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Escolas Massoréticas Tiberienses: Ben Asher e Ben Naftali

II: Divisões da Massorá

4. Escolas Massoréticas Tiberienses: Ben Asher e Ben Naftali

Das duas principais famílias massoréticas de Tiberíades, a de Ben Asher foi a que conseguiu suplantar todos os demais grupos e famílias de massoretas, e seu sistema é empregado em inúmeros manuscritos medievais, como também em todas as atuais edições impressas da Bíblia Hebraica. A família Ben Asher trabalhou na preservação, transmissão e evolução da Bíblia Hebraica durante cinco ou seis gerações. Sua dinastia começou com o rabino Asher, o Ancião (segunda metade do século VIII), Neemias ben Asher (entre o século VIII e IX) e Asher ben Neemias (primeira metade do século IX). O próximo membro importante foi Moisés ben Asher, que viveu na segunda metade do século IX e que produziu um códice modelo conhecido como Códice do Cairo dos Profetas (C) (atualmente datado entre 990 e 1170), pois seu colofão o menciona. O Códice Oriental 4445 (B) (séc. IX), até o século XX, era considerado uma de suas obras e seu nome aparece na massorá desse manuscrito. Atualmente, acredita-se que o massoreta responsável por esse documento seja Nissi ben Daniel ha-Kohen, pois seu nome aparece três vezes em forma de acróstico em listas de tipo colativa da masora magna. O quinto e último membro da família Ben Asher foi o filho de Moisés ben Asher, Aarão ben Moisés ben Asher (c. 900-940), também conhecido por seu nome árabe Abu Sa‘id.16 Aarão ben Asher é considerado o

14 Cf. Yeivin, 1980, p. 12; Dotan, 1972b, col. 1447; Tov, 2001, p. 49; Deist, 1981, p. 67; Würthwein, 1995, p.

24; Roberts, 1948, p. 13-15; idem, 1951, p. 60; idem, 1962, p. 587; Sellin e Fohrer, 1978, p. 760; Trebolle Barrera, 1996, p. 316; Gray e Gilmor, 1963, p. 972; Barthélemy, 1976, p. 883; Hadas-Lebel, 1992, p. 81 e 83 e Francisco, 2005b, p. 246-247.

15 Cf. Würthwein, 1995, p. 24; Roberts, 1948, p. 14; idem, 1951, p. 59; Sellin e Fohrer, 1978, p. 760; Kelley,

Mynatt e Crawford, 1998, p. 13; Pisano, 2000, p. 45; Trebolle Barrera, 1996, p. 322 e Francisco, 2005b, p. 247.

16 Cf. Lipschütz, 1962, p. 1; Yeivin, 1968a, col. 152; idem, 1980, p. 137 e 141; idem, 2003, p. 117; Revell, 1992b,

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mais importante e o mais famoso membro dessa família de massoretas devido ao seu sistema de vocalização, de acentuação e de anotações massoréticas e com ele, a atividade massorética tiberiense alcançou o seu auge definitivo, tornando-se o único método adotado até hoje.17

Os mais importantes manuscritos da Bíblia Hebraica hoje existentes, como o Códice de Alepo (A) e o Códice de Leningrado B19a (L) estão ligados, principalmente, à tradição massorética desenvolvida pela família Ben Asher.18

A família Ben Asher é citada em várias passagens da massorá do Códice L: 1. na masora parva: 2Cr 8.11 e Dn 7.10; 2. na masora magna: Sl 31.12, Pv 3.12 etc. Existem outras passagens da masora magna do Códice L em que é mencionada junto com a família Ben Naftali: Sl 31.12; 45.5; 58.7; 62.4; 119.94; 122.4; 124.1 e Dn 4.27.19 Além dessas passagens, existem outras referências a essa família na massorá do Códice L.

A família Ben Naftali foi contemporânea e conterrânea da de Ben Asher, sendo que cada qual mantinha pequenas variações em relação à vocalização e à acentuação de determinadas palavras e expressões. Misael ben Uziel, em sua obra Sefer ha-&illufim, comenta que havia diferenças no método de vocalizar as preposições inseparáveis b, (b) k (k) e l (l) quando conectadas com vocábulos que se iniciam com a letra yod [y], como o topônimo lE'‡r¯W«y (hebr.

