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Ao escolher um m´etodo de decis˜ao para selecionar a solu¸c˜ao final de pro- blemas de otimiza¸c˜ao com m´ultiplos objetivos, alguns importantes aspectos devem ser considerados:

1. Invers˜ao de ordem. O indesejado fenˆomeno de invers˜ao de ordem, observado em v´arios m´etodos baseados em compara¸c˜oes entre os pos- s´ıveis pares de alternativas, ´e particularmente cr´ıtico no contexto da otimiza¸c˜ao multiobjetivo. No caso das abordagens de decis˜ao a priori e interativa, a oscila¸c˜ao entre duas ou mais ordena¸c˜oes muito diferen- tes pode dificultar o processo de convergˆencia, ao apontar diferentes dire¸c˜oes de busca em cada itera¸c˜ao do algoritmo de otimiza¸c˜ao. No caso da decis˜ao a posteriori, pode acontecer de solu¸c˜oes finais muito distin- tas serem obtidas quando diferentes aproxima¸c˜oes da fronteira Pareto forem consideradas. Uma maneira de se tentar estudar a influˆencia do fenˆomeno de invers˜ao de ordem sobre a escolha da solu¸c˜ao final ´e in- vestigando a estabilidade dos resultados para diferentes aproxima¸c˜oes da fronteira Pareto. No entanto, conforme observado empiricamente, resultados muito oscilantes podem ocorrer em conseq¨uˆencia da invers˜ao de ordem ou, ent˜ao, devido a poss´ıveis julgamentos de indiferen¸ca en- tre duas ou mais solu¸c˜oes. Mas, esse ´ultimo caso pode ser confirmado analisando-se a curva referente ao valor escalar usado para ordenar as alternativas. No caso de julgamentos de indiferen¸ca, as curvas obtidas para cada aproxima¸c˜ao da fronteira s˜ao multimodais e as solu¸c˜oes finais oscilam entre seus picos.

2. Custo computacional. O custo computacional do m´etodo de de- cis˜ao cresce, obviamente, com o aumento do n´umero de crit´erios (m) e de alternativas (n). Enquanto no caso dos m´etodos baseados em compara¸c˜oes de pares de alternativas, como o Promethee, o custo geral- mente tende a ser proporcional a m×n×(n−1)/2, no caso dos m´etodos baseados em fun¸c˜oes de utilidade, como o Smarts e o Smarter, ele em geral ´e proporcional a m × n. Nas abordagens de decis˜ao a priori e in- terativa, o custo ´e um aspecto particularmente relevante, uma vez que o m´etodo de decis˜ao ´e executado tantas vezes quantas forem o n´umero de itera¸c˜oes executadas pelo algoritmo de busca (veja as Referˆencias

[84], [87], [92], por exemplo). No caso da decis˜ao a posteriori, esse aspecto tende a ser menos cr´ıtico, pois o m´etodo de decis˜ao normal- mente ´e executado apenas uma vez, a n˜ao ser que o decisor mude suas preferˆencias.

3. Esfor¸co de elabora¸c˜ao mental. Esse termo refere-se ao esfor¸co do decisor humano em analisar o problema, articular suas preferˆencias e especificar os parˆametros de entrada requeridos pelo m´etodo de decis˜ao. Obviamente, quanto maior o volume e a complexidade das informa¸c˜oes requeridas pelo m´etodo, mais custoso ´e para o decisor fornecˆe-las. ´E v´alido lembrar que, no caso da abordagem de decis˜ao interativa, esse aspecto ´e particularmente cr´ıtico, uma vez que o decisor pode ser con- sultado v´arias vezes ao longo do processo de busca.

4. Preserva¸c˜ao da rela¸c˜ao de dominˆancia. A rela¸c˜ao de preferˆencia deve refletir tamb´em a rela¸c˜ao de dominˆancia para que se garanta que a solu¸c˜ao preferida seja tamb´em n˜ao-dominada. Esse requisito ´e par- ticularmente cr´ıtico nas decis˜oes a priori e interativa, em que as pre- ferˆencias do decisor podem guiar o algoritmo de otimiza¸c˜ao para pontos n˜ao pertencentes `a fronteira Pareto.

