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1. Definição

Segundo os lingüístas, “neologia” (gr. νεολογíα, neología, nova palavra) é “um processo de criação lexical”, enquanto o “neologismo” (gr. νεολογισµóς, neologismós, linguagem nova) é “toda palavra de criação recente, nova ou emprestada há pouco de outra língua ou toda acepção nova de uma palavra já antiga”. O neologismo, portanto, é o elemento resultante da neologia. A formação do neologismo pode se dar devido a dois fatores principais: 1. por mecanismos da própria língua ou 2. por elementos adquiridos de outros sistemas lingüísticos. O neologismo, ainda segundo os estudiosos, é um recurso lingüístico encontrado e usado em todos os idiomas vivos.1 Etimologicamente, o termo neologia é formado por dois

componentes de origem grega: νéος (néos, novo, recente, jovem) e λóγος (lógos, linguagem, palavra, fala, termo, discurso) com o sufixo grego formador de substantivos -ια (-ia).2

2. Tipos de Neologismo

Segundo os estudos de alguns lingüístas, como Guilbert (1973), Dubois et alii (2001), Alves (1994) e Barbosa (1996), é possível encontrar diferentes tipos de neologismos, tais como: 3

a. Neologismo fonológico: é quando acontece alguma formação fonológica a partir de substâncias pré-existentes da própria língua (ex.: “tchurma” [forma regional do substantivo turma]). Existem, ainda, outros fatores, como: transposição fonológica (ex.: “Belzonte” [forma condensada graficamente do topônimo Belo Horizonte]), alteração de pronúncia (ex.: “Jão” [forma popular rústica do nome masculino João], “bão” [forma popular rústica do adjetivo bom]) e adaptação de palavras estrangeiras importadas (ex.: “Talmude” [hebr. dFwm⁄laGt, talmûḏ, instrução], “sinagoga” [gr. συναγωγ,

sünagōgḗ, comunidade], “futebol” [ingl. football] etc.).

1 Cf. Guilbert, 1973, p. 9 e 11; Dubois et alii, 2001, p. 431; Barbosa, 1996, p. 77-78; Alves, 1994, p. 5; Ilari,

2002, p. 95 e Gabas, 2001, p. 90.

2 Cf. Bailly, 2000, p. 1199, 1200 e 1320; Pereira, 1998, p. 350 e 387; Dicionário de Grego-Português-Português-

Grego, 2004, p. 456 e 516; Houaiss e Villar, 2001, p. 1178, 2007 e 2009; Michaelis, 1998, p. 1274, 1448 e 1449 e Cunha, 1986, p. 480 e 547.

3 Cf. Guilbert, 1973, p. 17-23; Dubois et alii, 2001, p. 430; Alves, 1994, p. 12, 14, 16, 20, 26, 27, 28, 29, 62 e

b. Neologismo sintático ou neologismo de forma: é quando alguma palavra não existente em uma determinada língua é, então, elaborada (ex.: “lulismo” [forma derivada do nome do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva], “americadóide” [forma depreciativa de algo de origem ou aparência americana], “brasilianista” [forma derivada do topônimo Brasil]). Esse tipo de neologismo pode ser formado por meio de derivação prefixal (ex.: anticonjugal, ultradireita etc.), substantivação de prefixos (ex.: o “vice” chegou, ele é “super!” etc), oposição entre prefixos (ex.: numa macro-agência ou numa micro-agência, pré-pós-modernos etc.), entre outros recursos.

c. Neologismo semântico, neologismo de sentido ou neologismo conceptual: é quando alguma palavra já existente sofre alterações em seu campo semântico. Seu significado é alterado, ampliado ou reduzido, mas sem alteração na estrutura morfológica do vocábulo (ex.: deu “zebra!” [quando algo inesperado acontece, quando surge ou acontece algo contrário às expectativas]). Dentro da neologia semântica, são encontrados os seguintes recursos: a sinédoque, a metáfora e a metonímia (cf. exemplos abaixo).

d. Neologismo por empréstimo: é a palavra emprestada de alguma língua estrangeira (ex.: “overbooking” [ingl. overbooking] etc.) ou a palavra é inserida de um determinado grupo lingüístico (ex.: “jihad” [árab. guerra santa islâmica] etc.). Nesse processo, o vocábulo novo sofre adaptações em sua fonética e/ou em sua grafia na língua receptora (ex.: “recorde” [ingl. record], “adágio” [it. adagio], “pingüim” [fr. pingouin] etc.). Há casos em que a palavra, apesar de suas modificações semânticas, mantém sua forma original ou, ao contrário, mantém sua significação original, apesar de sua adaptação morfológica na língua de recepção (ex.: “coinê” [gr. κοιν, koinê, comum], “tetragrama” [gr. τετραγρáµµα, tetragrámma, quatro letras] etc.).

e. Neologismo gráfico: ocorre quando há uma junção gráfica especial composta por palavras diferentes (ex.: “automóvel” [auto + móvel], “lobisomem” [lobo + homem] etc.).

