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II. Terminologia Massorética Tiberiense

1. Idiomas

Abaixo, há breves definições, principalmente históricas, sobre os dois idiomas utilizados na massorá tiberiense.

a. Aramaico1

O idioma aramaico é denominado de ho'oGmfir‹' (aram.’ărammā’â), de tyim‡r‹' (hebr. ’ărāmîṯ), de aramaicus e de chaldaicus (lat. aramaico). Esse idioma semítico norte-ocidental, pertencente ao grupo arameu, se desenvolveu durante a primeira metade do segundo milênio a.C., nas regiões da Mesopotâmia e arredores. Algumas partes da Bíblia Hebraica foram compostas, originalmente, nesta língua: Ed 4.8-6.18; 7.12-26; Dn 2.4b-7.28; Jr 10.11 e Gn 31.47aβ. De acordo com os estudiosos, os antigos israelitas falavam tal idioma antes de se estabelecerem em Canaã, quando adotaram o canaanita do qual surgiu, posteriormente, o hebraico. É chamado de tyim‡r‹' (hebr. ’ărāmîṯ) no texto bíblico hebraico: 2Rs 18.26; Is 36.11; Dn 2.4 e Ed 4.7. O aramaico serviu de língua franca durante os impérios assírio (c. séc. IX-VII a.C.), neo- babilônico (c. séc. VII-VI a.C.) e persa (c. séc. VI-IV a.C.). O idioma pode ser dividido por períodos: antigo (c. séc. IX-VII a.C.), imperial ou oficial (c. séc. VII-III a.C.), médio (c. séc. III a.C.-III d.C.), tardio (c. séc. III-XIII) e moderno (c. séc. XIII em diante). No aramaico imperial, foram compostas as passagens bíblicas aramaicas de Esdras, Neemias, Jeremias e Gênesis, sendo que Daniel está mais próximo ao aramaico médio. A partir do século III a.C., em ambiente judaico, foram desenvolvidos dois tipos de linguagem: o aramaico judaico babilônico e o aramaico judaico palestino. No primeiro, foi escrito o Talmude Babilônico, enquanto no segundo, foram compostos o Talmude Hierosolimitano, os targuns, entre outras obras. O aramaico foi muito utilizado durante séculos pelos judeus, sendo o idioma do Targum, de parte do Talmude, da maior parte da massorá tiberiense e também era a língua falada cotidianamente pelos massoretas.

1 Cf. BHK, p. XLVIII; Joüon e Muraoka, 1993, p. 4-5; Gesenius, 1980, p. 2; Kutscher, 1972a, col. 260, 263, 268,

270 e 277; idem, 1982, p. 2, 3 e 71; Kaufman, 1992, p. 173-176; Sáenz-Badillos, 1996, p. 169; Würthwein, 1995, p. 82; McNamara, 1976, p. 856; Alexander, 1992, p. 321; Shinedling, 1948, p. 450-451; Oesterley e McHardy, 1963, p. 957; Greenfield, 1976, p. 39-42; Greenspahn, 2003, p. 1, 6 e 7; Yeivin, 1968a, col. 136; Gordis, 1971, p. XVIII; Bucher, 1916, p. 68-72; Hadas-Lebel, 1992, p. 59; idem, 1995, p. 17 e 19; Araújo, 2005, p. 22-24; Trebolle Barrera, 1996, p. 79-82; Mackenzie, 1984, p. 68; Rabin, s.d., p. 23 e 28 e Francisco, 2005b, p. 506.

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b. Hebraico2

Este idioma, denominado de tyÊr¯biv (hebr. ‘iḇrîṯ), é uma língua semítica norte-ocidental, pertencente ao grupo cananeu, surgida na Palestina, entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, durante a segunda metade do segundo milênio a.C. As línguas semíticas norte-ocidentais, que possuem parentesco com o hebraico, são: aramaico, hebraico samaritano, edomita, moabita, ugarítico, fenício e púnico. Segundo os eruditos, os antepassados dos israelitas eram arameus, como sugerem os textos bíblicos Gênesis 25.20; 28.5; 31.20, 24 e Deuteronômio 26.5. Após as tribos se estabelecerem em Canaã, durante o segundo milênio a.C., abandonaram o aramaico para adotarem a língua local dos cananeus, isto é, o canaanita do qual surgiu, posteriormente, o hebraico. Na própria Bíblia Hebraica, o idioma é designado pelos seguintes nomes: §av¬n¯Gk tap¯W (hebr. śǝp̄aṯ kǝna‘an, língua de Canaã, cf. Is 19.18) e tyÊdFwhÕy(hebr. yǝhûḏîṯ, judaico, cf. 2Rs 18.26, 28; Is 36.11, 13; 2Cr 32.18 e Ne 13.24). Na época de dominação grega sobre a Palestina (c. séc. IV-II a.C.), a língua era denominada como βραḯς ou como βραïκ (gr. hebraïs ou hebraïkḗ, hebraico). No período de domínio romano (c. séc. II a.C.-II d.C.), era chamada de tyÊr¯biv(hebr.