îśrā’ēl, Israel). Como exemplo, Ben Asher vocaliza a expressão “em Israel” do seguinte modo: lE'‡r¯W«yG¯b (hebr. bǝîśrā’ēl), enquanto Ben Naftali vocaliza a mesma da seguinte maneira: lE'‡r¯WyGib (hebr. bîśrā’ēl).20 Desde o início das pesquisas massoréticas, os estudiosos acreditavam que os dois 1986, p. 163 e 165; idem, 1993, p. 48; idem, 1999, p. 212 e 217; idem, 2005, p. 33-34; Würthwein, 1995, p. 24 e 35; Deist, 1981, p. 68; Ben-Hayyim, 1972, col. 465; Sáenz-Badillos, 1996, p. 105; Tov, 2001, p. 47; Roberts, 1948, p. 13; idem, 1951, p. 64; idem, 1962, p. 587; Sellin e Fohrer, 1978, p. 760-761; Gottwald, 1988, p. 127; Trebolle Barrera, 1996, p. 316; Levias, 1916b, p. 370; Kahle, 1956, p. 134; idem, 1959, p. 80 e 91; Barthélemy, 1976, p. 883; Weil, 1972, p. 65-66; Gordis, 1971, p. XIII e Francisco, 2005b, p. 250 e 506.

17 Cf. Yeivin, 1980, p. 12 e 15; idem, 2003, p. 117; Würthwein, 1995, p. 24; Brotzman, 1994, p. 53; Sáenz-Badillos,

1996, p. 105; Scott, 1995, p. 10; Kelley, Mynatt e Crawford, 1998, p. 18; Trebolle Barrera, 1996, p. 316 e 322; Revell, 1992b, p. 594; idem, 1998, p. XXXI; Roberts, 1951, p. 64; idem, 1962, p. 587; Díaz Esteban, 1954, p. 321; idem, 1966, p. 11; Kristianpoller, 1942a, p. 401; Gordis, 1971, p. XIII e Francisco, 2005b, p. 250.

18 Cf. Tov, 2001, p. 46-47; Würthwein, 1995, p. 35-37; Dotan, 1972b, col. 1472; idem, 1993, p. 39; idem, 1999, p.

213; Yeivin, 1980, p. 16-22 e 143; idem, 2003, p. 13-17; Kahle, 1951, p. 161-167; idem, 1959, p. 106, 110, 117 e 118; Teicher, 1950/1951, p. 17-25; Brotzman, 1994, p. 56-58; Sáenz-Badillos, 1996, p. 107-110; Kelley, Mynatt e Crawford, 1998, p. XI, 18 e 19; Deist, 1981, p. 77-79; Roberts, 1948, p. 10-11; idem, 1951, p. 80-82; Revell, 1992b, p. 594; Barthélemy, 1976, p. 883 e Francisco, 2005b, p. 251.

19 Cf. L, fól. 237b, p. 486, fól. 335a, p. 681, fól. 374b, p. 760, fól. 377a, p. 765, fól. 392a, p. 795, fól. 393a, p. 797 e

fól. 443b, p. 898 e Weil, 2001, § 3250, p. 358, § 3276, p. 361, § 3296, p. 363, § 3302, p. 363, § 3411, p. 374, § 3418, p. 375, § 3419, p. 375, § 3575, p. 389, § 3628, p. 394, § 3825, p. 415, § 3912, p. 425 e § 4010, p. 435.

20 Cf. Lipschütz, 1962, p. 4; idem, 1964, p. 6 e 18. Cf. também, Sáenz-Badillos, 1996, p. 110; Yeivin, 1980, p. 142;

idem, 2003, p. 117-118; Würthwein, 1995, p. 25; Kelley, Mynatt e Crawford, 1998, p. 20; Tov, 2001, p. 46; Roberts, 1951, p. 65; Brotzman, 1994, p. 53; Revell, 1992b, p. 594; idem, 1998, p. XXXV; Römer e Macchi, 1994, p. 64; Ginsburg, 1966, p. 267; Levin, 1995, p. 50 e 54; Gordis, 1971, p. XIII e Francisco, 2005b, p. 252.

