que a maioria dos acampados, estão desempregados, ou inserem-se de forma muito precária no mercado de trabalho, enfrentando dificuldades as mais diversas neste período, principalmente quando a família tem

filhos pequenos. Relatos de luta, resistência e persistência de famílias, que passaram por mais de três acampamentos revelam que para sobreviver nesse período de real desemprego para a maioria, além da ajuda de terceiros, se desdobram como podem para não sucumbir, trabalhando na maioria das vezes de bóias-frias, domésticas e também na construção civil como auxiliares de pedreiros.

Fiquei em três acampamentos na Lagoinha perto de Epitácio. Trabalhava na roça, morava de aluguel na cidade, apesar de ter criado meus filhos como mendigos eles foram bem educados, hoje eu preciso deles...eles não precisam mais de mim.... (Euclides de Souza Andrade, 62 anos – Assentamento Maturi – Caiuá – 03/10/2006).

6.2.2 – Assentamento Santa Rita

O Assentamento Santa Rita está em uma área bem menor de 523,54 ha e

possui 21 lotes, conforme podemos verificar na Planta 09. Foi implantado no mesmo ano do Assentamento Maturi, resultante das mesmas lutas, num momento em que o MST sofria a divisão do primeiro discidente, o MAST. Foi este movimento, que segundo relato dos entrevistados, organizou o pessoal para ocupar a fazenda Santa Rita “cujo mato tomava conta”.

Marilene explica que o prefeito de Caiuá também interveio para garantir o assentamento de pessoas do município.

havia duas turmas, 5 famílias eram de Caiuá e 16 estavam acampadas na fazenda. O prefeito da época Osvaldo Aparecido, exigiu 5 lotes para quem estava acampado na fazenda Natal (município de Caiuá). Quando chegamos cada um escolheu um lote na planta, não houve confusão, isto foi feito quando estávamos ajudando o pessoal a “cortar” a área. Chegamos num lugar sem estrada, sem luz, sem dinheiro só com a cara e a coragem. Lutamos e construímos tudo, agora que está mais fácil não podemos desanimar, eu penso nos filhos e não posso desistir. (Marilene Modesto Machado, 36 anos – Assentamento Santa Rita – Caiuá - 10/03/2006)

Foto 11 – crianças no Assentamento Santa Rita. Esperança de dias melhores....(10/03/2006)

Observa-se a importância do movimento na conquista da terra. A grande maioria dos assentados da Santa Rita são de outros municípios, apenas 05 são de Caiuá e só conseguiram através da negociação do prefeito com o movimento. A fazenda Natal citada na fala de Marilene foi uma das primeiras a ser julgada devoluta, por isto ela estava ocupada, no entando, devido ao jogo de interesses e poder, as ações que tratam desta fazenda em especial, não avançam. Existem atualmente no município de Caiuá duas fazendas com ações Reivindicatórias em Andamento, a Santa Maria e a Figueira.

No assentamento Santa Rita não existe nenhuma área comunitária, na maioria das vezes para definição destas áreas são utilizadas as estruturas já existentes na antiga fazenda (sede, casas de empregados, barracões). No caso da Santa Rita não havia nada disso, revelando que o assentamento rompeu com o abondono e o vazio demográfico que ela constituia. Sem estas estruturas, as reuniões da comunidade são feitas em área aberta cedida por uma das assentadas, como mostra a Foto 12.

Foto 12 – reunião da comunidade com tecnicos da Fundação Itesp – 10/03/2006 6.2.3 – Assentamentos Santa Angelina, Vista Alegre e Malú

Os assentamentos Santa Angelina, Vista Alegre e Malú compõem, juntamente com o Assentamento Santa Rita um bloco de pequenos assentamentos que comporta de 22 a 24 famílias, conforme verifica-se através das Plantas 10, 11 e 12. Tratava-se na verdade de uma única fazenda com seus 2.069,26 ha, quando da anunciação da Lei dos 50025 ha, o fazendeiro subdividiu a fazenda, uma vez que todos os imóveis devolutos acima de 500 ha passaram a ser alvo de Ações

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A lei 11.600, proposta pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) e sancionada por ele em 19 dezembro de 2003, foi anunciada como uma importante ação do governo para pacificar e desenvolver o Pontal, principal foco de conflito agrário no Estado. Nela está prevista a regularização de áreas com até 500 hectares de extensão, cuja posse esteja em disputa judicial com o Estado. Ou seja, áreas suspeitas de serem devolutas (griladas no passado). A regularização será feita mediante o pagamento de 10% do valor da terra nua (sem benfeitorias), num prazo de seis anos. Com isso, o Estado desiste da disputa judicial e o produtor recebe a escritura definitiva da terra. Antes da promulgação já era de conhecimento a mais de 3 anos a intenção de faze-la. No entanto após sua criação não houve adesão por parte dos fazendeiros.