5. Forma da fronteira Pareto. A t´ecnica de decis˜ao pode n˜ao funcionar adequadamente dependendo da forma da fronteira Pareto do problema em quest˜ao. J´a ´e conhecido, por exemplo, que os m´etodos Smarts e o Smarter, baseados na agrega¸c˜ao aditiva de fun¸c˜oes lineares, n˜ao s˜ao capazes de selecionar solu¸c˜oes pertencentes `a por¸c˜ao n˜ao-convexa de uma fronteira Pareto n˜ao-convexa `a esquerda. Uma das contribui¸c˜oes deste trabalho consistiu em mostrar, atrav´es de resultados emp´ıricos, que nesses mesmos casos, o m´etodo Promethee II tamb´em tende a produzir resultados incoerentes com a preferˆencia do decisor. Tendo em vista essas observa¸c˜oes, antes de fazer uso de algum m´etodo de decis˜ao, ´e interessante verificar se ele ´e adequado para o problema. Cuidado especial deve ser tomado nos casos de decis˜ao a priori e interativa, pois ambas exigem que o decisor articule suas preferˆencias sem conhecer a forma exata da fronteira Pareto.

6. An´alise de sensibilidade. Se por um lado ´e desej´avel que os m´etodos de decis˜ao respondam a mudan¸cas em seus parˆametros de entrada, por outro, n˜ao ´e interessante que uma mudan¸ca muito pequena leve a re- sultados muito diferentes, principalmente porque o decisor em geral

interessante fazer uma an´alise de sensibilidade, verificando, por exem- plo, a varia¸c˜ao m´axima poss´ıvel dos pesos de cada crit´erio, sem que a solu¸c˜ao final se altere.

7. Transitividade. Conforme mencionado anteriormente, ´e comum a preferˆencia humana n˜ao atender `a condi¸c˜ao de transitividade, como nos julgamentos aP b ∧ bP c ∧ cP a ou, ainda, aIb ∧ bIc ∧ aP c. A teoria da utilidade n˜ao permitia, inicialmente, nenhuma situa¸c˜ao de intran- sitividade. Mas, logo foi extendida, passando a admiti-la no julga- mento de indiferen¸ca, atrav´es do uso de uma rela¸c˜ao caracter´ıstica S de semi-ordem ou ordem-intervalar. Os m´etodos baseados no conceito de sobreclassifica¸c˜ao, por sua vez, admitem situa¸c˜oes de indiferen¸ca in- transitiva e alguns deles, como os da fam´ılia Electre, tamb´em admitem a preferˆencia intransitiva [73].

8. Incomparabilidade. Situa¸c˜oes de incomparabilidade ocorrem freq¨uen- temente na pr´atica devido `a ausˆencia de informa¸c˜oes suficientes para que o decisor articule suas preferˆencias ou, ainda, devido a avalia¸c˜oes amb´ıguas ou conflitantes (leia Se¸c˜ao 5.4 do Cap´ıtulo 5 para mais de- talhes). Os m´etodos da Escola Americana n˜ao permitem esse tipo de atitude do decisor, ao contr´ario de alguns m´etodos da Escola Francesa. Em Promethee I, por exemplo, s˜ao incompar´aveis as alternativas a e b tais que φout(a) > φout(b) e φin(a) > φin(b), ou seja, quando a com-

para¸c˜ao dos fluxos que saem de a e de b sugere que a ´e preferida `a b, mas a compara¸c˜ao dos fluxos que entram em a e em b sugere que b ´e preferida `a a. Nos m´etodos Electre, s˜ao incompar´aveis os pares de alternativas entre as quais n˜ao se verifica a rela¸c˜ao de sobreclassifica¸c˜ao. A ado¸c˜ao de m´etodos que permitem a intransitividade e/ou a incompara- bilidade tem seus pr´os e contras. Apesar de terem uma maior flexibilidade, esses m´etodos deixam algumas perguntas em aberto. Qual ´e a melhor entre duas ou mais alternativas incompar´aveis? No caso de julgamentos intran- sitivos, como ordenar as alternativas? A forma mais natural de se abordar essas duas situa¸c˜oes ´e considerando-as como um caso de indiferen¸ca entre alternativas, sob o pretexto de que ´e imposs´ıvel determinar matematica- mente qual ´e a alternativa preferida e qual ´e a preterida. No entanto, na decis˜ao a priori e na interativa, essa abordagem pode conduzir o algoritmo de busca segundo mais de uma dire¸c˜ao simultˆanea, o que dificulta o processo de otimiza¸c˜ao. Na decis˜ao a posteriori, por sua vez, essa abordagem pode n˜ao ser suficiente para a sele¸c˜ao de uma ´unica solu¸c˜ao final, principalmente se o n´umero de alternativas consideradas incompar´aveis ou envolvidas em julgamentos intransitivos for muito alto. Portanto, a op¸c˜ao por m´etodos que

admitem toda essa flexibilidade exige um cuidado adicional que consiste em definir como tratar adequadamente a intransitividade e a incomparabilidade durante o processo de busca e/ou na escolha da solu¸c˜ao final.