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5.4 Estruturas de Rela¸c˜oes de Preferˆencia

5.4.2 Estruturas {P, I, J}, {P, Q, I} e {P, Q, I, J}

Para tratar situa¸c˜oes de incomparabilidade foram desenvolvidas as estru- turas parciais {P, I, J}. Essas s˜ao extens˜oes das estruturas {P, I} j´a vistas aqui, com a diferen¸ca de que suas rela¸c˜oes caracter´ısticas n˜ao s˜ao comple- tas. Ao adicionar a rela¸c˜ao J `as estruturas {P, I} de ordem total, fraca, intervalar e de semi-ordem, obt´em-se, respectivamente, as estruturas de or- dem parcial, preordem parcial (quase-ordem), intervalar parcial e semi-ordem

associar a cada alternativa n´umeros que representem as preferˆencias do de- cisor. Os teoremas que garantem a existˆencia dessas fun¸c˜oes s˜ao semelhantes `aqueles referentes `as estruturas {P, I}. Por exemplo:

Se S ´e uma quase-ordem, ent˜ao: • aP b ⇒ u(a) > u(b);

• aIb ⇒ u(a) = u(b).

Por´em, as implica¸c˜oes desses teoremas referentes `as estruturas {P, I, J} funcionam apenas em uma dire¸c˜ao, conforme indicada pelo s´ımbolo ⇒. Por causa disso, essas estruturas parciais tem aplicabilidade limitada.

As estruturas {P, Q, I} e {P, Q, I, J}, por sua vez, desenvolvidas utili- zando-se a l´ogica booleana, tamb´em tˆem sido fortemente criticadas por n˜ao conseguirem diferenciar matematicamente as rela¸c˜oes P e Q, visto que ambas possuem as mesmas propriedades — ambas s˜ao assim´etricas. Pela defini¸c˜ao de sistema fundamental de rela¸c˜oes de preferˆencia, a partir da rela¸c˜ao ca- racter´ıstica S deve ser poss´ıvel deduzir as diferentes atitudes de preferˆencia. Entretanto, a linguagem bin´aria admite no m´aximo 3 diferentes atitudes baseadas na rela¸c˜ao S:

• Preferˆencia: aP b ⇔ aSb ∧ bSca;

• Indiferen¸ca: aIb ⇔ aSb ∧ bSa;

• Incomparabilidade: aJb ⇔ aScb ∧ bSca.

De fato, conforme demonstrado em [56], dada uma linguagem com n va- lores, podem ser definidas at´e o m´aximo de n(n+ 1)/2 rela¸c˜oes de preferˆencia a partir de uma mesma rela¸c˜ao caracter´ıstica S.

Demonstra¸c˜ao:

Dada uma linguagem com n valores, S(a, b) e S(b, a) podem assumir cada uma n valores distintos. Por exemplo, na l´ogica bin´aria, S(a, b) e S(b, a) po- dem assumir os valores: falso ou verdadeiro. Portanto, existem n2 poss´ıveis

combina¸c˜oes de S e S−1, formando uma matriz n×n. Essa matriz ´e sim´etrica

pois combina¸c˜oes sim´etricas de S e S−1 resultam em uma rela¸c˜ao R e em

sua pr´opria inversa. No caso da l´ogica bin´aria, aP b ≡ aSb ∧ bSca e bP a ≡

aScb ∧ bSa. Portanto, o n´umero m´aximo de rela¸c˜oes que podem ser definidas

elementos do triˆangulo superior (ou inferior) dessa matriz: n(n + 1)/2. Dessa maneira, pela l´ogica convencional ´e imposs´ıvel caracterizar a rela¸c˜ao Q ou distinguir os casos de incomparabilidade causados por ignorˆancia ou por conflito de informa¸c˜oes. Por conta disso, pesquisadores tˆem desenvolvido es- truturas de rela¸c˜oes de preferˆencia utilizando l´ogicas n˜ao convencionais, como a l´ogica de quatro valores: verdadeiro, falso, desconhecido, contradit´orio [57]. Seu uso permite o desenvolvimento de estruturas com at´e 10 rela¸c˜oes de pre- ferˆencia, como a estrutura P C (Partial Comparability Structure), proposta em [58] e [59]. Como ainda n˜ao foi desenvolvido um modelo alg´ebrico que comporte essas 10 rela¸c˜oes, essa estrutura n˜ao tem sido aplicada diretamente em situa¸c˜oes pr´aticas. Entretanto, j´a existem tentativas bem sucedidas de se redefinir as estruturas convencionais, com seus pr´oprios modelos alg´ebricos, como casos particulares e simplificados da estrutura P C [56]. Todavia, o uso de uma linguagem t˜ao complexa na pr´atica ´e ainda question´avel, princi- palmente por ainda n˜ao ter sido desenvolvida at´e hoje uma nova estrutura melhor do que as convencionais.

