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No decorrer do processo das oficinas, a escola era apresentada ao personagem Carniça pelos sentidos que dialogavam com os saberes escolares adquiridos na relação professor/aluno e no espaço de sala de aula, como demonstram as imagens a seguir.

Imagem 14 - Quadro cheio Imagem 15 - Meu trabalho

Fonte: Produção Marina, 11 anos Fonte: Produção Paulo, 11 anos As imagens fotografadas por Marina e Paulo demonstram a escola a partir da sala de aula com seus quadros, sendo escolhidos aqueles que tinham tarefas escritas e pelos trabalhos que estavam expostos na parede. As tarefas no quadro tinham o sentido de apreciação, mas também traziam o poder de saber fazê-las. Os trabalhos expostos representavam algo que foi produzido por eles, sendo que a grande maioria estava relacionada aos desenhos e pinturas em que demonstravam suas habilidades artísticas. Tinham orgulho em mostrar e identificar seus trabalhos e os trabalhos dos colegas.

No decorrer do percurso, era pedido que registrassem o que compreendiam como escola, como forma de apresentá-la ao Carniça. Iam encontrando seus professores de anos anteriores e os convidavam para tirar fotos junto com eles. Assim, a escola ia se revelando pelas relações que se constituíram ali, com os professores e os, colegas.

Fonte: foto produzida por Maria Flor, 12 anos Fonte: foto produzida por Josué, 11anos

Estabeleciam uma relação a partir do saber escolarizado, em uma base cognitiva, mas que alcançava outro sentido, quando se aproximavam as pessoas: das pessoas: estudante e a pessoa professor. Ali, dois seres humanos buscavam aprender e, mesmo diante da dificuldade de lidar com tantas diferenças e ausências, no contexto da escola atual, ainda conseguiam estabelecer relações que ultrapassavam a sala. Eram relações afetivas constituídas em conversas individuais, na sala de aula ou nos espaços de recreação. Um dos colaboradores procurou uma professora que, segundo ele, o fazia viajar na imaginação. Ele havia saído da turma. Descobriu-se, então, que era uma das professoras regentes do grupo pesquisado, que estava experimentando a meditação como forma de trazer momentos de calma antes de iniciar a aula, com o propósito de melhorar a aprendizagem e o relacionamento da turma. Os estudantes relembravam suas professoras e as que tiveram no ano anterior. Alguns procuravam outras professoras, pelo próprio encantamento que tinham por elas, paravam e as convidavam para participar da fotografia.

O processo de olhar a escola a partir do olhar da máquina fotográfica, trouxe outras histórias e, simultaneamente, o sentimento de orgulho dos estudantes que assumiam a postura de fotógrafos, buscando encontrar o melhor ângulo para a escola, como mostram as anotações a seguir.

Diário de Campo: Na hora de decidir quem iria tirar a foto, primeiro,

houve alguns conflitos, pois todos queriam iniciar. Definimos um critério para escolher os primeiros e que este definiria o próximo fotógrafo falando característica sobre o colega que a entregaria. O interessante foi que, ao colocarem a máquina no pescoço (uma semi- profissional) se tornaram gigantes! Iam cumprimentando todos que encontravam e faziam questão de serem percebidos por todos. O processo de passar a máquina ao colega foi algo que me emocionou, pois relatavam uma característica positiva do colega e lhe entregavam a máquina como se fosse um prêmio (13/09/2014).

Diário de Campo: A Joana dizia que iria fotografar os pássaros, para

ela a parte mais bonita da escola. Neste grupo, havia crianças de outros Estados, então, começaram a falar nomes diferentes para o beija-flor: “Gordurinha” “Barriga Branca” e como faziam para que os alunos maiores não destruíssem os ninhos das corujas buraqueiras, e foram identificando em que lugar ficavam seus ninhos (29/10/2014).

A escola vai deixando a sala de aula e se revestindo do valor da descoberta, de um espaço/tempo que lhe é externo e, ao qual vão atribuindo sentidos e valores, como o da ludicidade, da proteção aos animais e das plantas e da socialização com os amigos. Nas conversas, no decorrer desse percurso, os estudantes vão escolhendo lugares e definindo elementos significativos a eles. Alguns lugares eram secretos e somente alguns colegas conheciam. Outros, traziam o espaço do coletivo, das interações. Os espaços eram constituídos de história e carregavam o sentido da liberdade, para criar, protegerem-se, brincar e reinventar a escola. Dialogavam e traziam histórias que faziam parte das suas experiências, carregadas de culturas e conhecimentos locais. Ao andar descobriam locais que alguns não conheciam e eram necessários acordos, como o caso dos ninhos das corujas buraqueiras.

O verde era o que predominava nas fotografias e seus habitantes como demonstram imagens a seguir.

Fonte: Produção Kédma, 10 anos Fonte: Produção Tomás, 12 anos Imagem 18 - A coruja buraqueira Imagem 19 - O Gordurinha

Fonte: Produção Aquiles, 11 anos As crianças vão apresentando a beleza natural da área externa da escola e trazendo saberes regionais, para nomear as coisas que encontram por ali. Falam de como cuidam daquele espaço que denominam natureza. Diversas vezes, esses pequenos locais, no espaço maior da área verde, são escondidos para que outros colegas não possam depredar. Ao falarem do espaço, vão mostrando árvores que descobriram, aves, como a coruja buraqueira. Eles colocam objetos para desviar os olhares das outras crianças, pois afirmam que algumas tentam matar os filhotes.

Eles afirmavam que os pés de mangueira só tinham frutas, ainda, devido à estratégia que adotavam de escondê-las, pois algumas crianças, segundo eles, jogam paus e pedras e as fazem cair as frutas,ainda muito pequenas. Árvores e pássaros vão constituindo o cenário daquele espaço. Mesmo que em alguns momentos não se sintam pertencentes àquele local, a paisagem vai dando cor àquele olhar e revelando uma beleza que gera a responsabilidade do cuidado, mesmo que emprestada por pouco tempo.

Afirmam que a escola precisaria de mais espaços para brincar e vão dando asas à imaginação, trazendo restos de materiais que encontram, no lixão e na própria comunidade onde vivem ou nos arredores da escola, para fabricar o “parquinho” que falta. Usam da criatividade como forma de ressignificar o ambiente escolar, que, para eles, é o espaço de encontrar com os amigos e simplesmente brincar.

Imagem 21 - Nosso balanço

Fonte: Produção Antônio, 12 anos A imagem acima retrata as estratégias que eles utilizam para fazer com que a escola se torne um espaço de prazer e diversão. O desejo de brincar parece impulsioná-los para a criação de espaços que possibilitem o lúdico. Desse modo, criam brinquedos e constroem regras para a sua utilização. A escola, mesmo com as marcas da ausência de políticas públicas educacionais e sociais, favorece a criatividade e a reinvenção característica e própria deste universo infantil. Nela, os estudantes constroem seus balanços e gangorras de restos de materiais encontrados no lixo e preenchem as lacunas encontradas e sentidas.