‘iḇrîṯ, hebraico) ou de tyÊr¯biv §OwHol (hebr. lāšôn ‘iḇrîṯ, língua hebraica) pelos próprios judeus e de hebraeum e de hebraicus em latim. No período de desenvolvimento da literatura talmúdica (c. séc. III-VI), era denominada como HÂdOGqah-§OwH¸l (hebr. lǝšôn-haq-qōḏeš, língua sagrada) pelos rabinos tanaítas. Na massorá, os massoretas também denominavam a língua como HÂdOq-§OwH¯l (hebr.

lǝšôn-qōḏeš, hebraico bíblico). Os períodos principais são: hebraico arcaico (c. séc. XIII-X a.C.), hebraico pré-exílico (c. séc. X-VI a.C.), hebraico pós-exílico (c. séc. VI-II a.C.), hebraico dos Manuscritos do Mar Morto (c. séc. II a.C.-II d.C.), hebraico rabínico (também denominado como hebraico talmúdico ou hebraico mishnaico, hebr. £yimok‹x-§OwH¸l, lǝšôn-ḥăḵāmîm, língua dos sábios) (c. séc. II-X), hebraico medieval (c. séc. X-XV) e hebraico moderno (c. séc. XVI em diante). A fase moderna é caracterizada, principalmente, pelo renascimento do hebraico como língua falada, tendo em Eliezer ben Yehuda (1858-1922), um judeu de origem lituana, seu maior defensor e idealizador. O hebraico dos três primeiros períodos (arcaico, pré-exílico e pós-exílico) está presente na composição da Bíblia Hebraica.

2 Cf. Joüon e Muraoka, 1993, p. 5-6; Gesenius, 1980, p. 1-2; Brovender, 1972, col. 1560; Kutscher, 1972b,

col. 1584; idem, 1972c, col. 1591; idem, 1982, p. 1, 3, 12 e 71; Blau, 1972, col. 1569; Goldenberg, 1972, col. 1608; Eytan, 1972, col. 1642; Sáenz-Badillos, 1996, p. 1, 2, 29, 51, 53 e 54; Ben-Eliezer, 1995, p. 200- 201; Gordon, 1976, p. 392-393; Cohen, 1948, p. 276-278; Levias, 1916a, p. 306-310; Hadas-Lebel, 1992, p. 14, 54 e 55; idem, 1995, p. 66; Trebolle Barrera, 1996, p. 69 e 77; Berezin, 1995, p. XIX-XXI; Mackenzie, 1984, p. 550-551; Rabin, s.d., p. 16, 36, 40, 44, 49, 54, 77, 84, 96 e 97e Francisco, 2005b, p. 514-515.

c. O Hebraico e o Aramaico da Massorá Tiberiense

Segundo os estudiosos, a linguagem da massorá tiberiense reflete tanto o hebraico rabínico quanto o aramaico tardio. O aramaico falado e escrito por judeus, principalmente por aqueles que viviam na Palestina, entre os séculos III e XIII, é denominado como aramaico judaico palestino. Alguns eruditos argumentam que a massorá tiberiense reflete, particularmente, o dialeto desenvolvido na Galiléia, na região norte da Palestina, onde a cidade de Tiberíades é localizada.3 Alguns exemplos de unidades léxicas massoréticas encontradas no

Códice de Leningrado B19a (L) que refletem o aramaico judaico palestino são dados a seguir. 'yƒyomËdaq (aram. qaḏmāyyā’) (primeiro, prévio, anterior, cf. 1Rs 10.21 [mm]; Jr 38.7 [mm]; Ez

11.13 [mm] etc.) em vez do vocábulo aramaico judaico babilônico 'oGmaq (aram. qammā’, primeiro, prévio, anterior).