Reivindicatórias e com a nova Lei os imóveis abaixo de 500 ha poderiam ser regularizados mesmo sendo devolutos. O Movimento de Acampados Sem Terra - MAST, percebendo a monobra, passou a ocupar a fazenda, sendo violentamente repremido em uma das ocasiões assim relatada:

Era uma fazenda que foi dividida em quatro, o movimento ocupou e elas foram julgadas devolutas, nós apanhamos dos capangas do fazendeiro, alguns foram baleados acampados na porteira da fazenda. Depois de um entra e sai fomos assentados. Mérito do Estado? Nenhum, foi única e exclusiva NOSSA própria luta, o Estado foi apenas coadjuvante no processo de assentamento. (Maria Aparecida Silva Souza – 46 anos – Assentamento Vista Alegre – Caiuá. - 28/07/2006)

Tudo indica que se o movimento não tivesse percebido a manobra do fazendeiro e ocupado aquelas terras, confirmadamente devolutas e improdutivas, o assentamento jamais teria saído e para o poder judiciário a “propriedade” voltou para a legalidade, com seu disfarce legal, de fazenda com menos de 500 ha.

Vale ressaltar que processo semelhante aconteceu com a maioria das grandes áreas existentes na região após este período, uma simples verificação em cartório revela o nome de várias propriedades, com proprietários cujo sobrenome é o mesmo. A manobra é tão deslavada que a divisão exata da área em três, quatro, cinco herdeiros ou mais se dá de forma quase que milimétrica, em áreas de 400 e 500 ha, os tamanhos coincidem até nas casas decimais.

Os acampados que disputavam a Santa Rita, continuaram à espera das demais fazendas, de modo que acampavam na Malú, eram despejados, acampavam na Santa Angelina e, sendo despejados novamente, ocupavam a fazenda Vista Alegre. Fato é que todas estas fazendas já haviam sido julgadas devolutas e estavam com Ações Reivindicatórias em andamento. Os “proprietários” (descendentes de uma única família) não moravam nas áreas e não existia nenhum funcionário contratado. Típico do processo que Gómez (2006) chamou de concentração da terra, com pouco investimento na terra, no gado e na mão de obra, as terras existiam, apenas como reserva de valor, situação que passou a ser transformada com a instalação dos assentamentos rurais como mostra a Foto 13.

Foto 13 – Vista parcial do Assentamento Malú – 28/07/2006

Por outro lado a espera das famílias já se prolongava na maioria dos casos desde 1998. Os assentamentos Santa Angelina e Vista Alegre foram demarcados e entregues em 2002 e o assentamento Malú foi o último deste bloco, só saiu em 2003. Verificamos que mesmo quando as famílias recebem o lote, as dificuldades passadas na época do acampamento ainda persistem por longos meses.

No primeiro dia foi triste. Muita chuva e vento forte, o barraco não foi pelos ares por que Deus não quis. Estava eu e meu filho, dormimos molhados, pois não tinha outro jeito e meu marido não dormiu, segurando o barraco. No dia seguinte era olhar e ver...não havia nada, só braquiária, nem água, estradas, não tinha um mínimo de conforto, só esperança....mas esse era um sonho antigo..construir uma “floresta”. E aí está! E graças a Deus, não mais faltará terra.. (Gedalva da Silva de Souza, 48 anos – Assentamento Santa Angelina – Caiuá – 28/07/2006.)

A certeza de que o futuro será melhor faz toda a diferença nos momentos iniciais da implantação dos assentamentos, até ser instalada toda a infra-estrutura e saírem os créditos, para fomento inicial, financiamento da estrutura para produção (gado, cerca, triturador, caixa d´água...), financiamento para construção da casa.

6.2.4 - Assentamento Luis de Moraes Neto

Este assentamento é o mais novo do município, foi regualmentado em 2003, quando foram assentadas 72 famílias em uma área de 1.713,09 ha pertencente a um único dono.

Foto 14 – Dos dois lados da estrada até onde a vista alcança são terras do Assentamento