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Principais Linhas de Pesquisa em Tomada de Decis˜ao

Tomada de Decis˜ao

Dentro do tema an´alise multicrit´erio, os trabalhos de pesquisa podem explo- rar diferentes aspectos da tomada de decis˜ao, entre os quais vale ressaltar:

• Decis˜ao individual × decis˜ao coletiva. Embora, tradicionalmente, a Pesquisa Operacional considere problemas de decis˜ao em que h´a ape- nas um decisor envolvido, em empresas freq¨uentemente existe um grupo de pessoas respons´avel por tomar decis˜oes coletivamente. A participa- ¸c˜ao de v´arios decisores nesse processo gera ordena¸c˜oes diferentes do mesmo conjunto de alternativas. A tomada de decis˜ao em grupo es- tuda formas de se chegar a um consenso, combinando essas informa¸c˜oes em um resultado ´unico [38].

• Decis˜ao sob certeza × decis˜ao sob incerteza. Na pr´atica, nem sempre as conseq¨uˆencias da implementa¸c˜ao das alternativas s˜ao bem definidas e definitivas. Nesse caso, a fun¸c˜ao matem´atica que representa a preferˆencia do decisor deve incluir a incerteza `a qual est´a sujeita a sua escolha. A teoria dos jogos e a teoria da utilidade esperada s˜ao exemplos de importantes ferramentas para tomada de decis˜ao com incerteza [39], [20].

• A psicologia e a ciˆencia cognitiva na tomada de decis˜ao. As primeiras metodologias para tomada de decis˜ao foram desenvolvidas a partir das premissas de que o decisor sempre conhece perfeitamente o problema em quest˜ao, que todas as informa¸c˜oes necess´arias para a sua solu¸c˜ao est˜ao sempre dispon´ıveis e que a preferˆencia do decisor existe

sua mente), ou seja, que o decisor j´a sabe o que quer antes de conhe- cer o problema em detalhes. Entretanto, em [40], Simon mostrou uma nova maneira de se abordar a decis˜ao multicrit´erio, afirmando que em aplica¸c˜oes pr´aticas essas premissas n˜ao s˜ao sempre verdadeiras. Essa nova no¸c˜ao influenciou profundamente a pesquisa, que at´e ent˜ao con- siderava o decisor completamente racional, e fez com que o pr´oprio processo de tomada de decis˜ao se tornasse parte do problema.

Desde ent˜ao, a pesquisa nas ´areas da psicologia, da ciˆencia cognitiva e at´e da sociologia trouxe grandes contribui¸c˜oes para a an´alise multi- crit´erio. Entre os trabalhos de maior repercuss˜ao podem ser citados:

– o famoso teorema da impossibilidade de Arrow, segundo o qual ´e imposs´ıvel agregar a preferˆencia de v´arios indiv´ıduos, sob condi¸c˜oes naturais (ou seja, sem atitudes ditatoriais, considerando-se a independˆencia entre os indiv´ıduos) e obter uma ordena¸c˜ao com propriedades racionais [41];

– o famoso paradoxo de Allais, com o qual foi poss´ıvel mostrar que o comportamento humano viola os axiomas introduzidos por Neu- mann e Morgenstern, que estabelecem as condi¸c˜oes necess´arias e suficientes para a existˆencia da fun¸c˜ao utilidade esperada [42]; – os trabalhos do autor Tversky que mostraram que a preferˆencia

humana n˜ao ´e necessariamente transitiva [43], [44].

• M´etodos de decis˜ao. O desenvolvimento de novos m´etodos de de- cis˜ao ´e encorajado, visto que n˜ao existe ainda um m´etodo ideal. Os m´etodos existentes apresentam pelo menos um dos problemas listados a seguir:

– envolvem parˆametros de entrada cujo significado e influˆencia no resultado final muitas vezes n˜ao s˜ao intuitivos;

– s˜ao excessivamente simples e, por isso, incapazes de modelar certos aspectos complexos comuns em situa¸c˜oes pr´aticas como: a intran- sitividade da preferˆencia e da indiferen¸ca; atitudes do decisor de hesita¸c˜ao ou de indecis˜ao;

– n˜ao possuem uma fundamenta¸c˜ao te´orica satisfat´oria e por isso acabam sendo mal empregados na pr´atica;

– n˜ao funcionam adequadamente quando aplicados a certos tipos de problemas, como mostram os resultados apresentados ao final deste documento;

– apresentam um problema conhecido como “invers˜ao de ordem”6,

freq¨uentemente explorado pela literatura. Esse problema foi detectado em importantes m´etodos das Escolas Americana e Francesa, baseados em compara¸c˜oes de pares de alternativas, como Promethee, Electre, AHP. Consiste em uma invers˜ao na ordem das alternativas provocada pela adi¸c˜ao ou subtra¸c˜ao de uma al- ternativa insignificante, ou seja, pior do que as demais. ´E natural esperar que a adi¸c˜ao ou subtra¸c˜ao de algum crit´erio ou de al- guma alternativa significativa altere a preferˆencia do decisor e, conseq¨uentemente, os resultados finais. Mas n˜ao ´e intuitivo que uma alternativa dominada pelas demais provoque invers˜oes na or- dena¸c˜ao das alternativas.