3. Neologia Semântica: Características

Segundo alguns estudiosos, a neologia semântica possui várias características próprias. De acordo com Guilbert (1973) e Alves (1994), no neologismo semântico pode ocorrer o fenômeno de que uma palavra de um vocabulário específico extrapolar seus limites de uso, passando a integrar a língua geral. Da mesma forma ocorre o inverso, quando alguma palavra da língua corrente passa a integrar algum vocabulário particular. Alves (1994) diz, ainda, que

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em vocabulários de gírias, o neologismo é muito comum, no propósito de dificultar a compreensão por parte daqueles que não fazem parte de um grupo específico. Segundo Barbosa (1996), os neologismos semânticos ocorrem quando são empregados elementos já existentes na língua, em combinações imprevistas ou inéditas com outros elementos. O neologismo surge, então, como conseqüência de uma combinação de significação.4

De acordo com os lingüísticas, a neologia semântica ou neologia de sentido pode ter três tipos de recursos: a sinédoque, a metáfora e a metonímia: 5

a. Sinédoque (gr. συνεκδοχ, synekdokhé; lat. synecdŏchē: abarcar ou compreender ao mesmo tempo): se refere à atribuição de uma palavra com um significado mais amplo do que seu habitual. Existem três processos: 1. a parte pelo todo (ex.: “vela” por “barco” [“no oceano pode-se ver a vela”]); 2. o particular pelo geral (ex.: o “homem” pela “espécie humana” [“o homem é mau”]); 3. o todo pela parte (ex.: “o Brasil” em vez da “seleção brasileira masculina de futebol profissional” [“o Brasil ganhou a copa do mundo!”]).

b. Metáfora (gr. µεταφορá, metaphorá; lat. metaphŏra: transladação, mudança, mudança de sentido próprio para sentido figurado): se refere à utilização de uma palavra concreta para expressar alguma noção abstrata, em virtude de alguma relação de semelhança subentendida. Exemplos: “aquele rapaz arde de paixão pela vizinha”; “aquela professora da academia de ginástica é uma jóia”; “este menino come como um leão”.

c. Metonímia (gr. µετωνυµíα, metōnümía; lat. metonymĭa: emprego de um nome por outro): se refere à transferência de uma denominação por outra, mas mantendo uma relação de proximidade (como causa e efeito, a parte e o todo, o conteúdo e o continente etc.): Exemplos: “beberei um copo” (“copo” em vez do líquido que se vai beber); “ele comeu um belo prato” (“prato” em vez do alimento que seria ingerido).

4 Cf. Guilbert, 1973, p. 22-23; Alves, 1994, p. 65 e Barbosa, 1996, p. 203.

5 Cf. Dubois et alii, 2001, p. 411, 412 e 554; Alves, 1994, p. 62; Barbosa, 1996, p. 229; Gabas, 2001, p. 92 e Ilari,

2003, p. 109. Cf também Bailly, 2000, p. 1266, 1270 e 1850; Pereira, 1998, p. 369, 371 e 1017; Dicionário de

Grego-Português-Português-Grego, 2004, p. 487 e 489; Houaiss e Villar, 2001, p. 1907, 1911 e 2578; Michaelis, 1998, p. 1364, 1368 e 1947; Cunha, 1986, p. 516, 518 e 726 e Dicionário da Língua Portuguesa, 1992, p. 288-289.

4. Classificação de Neologismo Semântico

Gabas (2001) propõe a classificação abaixo para a mudança semântica (também denominada de deslocamento semântico pelo próprio autor) para o vocábulo ou expressão.6

a. Extensão: é quando o(s) sentido(s) de uma unidade lexical aumenta(m) em número com o passar do tempo. O exemplo dado pelo autor é a palavra “salário” (lat. salarĭum). Este vocábulo tinha o sentido original de “pagamento em sal pelo trabalho regular de um soldado”. Depois, passou a significar “pagamento em qualquer espécie pelo trabalho regular de um soldado”. Por fim, adquiriu a seguinte significação que é usada atualmente: “pagamento em dinheiro pelo trabalho regular de qualquer pessoa”.

b. Estreitamento: é o processo inverso da extensão em que um determinado vocábulo tem seu sentido restringido ou estreitado. O exemplo dado por Gabas é o item léxico “pílula” (lat. pĭlŭla, pequeno corpo redondo) que significava, originalmente, “medicação em forma comprimida para ser tomada oralmente”. Posteriormente, passou a significar “contraceptivo oral”.

c. Uso figurativo: neste processo, um determinado vocábulo sofre um deslocamento de seu sentido original, por meio de recursos já tradicionalmente conhecidos, como a metáfora, a metonímia e a sinédoque, entre outros processos. O exemplo fornecido por Gabas é a unidade léxical “boneca” (etimologia provável do lat. ninna e nonna, palavras de afeto usadas pelas crianças romanas para pessoas queridas, tendo sufixo de diminutivo também com características afetivas e enfáticas) que, originalmente, se referia a um brinquedo feito com vários tipos de material, tendo formas femininas e sendo usado por crianças. Posteriormente, passou a significar “a mulher ou criança possuidora de beleza física”.

d. Desvio: é quando um item lexical continua a existir, apesar de seu significado mudar ou se desviar, mas sem grandes modificações no seu campo semântico original. O exemplo dado é a palavra “artillery” (do ingl. medieval e fr. artillerie) que se referia aos utensílios e armas de guerra do chão como catapultas, flechas etc.. Atualmente, o vocábulo se refere às modernas armas de guerra como tanques, canhões, metralhadoras etc.

6 Cf. Gabas, 2001, p. 91-93. A etimologia das palavras dadas como exemplo em cada uma das classificações de

Terceira Parte:

Neologismo Semântico

na Massorá Tiberiense

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