O emprego da mater lectionis yod (y) representando o fonema “i” longo, como nos exemplos dados a seguir.

'ƒnoKHyil (aram. lîššānā’, língua, significado, forma similar, gênero, cf. Nm 26.5 [mp]; Dt 8.16 [mm]; 1Sm 15.2 [mm]; Jr 1.10 [mm] etc.).

F

wGlyE' (aram. ’êllû, estes, estas, esses, essas, cf. Sl 119.94 [mm] etc.).

§FwFnyi' (aram. ’înnûn, eles, cf. 1Rs 4.10 [mm]; Jr 32.9 [mm]; 2Cr 1.14 [mp] etc.).

O hebraico rabínico, falado e escrito pelos judeus entre os séculos II e X, apresenta determinadas peculiaridades morfológicas que indicam forte influência aramaica. Tal situação é constatada, por exemplo, em vocábulos que possuem o sufixo masculino plural §yi- (-în) em vez do sufixo plural £yi- (-îm), que é característico do hebraico bíblico. Outra característica, mas que é típica do hebraico medieval (séc. X-XV), é o emprego da partícula aramaica de genitivo -GÌd (dǝ-) ou -yGÊd (dî-) em vez da partícula hebraica leH (šel).4 Exemplificações de expressões e termos

massoréticos encontrados no Códice L que refletem tanto o hebraico rabínico quanto o hebraico medieval são dados a seguir.

Hebraico rabínico:

§yiqFws¸Lp vac¸me' (hebr. ’emṣa‘ pǝsûqîn, meio de versículos bíblicos, cf. 1Sm 15.29 [mm]). §yiGlim HEmox (hebr. ḥāmēš millîn, cinco palavras, cf. 1Rs 3.26 [mm]).

3 Cf. Sokoloff, 2002a, p. 3; Díaz Esteban, 1975, p. LVIII e Hyvernat, 1903, p. 538-539.

4 Cf. Sáenz-Badillos, 1996, p. 188, 191 e 261; Kutscher, 1972c, col. 1599 e 1602; Goldenberg, 1972, col. 1608 e

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§yipEGlax¸m (hebr. mǝḥallēp̄în, trocam, mudam, cf. Êx 30.23 [mp]; Lv 11.3 [mp]; 1Rs 10.21 [mm]; Ec 11.8 [mp] etc.).

§yÊdGoq…n¸m (hebr. mǝnuqqāḏîn, vocalizados, pontuados com sinal vocálico, cf. 1Cr 15.1 [mp]; 2Cr 9.24 [mm]; 16.14 [mm]; Sl 49.20 [mm] etc.).

§yÊd¯Gq¬n¸tim (hebr. miṯnaqqḏîn, vocaliza-se, pontua-se com sinal vocálico, cf. Sl 147.2 [mm]).

§yÊryEvÃz §y«nFwn (hebr. nûnîn zǝ‘êrîn, letras nun pequenas [caso de litterae minusculae], cf. Is 44.14 [mp]; Jr 39.13 [mp] e Pv 16.28 [mp]).

§yiqFwsK¯p (hebr. pǝsûqîn, versículos bíblicos, cf. Sf [som. mas.]).

£yGiliGt (hebr. tillîm, o livro dos Salmos, cf. Êx 15.11 [mm]; Dt 24.19 [mp]; Js 6.1 [mm]; 2Sm 10.11 [mp] etc.).

Hebraico medieval:

rEsoxGÌd rEsox (hebr. ḥāsēr dǝḥāsēr, escrita duplamente defectiva, cf. Js 22.14 [mm]; 1Rs 6.6 [mm]; Jr 14.3 [mm] etc.).

§OwgG¯k (hebr. kǝḡôn, por exemplo, como, cf. 1Cr 24.13 [mm]; 29.20 [mm]; Sl 26.3 [mm]; Ct 6.9 [mm]).