5.5

Conclus˜oes

Esse cap´ıtulo expˆos os fundamentos da modelagem da preferˆencia por meio de rela¸c˜oes bin´arias; o conceito de estruturas de rela¸c˜oes de preferˆencia e de rela¸c˜ao caracter´ıstica. Essa teoria constitui uma base comum para o entendi- mento dos m´etodos para tomada de decis˜ao multicrit´erio desenvolvidos pelas escolas Francesa e Americana. Al´em disso, foram apresentadas as principais estruturas desenvolvidas segundo a abordagem convencional, que se baseia na l´ogica bin´aria. Entretanto, conforme foi visto, a abordagem convencional para modelagem da preferˆencia humana tem poder limitado, pois n˜ao dis- tingue as situa¸c˜oes de incomparabilidade, os tipos de rela¸c˜ao de preferˆencia ou n˜ao s˜ao flex´ıveis o bastante para modelar certas atitudes do decisor.

O desenvolvimento de novas abordagens ´e encorajado a fim de se melhorar a operacionalidade e a fidelidade dos modelos da preferˆencia humana. As iniciativas nesse sentido incluem a identifica¸c˜ao de novos tipos de rela¸c˜ao de preferˆencia capazes de representar situa¸c˜oes particulares e a utiliza¸c˜ao de l´ogicas n˜ao convencionais, que possibilitam a cria¸c˜ao de modelos mais flex´ıveis e de m´etodos de decis˜ao mais sofisticados. A pesquisa quanto ao emprego da l´ogica de quatro valores no desenvolvimento de novas estruturas constitui uma dessas iniciativas. Entretanto, essa pesquisa ainda se encontra em estado inicial, visto que ainda n˜ao foram desenvolvidos novos modelos

do decisor. O cap´ıtulo seguinte apresenta uma iniciativa concorrente a esta, que consiste em desenvolver rela¸c˜oes e estruturas de rela¸c˜oes de preferˆencia baseadas na l´ogica nebulosa.

Cap´ıtulo 6

Modelagem da Preferˆencia pela

L´ogica Fuzzy

6.1

Introdu¸c˜ao

Sabe-se que a preferˆencia de um decisor humano origina-se, transforma-se e justifica-se pelo seu pr´oprio sistema de valores, sua intera¸c˜ao com outros de- cisores, sua percep¸c˜ao das alternativas que est˜ao sendo comparadas. Assim, incerteza, imprecis˜ao e ambiguidade s˜ao aspectos intr´ınsecos `a tomada de decis˜ao. Entretanto, a abordagem cl´assica baseada na l´ogica bin´aria tende a representar a preferˆencia humana atrav´es de modelos simplistas, que con- sideram os julgamentos humanos precisos e bem definidos. Para representar julgamentos vagos, a l´ogica Fuzzy (ou nebulosa) pode ser mais adequada. A id´eia de rela¸c˜oes de preferˆencia nebulosas aparece na literatura pela primeira vez em dois artigos: em 1977 com Roy [60] e em 1978 com Orlovsky [61]. O primeiro apresenta o m´etodo Electre III, que associa um ´ındice de credi- bilidade, com valor entre 0 e 1, `a rela¸c˜ao de sobreclassifica¸c˜ao. O segundo prop˜oe a modelagem de rela¸c˜oes de preferˆencia e indiferen¸ca nebulosas.

Hoje, existem v´arios m´etodos que se baseiam em rela¸c˜oes nebulosas de preferˆencia, como os conhecidos Electre [62] e o Promethee [35]. Ambos foram desenvolvidos antes que qualquer fundamenta¸c˜ao axiom´atica fosse proposta nesse sentido [57]. Vale ressaltar que a teoria exposta aqui n˜ao serve de base para esses dois m´etodos, embora possa ser empregada em outros que venham a existir.

O presente cap´ıtulo introduz a teoria b´asica relativa `a l´ogica Fuzzy e `a modelagem de rela¸c˜oes nebulosas de preferˆencia, dando continuidade ao estudo apresentado no Cap´ıtulo 5.