grupos eram rivais e representavam sistemas divergentes, mas, presentemente, aceita-se a hipótese de que ambas as famílias representem, de fato, a mesma tradição massorética, mas com pequenas divergências entre si.21 Nessa linha de pensamento, os peritos argumentam que a escola de Ben

Naftali contribuiu consideravelmente para um “consenso tiberiense” sobre a vocalização e acentuação da Bíblia Hebraica que é impressa, atualmente, em inúmeras edições.22

Poucos nomes de membros da família Ben Naftali foram conservados pela tradição massorética e o mais citado e o mais conhecido é Moisés ben Davi ben Naftali (c. 890-940), conhecido também por seu nome árabe Abu Imrān, sendo contemporâneo e conterrâneo de Aarão ben Asher. Pouco se sabe a respeito de sua vida e obra e raros são os manuscritos massoréticos pertencentes à sua escola. Há somente três dados conhecidos sobre sua pessoa e trabalho: seu nome, o lugar onde viveu e uma listagem de 867 situações de diferenças de vocalização e acentuação entre seu sistema e o de Aarão ben Asher. Um dos poucos códices que representa a tradição de Ben Naftali é o Códice Reuchliniano (R), escrito por volta de 1105-1106, na Itália. Todavia, este manuscrito não é considerado um autêntico ou um puro representante de seu sistema. Segundo os estudiosos, não há nenhum códice massorético existente atualmente que represente a tradição de Ben Naftali de maneira absolutamente fiel e sistemática.23

A família Ben Naftali é mencionada em várias passagens da massorá do Códice L: 1. na masora parva: Is 44.20 e 1Cr 12.7; 2. na masora magna: 1Cr 2.5; Ed 7.28 etc. Existem outras passagens da masora magna do Códice L em que é mencionada junto com a família Ben Asher: Sl 31.12; 45.5; 58.7; 62.4; 119.94; 122.4; 124.1 e Dn 4.27.24 Além dessas, existem

outras referências a essa família na massorá do Códice L.

Como dito anteriormente, uma fonte para saber sobre as divergências entre as duas famílias de massoretas de Tiberíades é o tratado conhecido pelo título hebraico Sefer ha-&illufim (£yipFwGlixoh repEs, sēp̄er hā-ḥillûp̄îm, Livro das Diferenças), escrito por Misael ben Uziel, em torno de

21 Cf. Yeivin, 1980, p. 141-142; idem, 2003, p. 117; Dotan, 1972b, col. 1473; Tov, 2001, p. 45; Würthwein,

1995, p. 24-25; Scott, 1995, p. 10; Revell, 1992b, p. 594; idem, 1998, p. XXXI; Kelley, Mynatt e Crawford, 1998, p. 19-20 e Francisco, 2005b, p. 253.

22 Cf. Dotan, 1972b, col. 1473; Gottwald, 1988, p. 127 e Francisco, 2005b, p. 252.

23 Cf. Lipschütz, 1964, p. 1; Kelley, Mynatt e Crawford, 1998, p. 19-20; Yeivin, 1968b, col. 432; idem, 1980, p.

141; idem, 2003, p. 117; Tov, 2001, p. 45; Gottwald, 1988, p. 127; Barthélemy, 1976, p. 883; Rabin, 1972, col. 540; Sáenz-Badillos, 1996, p. 105; Brotzman, 1994, p. 53; Deist, 1981, p. 69; Roberts, 1948, p. 11; idem, 1951, p. 65; idem, 1962, p. 587 e 589; Trebolle Barrera, 1996, p. 316; Sellin e Fohrer, 1978, p. 761; Weil, 1972, p. 65-66 e Francisco, 2005b, p. 253 e 507.

24 Cf. L, fól. 237b, p. 486, fól. 335a, p. 681, fól. 374b, p. 760, fól. 377a, p. 765, fól. 392a, p. 795, fól. 393a, p. 797 e

fól. 443b, p. 898 e Weil, 2001, § 3250, p. 358, § 3276, p. 361, § 3296, p. 363, § 3302, p. 363, § 3411, p. 374, § 3418, p. 375, § 3419, p. 375, § 3575, p. 389, § 3628, p. 394, § 3825, p. 415, § 3912, p. 425 e § 4010, p. 435.