'ElomGÌd 'Elom (hebr. mālē’ dǝmālē’, escrita duplamente plena, cf. Ed 8.27 [mm]).

l'EqÕzexyGÊd t«yaGbah tfirFwc (hebr. ṣûraṯ hab-baîṯ dîḥezqē’l, “formato do templo de Ezequiel” [referência à descrição do templo de Jerusalém, no livro de Ezequiel, cap. 40-48], cf. Ez 40.15 [mm]).

d. Termos Massoréticos Hebraicos

A terminologia massorética tiberiense é muito extensa e rica em suas observações sobre o texto bíblico hebraico. A maioria dos termos é de origem aramaica, como na tradição babilônica, porém, há, igualmente, vários itens de origem hebraica, tais como:

tyEGb •elo'(hebr. ’ālep̄bêṯ): 1. o alfabeto hebraico; 2. o Salmo 119.

hoyËrabyiX yEHÕna'(hebr. ’anšê ṭîḇaryâ): homens de Tiberíades (grupo de massoretas de Tiberíades). tyim‡r‹'(hebr. ’ărāmîṯ): aramaico bíblico.

hoyËrab¯X yElœvaGb(hebr. ba‘ălê ṭǝḇaryâ): senhores de Tiberíades (grupo de massoretas de Tiberíades). H≈gG‡d(hebr. dāgēš): o sinal diacrítico daguesh.

rEsox(hebr. ḥāsēr): escrita defectiva yic‹x(hebr. ḥăṣî): metade, meio, centro.

£avaX(hebr. ṭa‘am): acento massorético de cantilação. §OwgG¯k(hebr. kǝḡôn): por exemplo, como.

§OwHol(hebr. lāšôn): 1. língua, linguagem; 2. significado, sentido; 3. forma, forma similar; 4. gênero. tyim‡r‹'-§OwH¯l(hebr. lǝšôn-’ărāmîṯ): aramaico bíblico.

rok√z-§OwH¯l(hebr. lǝšôn-zāḵār): gênero masculino.

lOx-§OwH¯l(hebr. lǝšôn-ḥōl): vocábulo com significado não sagrado, comum. hob‘qÃn-§OwH¯l (hebr. lǝšôn-nǝqēḇâ): gênero feminino.

HÂdOq-§OwH¯l (hebr. lǝšôn-qōḏeš): hebraico bíblico. 'Elom (hebr. mālē’): escrita plena.

'‡rŸqim (hebr. miqrā’): a Bíblia Hebraica. tOwGduqÕn(hebr. nǝquddôṯ): os puncta extraordinaria. hep‡r(hebr. rāp̄eh): o sinal diacrítico rafê.

ropOwH(hebr. šôp̄ār): o acento conjuntivo de cantilação muna'. £eH(hebr. šem): nome de.

h‡rOwGt(hebr. tôrâ): o Pentateuco (Torá) (o primeiro bloco principal de livros da Bíblia Hebraica).

e. Termos Massoréticos Aramaicos de Tradição Babilônica

Um detalhe importante sobre o Códice L, o qual é de tradição tiberiense, é em relação ao um determinado número de termos massoréticos de tradição babilônica presentes em sua massorá. Tal fenômeno é verificado também em outros manuscritos massoréticos de tradição tiberiense, como o Códice de Alepo (A), o Códice Oriental 4445 (B), entre outros.5 As unidades terminológicas de tradição babilônica encontradas no Códice L são as seguintes:

'om¯lovG¯b (aram. bǝ‘olmā’): neste lugar somente (cf. Dt 32.4 [mp] e 2Cr 3.9 [mm]).

'otyÕy‡rOw' lGOk(aram. kōl ’ôrāyyǝṯā’) em vez de h‡rOwGt lGOk (hebr. kōl tôrâ): todo o Pentateuco (cf. Gn 22.18 [mp]; Dt 10.6 [mp] etc.).

'omEl¸H (aram. šǝlēmā’) em vez de 'Elom (hebr. mālē’): escrita completa (cf. Js 22.14 [mm]; 1Sm 10.7 [mm]; Ec 3.9 [mm] etc.).

5 Cf. Dotan, 1972b, col. 1467; idem, 2005, p. 35; Yeivin, 1968a, col. 140-143; idem, 1980, p. 120; idem, 2003, p.

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§yim¸laH (aram. šalmîn) ao invés de §y√y¯lam (aram. malyyān): escrita completa (cf. 2Sm 19.8 [mm] etc.).

'omEl¸HGÊd 'omEl¸H (aram. šǝlēmā’ dišǝlēmā’) ao invés de 'ElomGÌd 'Elom (hebr. mālē’ dǝmālē’): escrita duplamente completa (cf. Js 22.14 [mm]; Jó 1.3 [mm] etc.).

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