• Aplica¸c˜oes pr´aticas dos m´etodos de decis˜ao. Na literatura existe um vasto volume de estudos de aplica¸c˜oes em problemas reais de di- versas ´areas, como por exemplo na ´area de transporte, para o plane- jamento da renova¸c˜ao de esta¸c˜oes de metrˆo [45]; em medicina, para o diagn´ostico m´edico pela classifica¸c˜ao de pacientes em categorias de doen¸cas com base em seus sintomas [46]; em marketing, para a medi¸c˜ao da satisfa¸c˜ao de clientes [47]; na ´area de energia, para a escolha da loca- liza¸c˜ao de usinas, para a distribui¸c˜ao e o planejamento energ´etico [48], [49], [50] e outros.

4.5

Conclus˜oes

Esse cap´ıtulo introduziu a an´alise multicrit´erio e deu uma id´eia da enorme abrangˆencia desse tema. Foram apresentados os diversos tipos de problema de decis˜ao (escolha, ordena¸c˜ao, classifica¸c˜ao), as duas principais linhas de pensamento (Americana, Francesa) e alguns temas de pesquisa mais es- pec´ıficos (decis˜ao individual × em grupo, decis˜ao com certeza × incerteza, entre outros).

Apesar do grande progresso observado nas ´ultimas d´ecadas da abordagem cient´ıfica da an´alise multicrit´erio, existem ainda v´arios aspectos a serem ex- plorados pelos pesquisadores. Entre eles, os de maior prioridade talvez sejam: • o desenvolvimento de uma fundamenta¸c˜ao te´orica e axiom´atica com-

pleta para a an´alise multicrit´erio;

• a cria¸c˜ao de t´ecnicas para valida¸c˜ao operacional e conceitual dos resul- tados obtidos em aplica¸c˜oes reais;

• a explora¸c˜ao de novas poss´ıveis ´areas de aplica¸c˜ao;

• a an´alise p´os implementa¸c˜ao pr´atica de solu¸c˜oes obtidas com os m´etodos de decis˜ao.

Para os otimistas, a existˆencia de uma grande variedade de m´etodos de decis˜ao ´e um indicativo da importˆancia da an´alise multicrit´erio para a atua- lidade. Para os pessimistas, ´e um sinal da fragilidade dos m´etodos e aborda- gens existentes. Talvez ambos estejam certos ou, talvez, ainda seja cedo para essa avalia¸c˜ao, visto que ainda n˜ao existem na literatura an´alises significati- vas das conseq¨uˆencias positivas ou negativas da implementa¸c˜ao na pr´atica de solu¸c˜oes obtidas pela aplica¸c˜ao dos m´etodos de decis˜ao. Esse tipo de an´alise ´e especialmente importante, devido ao fato de que a tomada de decis˜ao pos- sui tamb´em um car´ater subjetivo, que dificulta a avalia¸c˜ao da qualidade de suas solu¸c˜oes.

Cap´ıtulo 5

Modelagem da Preferˆencia

Humana

5.1

Introdu¸c˜ao

A hist´oria da teoria da decis˜ao consiste em um processo em que no¸c˜oes simples, como a escolha de uma alternativa, a partir de preferˆencias bem definidas, v˜ao se tornando cada vez mais complexas, evoluindo para f´ormulas e modelos matem´aticos que consideram a incerteza e as limita¸c˜oes da racio- nalidade humana. A polˆemica inicial com rela¸c˜ao a validade do emprego da matem´atica em problemas de decis˜ao tem dado lugar a resultados satis- fat´orios obtidos em aplica¸c˜oes pr´aticas. A matem´atica vem de fato se esta- belecendo como um importante instrumento para a an´alise multicrit´erio.

A Escola Americana e a Escola Francesa utilizam a teoria relativa `a mo- delagem de preferˆencias por rela¸c˜oes bin´arias para representar as poss´ıveis atitudes do decisor. A decis˜ao baseada em modelos matem´aticos da pre- ferˆencia humana parte do pressuposto que, dado um conjunto de alternativas A, ´e poss´ıvel ordenar seus elementos, considerando-se os interesses do decisor. Essa ordena¸c˜ao pode ser usada para identificar a melhor alternativa ou para classificar seus elementos em categorias.

Os modelos cl´assicos da preferˆencia s˜ao pouco flex´ıveis, n˜ao oferecem ao decisor recursos suficientes para modelar algumas de suas atitudes reais. Modelos n˜ao convencionais mais completos e flex´ıveis tˆem sido desenvolvidos. Entretanto, esses em geral n˜ao s˜ao de f´acil uso operacional.

Nesse contexto, este cap´ıtulo apresenta a teoria da modelagem de pre- ferˆencias. S˜ao ressaltados os pontos fracos da teoria cl´assica e os novos caminhos para a pesquisa s˜ao apontados. Inicialmente, s˜ao introduzidos os

bin´arias, do ponto de vista operacional [51].