• Nenhum resultado encontrado

3.2 QUAL PROCESSO FOI ENTREGUE PELA TRADIÇÃO?

3.3.1 Escolas

3.3.1.1 Escolas Privativistas

- Teorias Contratuais

321 SILVA, Ovídio A. Baptista da. Curso processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. v. 1, p. 13. 322 CONTRERAS VACA, Francisco José. Derecho processual civil: teoría y clínica. Oxford University Press,

2011. p. 03.

A teoria contratual foi apresentada por Robert Joseph Pothier (1800). Como o próprio nome indica, as teorias contratuais consideram o processo como um contrato. Ensina Fairén Guilén que esta ideia remonta à época romana, quando a jovem Roma não tinha força para impor-se aos cidadãos. Assim, para sujeitar as partes, buscou-se um instrumento privado, o contrato, celebrado perante o pretor. Era o contrato de litiscontestatio324, ou seja, o compromisso através do qual as partes comprometiam-se em aceitar a decisão do pretor.

Assim, vinculadas ao direito privado, estas teorias sustentam que o processo consiste num acordo entre autor e réu, em que são fixados os pontos controvertidos e, ao final, proferida uma decisão.

Os críticos alegam que essas teorias não explicam como ficaria o processo no caso de ausência de uma das partes ou mesmo diante da ausência de vontade no acordo (em especial no processo penal). Destacando a corriqueira ausência de voluntariedade das partes em participar do processo, Iván Escobar Fornos refere:

Pero en realidad, el proceso no es un contrato. El actor no llega voluntariamente al proceso. Es el único camino viable que tiene para satisfacer sus pretensiones.

Con excepción de la legítima defensa y el amparo o restitución por actos de perturbación y despojo de la posesión, al actor no le queda más camino para obtener la protección jurídica que recurrir al proceso. Debe acudir al proceso para poder actuar lícitamente.

Tampoco el demandado comparece voluntariamente al proceso. Si no llega al proceso, se le declara rebelde con las consiguientes desventajas y sanciones.

Esto en el sistema latino que sigue nuestro ordenamiento jurídico. En el sistema austríaco las consecuencias son más graves, pues se considera que el contumaz da por aceptados los hechos. La doctrina sajona es todavía más radical: si el demandado no llega al proceso, se le condena al tenor de la demanda. 325

A ideia de processo como contrato encontra-se superada.326

Não é possível equiparar o processo a um contrato voluntariamente pactuado. Da mesma forma, é incorreto confundir o processo com a litiscontestatio, com o compromisso nele assumido, na medida em que ela pressupõe a existência do processo, surgindo em um momento posterior para garantir a

324 GUILLÉN, Víctor Fairén. Teoría general del derecho procesal. México: Instituto de Investigaciones

Jurídicas, 1992. p. 36-37.

325 FORNOS, Iván Escobar. Introducción al proceso. 2. ed. Managua: HISPAMER, 1998. p. 83.

326 Sobre este ponto, Guillén registra: “Ya no se basa en la actualidad en un contrato; tal concepción está

históricamente superada. En relación con el concepto de soberanía, aparece históricamente el hecho de la sujeción de una (muchas) persona a toda la organización de un Estado, y en ella, a la ‘jurisdicción’, o potestad – inparcial, desde luego – de ciertos elementos integrantes del Estado, de ‘juzgar los conflictos’ y de ‘hacer ejecutar las resoluciones que les pongan fin”. GUILLÉN, op. cit., p. 19.

eficácia deste. Por fim, a presente teoria confunde o processo com um negócio jurídico entre as partes, o que é incompatível com o interesse público ínsito ao processo.

- Teoria do Quase-Contrato327

Por volta de 1850 foi apresentada por Savigny e Guényva a ideia de processo como “quase-contrato”, na medida em que ao menos uma das partes atuava com voluntariedade, podendo legalmente sujeitar a outra. Rosemiro Pereira Leal ensina que, segundo esta teoria, “a parte que ingressava em juízo já consentia que a decisão lhe fosse favorável ou desfavorável, ocorrendo um nexo entre o autor e o juiz, ainda que o réu não aderisse espontaneamente ao debate da lide”. 328

Verifica-se que, superadas as teorias contratuais e diante do surgimento da jurisdição, os juristas, sem conseguir vencer as amarras da vinculação ao direito privado, passaram a sustentar que a litiscontestatio ainda era a ideia central, não mais como um contrato, mas como um quase-contrato. Guillén observa:

[…] las partes no quedaban ligadas entre si y a jueces ‘privados’ en virtud de un contrato, sino en virtud de la potestad que los ‘nuevos’ jueces recibían del Estado, en el cual radicaba (como mucho más desarrollado; hasta hacerse despótico): los ciudadanos estaban sujetos a esta ‘postestad’ y no podían disponer de ella contratando.329

Veja que, afastado o contrato, não se evoluiu para uma concepção pública de processo. A tradição privativista da época insistiu em manter a litiscontestatio como ponto central. O indivíduo era sujeito ao processo não mais pelo contrato, mas porque a lei conferia ao autor o poder de sujeitar o réu.

Em resumo, esta teoria procura salva a teoria anterior, buscando na figura do “quase- contrato” a natureza do processo. Assim, haveria processo mesmo nos casos em que não ocorresse o consentimento de alguma das partes. As críticas apresentadas à ideia de processo

327 Cretella Junior define o quase-contrato como "o ato lícito e voluntário que torna seu autor credor de

outra pessoa, sem que tenha havido prévio acordo de vontades entre ambas". (CRETELLA JUNIOR, José. Curso de direito romano. Rio de Janeiro: Forense, 1998). A obrigação decorre da lei, e não da vontade das partes.

328 LEAL, Rosemiro Pereira. Teoria geral do processo: primeiros estudos. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008.

p. 78.

329 GUILLÉN, Víctor Fairén. Teoría general del derecho procesal. México: Instituto de Investigaciones

como contrato também podem ser opostas a esta teoria.330