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1050. A obra é considerada como a mais antiga fonte sobre as diferenças de vocalização e de acentuação da Bíblia Hebraica entre Ben Asher e Ben Naftali, servindo, também, como base para a composição de outras listas massoréticas. Nesse tratado, são listadas cerca de 867 situações de divergências textuais entre Ben Asher e Ben Naftali (casos envolvendo determinados sinais de vocalização, de acentuação e pouquíssimos casos de diferenças consonantais). Além disso, o texto fornece também dados em que ambos os massoretas concordam entre si em oposição aos outros massoretas.25 Por meio dessa obra, os eruditos chegaram à conclusão de que não há

profundas diferenças entre as duas principais escolas massoréticas tiberienses e que, de fato, ambas representam a mesma tradição, mas com poucas e insignificantes variações.26

Seguem abaixo alguns exemplos de diferenças entre Ben Asher e Ben Naftali. Os exemplos têm por base o tratado de Ben Uziel, segundo a edição de Lipschütz (1962) (observar nas locuções abaixo o uso ou não de maqqef, de daguesh, de rafê, de ga‘ya (meteg) e a variação de acentos de cantilação e de sinais vocálicos).27

texto bíblico Ben Asher Ben Naftali

Gênesis 41.50 £y«nob y≈n¸H daGl…y ¶mqb £y«nob y≈n¸H doGl…y Números 18.9 HÂdGOqim ߸l h∆yŸhï«y-h∆z HÂdGOqim ߸l h∆yŸh«ïy ˘h∆z 1Reis 21.7 y«n·' ßeGbil baX«yÕw y«n·' ßeGbil baXy«w Isaías 37.19 hEW·vam-£i' yiGk hEW·vam £ïi'-yiGk Jeremias 11.7 h∑∆zah £OwFyah davÕw h∑∆zah £OwFyah-dav Ezequiel 27.13 xtp ™eHemƒw labuGt ¶mq ™eHemƒw lobuGt Eclesiastes 11.8 leboh 'úoGbeH loGk leboh-'oGbeH-loGk Neemias 11.25 Sgd lE'¯c¯baGqyibFw ypr lE'¯c¯b&aqyibFw

25 Cf. Lipschütz, 1962, p. 24-56 e 58; idem, 1964, p. 1-3 e 22; Díaz Esteban, 1968, p. 66; Pérez Castro, 1955, p. 4;

idem, 1979, p. 17; Weil, 1972, p. 65; Dotan, 1971/1972, p. 170; idem, 1972b, col. 1472-1473; Revell, 1998, p.

XXXI; Roberts, 1948, p. 11; idem, 1951, p. 65-66; idem, 1962, p. 588; Rabin, 1972, col. 540; Tov, 2001, p. 45; Würthwein, 1995, p. 25; Yeivin, 1968a, p. col. 153-154; idem, 1980, p. 143; idem, 2003, p. 119; Sáenz-Badillos, 1996, p. 106 e 110; Kelley, Mynatt e Crawford, 1998, p. 19-20; Kristianpoller, 1942a, p. 401; Kahle, 1959, p. 118-119; Barthélemy, 1976, p. 883; Deist, 1981, p. 68-69 e Francisco, 2005b, p. 253.

26 Cf. Lipschütz, 1964, p. 12-13; Yeivin, 1980, p. 141; idem, 2003, p. 117; Kelley, Mynatt e Crawford, 1998, p.

13, 19 e 20; Tov, 2001, p. 45; Würthwein, 1995, p. 25; Barthélemy, 1976, p. 883; Dotan, 1972b, col. 1473; Roberts, 1951, p. 65; Deist, 1981, p. 69; Brotzman, 1994, p. 53; Sellin e Fohrer, 1978, p. 761; Sáenz-Badillos, 1996, p. 105-106 e Francisco, 2005b, p. 253.

27 Cf. Lipschütz, 1962, p. 8, 29, 32, 33, 35, 54 e 56; Dotan, 1988, p. 41; Yeivin, 2003, p. 118; Deist, 1981, p. 69 e

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